NARRAÇÃO RENATA
Não consigo reagir, porque realmente não acredito que vá acontecer. Da ultima vez fui eu quem recuou do beijo, então deixarei a ele a decisão de fugir ou continuar. Seus lábios empurram os meus, abrindo minha boca e então sua língua invade minha boca. Minha língua desesperada se enrosca na dele e um gemido escapa de mim, aquietando todo o desejo que tinha por esse beijo. Nossas línguas dançam entre minha boca e a de Fábio, tendo um ritmo só nosso, da mesma forma que nossos corpos se encaixam no sexo.
Seus dedos se afundam em meu cabelo, puxando algumas vezes, conforme a intensidade aumenta do beijo. Agarro seu terno e colo nossos corpos, pra que ele saiba e entenda que não é pra parar. Suga meus lábios e volta a me beijar com tanta intensidade que minha boca começa a arder. Suas mãos descem pelo meu corpo, me abraçando e me segurando pelas costas. Agora são minhas mãos que se agarram em seu cabelo, querendo mais e mais. Por segundos nossos lábios se soltam, mas voltam a se engolir como antes.
Na verdade o desespero só aumenta e mesmo na ponta dos pés, com os corpos unidos, quero ainda mais me fundir a ele. Seus lábios se soltam dos meus, chupa e beija meu pescoço, me fazendo gemer. Mas não quero sua boca em meu corpo, mas colada a minha, matando de vez a vontade que tinha de beija-lo assim. Rapidamente sua boca volta a minha e seus dedos cravam em minha b***a, me puxando para senti-lo duro. Quando o ar realmente some, nos afastamos, mas nossos olhos se conectam.
- Me ajuda a finalizar esse golpe!
Pede com a voz rouca e respiro fundo.
- Esse beijo foi pra me convencer a ficar e te ajudar?
Pergunto e me afasto de seu corpo. Fábio desvia os olhos dos meus e encara o chão.
- Não precisava me beijar pra isso. Podia ter usado sua lábia e me feito ficar. Você é bom nisso!
- Não quero uma discussão, Renata!
- Mas também não quer falar! Mais fácil me beijar e pedir ajuda.
- Sabe o quanto está sendo difícil pra mim te pedir ajuda?
Ergue a cabeça e vejo tanta coisa em seus olhos. Mas o que mais me deixa assustada é ver dor, raiva e medo.
- Existe uma criança nessa merda toda. Uma mãe que já tentou de tudo para fugir desse infeliz. Você faz ideia de como esse filho da p**a vai ficar furioso quando souber que roubamos informações dele? Você consegue imaginar em quem sua fúria será descontada?
- Na Sra. Puentes!
- Pessoas como o Ramires usaria sem pena a própria filha para descontar sua raiva em sua esposa.
- Por isso ainda não finalizou tudo.
- Minha mente criou mil planos, mas em nenhum consigo encaixar a Betina e preciso de alguém como você.
- Por que te mandaram com ela?
- Seu pai está testando a Betina em campo. Quer ver se ela funciona como golpista atuante. Dos três golpes que vamos fazer, esse teoricamente é o mais fácil. Por isso está aqui.
- Sua função é sempre testar os golpista para o meu pai?
- Você caiu no meio do meu golpe e só podia te ajudar e te testar. Agora com a Betina é diferente, ela nunca esteve em um golpe efetivamente e precisávamos de alguém com experiência em computadores.
- O problema Fábio, é que ela nunca foi treinada para suportar o que suportamos. Treinamento dela foi básico.
- Por isso preciso de você. Sei que podemos conseguir as informações, sem prejudicar a Carolina.
Olho em volta, tentando decidir o que fazer aqui. Suportar ficar perto dele e finalizar isso e deixa-lo aqui e sumir.
- Aceito suas condições.
- Está tão desesperado assim?
Volto a olha-lo!
- Perdi minha mãe e meu pai e sei a dor que é crescer sem eles. Você também sabe como é crescer sem uma referência.
Está apelando para o meu emocional.
- Odeio golpes onde crianças estão no meio.
- Fico com duas condições.
Mostro meus dois dedos e ele sorri.
- Aceito!
- Não disse minhas condições ainda.
Ergo uma sobrancelha e seu sorriso cretino de quem me venceu, me faz querer sorrir junto.
- Manda!
- Me dê uma semana para avaliar tudo. Será meu plano que vamos executar!
- Certo!
- Quero a Betina o mais distante possível de você.
- De mim?
- De nós!
Digo rapidamente, sabendo que fiz merda.
- Não quero ela tremendo na base quando tivermos que agir.
Porra! Pelo olhar que me lança agora, sei muito bem o que se passa em sua cabeça.
- Te contaram que ela é minha noiva?
- Não! Entrei no golpe sem saber nada. E pouco me importa o que ela é sua. Apenas não quero testar ninguém pro meu pai, mas sim finalizar isso tudo. Usaremos Betina em coisas adicionais, mas não no Ramires diretamente.
- Para mantê-la fora, terei que me manter com ela.
O i****a está tentando me fazer ciúmes?
- Sabe como é! Minha noiva se afasta, me afasto pra cuidar dela.
- Ótimo! Vocês somem e faço tudo sozinha. Menos chance de me foderem nesse golpe.
- Vamos fazer assim!
Se aproxima todo se sentindo.
- Ela fica por perto, por segurança. Mas prometo que não vai afetar nada, porque cuidarei dela.
- Faz o que bem entender.
Passo por ele andando em direção a porta do terraço, sentindo raiva, muita raiva.
- Em uma semana coloco o meu o plano pra ser executado.
- Como farei pra saber qual é o plano?
- Você não saberá! Será como foi com o Banks. Apenas beba o que eu te der, dance conforme eu danço. Mas te prometo que no fim, não te deixarei pra trás.
Saio do terraço e entro no elevador, me preparando para desligar o coração e deixar apenas meu cérebro funcionando.
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QUATRO DIAS DEPOIS
Levanto de minha cadeira ao ver Ramires sair do elevador.
- Sr. Puentes!
O cumprimento e ignoro como sempre, Fábio atrás dele.
- Minha mulher está vindo me ver, assim que aquela v***a passar pela minha porta, quero que esqueça a gente.
A forma como fala me faz ficar em alerta! Pela primeira vez em dias, olho para o Fábio que parece estar como eu.
- Sim, senhor!
- Quero meu café e que chame todos os estagiários para uma reunião de urgência. Quero saber quem foi o filho da p**a que fez merda no meu processo.
- Farei imediatamente isso.
Ele entra na sala e Fábio com mais um segurança param em frente a porta. Vou pra cozinha e enquanto faço o café do Ramires, uso o tablet da empresa pra convocar por email todos os estagiários. Com o café pronto, sigo para a sala do meu chefe irritado. Entro e como sempre conversa com alguém por telefone aos berros. É sempre assim, sem mudança alguma. Café, raiva, berros e ele andando pra todo lado. Ramires é fácil de fazer leitura corporal, então já tenho em mente como pegar a agenda que fica no bolso interno do terno. Preciso apenas aprimorar a parte de acessar o computador sem ninguém ver ou saber.
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Os estagiários estão na sala de reunião. Betina fica com sorrisinhos para o Fábio e tento manter minha concentração na tela do meu computador. Será que ela se encantou por ele ou é só parte do papel noiva apaixonada? O infeliz sorri de volta pra ela e reviro meus olhos. Ele está realmente tentando me deixar com ciúmes.
- Vivian!
Olho para frente e vejo Carolina, segurando a filha no colo. Ela parece nervosa, quase chorando.
- O Sr. Puentes a espera!
Olha para a filha e beija sua cabeça.
- Por favor, cuide dela pra mim!
Pede com a voz de quem implora na verdade.
- Não sei cuidar de crianças.
- Por favor!
Levanto da cadeira e vou até as duas. Me passa a pequena e engole o choro que quer explodir.
- Obrigada!
Caminha como se fosse alguém rumo à morte. Fábio me olha nervoso, enquanto ela passa por ele e entra na sala. Nem bem entra e já começa os berros do Ramires com ela. Mesmo com a porta fechada, é possível ouvir a briga. Na verdade ele gritando, porque não ouvimos Carolina. A criança começa a chorar em meu colo, assustada com a voz do pai. Provavelmente já reconhece o medo desse i*****l. Algo se choca contra a porta e Carolina implora para ele parar. Ando rápido até a porta e Fábio está tão perdido quanto eu, sem saber como ajudar. Passo a criança para ele e seguro a maçaneta da porta.
- O que vai fazer?
- Impedir um crime ou cometer um!