A festa estava em pleno auge, as taças de vinho ainda sendo levantadas com entusiasmo, risos ecoando pelo salão, e os gritos de celebração reverberando pelas paredes de pedra da casa de Lucifer. Todos estavam ali para reverenciar a vitória dos filhos de Zayn Romanov, mas havia algo dentro de Lucifer que não podia ser satisfeito. Ele olhava para os homens e mulheres ao seu redor, todos felizes, bebendo e dançando, mas sentia um vazio profundo que nada ali parecia preencher. Nem mesmo sua vitória, tão aguardada e suprimida, parecia trazer o alívio que ele buscava.
Sentado em uma cadeira de veludo, cercado pelas mulheres mais belas de Enoque, ele ainda se sentia incompleto. Aquelas mulheres, Salomé, Raquel e Esther, se entregavam ao prazer e à adoração, mas ele sabia que nada disso conseguia atenuar a sensação de perda que consumia sua alma. Olhou para sua taça, agora vazia, e teve a súbita sensação de que, apesar de ter tudo, ele possuía ao mesmo tempo nada. Não havia mais satisfação no que o mundo tinha a oferecer, como se ele estivesse preso em uma armadilha de própria criação.
A taça de vinho vazia parecia simbolizar algo muito maior, algo que o incomodava de um jeito que ele não entendia. Ele sentiu um impulso de se afastar, de deixar tudo para trás, mesmo que por apenas um momento. Levantou-se da cadeira com uma expressão distante e desconcertada, como se estivesse à procura de algo — talvez de si mesmo, talvez de algo que o fizesse sentir novamente vivo.
Saindo da grande sala de festas, Lucifer caminhou pelos corredores de sua residência, seus passos ecoando no silêncio da casa. Ele estava um pouco tonto, a bebida ainda fluindo nas suas veias, misturando-se com a sensação de vazio que o incomodava. Decidiu que precisava de um banho quente para tentar clarear a mente e afastar as sensações desconfortáveis que o afligiam.
Chegando à casa de banhos, Lucifer entrou sem fazer muito barulho, a porta rangendo suavemente ao ser aberta. Ele não sabia o que esperava ali, talvez apenas o conforto de um banho relaxante para adormecer e esquecer de tudo o que sentia. Mas assim que entrou no ambiente quente e abafado, algo chamou sua atenção. Havia alguém na água. Uma silhueta delicada movia-se na água, brincando com ela de forma despreocupada, como uma criança em um momento de liberdade. A mulher estava completamente nua, e a água quente parecia envolvê-la, refletindo a luz suave das velas em seu corpo.
Lucifer parou por um instante, seus olhos fixos na figura que se movia com tanta leveza e naturalidade. Ele sentiu algo que não havia experimentado há muito tempo — uma ingenuidade pura, uma leveza que parecia tão distante de sua vida cheia de regras, controle e dor. Ela estava brincando na água, sem preocupações, sem o peso da vida. Lucifer não conseguia distinguir completamente quem era aquela mulher, mas a cena em si o atraiu de uma maneira que ele não conseguia explicar. Ele gostava do que via, principalmente porque ela parecia tão livre de todas as amarras que ele mesmo tinha. Era como se, por um momento, ele estivesse testemunhando algo genuíno e verdadeiro.
Mas, de repente, em seu estado de leve embriaguez, Lucifer fez um movimento desajeitado. Ao se aproximar mais da beirada da casa de banhos, ele esbarrou em uma bacia de madeira que estava ao lado, fazendo-a cair no chão com um estrondo que ecoou pela sala. A mulher, assustada, se levantou da água e desapareceu na sombra, fugindo da visão de Lucifer com uma agilidade impressionante.
Ele ficou ali, parado, sem saber se havia visto o que pensava ter visto. A mulher tinha desaparecido tão rapidamente que ele quase acreditava que tudo não passava de um delírio causado pela bebida. Respirando pesadamente, ele ficou por alguns segundos, tentando processar o que acontecera, mas logo desistiu. Talvez fosse apenas o cansaço e o álcool. Com um suspiro, ele se virou e saiu da casa de banhos, indo diretamente para seu quarto, onde a cama e o sono o aguardavam. Ele se deitou, e logo a imagem daquela mulher, tão pura e simples, começou a se apagar de sua mente, dando lugar ao torpor do sono que o dominava.
No dia seguinte, o sol já estava alto quando Lucifer acordou, sua cabeça pesada, mas ainda sentindo o eco daquela estranha sensação que não o deixava. As memórias da noite anterior estavam turvas, mas algo em seu peito ainda o incomodava. Ele se levantou, vestiu-se rapidamente e, como de costume, procurou por Dino, seu novo escravo, para retomar a rotina que ele tinha planejado para o rapaz.
Quando encontrou Dino, Lucifer não perdeu tempo e perguntou com seu tom de comando, sem deixar espaço para hesitações:
— Onde você estava na noite passada? — sua voz grave refletia a autoridade que sempre teve sobre o jovem.
Dino, sem saber o que responder, ficou por um momento tenso, mas logo se recompôs.
— Eu estava ajudando na cozinha, senhor — respondeu, tentando não revelar mais do que o necessário.
Lucifer o olhou fixamente, os olhos penetrantes como uma lâmina afiada. Ele sabia que o que Dino dizia não era uma mentira, mas havia algo em seu tom que parecia um pouco distante, como se o rapaz estivesse tentando se esconder de algo.
— Você não é meu servo da cozinha — Lucifer disse, com um tom mais firme. — Você é meu servo pessoal, e nunca mais saia do meu lado. Fique sempre ao meu alcance. Não me deixe nunca mais sozinho. Entendeu?
Dino sentiu um calafrio percorrer sua espinha ao ouvir as palavras de Lucifer. A pressão era evidente em sua voz, e o jovem sabia que não tinha mais escolha a não ser aceitar o destino que lhe fora imposto.
Lucifer, satisfeito por finalmente ter a confirmação de sua ordem, se afastou de Dino e se dirigiu para seu próprio banheiro particular. Ele se despia lentamente, seus músculos flexionando enquanto ele removia as roupas, refletindo por um momento. Talvez a bebida da noite anterior tivesse trazido à tona essa sensação de vazio que ele sentia, mas ele não sabia como lidar com ela. Quando entrou na sala de banhos, os vapores quentes começaram a relaxar seus músculos tensos. Ele sentia que, de algum modo, seu corpo estava em total controle, mas sua mente permanecia inquieta, em busca de algo mais.
Foi então que, enquanto estava ali, imerso na água quente, ele sentiu um olhar fixo. Olhou para o reflexo na água e percebeu que, ao seu lado, estava Dino. Mas algo estava diferente. Embora o rapaz fosse magro e desengonçado, havia algo em seu olhar que o atraía. Algo que ele não sabia exatamente o que era.
Dino nunca havia visto um homem tão belo. De fato, Lucifer era o anjo mais belo dos céus. Sua presença dominava o espaço ao seu redor, sua pele imaculada parecia brilhar à luz suave do ambiente, e seus olhos escuros estavam repletos de uma intensidade que fascinava qualquer um que os encarasse por muito tempo. Mesmo sendo seu servo, Dino sentia uma mistura de fascinação e medo. Ele nunca imaginara que seria capaz de estar tão perto de Lucifer, de presenciar a grandeza de alguém tão imponente. E agora, em sua posição, ele começava a entender que o poder de Lucifer não era apenas físico, mas algo muito mais profundo, algo que se estendia até a alma.
Mas, por enquanto, Dino não ousaria questionar, nem olhar mais do que o permitido. Ele sabia que sua vida agora estava irrevogavelmente ligada ao destino de Lucifer. E, enquanto isso, o vazio no peito de Lucifer parecia crescer, mais uma vez sem explicação.