Foi preciso mesmo muita força de vontade para Aurora não arrancar a mão de Gabriel de sua cintura na base do t**a. Ele achava mesmo que ia conseguir alguma coisa agindo daquele jeito? Pior, ele achava mesmo que ela não podia se defender sozinha? Não que ela tivesse certeza de que podia quando se tratava de Caio, mas Gabriel não tinha nada que achar algo assim.
– Então foi por isso que você me deu um fora? Para ficar com um cara rico? – Caio alfinetou antes que ela sequer tivesse a chance de desmentir Gabriel, e então riu – Só assim mesmo para você ficar com esse i****a, não é mesmo Aurora? – ele se virou para o outro – Como é saber que ela nunca teria coragem de namorar o antigo você?
As palavras atingiram o alvo em cheio, no segundo seguinte a mão de Gabriel afrouxou a aperto em sua cintura, mas não antes de Aurora sentir o tremor que o percorreu. A raiva que até então borbulhava crescentemente sob sua pele, transbordou. Ela se afastou de Gabriel e com uma coragem totalmente vinda da fúria, apontou o dedo para Caio.
– Você está completamente enganado – manteve a voz firme e controlada, odiava escândalos e não iria causar um no meio da cafeteria por causa de dois idiotas – Eu te dei um fora porque você é um grande b****a, pelo amor, eu só fiquei com você naquela festa porque eu estava bêbada. Qual o seu problema? E sobre o Gabriel... – Aurora suspirou – Eu simplesmente preferiria passar o resto da minha vida com a antiga versão dele. Agora me diga, como é para você saber que eu nunca te quis de verdade? Que na verdade eu preferia o velho Big G à um grandalhão sem cérebro como você?
O rosto de Caio já havia adquirido um tom de vermelho impossível de ignorar, se estivessem em um desenho, aquele seria o momento em que sairia fumaça por suas orelhas. Aurora esperou uma réplica agressiva, afinal, fora exatamente por aquilo que se apressou em dizer que jamais teria algo a mais com ele após acordar de ressaca ao lado de Caio em uma cama de hotel. Ele era muito conhecido pelo temperamento instável, e durante os dias que se passaram desde a manhã em que acordaram juntos, ele já havia se mostrado bastante inconveniente com a tal divida que ela tinha de pagar saindo com ele. No entanto, apesar de todo o histórico, tudo o que Caio fez após escutar o que ela disse foi cerrar os olhos e sorrir com desdém.
– Quando ele cansar de brincar com você, vem me procurar. Ou acha mesmo que você é o suficiente para manter alguém com a fama dele na linha? – e com isso Caio virou e se afastou, Aurora continuou o seguindo com o olhar até vê-lo sumir pela escada.
– Não acredito que você ficou com esse b****a – o tom de censura de Gabriel chamou sua atenção de volta, a fazendo virar para olha-lo.
– E eu não acredito que você teve a cara de p*u de me procurar com isso de novo – pegou a pasta que ele trouxe e a empurrou contra seu peito largo.
– Vamos lá, Amorinha, me deixe ao menos explicar.
– Não, eu só quero que você me deixe em paz.
– Ok, e se nós fizéssemos um acordo? – ele a segurou pelo braço, impedido que se afastasse – Você passa um dia comigo e me deixa explicar tudo e se no fim do dia você ainda não quiser aceitar, eu nunca mais te procuro para isso. Ok?
– Você quer me convencer de que eu preciso aceitar passar um dia com você para você me deixar em paz? – ela sorriu, debochando da ideia. Gabriel deu de ombros.
– Você sabe como eu posso ser insistente quando quero, não sabe? Ou já esqueceu disso?
Por um momento, Aurora pensou em recusar, no entanto, realmente sabia como Gabriel costumava ser chato quando queria algo. E se ele queria tirar sua paciência com aquela maldita proposta, não desistiria antes de conseguir. Era mesmo melhor que ela adiantasse o processo para poder dizer o “não” definitivo a proposta.
– Tudo bem, segunda é minha folga.
– Ótimo, eu te pego em casa às oito – o sorriso dele era genuíno – Até mais, Amorinha.
Ela o viu caminhar confiante até as catracas, era impossível não fazer comparações entre ele e seu velho amigo. Gabriel havia ficado muito bonito, tanto que praticamente todas as mulheres no pátio da faculdade o observavam passar. Aurora começou a imaginar como seria inconveniente ser a noiva de alguém assim, mesmo que fosse de mentirinha...
– Você não pode estar mesmo considerando isso – murmurou, se repreendendo.
– Considerando o quê? – Helen se juntou a ela, empolgada demais – Você vai passar um dia inteiro com ele!
– Nossa, que alegria – Aurora revirou os olhos, voltando a se sentar – m*l vejo a hora de perder meu dia com um b****a arrogante.
– Qual o seu problema? Ah, se eu pudesse passar um dia com ele, eu...
– Você o quê, senhorita castidade? Daria selinhos nele o dia todo?
– Aurora! – Helen abaixou a cabeça, encarando as coxas m*l cobertas pelo vestido azul rodado que usava naquela manhã. A ruiva era linda, tinha um corpo de ampulheta, que apesar de parecer “acima do peso” para muitos caras s*******o, era, na opinião de Aurora, um grande caminho para o pecado. Os cabelos ruivos eram cacheados e batiam no meio das costas, o rosto redondo e os lábios carnudos a faziam parecer uma boneca e para completar, tinha toda a beleza interior da garota, já que Helen era sem sombras de duvidas a pessoa mais doce que Aurora conhecia. E ainda assim, ela ainda era virgem, não que fosse um problema manter a virgindade aos vinte quatro anos de idade. O problema é que Helen era virgem porque nunca tivera segurança o bastante em si mesma para levar uma relação adiante. Ela sempre terminava com os caras quando as coisas começavam a esquentar porque tinha medo do que eles pensariam ao ver seu corpo. E nem mesmo os sermões de Aurora ou todos os elogios que fazia eram o bastante para fazer Helen enxergar o quão linda era, ou entender que o cara certo iria ama-la do jeito que ela era.
– Desculpe – Aurora se consertou na cadeira – é que a possibilidade de aturar o Gabriel por um dia inteiro me deixa antecipadamente chateada.
– Por que você parece desgostar tanto dele? – Helen voltou a olha-la.
– Eu o conheço desde de os quatro anos de idade, nós éramos melhores amigos até ele simplesmente ir embora quando nós tínhamos quinze anos – deu de ombros, tentando soar casual – e aí quando ele voltou foi assim... Um grande i****a que se acha.
– Você ainda está magoada por ele ter te deixado – Helen segurou sua mão, a olhando com uma compaixão que a fez querer se afastar.
– Não, claro que não. Eu só... nunca gostei de pessoas assim, sabe?
– Sei – a amiga arrastou a palavra – Que tal a gente ir estudar para a prova?
E assim o assunto Gabriel morreu, ao menos na conversa, já que tudo o que a mente de Aurora fez o resto do dia foi imaginar o que fariam juntos durante um dia inteiro.