BÔNUS 3

2707 Palavras
NARRAÇÃO FÁBIO Preciso ficar atento. Vivian provavelmente já tem em mente o que fazer e a merda é que não faço ideia do que se passa em sua cabeça agora. Sei que precisa afastar todos e ficar na casa sozinha com o Banks. Meu medo é que alguma merda aconteça na execução desse plano. - Aurora sabe disso? - Deve saber! Não é a primeira viagem que ele faz com uma amante. - Ela aceita? - O que ela pode fazer? A verdade é que Aurora agradece a Deus por esse i*****l ter amantes. Assim se livra de ter que se deitar com aquele porco. - Se livrar do Banks, pedir divórcio, fugir com o Jorge. Ela não faz ideia do inferno que é aquela casa e tudo que já passaram. Antes de me enfiar no plano de resgate deles, Alberto me contou que foram feitas várias tentativas de fugir. - Eles já tentaram. Me afasto e decido deixa-la a par pelo menos de uma tentativa, a mais importante de todas. - O que aconteceu? - Banks fez Marcela odiar o pai e a Aurora. Quase matou Jorge em um acidente de carro. Eles voltaram imediatamente e desde então fingem que não se amam. - Marcela odiou o Jorge? - Ela tinha apenas dez anos e aquele... Preciso controlar minha raiva do Banks perto dela. - Disse a Marcela que o pai traía a mãe com a Aurora. Demoramos pra tirar isso da cabeça da coitada. Ela realmente tem um carinho por aquele homem. Fica calada, mas com a mente a mil. - Infelizmente teremos que voltar antes do planejado. - O pior é ficar longe de você por quinze dias. Será que devo acreditar nesses olhinhos tristes e essa linda carinha apaixonada? Vivian é uma belíssima atriz. - Se ele não te desejasse tanto, te levaria comigo. - Não quero atrapalhar seu trabalho. Fico e tento resolver a vida de duas pessoas que gostamos muito. - Tenha cuidado nessa função de cupido. Se Banks desconfiar, não sei o que seria capaz de fazer. - Vou ter cuidado. - Precisamos de um banho, mas não pode ser juntos. Vou primeiro, porque quero fazer um jantar pra você. - Um jantar a essa hora? Tem um lindo sorriso no rosto. Se é pra mexer com seu psicológico e testar suas fraquezas, preciso atingir o auge do romance. - Seria amanhã, mas ferraram com meus planos. Então será hoje, porque não pretendo dormir tão cedo. - Certo! Vejo um sorriso diferente pra mim. Um que ainda não tinha visto. - Não entre naquele banheiro! É uma ordem. - Sim senhor! ******************** Vou para o quarto e antes de entrar no banheiro, decido tirar uma foto dos remédios e enviar para o Alberto. Só existem dois laboratórios clandestinos que fazem essas medicações. Tenho certeza que me enviará logo uma resposta para me dizer quais os efeitos. Guardo tudo e vou para um banho rápido. *********************** Termino meu banho, me seco rápido e me enrolo na toalha. Volto para a cozinha e Vivian está na pia. - Pronto! Ela se vira assustada, como se estivesse fazendo algo errado. - Sua vez! Vem pra mim com dois copos na mão. Merda! Ela usou um dos remédios. Para na minha frente e não me oferece nenhum dos copos, o que é estranho. Talvez não tenha usado nada e esteja mesmo apenas curtindo nosso momento. - Pensei em beber alguma coisa. Mesmo assim mantenho meu foco nas bebidas. Mesmo não notando nada diferente. Será que está baixando a guarda e depois do que contei da Aurora e do Jorge, vai se revelar pra mim? - Não costumo beber enquanto cozinho. - Posso deixar sua bebida separada e depois você bebe. Enquanto coloca a bebida sobre a mesa, decido confiar nela. Pela primeira vez confiar de verdade. Vivian não usaria aquelas merdas comigo. Imagino que sejam pra sua proteção e não sou um perigo. Preciso confiar! Alberto vive me dizendo isso. Confie em sua equipe, confie nas pessoas até elas darem motivo pra desconfiar. Por mais que Vivian seja uma golpista, confio que não me machucaria. Pego o copo sobre a mesa. - Acho que vou beber. - Tudo bem! - Não vai beber o seu? - Claro! Pega o outro copo e sorri. - A nós! - A nós! Brindamos e bebemos juntos. O sabor está normal o que me alivia. - Vou tomar banho! Vira toda a bebida na boca e me entrega. - Depois faço mais bebidas pra nós. Me beija muito rápido e corre para o quarto. Vou para a pia e enquanto cozinho, continuo tomando a bebida, de olho em meu celular, esperando resposta do Alberto. ******************* Sinto pontadas no peito. Acho que a merda do estresse desses dias estão me deixando mais cansado e mais debilitado do que nunca. - O que houve? Vivian pergunta preocupada ao entrar na cozinha. - Uma pontada estranha! Me toca e me olha de um jeito carinhoso, mas ao mesmo tempo assustado. - Quer sentar? - Não! Preciso terminar seu jantar. Tento me afastar da pia, mas perco o equilíbrio. - Consegue colocar nossos lugares a mesa? - Sim! - Fiz salmão e uma salada pra gente. Levo a salada para a mesa, andando com calma. - Deixa que eu pego o salmão, você não parece bem. Senta aqui! Sento e minhas vistas vão pesando. Não posso dormir, tenho que fazer algo antes. Puxo Vivian para mim assim que coloca o peixe na mesa e a abraço. Só preciso do seu cheiro para me animar. A dor no peito aumenta e tento respirar fundo. Olho para ela que parece querer chorar. - Seus olhos estão cheios de lágrimas. Segura meu rosto e mesmo sem foco, tento olhar seus lindos olhos azuis. Preciso jogar com ela e ver se mexo com seu coração. - Era pra ser diferente... Puxo sua mão e a beijo. - Planejava me ajoelhar e tudo mais, mas estou estranhamente cansado e com muita dor no peito. Beijo seu dedo e trago o anel que deixei no sofá. Espero que Alberto não descubra que estou jogando com a filha dele no lado romântico, mexendo com seu coração também e não só com o medo da morte. Agora eu espero que ela me diga quem é e me chame pra ficar com ela. Merda! Eu só preciso focar seus olhos, mas parece impossível. - Vivian, quer ser minha para sempre? Um choro doloroso explode dela e seus lábios se aproximam dos meus. - Me desculpa! Pede entre os soluços e sei que tem algo errado. Não! Não! Ela usou em mim um dos remédios. Tento dizer ou falar qualquer coisa, mas a escuridão puxa. Sei que não é a morte e meu desespero agora é ela seguir nesse golpe sozinha, sem apoio e quem a proteja. Ela corre perigo me deixando aqui para finalizar o golpe. Não! Sua boca cobre a minha, a ultima coisa que escuto é sua voz carregada de culpa. - Me desculpa! ********************* Abro meus olhos e a claridade quase me cega. A dor de cabeça é horrível, como se eu tivesse bebido sem rumo ontem. - Vivian! Me levanto, mesmo com a dor insuportável e olho em volta. Grito mais uma vez, com a cabeça latejando e tento ver se está no barco. No quarto vejo que sua bolsinha sumiu e visto uma roupa qualquer. Ela pode estar em perigo. Procuro pelo meu celular, mas não encontro ele. Saio de dentro da cabine e vejo que estamos na marina. Vou até a escada e assim que me abaixo pra pegar a arma, não a sinto onde estava. - Merda! Ainda tonto e sem muita coordenação, saio do barco. Preciso de um telefone. Jorge, qualquer pessoa precisa ajudar a Vivian. Ela pode estar em perigo com o Banks. Meu corpo se choca contra o de uma mulher ruiva. - Preciso de um celular. Peço e ela assustada me dá o dela. Ligo para o Jorge, que não atende. - Merda! Ligo para o celular de emergência do Alberto e no segundo toque ele atende. - Vivian está em perigo. Digo ofegante e espero por resposta. - Ela conseguiu! Diz todo orgulhoso. - Roubou o Banks de forma espetacular. Assisti tudo e ela sem duvida é uma das melhores golpista que já vi em atuação. E ainda libertou Aurora e Jorge, dando a eles a metade que cabia a Aurora pelo casamento. Fez Marcela acreditar no amor do pai e ir com eles. - Onde ela está? - Um informante me disse que está no aeroporto, seu jatinho sai em duas horas. Desligo o celular e praticamente arranco da mão da mulher a minha frente a chave de seu carro. Ainda dá tempo de conversarmos e dizermos a verdade sobre nós. Isso não pode ficar assim, terminar assim. ***************** Entro com o carro na pista do aeroporto. Vejo o jatinho e Vivian andando até ele. Desço do carro e um segurança tenta me segurar. O derrubo com um soco e ele cai desmaiado. Pego sua arma e corro em direção ao jatinho. - Vivian! Grito com o coração quase acelerado, quase saindo pela boca. Para na ponta da escadinha do jatinho e apenas vira a cabeça para me ver. - p***a! Achei que tivesse matado ele. - Não sobe ou vou atirar. Renata precisa me ouvir! Precisa saber quem eu sou e que eu sempre soube quem ela era. - Você não vai atirar. Diz com os olhos marejados, focados nos meus. - Da mesma forma que não tive coragem de te matar, você também não tem. - Não... sobe... Peço firme, tentando acreditar que não foi um jogo, que foi real. - Adeus, Fábio! Se vira e sobe no jatinho. Apenas observo a porta se fechar e ela partir. ******************* DOIS MESES DEPOIS Meus olhos ardem, mas não os desvio da tela. Ainda tenho muitas filmagens de aeroportos para verificar. Tenho certeza que em alguma encontrarei Vivian. - Fábio! - Agora não! - Alberto quer falar com você. Olho para Dimitri que mantém seu olhar vazio para mim. O olhar de um segurança velho e sem paciência. - Avise que só falarei com ele quando souber onde ela está. - Ele quer você fora da busca. - O que? Pergunto irritado. - Cara, você está obsecado. Supera o fato da mulher ter te dopado, te deixado no barco pra dar um golpe perfeito. Supera o fato dela ter feito sozinha o que muitos não conseguiram. Fecho meus olhos e respiro fundo. Ninguém entende que não tenho um ego ferido. Tenho um orgulho e uma admiração enorme por essa mulher. Ela foi incrível no golpe contra o Banks e ainda libertou Aurora, Jorge e Marcela, deixando com eles metade da fortuna. Isso é algo maravilhoso. Não é o meu ego que está machucado, que está doendo. - Que se f**a se me tirar da busca. Continuo sozinho! - Acho que você esperava uma carta dela dizendo que te ama e que te espera em um país para viverem um amor louco. Se Alberto desconfiar que vocês se envolveram, ele te mata. - Tailândia! Digo me lembrando da nossa conversa. Acesso as câmeras de segurança de hoje e mantenho minha atenção no monitor. ******************** Duas horas depois um corpo me chama atenção. Aumento a imagem e mesmo ela com óculos, cabelos escuros e roupas simples, sei que é a Vivian! - Vamos para a Tailândia! Avise Alberto e seus homens. Grito ao Dimitri, correndo para recolher minhas coisas e ir junto. ********************* Consigo a chave reserva do quarto onde ela está. - Sobe e verifica o que ela diz. Tenta arrancar dela o porque do golpe, qualquer coisa que me de certeza que ela me procura. Escuto ele falar sem parar, mas minha mente e meu coração só conseguem pensar em uma coisa, uma pergunta. Você não sentiu nada por mim, nunca pensou em me levar com você? - Me liga e fica com o celular na ligação enquanto conversam. Quero ouvir o que falam. Faço a ligação para o celular do Alberto e assim que atende, enfio no bolso o meu, ainda ligado. - Cuidado! Pede e o ignoro, indo para o quarto de Vivian. ****************** Entro sem fazer barulho e observo ela dormir. Ela continua linda! Seu cabelo agora escuro, está esparramado no travesseiro. Seus lábios que eu tanto desejei beijar com fervor, levemente abertos. Me sento em uma cadeira e simples assisto ela dormir. Ela geme alguma coisa e me levanto para ouvir. Suspira e geme meu nome, como se estivesse me chamando com medo. Seus olhos começam a se abrir e quando me encontra ao pé da cama, se assusta. - Fábio! Vai se sentando com medo. Talvez porque eu esteja com uma arma na mão. - Eu... Fecha os olhos e destravo a arma, porque realmente não quero desculpas! - Antes de atirar, apenas me escute. Abre os olhos e me encara. - Aurora, Jorge, Rafael e Marcela estão bem e seguros. Dei a parte que cabia a Aurora para que pudessem sumir dos olhos do Banks. Me aproximo e coloco a arma em sua cabeça, não querendo ouvir sobre eles. Sei muito bem que ela cuidou de todos, menos de nós. Ergue a cabeça e com enormes olhos azuis marejados, começa a falar. Me conta sobre Alberto com detalhes, de como a abandonou com a mãe e tudo que fez para encontra-lo. Por isso o golpe, por isso se tornou golpista. Por isso essa merda era tão importante pra Renata. Bem! Se era o pai que ela queria. Me afasto, tiro o celular do bolso e o desligo. Ando até a porta e a abro, dando ela o que tanto queria. - Pai! Assisto os dois se abraçarem e conversarem. Mas me sinto sufocado por estar aqui. Ela só queria isso e agora me sinto um nada. Realmente nunca fui algo importante, fui um meio para alcançar um fim. Alberto conta sobre o golpe inicial, sobre a merda toda que gerou. Entrega que sou um golpista também e ela parece surpresa. Me olha e quero evitar seu olhar. Ele ainda fode comigo. Decido ir pra varanda, tentar acalmar meu coração, minhas emoções. Nunca existiu sentimento por parte dela e os meus logo vão morrer. Meu corpo pode sentir o dela próximo. Minha pele chega a queimar, desejando senti-la. Para ao meu lado e olhamos a linda paisagem da praia. - Então você sempre soube quem eu era. - Sim! - Me torturava pedindo uma confissão, fez toda aquela cena para me enganar. - Seu pai me pediu para testa-la. Queria saber se suportava pressão e mantinha o segredo. Se vira e seu braço toca o meu, me fazendo prender o ar. É como se nesses dois meses estivesse guardando combustível para queimar meu corpo quando me tocasse. E agora todo o combustível está pronto para explodir, me consumir. - Então tudo o que aconteceu foi um plano seu e do meu pai para me proteger, me testar e me ajudar no golpe. Agora sou eu quem me aproximo e toco seu braço novamente com o meu. - Sim! Preciso sentir seu cheiro, mesmo que por uma ultima vez. Aspiro seu cheiro, tocando com a ponta do nariz seu ouvido. - Foi tudo uma mentira? Pergunta e seu rosto se vira um pouco. Nós dois estamos focados em nossas bocas. - Foi uma mentira pra você, Renata? Devolvo a pergunta e agora nossos olhos se encontram e se conectam. - Responde você primeiro. Ergo minha mão e toco seu rosto. Seu rosto tomba para a minha mão e fecha os olhos. Não vou ser o i*****l apaixonado de novo. - Você só foi mais um trabalho que seu pai me deu. Seus olhos se abrem e quase vejo dor neles. Mas como sempre isso pode ser só mais uma atuação dela. - Parabéns por encontrar seu pai. Espero que sejam felizes juntos. Tiro minha mão de seu rosto e me afasto. - Antes que me esqueça! Dou um sorriso verdadeiro para ela. - Parabéns pelo golpe bem sucedido. Você foi incrível! Não me diz nada e também não me olha. - Até algum dia!
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