"Eu podia ser naquele momento a pior das minhas versões, mais em momento algum deixaria de acreditar nas minhas capacidades"
¤Vickyara ¤
Desperto com as investidas dos feixes de sol que penetraram através da minha janela, esqueci completamente de fechar as cortinas no dia anterior. Olho para o meu relógio faltava apenas 5 minutos. Decido levantar para não atrasar, fiz um banho rápido, o debate começou quando eu simplesmente mudo de ideias no que vou vestir, as minhas calças são largas, fico muito magra, e não essa blusa que coloco não está mais na moda.
Uma das coisas que sempre desejei é chegar a esta idade e não me sentir inferior, quando pensava em 25 anos, eu imaginava uma Biatriz com uma autoestima elevada, ao ponto de não se importar com a impressão que causo.
Olho para o relogio já devia estar na rua, para resolver a minha inquietação coloco umas cerolas para dar volume as calças, Pronto.
Coloquei-me a andar, não cnsegui comer algo concreto como meu organismo exigia, apenas levei ao estômago alguns goles de chá, fiz a questão de sair cedo de casa e incluir na minha pasta que carregava em minhas costas uma muda de roupa, já tinha aprendido com os acontecimentos anteriores.
Meu coração ficou ainda mais celere quando visualizei o edificio, com letras garafais no topo escrito GENICA. Enquanto atravessa prestei o devido cuidado, de ropante vejo um carro a altas velocidades, e por incrível que pareça por pouco fui atropelada por um ford, alias é o mesmo ford que regou-me com as águas negras no dia anterior. Constato após olhar novamente, não pensei duas vezes de tão irritada e revoltada, com a palma da minha mão bato a parte traseira do automóvel, e não demorou muito, o dono saiu do automovél com cara de poucos amigos, que nem combinava com a aparencia dele, é um homem alto de pele branca com uma aparência agradável.
—A senhora está louca?— Vocifera o homem com um olhar de incredulidade
—Louco aqui é o senhor, que por pouco atropelava-me, já não bastava ontem ter regado-me com águas paradas. —Eu levantei também a voz, estacva claro que sobre diplomacia eu não entendo nada, vontade de bate-lo não faltava.
—Eu não tenho culpa se a senhora não está habituada a estar na cidade, volta para África sua preta imunda. — Disse o homem enraivecido, seu olhar demonstrava desdenho.
Parei para analisar, é difícil acreditar que em pleno o século 21 ainda há neandertal entre nós, céus isso é grave.
Aquelas palavras perfuraram o meu peito, calei-me e dei as costas, não podia perder tempo, havia coisas mais importantes em jogo, não vou negar que ainda estou a pensar naquelas palavras e mais Eu não sabia simplesmente ignorar ou não levar a peito, sou real sinto dor, posso fingir por fora mas aqui dentro há um incêndio.
Contudo, continuei a caminhar, fui em direção ao elevador, coloquei o número do andar. Rapidamente o elevador veio e vazio,adentrei, assisti as portas a fecharem em câmera lenta, e de rompante coloca a mão um jovem muito bem vestido, num fato azul, eu posso dizer que ele tem o dobro da minha altura, não é exagero, alguns centímetro a mais de uma boa diferença, ele tinha feições perfeitas, e uns olhos azuis hipnotizantes.
— Uff foi por pouco— Comentou ele, e do nada começou a sorrir. Entrei em pânico, com essa reacção repentina e estranha, primeiro porque não estava a entender qual era a graça, Eu seria novamente o motivo? Foi aí onde visualizei através do espelho da parede do elevador a minha imagem para ter a certeza que tudo estava em ordem, está tudo conforme. Segundo porque ele tinha o sorriso mais bonito, nunca na minha vida tivera gostado de apreciar um sorriso, não gosto nada disso, isso só pode ser uma armadilha do d***o. O que o d***o não sabe é que sou uma mulher muito abençoada embora eu tenha me distanciado das orações, mesmo assim nenhuma seta de cupido atravessará em mim.
—Você é muito séria, são 7 da manhã, podia sorrir um pouco, é assim que se inicia uma jornada. -- Declarou Ele, após ver minha cara de indignação. Não é possível um homem bonito está a flertar comigo, eu sou muito insegura até irrita, é claro que ele está a flertar contigo Biatriz Silva, Não vamos só confirmar.
—Como? Está a falar comigo? — Claro que era óbvio que era comigo, só estou apenas a jogar pelo seguro. Não o tipo de pessoa que se alia a julgamentos mentais, que pensa em algo e depois começa a criar uma história e julga ser a realidade.
—Não. Eu sou paranóico, vez em quando gosto de falar sozinho, principalmente quando tenho companhia. —Disse Ele com o ar de humor, não consigo suportar gargalho bem alto, mas é aquele gargalhar descontraído, que provoca aquele barulho que algumas pessoas chamam de falta de modo, só faltou me deitar no chão, ele parecia se animar ao me ver gargalhar. o elevador faz aquele som habitual quando está bem próximo, e vejo a porta a abrirem-se, para o meu andar ainda faltava, só pode ser o andar do mister simpatia.
— Adeus Verónica, tenha um óptimo dia — Despediu-me e cara sem vergonha teve a ousadia de piscar para mim, aqueles olhos azuis que parecem duas ondas marinhas contidas em uma esfera, isso devia ser pecado. Espera ai ele disse Verônica, quem é essa fulana?
—Ei.... Eu não sou Verônica. — Gritei mas o elevador foi bem mais rápido. credo e Eu ainda estava com o sorriso em meus lábios, como aquilo podia ser possível? até esqueci que estava m*l disposta pelo episódio com o homem do Ford e a minha ansiedade estava calma, mas isso foi até o elevador parar no meu andar.
Começo a Sentir aquele cheiro carateristico de alumínio processado, quando ia em direção ao meu departamento, deparei-me com a moça simpática do dia anterior, ela era até simpatica nas roupas, trajava umas calças verdes justas e uma camisa creme e combinou com os sapatos, quanta ousadia, eu de verde pareço uma manga verde.
—Bom dia — Eu cumprimentei e Ela abriu um lindo sorriso.
—Bom dia, ansiosa para seu primeiro dia? — Indagou Ela ainda a sorrir. Eu ia lhe perguntar como sabe que hoje é meu primeiro dia, recuei, lembrei que ela foi quem deu-me as indicações no dia anterior.
— Demais! Está tão visível?— Perguntei preocupada, geralmente quando tenho meus episódios de ansiedade fico trêmula, pálida e com uma vontade enorme de ir ao balneário.
— Que nada. Nem parece, você tem uma pose de segurança incrível, meu nome é Donatela, trate-me por Dona. —Disse ela cordialmente. Já gostei, aberta para amizades.
— Prazer Eu sou a Biatriz, pode tratar- me por Trisha. —Eu disse a sorrir, Ela também fez o mesmo. Parecemos duas comadres, agora só falta discutirmos sobre boys.
— Então nos vemos na hora do almoço. — Disse ela apressada.
— Está certo. —Eu disse feliz, obah ganhei uma amiga, agora lembrei-me que era a primeira mulher de raça branca com quem simpatizava.
Quando era estudante logicamente também tive colegas Brancas, infelizmente havia tanta discriminação que os brancos sentavam-se em um lado e os negros de outro, o mais chato é que em algumas aulas os docentes direcionavam-se para o lado dos brancos as vezes falavam tão baixo que obrigatoriamente achei por bem fazer uma lavagem nos ouvidos para escutar três vezes melhor que o meu normal.
Enfim entrei na grande sala, já era de esperar só havia homens, Eu era a única mulher como no tempo da faculdade, e os jovens antipáticos do dia anterior lá estavam. Ser a única mulher nunca foi incômodo para mim, eu sinto-me empoderada, é como se eu fosse a embaixatriz das mulheres nesse espaço.
—Bom dia— Eu disse logo que entrei, uns cumprimentaram-me, outros nem por isso, sentei-me exactamente onde havia a plaquinha com o meu nome. Em seguida entrou na sala um senhor adulto com os cabelos grisalhos, uma melancia enorme ops uma barriga, tenho a certeza que os botões estão prestes a chorar. Não tenho preconceito com os barrigudos, até porque na minha terra os barrigudos eram vistos como homens de poder, mesmo em algumas regiões da África, eles são considerados melhores candidatos, logo isso remete a ideia que no mundo a espaço para todos, a alguém a procura de mim com a minha personalidade e fisionomia.
—Bom dia, peço para que os novatos, sigam -me, para conhecer a nossa planta de processamento e os equipamentos usados no tratamento e processamento do alumínio. Ahm meu nome é Ernesto Maciel —Disse o senhor. Então eu e os dois jovens o seguimos para conhecer a planta de processamento, o cheiro de aluminio intensificava-se cada vez mais que nos aproximavamos do rés do chão. Quando chegamos deram-nos vestuários de protecção, mesmo como a máscara que trazia o cheiro não abafava. Acredito que um dia ficarei habituada com sem cheiro.
Amei, é incrível ver os lingotes de alumínio que saíam das máquinas, o senhor Maciel, contava que os britadores assim como as moageiras eram recentes, tinham vida útil de 5 anos, e que havia um software especializado no controle do funcionamento das máquinas. como Eu queria fotografar os lingotes de alumínio para mostrar meus familiares mas infelizmente não podia.
Contudo, regressamos ao nosso departamento, estamos animados com o que tínhamos visto, a ciência é fascinante, é ainda maravilhoso quando se está inserida em grupo onde tem pessoas que também tem o mesmo gosto, e se maravilham conversando sobre o mesmo.
Voltamos a sala entusiasmados com ideias futuristas para melhorar o desempenho das máquinas. Percebi que há um homem de costas alto como um coqueiro, pareceu-me familiar, não lembro-me de onde eu tinha visto.
—Voltamos numa boa altura, deixe-me apresentar- vos o vosso chefe de departamento. —disse o senhor Ernesto, o homem de costas por sua vez voltou-se para nós, não é possível, acho que vou surtar, não pode ser verdade, era o homem do Ford....