Jully
– Bom dia Sr. Ferri. – Cumprimentei meu chefe assim que ele entrou em meu campo de visão, enquanto ajustava rapidamente as pilhas de papéis sobre minha mesa. – Como foi o final de semana?
Seu sorriso amigável era quase reconfortante.
– Muito bem, Jully. – Ele retribuiu a saudação com um aceno. – E já pedi que me chame de Nicolas. Todos aqui me tratam assim.
A observação sobre o nome novamente. Quem sabe todos realmente o chamassem de Nicolas. Quem sabe, exceto a funcionária que surgiu quase no exato momento em que meu chefe terminava de falar, como se o destino quisesse mostrar aquela mentira.
Ela era uma mulher bonita, embora um tanto quanto nervosa ao se aproximar de Nicolas. Ela o cumprimentou com um sorriso contido e estendeu a pasta que estava em sua mão para ele.
– Bom dia Sr. Ferri. – Sua voz era educada e carregava um toque de formalidade. – Aqui estão todos os documentos que me pediu sobre o novo empreendimento.
– Srta. Lewis, quantas vezes já pedi que me chame apenas de Nicolas... – O tom de sua voz diminuiu ligeiramente, carregando um toque de frustração.
A pobre moça, claramente confusa, olhou alternadamente entre mim e Nicolas. O momento ficou suspenso no ar, e eu senti um desejo quase irresistível de rir. Mantive meus lábios comprimidos para evitar cair na gargalhada.
– Nenhuma Sr. Ferri. – Ela responde timidamente, claramente confusa.
Nicolas, parecendo insatisfeito, suspirou.
– Obrigado pelos documentos, Srta. Lewis. Pode se retirar.
Nicolas virou para mim com um olhar divertido, como se soubesse que eu estava segurando o riso.
– Isso foi bastante constrangedor, não foi? – Ele sorriu abertamente. – Minha sorte parece ter mudado.
– Meu amigo me diz que sou um amuleto, espero que não tenha te trazido azar. – Agora eu caio na risada. – Me desculpe, estava tentando segurar.
– Bem, pelo menos serviu para te fazer sorrir. – Maneou a cabeça levemente. – Fica linda sorrindo.
Engoli a risada no mesmo instante, sentindo meu rosto esquentar.
– Obrigada. – Já sou vacinada com esses elogios aleatórios, Ares sempre surge com esses papinhos.
Ontem mesmo, durante o filme que era uma comédia romântica, ele veio cheio de gracinhas com aquele charme habitual.
– Embora, como você viu, nem todos, ou ninguém me chame assim, eu prefiro que você me chame de Nicolas, tudo bem? – Assenti. – Ótimo, melhor assim.
Achei estranho o pedido dele, mas que m*l teria.
– Se puder me dizer por onde gostaria que eu começasse... eu estava dando uma olhada na sua agenda, está muito bem-organizada, mas pode me explicar como gostaria que eu administrasse, pensei em algumas coisas... – olhei para ele fechando a boca, acabei de chegar e já quero dar ideias ao meu chefe.
– Prossiga, Jully.
Nicolas soltou um breve suspiro de alívio pela mudança de assunto. Pareceu estar genuinamente interessado em ouvir minha opinião. Enquanto ele estava distraído, peguei uma caneta e comecei a brincar com ela, desenhando círculos imaginários na mesa enquanto formulava minha resposta.
– Bem, Sr... Nicolas, acredito que temos algumas áreas que precisam de mais atenção. A gestão de projetos, por exemplo, tem sido um pouco tumultuada nas últimas semanas. Talvez pudéssemos implementar um sistema mais eficiente para acompanhar o progresso e os prazos.
Ele assentiu, parecendo ponderar.
– Isso faz sentido. E sobre as reuniões de equipe? Alguma sugestão para torná-las mais produtivas?
Pisquei, um tanto surpresa com a a******a dele para minhas opiniões. Mas me recompus rapidamente.
– Bem, acho que poderíamos estabelecer uma pauta clara para cada reunião e limitar o tempo de discussão de cada tópico. Isso poderia evitar que nos desviássemos muito do foco.
Conforme nossa conversa fluía, percebi que ele estava genuinamente interessado em aprimorar a dinâmica do escritório. Senti-me valorizada por ter minha voz ouvida e minha opinião considerada.
– Jully, estou impressionado com suas ideias. Parece que temos um ótimo começo aqui. – Ele sorriu, os olhos brilhando. – m*l posso esperar para colocarmos essas mudanças em prática.
O elogio dele fez me fez sentir as maçãs do rosto esquentarem levemente. Noto que talvez haja mais em Nicolas do que sua fachada séria sugeria. Enquanto continuávamos a discutir estratégias para melhorar o ambiente de trabalho, eu m*l podia conter a empolgação por estar envolvida em algo significativo.
O dia passou rápido demais, e entre uma reunião e outra, meu chefe sempre vinha até minha mesa falar algo, ou me chamar para acompanhá-lo a sua sala e pedir alguma opinião.
– Estou começando a pensar que devo te dar um cargo melhor. Sua mente é brilhante.
Apesar de ter vindo para a entrevista de secretária, sou formada em administração empresarial, meu pai insistiu, mesmo sabendo que eu, assim como eles, queria estar nas pistas. Ele nunca me deu uma chance de mostrar o quanto posso ser boa.
– Podemos pensar nisso depois, Nicolas, no momento estou satisfeita em ajudar como puder, sendo apenas a sua secretária.
Ele observou-me por um momento, como se estivesse avaliando algo. Um pequeno sorriso apareceu em seu rosto, dando a entender que ele tinha alguma ideia em mente.
– Bem, Jully, já que você se sente assim, que tal considerar isso uma oportunidade para crescer? Não acredito que uma mente como a sua deva ficar limitada a uma única função. Talvez possamos encontrar um equilíbrio entre suas habilidades e o papel que você atualmente ocupa.
–Bem, isso pode funcionar... é uma ideia intrigante. – Respondi, mordendo o lábio inferior. – Vamos ver como vamos administrar tudo e quando eu estiver mais habituada a empresa voltamos a conversar.
Nicolas assentiu, parecendo satisfeito com minha resposta. O restante do dia se desenrolou em um ritmo constante de atividades e discussões produtivas.
Conforme o horário de saída se aproximava, comecei a organizar meus pertences e a fechar a agenda do dia. Nicolas apareceu na minha mesa, um sorriso brincando em seus lábios.
Não me sentia tão confortável com a ideia, porque me tomaria mais tempo, tempo que ainda tinha que dividir com Ares.
– Jully, você, sem sombra de duvidas foi a melhor contratação que já fiz. – Sorri em resposta.
– Tenha uma boa noite.
– Quer uma carona até em casa? Meu carro já está me aguardando na entrada.
Depois de ele insistir algumas vezes acabei aceitando, mas quando chegamos à entrada, lá estava ele, Ares Bacelar, em toda a sua beleza, esperando encostado em seu carro do dia a dia.
– Jully, vim te buscar. – Sorriu me puxando pela cintura, marcando território, é claro...
– Obrigada por se oferecer para me levar, foi muito gentil Nicolas, vou com ele, assim não te atrapalho.
– Bom descanso, Jully, nos vemos amanhã. – Olhou para Ares. –Bom te ver novamente Ares.
– Não posso dizer o mesmo Nicolas.
Ele me puxa sem me dar tempo de fazer qualquer comentário, ou pedir desculpas pelo que ele falou, me colocando dentro do carro.
– Você só pode estar de palhaçada com a minha cara, Ares Bacelar! – Grito com ele quando ele dá partida. – Ah, você está em sérios problemas, se eu for demitida...
– Te arrumo outro emprego!