JOGO

4159 Palavras
 Tipinho arrogante. Penelope se virou e estudou seu novo quarto. Sabia que Anthony tinha bastante dinheiro e levava uma vida confortável, mas estava se sentindo como a personagem de Audrey Hepburn em My fair lady: completamente rústica perto da sofisticação de seu tutor. Que se dane. Precisava manter sua vida tão normal quanto possível, com ou sem casamento.  Anthony não era seu marido de verdade, e ela não planejava se deixar envolver em ilusões domésticas e chegar ao fim do ano completamente perdida. Até mesmo, era provável que m*l se vissem. Penelope presumiu que ele trabalhasse sempre até tarde e que, tirando uma ou outra festa que exigiria a presença do casal, eles levariam vidas separadas. Seu discurso motivacional para si mesma funcionou bem, e ela arrancou o vestido do corpo e passou a hora seguinte relaxando em um banho de espuma na luxuosa banheira de hidromassagem da suíte. Apenas uma vez, olhou para a sensual camisola preta que suas irmãs haviam posto em sua mala antes de enfiar a peça no fundo de uma gaveta.  Vestiu leggings e uma blusa de moletom cortada, prendeu o cabelo para cima e desceu para a cozinha. Ela seguiu os sons de comida sendo preparada e se acomodou em uma das pesadas cadeiras de madeira na cozinha. Pousou os pés descalços nas bordas do assento, abraçou os tornozelos e ficou observando seu novo marido. Ele não havia tirado o smoking, embora tivesse tirado o paletó e enrolado as mangas da camisa branca até os cotovelos. Desabotoara até o meio do peito os botões de ônix e pérola, revelando pelos dourados espalhados sobre os músculos definidos. Foi um grande desafio para penelope ignorar a curva do traseiro – o homem tinha uma b***a sensacional. Pena que ela jamais o veria nu.  O episódio do calção de banho arriado não contava e, além do mais, ela ficara ocupada demais olhando a parte da frente dele.  – Quer ajudar? Ela enterrou as unhas nas palmas das mãos para voltar à realidade.  – Claro. O que você está preparando?  – Fettuccine Alfredo com camarões, pão de alho e salada. Um gemido preocupado escapou dos lábios dela.  – Ah, meu Deus, você é mau!  – Não gostou do cardápio?  – Gostei até demais. Acho que vou comer só a salada.  Ele lançou um olhar de desprezo sobre os ombros.  – Estou cansado de mulheres que pedem só uma salada, e depois ficam com aquela cara de quem merece uma medalha. Uma boa refeição é uma dádiva.  Ela apertou os dedos com mais força ainda.  – Ora, muito obrigada pelo seu ponto de vista presunçoso sobre a população feminina. Para sua informação, eu sei apreciar boa comida muito melhor que você. Você por acaso viu os aperitivos que escolhi para o casamento? Não viu o quanto eu comi a noite toda? É mesmo muito típico de um homem, pôr uma comida supercalórica na frente de uma mulher e ficar ofendido porque ela não quer comer, e então ficar muito surpreso no quarto ao olhar para os quadris dela e se perguntar de onde vieram aqueles quilos extras.  – Não vejo nada de errado em uma mulher com curvas. Ela saltou de sua cadeira e começou a reunir os ingredientes para a salada.  – Até parece que não ouvi essa antes. Vamos testar sua teoria, está bem? Quanto Gabriella pesa?  Ele não respondeu.  Penelope jogou um pimentão vermelho na mesa, do lado da alface romana, e riu com desdém.  – O que foi? O gato comeu a sua língua? Ela pesa o quê, uns 45 kg? Ou isso é considerado gordo hoje em dia?  Quando ele falou, seu tom de voz era menos cheio de si:  – Ela é modelo. Sua profissão exige que ela mantenha um peso baixo.  – E ela pede salada quando vocês saem para jantar?  Mais silêncio.  Um pepino rolou pela bancada e parou na beirada.  – Vou tomar isso como um “sim”. Mas eu tenho certeza de que você fica muito grato pelo autocontrole dela quando está arrancando as roupas dela. Ele mudou o peso do corpo de um pé para o outro e concentrou-se nos camarões na frigideira.  – Gabriella é um mau exemplo. – Estava claramente desconfortável.  – Tenho mais uma questão para você. Sophia disse que você costuma sair só com modelos. Parece que você prefere mesmo as mulheres magras e aceita sem problemas que elas comam suas saladas. – Lavou os vegetais, pegou uma faca e começou a picá-los. – Mas quando se trata de alguém que você não tem a menor intenção de levar para a cama, parece que não importa o quanto ela engorde, desde que você tenha companhia para as refeições.  – Para falar a verdade, eu detesto sair para jantar com a maioria das mulheres com quem saio. Sei que elas estão na indústria da moda, mas eu gosto de mulheres que apreciem uma boa comida e não tenham medo de comer. Você não é gorda. Nunca foi gorda, então não entendo de onde vem essa obsessão.  – Você me chamou de gorda uma vez.  – Não chamei.  – Chamou, sim. Eu tinha catorze anos, e você disse que eu estava crescendo nos lugares errados.  – p***a, Penelope , eu estava falando dos seus p****s! Eu era um adolescente chato que gostava de te torturar. Você sempre foi linda.  O silêncio reinou entre eles. Ela tirou os olhos do que estava fazendo e o encarou, boquiaberta. Durante todos aqueles anos Anthony  sempre implicara com ela, torturando-a e insultando-a. Ele jamais havia dito que ela era linda.  Anthony mexeu o molho, e seu tom de voz era casual:  – Você entendeu o que eu quis dizer. Linda, tipo uma irmã. Vi você e Sophia passarem pela puberdade e virarem mulheres. Nenhuma das duas é f**a. Ou gorda. Acho que você está sendo dura demais consigo mesma.  Alexa entendeu o que ele quis dizer. Ele não pensava nela como uma mulher bonita, e sim como uma irmã caçula irritante que ficou atraente depois de adulta. A diferença era gritante, e ela ignorou a pontada de mágoa que a machucava por dentro.  – Bem, eu vou comer a salada e não quero ouvir mais nenhum comentário sobre mulheres.  – Como preferir. Deixei uma garrafa de vinho refrescando na geladeira, pode fazer um favor e abri-la para mim?  Ela abriu a garrafa cara de chardonnay e observou Anthony sorver um pouco da bebida. O aroma cítrico de frutas e madeira chegou ao nariz dela, e, após alguns instantes de conflito interno, acabou se rendendo. Uma taça. Afinal de contas, ela merecia. Serviu-se e tomou um pequeno gole.  O líquido escorreu pela garganta dela; o sabor era seco e, ao mesmo tempo, borbulhante. Ela soltou um gemido baixo de satisfação, a língua lambendo os cantos da boca e os olhos fechados enquanto o gosto da bebida pulsava em seu corpo.  Anthony  estava prestes a dizer algo, mas parou de repente. A visão de Penelope experimentando o vinho com tamanha satisfação travou todos os músculos de seu corpo. O sangue martelou em suas veias, e seu baixo ventre entrou em estado de alerta. Penelope lambeu os lábios de forma tão delicada que ele desejou que ela estivesse saboreando outra coisa que não o vinho. Ficou imaginando se ela também faria aqueles delicados sons guturais quando um homem penetrava suas profundezas úmidas e quentes. Se ela seria tão deliciosa e convidativa ali quanto era a sua boca, envolvendo-o como um punho aveludado, extraindo cada gota que ele tivesse para dar e ainda pedindo mais. As calças justas que ela vestia revelavam cada curva de seu corpo, desde a b***a perfeita até a extensão atraente de suas longas pernas. A blusa dela havia subido um pouco e deixava entrever uma faixa de pele nua. E é claro que ela havia descartado o sutiã, pensando nele não como um homem que poderia desejá-la, e sim como um irmão mais velho e irritante. Maldita hora em que ela começou a complicar as coisas. Ele pôs a travessa com a massa na mesa e começou a posicionar os pratos e talheres.  – Pare de beber o vinho desse jeito. Isso aqui não é um filme pornô.  Ela bufou.  – Ei, não vem descontar em mim, só porque está rabugento. Não é culpa minha se os negócios são mais importantes para você do que um casamento de verdade.  – É, mas assim que acertamos o preço, você topou. Eu te comprei tanto quanto você me comprou.  Ela agarrou a travessa com o macarrão e encheu o próprio prato.  – Quem você pensa que é para me julgar? Durante toda a sua vida, você sempre teve tudo na mão. Você ganhou um Mitsubishi Eclipse de presente de aniversário. Eu ganhei um Chevette. Ele se empertigou com a lembrança.  – Você tem uma família. Eu não tenho m***a nenhuma.  Ela parou, e então pegou um pedaço do pão de alho quente, cheio de mozarela derretida.  – Você tem a sophia . – Eu sei. – O que aconteceu entre vocês? Vocês eram tão próximos.  Ele deu de ombros.  – Ela mudou muito no Ensino Médio. De repente, não queria mais conversar, parou de me deixar entrar no quarto dela para nossas conversas e, por fim, se afastou de vez. Então eu a deixei ir e me concentrei na minha própria vida. Vocês também perderam um pouco o contato nessa época, não?  – Perdemos. Continuo achando que algo aconteceu, mas ela nunca fala disso. Em todo o caso, minha família passou uma época bastante ferrada também, então você não está sozinho.  – Mas agora a sua casa é tipo Os Waltons.  Ela riu e enfiou uma garfada generosa de massa na boca. – Meu pai ainda tem muito para se redimir, mas acho que conseguimos quebrar o ciclo. – Ciclo?  – Ciclo cármico. Quando uma pessoa faz uma m***a realmente monumental e te magoa. Seu primeiro impulso é magoá-la de volta ou se recusar a perdoá-la.  – Acho muito razoável.  – Ah, mas assim o ciclo de mágoa e ofensas continua. Quando ele voltou, decidi que eu só tinha um pai, e aceitei o que ele podia dar na época. Finalmente ele conseguiu se livrar da bebida e começou a tentar nos compensar pelo passado.  Anthony  soltou um ruído m*l-educado – Ele deu o fora quando você era jovem e largou a família por causa do álcool. Abandonou suas irmãs gêmeas. E então voltou e pediu perdão? Como você pode querer que alguém assim faça parte de sua vida?  Alexa pescou outro camarão com o garfo e deixou-o suspenso na frente de sua boca.  – Fiz uma escolha – disse ela. – Jamais esquecerei o que ele fez, mas se até minha mãe aprendeu a perdoá-lo, como eu poderia negar? Família é família, não importa o que aconteça.  A simplicidade de sua habilidade de perdoar abalou as fundações de Anthony . Ele serviu-se de mais vinho.  – É melhor sair com a cabeça erguida e o orgulho intacto. Deixar que as pessoas sofram pela dor que causaram. Penelope pareceu considerar com cuidado as palavras dele.  – Quase fiz isso, mas entendi que, além de ser meu pai, ele também é só um ser humano que pisou na bola muito f**o. Eu poderia manter meu orgulho, mas perderia meu pai. Quando decidi perdoá-lo, quebrei o ciclo. Ele acabou conseguindo largar a bebida e reconstruir o relacionamento que tinha com a família. Você já pensou em procurar o seu pai?  As emoções de Anthony estavam a mil. Reprimindo a mágoa antiga, ele conseguiu dar de ombros.  – Para mim, ele não existe mais. Essa foi a minha decisão.  Achou que Penelope fosse sentir pena dele, mas o rosto dela refletia apenas empatia, e isso o acalmou.  Quantas vezes ele já havia desejado que seu pai batesse nele ou o punisse de outra forma, em vez de ignorá-lo e negligenciá-lo? De alguma maneira, a indiferença dele machucava mais e ainda doía.  – E sua mãe? Ele se concentrou em seu próprio prato. – Ela está dormindo com outro ator. Gosta quando eles são do show business, isso a faz se sentir importante.  – Você a vê com frequência? – A ideia de ter um filho adulto a faz lembrar-se da própria idade. Ela prefere fingir que eu não existo.  – Sinto muito.  As palavras eram simples, mas vinham do fundo do coração de Penelope. Anthony olhou para ela. Por um segundo, o ar entre eles pulsou com energia, compreensão e empatia, mas o momento logo se esvaiu como se nunca tivesse existido. Ele deu um meio sorriso, fazendo pouco de sua própria confissão.  – Pobre menininho rico. Mas olha, por um lado você está certa: aquele Mitsubishi era um belo carro.  Ela riu e mudou de assunto.  – Me conte sobre esse negócio que você está tentando fechar. Deve ser algo muito importante para justificar que você passe um ano sem s**o. Ele deixou o comentário espertinho passar incólume, mas lançou a Alexa um olhar de aviso.  – Quero que a Dreamscape entre em uma concorrência pela construção de um projeto perto do rio.  Ela ergueu uma sobrancelha.  – Ouvi falar que estavam querendo construir um spa e alguns restaurantes. Todos estão comentando. As pessoas costumavam ter medo de se aproximar do rio. Ele se inclinou, empolgado.  – A área está mudando. A segurança foi reforçada e os poucos bares e restaurantes que já existem ali estão se dando bem. O projeto atrairá ainda mais moradores e turistas. Já imaginou passagens bem iluminadas ao longo do rio, com lounges externos? E que tal receber uma massagem relaxante num enorme spa com uma bela vista das montanhas? É o futuro.  – Também ouvi dizer que só as maiores companhias de Manhattan estavam cotadas para participar da concorrência. O corpo dele se contorceu em uma necessidade quase física. Seu maior sonho estava bem à sua frente e ele não deixaria que nada o atrapalhasse. Ele pronunciou as palavras como se fossem um mantra:  – Eu vou conseguir esse contrato.  Ela piscou e balançou a cabeça devagar, como se a força da crença dele reassegurasse a dela.  – E a Dreamscape consegue dar conta de um projeto desses?  Ele bebeu um gole de vinho.  – O conselho acha que é ambicioso demais, mas eu provarei que eles estão errados. Se eu tiver sucesso, a Dreamscape irá direto para o topo.  – É uma questão de dinheiro?  Ele negou com a cabeça.  – Não ligo para o dinheiro. Quero deixar minha marca, e sei exatamente o que fazer. Nada muito urbano. Nada que vá competir com as montanhas. Uma estrutura que se curve aos elementos da natureza, fundindo-se a eles, em vez de combatê-los.  – Parece que você já pensou muito nisso.  Ele molhou o último pedaço de pão no molho que restava e o comeu.  – Sei que a decisão será muito rápida e queria estar preparado. Passei muitos anos pensando em projetos para a área do rio, e agora estou pronto.  – E como você vai conseguir?  Anthony fixou o olhar em seu prato. Engraçado, ela parecia saber exatamente quando ele mentia, desde a infância . – Um de meus sócios já está envolvido no projeto. Richard Drysell está construindo o spa, e temos a mesma visão. Ele vai dar um jantar no próximo sábado, e como os outros dois homens que preciso convencer também estarão lá, quero aproveitar essa oportunidade para causar uma boa impressão.  Ele não mencionou o que esperava de Penelope . Ele via sua nova esposa como uma via para fechar o negócio, mas seria melhor explicar tudo na noite do jantar. Anthony levantou a cabeça e viu que o prato dela estava limpo. A travessa com a salada estava na mesa entre eles, intocada. A massa, o pão e o vinho haviam sido destroçados. Ela parecia prestes a explodir.  – Bem, a salada está com uma cara ótima. Não vai comer?  Ela forçou um sorriso e espetou uma folha com o garfo.  – Claro. Eu adoro salada.  Ele riu.  – Quer sobremesa? penelope resmungou:  – Engraçadinho.  Eles limparam tudo com rapidez, puseram a louça na lavadora e se acomodaram no sofá bege da sala. Nick pensou que ela estava tentando uma forma mais rápida de fazer a digestão.  – Ainda vai trabalhar hoje? – perguntou ela.  – Não, está tarde. E você?  – Não, cansada demais. – O silêncio preencheu a sala.  – Então... o que você está a fim de fazer? A blusa dela subiu alguns preciosos centímetros. A pele suave e bronzeada de seu estômago acabou com a concentração dele. Ele tinha imagens muito claras do que poderiam fazer, algo que começava com ele tirando lentamente a blusa dela, e então lambendo seus m*****s até ficarem intumescidos. O resto consistia em arrancar as leggings dela e ver o quão rápido ele conseguiria deixá-la ardendo em seus braços. Como nada disso era possível, ele deu de ombros e disse:  – Sei lá. Quer ver TV? Um filme, talvez?  Ela negou com a cabeça.  – Pôquer.  – Hein? Os olhos dela se iluminaram.  – Pôquer. Tenho um baralho na mala.  – Você anda com um baralho na bolsa?  – Nunca se sabe quando posso precisar dele.  – Vamos jogar valendo o quê? Ela saltou do sofá e se encaminhou para a escada.  – Dinheiro, claro. A não ser que você esteja com medinho.  – Ok, mas usaremos as minhas cartas. Ela parou no meio do caminho e se voltou para ele.  – Tudo bem. Mas eu dou as cartas.  Ele pressionou um botão no controle remoto e os alto-falantes Bose despejaram acordes de Madame Butterfly na sala.  Ele encheu as taças e se acomodou perto da mesa de centro. Ela se sentou ao lado dele, pernas cruzadas. Nick teve um vislumbre de Penelope em um vestido decotado, sentada no colo de um caubói e distribuindo cartas em um saloon. Afastou a imagem e se concentrou na própria mão. – O dealer escolhe. Jogo aberto de cinco cartas. Pingo na mesa, por favor. Ele franziu o rosto.  – Pingar com o quê? – perguntou ele.  – Já disse que estamos apostando dinheiro.  – Devo pedir ao mordomo que destranque o cofre? Ou talvez a gente possa apostar as joias da família.  – Muito engraçado. Você não tem umas notas de um por aí? Os lábios se ergueram em um sorriso.  – Desculpe, só tenho de cem. – Oh.  Ela ficou tão desapontada que ele deu o braço a torcer e riu.  – E se a gente apostasse algo mais interessante?  – Não jogo strip pôquer. – Estava falando de favores.  Ele observou, com puro prazer, Penelope mordiscar o lábio inferior.  – Que espécie de favor? – perguntou ela.  – O primeiro a ganhar três partidas seguidas ganha um favor do outro. Pode ser usado a qualquer momento, como um voucher. O rosto dela se abriu com interesse.  – Qualquer coisa serve como favor? Sem regras?  – Sem regras.  O desafio a atraiu, como o cheiro de uma jogada improvável atrai um jogador inveterado. Ele pressentiu a própria vitória antes mesmo que ela concordasse e praticamente lambeu os beiços quando ela aceitou os termos. Ele compreendeu que, nos próximos meses, finalmente teria o controle de que precisava sobre o casamento. Ela deu as cartas.  Ele estava se segurando para não rir com o resultado previsível do jogo, mas se recusou a ser misericordioso. Ela descartou uma carta e comprou outra. Ele desceu seu jogo:  – Full house. – Par de valetes. Você dá as cartas agora. Anthony teve de reconhecer que ela não se dava por vencida, escondendo bem suas emoções. Apostava que fora seu pai que a ensinara a jogar, e se Anthony não fosse tão experiente, ela seria uma adversária à altura. Ela revelou um par de ases ao perder graciosamente para a trinca de quatro dele.  – Só mais uma partida. – Eu sei contar. Eu dou. – Os dedos dela manusearam as cartas com habilidade.  – Então, onde você aprendeu a jogar?  Ele analisou a própria mão, indiferente.  – Um camarada organizava um jogo semanal. Era uma boa desculpa para encher a cara e curtir com os amigos. – Sempre achei que você tinha mais que ver com xadrez. Ele descartou uma carta e comprou outra. – Sou bom em xadrez também.  Ela riu de modo indelicado.  – Mostre as cartas. Ela arriou seu jogo e mostrou, triunfante, o straight que tinha nas mãos.  – Uma boa mão. – Anthony deu um sorriso convencido. – Mas não boa o bastante. – Jogou na mesa quatro ases, esticou as pernas à frente e se inclinou para trás. – Admito que foi uma boa tentativa. Ela fitou as cartas dele, incrédula.  – A probabilidade de se conseguir quatro ases no pôquer de cinco cartas... meu Deus, você trapaceou! Ele sacudiu a cabeça e estalou a língua, fazendo tsc, tsc.  – Qual é, Pen, achei que você fosse uma adversária melhor. Não me diga que ainda é uma péssima perdedora. Agora, quanto ao meu favor... Anthony teve a impressão de que fumaça de verdade saía dos poros de Penelope. – Não dá para ter quatro ases, só escondendo uma carta na manga. Não minta para mim, porque eu mesma estava pensando em fazer isso!  – Não me acuse de algo que você não pode provar.  – Você trapaceou. – Seu tom de voz era de desgosto e surpresa. – Mentiu para mim na noite do nosso casamento.  Ele riu com escárnio.  – Se não quer pagar o que deve, é só dizer. Típico de uma mulher ser péssima perdedora. Ela se retorceu, o sangue queimando em suas veias.  – Você é um trapaceiro, Anthony .  – Prove.  – Vou provar.  Ela se lançou por sobre a mesinha de centro e para cima dele. Todo o ar foi expulso de seus pulmões quando ela o derrubou de costas no tapete e enfiou as mãos por dentro das mangas dele, procurando a suposta carta escondida.  Anthony grunhiu, cada músculo de seu corpo reagindo ao corpo feminino pressionado contra o dele. Tentou tirá-la de cima dele, mas ela estava determinada em encontrar qualquer evidência de trapaça e voltou sua atenção para os bolsos de sua camisa. Ele riu, uma gargalhada que nasceu no fundo de seu peito, e percebeu que rira mais com Penelope na última semana do que em toda a sua vida adulta.  Quando os dedos dela vasculharam os bolsos das calças, ele percebeu que, caso ela continuasse procurando por ali, não sairia de mãos vazias. A gargalhada deu lugar a um impulso que vinha do fundo do seu ser e, com um movimento, ele a virou de costas no chão, seu corpo sobre o dela, e segurou seus braços ao lado de sua cabeça.  O prendedor de cabelo havia caído em algum momento, e cachos pretos como carvão caíam sobre o rosto dela, cobrindo um dos lados. Olhos azuis brilhavam através das mechas, cheios de um desprezo altivo que só ela seria capaz de demonstrar após derrubá-lo no chão e arrastá-lo para uma briga.  Os s***s dela, erguidos e soltos, estavam marcados contra a blusa, e suas pernas estavam enroscadas nas dele, coxas ligeiramente abertas. Anthony estava muito enrascado.  – Sei que você tem cartas escondidas. Admita e esqueceremos que tudo isso aconteceu.  – Você é louca, sabia? – murmurou ele. – Não pensa nas consequências dos seus atos? Ela projetou o lábio inferior para a frente e soltou o ar com força, soprando os cachos para longe de seus olhos.  – Eu não trapaceei. Consternada, ela fez bico.  Ele reprimiu um palavrão e apertou os punhos dela com mais força. Maldita fosse ela por fazer com que a desejasse tanto. Maldita ela por não perceber isso.  – Não somos mais crianças, Penelope . Da próxima vez que quiser derrubar um homem no chão, pense antes se aguenta a pressão.  – É mesmo, Clint Eastwood? Qual a sua próxima fala? “Vá em frente, faça o meu dia”?  Anthony sentiu o calor se espalhar de seu ventre para a sua cabeça como uma névoa espessa, e só conseguia pensar na calidez úmida da boca de Penelope e no corpo macio embaixo dele. Ele queria estar nu com ela em um emaranhado de lençóis, mas ela o tratava como um irritante irmão mais velho. E essa nem era a pior parte. Ela era sua esposa, e esse pensamento o torturava. Em algum lugar dentro dele, um instinto primitivo havia despertado e o incitava a tomá-la para si. Por lei, ela já lhe pertencia. E aquela era, afinal, sua noite de núpcias. Ela o desafiava a transformar raiva em desejo, a sentir seus lábios molhados e trêmulos, cheia de doçura, de entrega e paixão.  Anthony mandou às favas a lógica de sua lista e a necessidade de um casamento de conveniência. Decidiu tomar sua esposa para si. 
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR