Capítulo 4 - Senhor oportunista

1765 Palavras
Gabriel – Como assim ela disse não? – Hugo, o advogado e melhor amigo de Gabriel, perguntou na manhã seguinte enquanto caminhava de um lado para o outro no escritório. A ideia de qualquer mulher recusar uma proposta daquelas em pleno século XXI lhe parecia realmente absurda – Você falou do salário? – Ela não me deixou chegar nessa parte, estava com raiva demais para me escutar – Gabriel afrouxou a gravata, a sexta-feira m*l havia começado e já sentia vontade de largar tudo e cair em uma noitada das boas, uma que fosse capaz de fazê-lo se sentir menos pressionado por toda aquela situação ou pela indignação que a mágoa encenada por Aurora lhe causava – Ela está com raiva – completou, dando um sorriso amargo – Que direito ela tem de ter raiva de mim depois de tudo o que fez? – ele levantou, dando a volta na mesa de mogno tomada de papéis – eu devia estar com raiva. – Mas não está, não é? – Hugo cruzou os braços sobre o peito enquanto o analisava com um olhar cheio de conhecimento. – Não – Gabriel passou as mãos no cabelo, faziam três dias desde que encontrara Aurora por acaso, tinha a sensação de que desde aquele momento não conseguia mais manter nem os cabelos, nem a vida, no lugar. – E por que não? – Hugo lhe lançou um olhar questionador, as íris castanho claras brilhando com diversão. É claro que ele sabia a resposta, ao longo da amizade dos dois passara muito tempo ouvindo relatos de Gabriel sobre Aurora. Mas obviamente Hugo não podia perder a chance de provocar Gabriel um pouquinho mais. – Porque é a Amora – ele revirou os olhos para o sorrisinho no rosto do amigo – satisfeito? Eu não consigo ter raiva dela. – E isso é ótimo, afinal de contas você não pode odiar uma potencial candidata a noiva – o amigo se aproximou da mesa onde a pouco jogara uma pasta – De qualquer forma, temos que começar a pensar em novas candidatas caso a Aurora desista e – ele pegou a pasta, estendendo-a para Gabriel – Eu trouxe um contrato do acordo de noivado para você dar uma olhada. – Não vamos precisar procurar outras candidatas – ele tomou a pasta – a Aurora vai assinar isso aqui antes desse mês acabar. – E o que te faz ter tanta certeza disso? – o amigo acompanhou com o olhar enquanto ele se dirigia decidido até porta. – É simples, eu conheço a Amora como a palma da minha mão – ele piscou para Hugo antes de girar a maçaneta – peça ao Gustavo para cuidar de tudo enquanto eu estiver fora, ok? – Aonde você vai? – o outro se apressou em segui-lo pelo saguão. – Persuadir a Amorinha, é claro. Aurora – Você ao menos está me escutando? A voz de Helen trouxe Aurora de volta à realidade, desde a madrugada e da proposta absurda de Gabriel ela passava a maior parte do tempo daquela forma, perdida em pensamentos. E grande parte desses pensamentos envolviam xingamentos diversos contra o riquinho abusado. Que ideia absurda era aquela de noivado? Aurora não conseguia levar aquilo à sério, mesmo que a expressão de Gabriel ao citar a tal proposta parecesse extremamente séria. Na verdade, a possibilidade de aquilo ser verdade só a deixava ainda mais indignada e Aurora rezava para Gabriel não se atrever a dar as caras novamente, a menos que fosse para explicar o motivo de ter sumido e de ter se tornado um b****a arrogante. – Aurora! – Helen estalou os dedos em frente ao seu rosto, a resgatando novamente dos devaneios – Em que mundo você está? – Desculpe, o que você estava falando? – Esquece, por que não me diz o que anda te preocupando? – Helen se debruçou sobre a mesa da cafeteria, segurando sua mão, era a pessoa mais carinhosa e atenciosa que Aurora conhecia, sempre querendo saber o que estava acontecendo e tentando ajudar. As vezes Aurora tinha vontade de coloca-la em um potinho para protegê-la, as vezes tinha vontade de lhe sacudir e dizer que toda aquela delicadeza com os outros ainda acabaria machucando-a. – Não é nada demais, apenas um cliente inconveniente que resolveu me encher a paciência ontem a noite na boate. – Outro desses? – Helen a olhou com preocupação, Aurora meneou a cabeça. – Nada tão grave como da última vez, esse apenas falava besteiras demais – Helen assentiu, sem ser convencida. Por ser melhor amiga de Aurora, a ruiva sabia de todos os casos absurdos que ela já passara na boate, alguns clientes tinham bastante dificuldade para entender que Aurora era funcionária apenas do estabelecimento e que estava ali para servir bebidas e não para atender aos desejos sórdidos e alcoolizados deles – Sério, Helen, dessa vez foi só um lunático com ideias absurdas, acho que ele é um desses ricos que acaba mergulhando em um mundo fantástico irreal. Helen assentiu, mordendo o lábio, uma expressão divertida tomando o rosto redondo e delicado da ruiva. Aurora estreitou o olhar em sua direção. – O quê? Mas a amiga não precisou responder, já que no segundo seguinte Gabriel sentou em uma das cadeiras vagas ao lado de Helen. Falando no d***o. – Bom dia, meninas – ele abriu um sorriso radiante para ela, enquanto Helen se derretia na cadeira sem qualquer vergonha ou vontade de disfarçar. – Bom dia – a ruiva o cumprimentou animada e então olhou para Aurora que permanecia calada com uma nova expressão emburrada no rosto. – Parece que a Amorinha acordou de ótimo humor – Gabriel apoiou o braço no encosto da cadeira de Helen fazendo a face da garota ganhar um tom vivo de vermelho. – O que você veio fazer aqui? – Aurora cruzou os braços, o fulminando com o olhar. – Vim ver minha velha amiga de infância – ele apoiou uma pasta na mesa e a deslizou para Aurora, continuando antes que ela pudesse retrucar: – E trazer isso para ela. – E isso é...? – A parte escrita do que conversamos ontem a noite. – Vocês se viram ontem a noite? – Helen tinha uma expressão tão surpresa no rosto que quase fazia Aurora se sentir ofendida. Era tão absurda assim a ideia de Gabriel ter lhe encontrado na noite anterior? – Lembra o cliente lunático de quem eu te falei? – ela encarou a amiga – Era ele. – Então vocês estavam falando sobre mim? – o sorriso de Gabriel se tornou convencido. Aurora rangeu os dentes, odiava sentir toda aquela raiva infantil dele. – Sim – Helen inclinou o corpo para olha-lo, empolgada – Aurora passou a manhã toda perdida no mundo da lua, o que você fez para deixar ela assim, hum? – Helen, pelo amor de Deus, cala a boca. – Então quer dizer que eu ando deixando sua amiga distraída, e olha que eu ainda nem comecei a fazer algo com ela. Os olhos da ruiva se arregalaram com todos os significados implícitos na frase, Aurora não sabia se tinha mais vontade de bater em Gabriel, em Helen ou em si mesma. – Achei que pessoas do seu nível social tinham mais o que fazer, você sabe, coisas mais interessantes que tirar o sossego de mulheres aleatórias – ela deslizou a pasta de volta para ele – Por que não vai embora? – Primeiro, você não é uma mulher aleatória, Amorinha. Segundo, eu não vim aqui para tirar o sossego de ninguém, vim para te entregar os papéis e para te fazer um convite... – Não – o interrompeu sem paciência para ouvir mais daquilo – a resposta é não. – Você pode ao menos me ouvir? – Não. – Por que tem que ser tão teimosa? – o sorriso dele sumiu, Aurora deu de ombros. – Por que você tem que ser tão irritante? Antes que Gabriel retrucasse, e para provar que nada é r**m o suficiente que não possa piorar, uma terceira voz interrompeu a conversa. – Vejam só se não é o Big G – disse Caio, o dono da terceira voz. O mesmo que fora o valentão responsável por atormentar Gabriel por toda a adolescência. Aurora quis se enterrar, sabia exatamente quais seriam as próximas palavras dele enquanto mantinha aquele olhar de desdém sobre o outro – Não vai me apresentar ao seu velho amigo, amor? – Amor? – o olhar de Gabriel se tornou pura decepção, como se houvesse acabado de descobrir que Aurora cometera um atentado à humanidade. Ela rangeu os dentes, ignorando como aquele olhar a fazia querer explicar compulsivamente as coisas. – Ótimo, outro b****a para me encher a paciência – desviou do olhar magoado de Gabriel para encarar o outro – O que você quer, Caio? – Te convidar para... – Não – o interrompeu, levantando – Nós terminamos o que quer que tenha sido aquilo, não quero te ver nem pintado de ouro. Ok? Caio fechou a expressão, cruzando os braços musculosos que só um jogador de basquete fissurado em academia pode ter e a bloqueando, foi o bastante para Aurora precisar se esforçar em não recuar e em controlar os batimentos cardíacos que começavam a acelerar. – Você me deve um jantar – ele praticamente rosnou em sua direção – não adianta inventar mais desculpas. Você vai sair comigo na segunda-feira. – Não, eu não vou. E se você não sair da minha frente agora... – O quê? – ele a desafiou. Aurora pensou em algo ousado para dizer, não que tivesse mesmo como vencer Caio em um embate, na verdade, tinha um certo medo dele – Por que não sai logo comigo na segunda? – ele mudou o tom de voz, se aproximando. Aquelas mudanças de personalidade eram uma das partes mais assustadoras nele – Assim você fica livre e eu... – Sinto muito frustrar seus planos, Caio – Gabriel levantou, parando ao lado de Aurora e passando a mão em volta de sua cintura. Ela controlou a respiração e a vontade de bater nele pela atitude i****a, se não quisesse tanto se livrar de Caio naquele momento... – mas a Amora já tem compromisso comigo na segunda – ele abriu um sorriso arrogante para o outro – e temo que ela não vai ter tempo para você por um longo período a partir disso – Gabriel apertou sua cintura e alguma parte de Aurora teve certeza que podia sentir o nervosismo dele – Afinal de contas, eu pretendo manter minha namorada muito ocupada.
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