Capítulo 4: A CHEGADA AO NOVO MUNDO...

1301 Palavras
Amira... Eu sempre pensei que o medo tivesse um som, talvez um grito, uma batida de porta, o ruído de passos nun corredor escuro, mas naquele carro o medo era o silêncio... Ninguém me dirigiu sequer uma palavra... O motor ronronava baixo, o ar condicionado sussurava, e os homens à frente não diziam uma única palavra, era como se eu estivesse dentro de uma cápsula que se movia pelo mindi, mas sem fazer parte dele. Estava presa no banco de trás com os olhis fixos na janela, via as estrelas no meio do deserto, mas elas pareciam zombar de mim, de tão brilhantes que eram... Eu não conseguia mais chorar. Era como se as minhas lágrimas tivessem secado... Passei a vida inteira a chorar por coisas que nunca mudaram, pela morte da minha mãe, pela desgraça que era a minha vida, pelos gritos e agressões do meu pai, pelo medo constante de que algo pior estivesse prestes a acontecer. E chorar nunca resolveu nada... E nesta viagem, finalmente entendi que lágrimas eram apenas um desperdício, então engoli todas de uma vez, como quem toma veneno de vagar até o peito doer... Perdida nos meus próprios pensamentos. O carro seguia rápido e a cada quilómetro parecia arrancar um pedaço da vida que eu conhecia. Não é que eu quisesse ficar. mas mesmo assim abandonar aquilo que sempre me prendeu era estranho, assustador e quase libertador. Eu não sabia para onde ia, não tenho ideia do que mais me espera, mas sabendo que vinha do meu pai, era suficiente para não lutar, porque seria pior para mim. Se ele me vendeu. ou me entregou, era porque eu era um peso que ele não queria mais carregar. Talvez fosse melhor assim, penso. Depois de horas, não sei exactamente quantas, mas já era de madrugada, chegamos à cidade maior, e foi um contraste absurdo, para quem vem duma vila. Luzes, movimentos na rua, até aquela hora, prédios altos misturados com arquitectura tradicional. Parecia outro país dentro do mesmo país. E o carro virou para uma avenida, um pouco mais calma com mansões gigantes. apreciei a vista, até o meu peito apertou de tão lindo que era aquele lugar, e o carro entrou num portão. onde o jardim era desenhado como arte, as luzes com o contraste verde da grama, tornava tudo ainda mais lindo e uma fonte na entrada com desenho de esfinge era como se do nada tivesse entrado num mundo de sonhos, com tanta beleza... Jardins simétricos, palmeiras altas, caminhos de pedra branca, fontes decoradas, uma mansão enorme, clara e tão bem cuidada que parecia saída de um filme... Confesso que por um segundo tive um lampejo de esperança e pensei Ah! " talvez, talvez ele só queira uma nova empregada, e se isso for, eu farei o melhor, talvez seja um recomeço de uma nova vida, não seria tão m*l viver aqui "... Era uma esperança pequena e tímida, quase infantil, que já nem me lembrava como era ter, foi a minha primeira depois de anos. Quando o carro parou o ar pareceu ficar mais denso, as portas abriram, os seguranças desceram primeiro depois olharam-me e deram sinal com a cabeça que eu deveria descer, e enquanto o outro abria a porta para o Malik... Saí com cuidado, sentindo o chão firme sob os pés, a mansão era ainda maior de perto, o cheiro da flores, faziam com que eu sentisse o cheiro do céu. Há guardas por toda a parte, a cada 5 passos, todos de preto, sérios como estátuas vivas... Então o Malik disse, já sabem o que fazer, disse ele aos seguranças, sem nem olhar para mim... " Levem-na". A voz dele era grave, calma, mas cheia de autoridade, era o tipo de voz que não precisava aumentar para ser obedecida... Então eles aproximaram-se de mim de e um deles segurou a minha mão, sem brutalidade, mas sem delicadeza, e não resisti, tambem não fazia sentido o fazer, gritar ou me espernear não mudaria a minha situação... Levaram-me para o quarto dos fundos da casa, era como um anexo, portas baixas e janelas pequeninas, abriram uma delas..." Aqui" Disse e apontou um dos seguranças. Entrei o quarto era simples, cama estreita, organizado, lençóis limpos um pequena jarra de agua, uma porta que dava a um banheiro minúsculo, e era acolhedor... E pela primeira vez depois que saí da casa do meu pai parecia respirar melhor... Não pode sair... Avisou o segurança apontando o dedo para mim como se fosse uma criança travessa... Só sai quando chamarmos, tome um banho e descansa... E antes que eu pudesse responder, outra pessoa entrou, era uma mulher, jovem, linda de uma beleza suave e triste parecia ter mais de vinte anos, trazia roupas dobradas numa mão e uma tijela na outra o que presumi que era comida. Quando os olhos dela cruzaram os meus, eu vi algo que eu não esperava: compaixão... oi- Ela disse num tom baixo quase tímido... Qual é o teu nome?... perguntou... Amira- respondi, com o mesmo tom dela, baixo e tímido... Eu sou Layla- ela disse... Deixou as roupas sobre a cama, e não fez mais perguntas, e nem tentou conversar, nem sorrir, apenas cumpriu o que veio fazer e saiu... Mas me senti acolhida só por aquele oi... Depois que ela saiu, sentei-me na cama ouvindo o meu próprio silêncio, e a calma que sentia era diferente, misturada com esperança... tomei banho, vesti as roupas que trouxeram e comi de vagar como quem saboreia a sua primeira refeição depois de 5 dias no deserto sem ter o que comer... e depois dormi, e pela primeira vez em anos, sem gritos, sem medo, sem garrafas de vidro a cair no chão e sem o som da porta do meu quarto a abrir derepente. Dormi em paz, pela primeira vez... Quando já era de manhã acordei, e fui tomar um banho e fazer a minha higiene oral, e quando me vestia o segurança bateu na porta, e disse: Levanta, o chefe quer te ver... os músculos do meu corpo enrijeceram, mas terminei de vestir rapidamente e abri a porta e saí, caminhei atrás deles e entramos na mansão e por dentro era ainda mais impressionante do que eu imaginava, corredores extensos. tapetes macios, luz filtrada por janelas enormes, tudo impecável... mas eu não tinha tempo para admirar nada, os seguranças caminhavam rápido e eu tinha que seguir os passos deles. Paramos diante de uma porta grande... "Entra"- Disse o segurança, e eu entrei . Malik estava sentado atrás de uma mesa enorme organizada numa sala completamente escura, tudo preto até as paredes. O meu corpo tremia. Então ele ergueu os olhos lentamente para mim e disse: Apartir de hoje, essas são as regras: Não entrarás em nenhum quarto da casa, não circularás pelos corredores ou sala principal, não falarás com ninguém, a menos que te perguntem algo. Irás trabalhar na cozinha, e só poderás andar da cozinha ao teu quarto e vice-versa... Entendeste? Abaixei a cabeça e assenti... E dentro de mim, pensei com sinceridade, isto é muito mais do que eu esperava: Eu podia trabalhar, podia aprender, eu podia viver de forma digna... depois de viver num lar onde tudo era dor, aquilo era um luxo para mim, era só eu fazer o meu trabalho que tudo ficaria bem... O Malik olhou-me mais uma vez, como se me avaliasse e disse: Pode sair... E desse jeito começava a minha vida na cozinha, tudo parecia saído de algum filme de tão lindo e moderna e o tamanho de cada movel e a geleira o fogão, eu estava ainda sem conseguir processar tudo. O cheiro do pão fresco fez com que a minha barriga roncasse, e estavam ali 3 senhoras na cozinha. Olhava-me com empatia e me senti timida...
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