NARRAÇÃO RENATA
Abro a porta da sala e no meu canto direito Carolina está no chão, toda encolhida e machucada, enquanto Ramires grita e se prepara pra chuta-la. A única coisa que minha mente consegue pensar de forma rápida, é me jogar a sua frente e protegê-la do chute. Em segundos estou no chão de joelho, protegendo sua cabeça e recebendo a p***a do chute na minha costela. A dor me consome, mas engulo qualquer gemido, qualquer som, para que ele não tenha o prazer de me ouvir reclamar. Porque cretinos como Ramires sentem prazer em bater e ouvir os gritos de dor. Carolina me olha assustada e segura meu braço.
- Não devia ter feito isso.
Sussurra e quando vou nos levantar, Ramires me empurra pra baixo.
- Vai apanhar junto com ela, porque é v***a também.
Pelo desespero nos olhos de Carolina, sei que vem outro chute em minhas costas. Firmo meu corpo para suportar e fecho meus olhos.
- Oh meu Deus!
Carolina grita e nada acontece. Abro meus olhos e viro a cabeça, vendo Fábio sobre mim, me protegendo como fiz com a mulher do Ramires.
- Que p***a está fazendo, César?
Olho para o Fábio que tem uma expressão de dor.
- Leve-a pra fora.
Pede com a voz baixa e minha cabeça tomba para ver a fúria do Ramires.
- Ele vai te matar!
- Tire ela e a Sara daqui.
Pede e arruma seu corpo, se virando para o homem que mais odeio nesse momento, no mundo todo.
- Vamos!
Tiro Carolina do chão, vendo as marcas em seu rosto. Seu nariz está sangrando e a dor que sinto em minha costela, não deve ser nada comparado a dor que ela sente agora. Saímos da sala e o segurança entrega a criança para Carolina, fechando a porta atrás de mim. Abraçada as duas, arrasto-as pra cozinha e sento a mulher daquele infeliz na cadeira.
- Ele vai nos matar por causa disso.
Fala agarrada a filha e balançando na cadeira, tentando acalmar a pequena. Pego um pano de prato e molho com água da torneira. Sigo pra perto dela e limpo o sangue que escorre de seu nariz. Alguns hematomas são mais antigos e quero matar aquele verme.
- Ele vai nos matar!
Sussurra em desespero e me abaixo, encarando seus olhos.
- Ele não vai te matar! Confia em mim?
- O que você pode fazer contra ele?
- Você confia em mim?
Começa a chorar, completamente perdida.
- Vou te ajudar a sumir com a sua filha, mas preciso que essa noite, desapareça com ela.
- Não tenho pra onde ir.
- Tem sim!
A levanto da cadeira e sem demora, vamos para o elevador.
- Pra onde vai me levar?
- Para um lugar seguro!
Entramos no elevador e aperto o térreo, não dando tempo do segurança vir atrás. O que me preocupa é que Fábio ainda está trancado com aquele infeliz. Saímos do elevador e caminhamos rápido para a saída, sem dar tempo dos seguranças do prédio virem nos impedir. Sei que estou fodendo todo o golpe, mas não posso permitir que Carolina viva nesse inferno. Depois arrumo a merda toda. Abro a porta do meu carro e ela entra com a criança. Fecho a porta e corro para o lado do motorista. Minhas chaves e documentos estão na minha mesa, então vou precisar fazer esse carro pegar de outra forma. Puxo a tampa do painel e em seguida alguns fios.
- Eles estão vindo!
Grita e olho pro prédio, vendo alguns homens vindo em nossa direção. Faço o carro pegar e engato a primeira, saindo rápido da vaga e entrando na avenida.
- Isso vai dar merda!
- Apenas confie em mim.
Digo para ela, mas tentando eu mesma confiar que eu posso tira-la com vida disso tudo.
********************
Entramos no meu apartamento e levo as duas para o meu quarto. A pequena dorme profundamente, depois de tanto chorar.
- Aproveite que ela dormiu e tome um banho. Pegue toalha e roupas minhas no armário.
- Não sei como te agradecer, Vivian! Mas ainda acho isso uma loucura.
- Confie em mim!
Peço mais uma vez e as deixo no quarto. Vou para a sala, abrindo minha camisa. A dor já dominou meu corpo todo e respirar esta sendo difícil. Esse filha da p**a deve ter trincado uma costela minha. Jogo a camisa no sofá e vou para a geladeira, pegar a bolsa de gelo. Enquanto enrolo ela em um pano, pego meu celular de emergência, guardado atrás do fogão. Disco para a única pessoa que pode me salvar nesse momento e me dar tempo para agir.
- Fala!
- Preciso da sua ajuda!
- Só me liga quando precisa!
Igor é um golpista que foi treinado junto comigo. Mas ele não quis entrar em campo e preferiu ser suporte na policia, como Betina. A diferença dele pra ela é que Igor é policial sem jurisdição. Pode mandar prender onde e quando quiser.
- Preciso que emita uma ordem de prisão e que ela seja cumprida amanhã a tarde.
- Quem?
- Ramires Puentes.
- Não fode, Renata!
- Por favor!
- Esse cara é o advogado mais filha da p**a do mundo. Acha mesmo que ele vai ficar preso por muito tempo?
- Não preciso de muito tempo. Preciso de 24h.
- Em que merda você se enfiou?
- Não posso falar.
Solta um longo suspiro.
- Quando e que horas?
- Amanhã ás 10h na empresa dele.
- p***a! Você só me fode!
- Esse homem quase matou a mulher dele no chute!
Igor fica em silêncio.
- Só preciso desse tempo pra sumir com ela, sem rastro para encontra-la. Me dê 24h, Igor!
- As 10h estarei cumprindo a ordem de prisão.
- Obrigada!
Escuto barulho na minha porta e pego a arma no vão da geladeira.
- Preciso desligar!
Desligo e jogo o celular na pia. Aponto minha arma para a porta da sala, pronta pra atirar. Quando a porta se abre, Betina surge e solta um grito.
- Sou eu!
Abaixo a arma, ela entra e fecha a porta.
- Que merda aconteceu hoje?
Pergunta e ando até o sofá com o pano e a bolsa de gelo.
- Ele estava quase matando a mulher.
- E o que isso importa pra gente? Você fodeu todo o golpe, entrando naquela sala.
- O que importa? Era uma vida Betina!
Grito, não acreditando no que estou ouvindo.
- Vidas que não podem interferir no golpe!
- Não seja por isso, eu fodi o golpe, continue com ele você e o Fábio.
- Até o Fábio se fodeu ao te proteger.
- Então faz sozinha!
Se senta ao meu lado e olha o hematoma que já tomou a lateral do meu corpo.
- Sabe que não consigo ainda fazer isso sozinha! Fábio estava me ensinando.
Ao falar dele sua voz fica mais suave e isso não me agrada.
- Agora entendo porque se apaixonou por ele.
Evita me olhar e não acredito que Betina se apaixonou por ele. Quando vou questionar seus sentimentos, Carolina aparece na sala com a filha nos braços, já acordada.
- Merda! O que ela faz aqui?
Betina pergunta se levantando do sofá.
- Vou ajuda-la a fugir?
- Como? Ramires já colocou os seguranças e capangas dele atrás de você.
- Ele vai no apartamento que coloquei no contrato de trabalho e não aqui. Estamos seguras até tirar Carolina do país.
- Como pretende fazer isso?
- Com a sua ajuda. Preciso que faça documentos novos para Carolina e a filha. Precisa ser hoje!
- Não tenho nenhum lugar pra fazer esses documentos.
- Segundo quarto, porta a direita. Montei esse apartamento como ponto de auxilio no golpe. Vai encontrar no quarto tudo que precisa.
- Por que eu não sabia disso? Fábio não me falou nada sobre você vir e sobre esse apartamento. Tive que ligar para o Dimitri para achar você.
- Fábio não sabia que eu vinha e o apartamento é coisa minha. Faça o documento, volte para a vida da Evelyn e segue os seus planos.
- O que pretende fazer?
- Voltar pra empresa amanhã e enfrentar a ira do Ramires.
- Ele vai te matar!
Carolina fala com a voz chorosa.
- Se ele souber que você é uma...
- Uma pessoa que vai livrar o mundo de mais um bandido.
A porta da sala novamente faz barulho e me levanto do sofá, me colocando a frente de Carolina e a criança. Fábio aparece e Betina corre até ele, se jogando em seus braços.
- Achei que Ramires fosse te matar.
Ele me olha e evito seu olhar.
- Acho que sua filha precisa comer. Vamos pra cozinha!
Digo a Carolina, indo para a cozinha. A conversa dele com a Betina me irrita e tento mesmo não ouvir a voz melosa dela com Fábio.
- Tem coisas no armário, mas não tem nada na geladeira.
- Me viro com o que tem.
- Preciso de um remédio.
Deixo elas na cozinha e sigo para o meu quarto. Entro e vou até o enorme espelho no quarto, olhar a marca que Ramires me deixou. Com a ponta do dedo percorro o hematoma e prendo o ar, sentindo muita dor. Levo um susto ao ver Fábio atrás de mim, olhando meu corpo.