O som abafado de música que vinha da boate já dava uma ideia do que encontraria lá dentro. Matt estacionou para que eu saísse e nem olhou para mim, virou o rosto para o lado de fora. Não me sentia m*l por não gostar dele de outra forma, me sentia m*l por não conseguir dar um passo adiante e encontrar uma pessoa que fizesse eu me sentir plenamente amada. Ele era apaixonado por mim e eu não poderia retribuir isso.
Coloquei o gravador na bolsa, junto com o bloco de notas e a caneta, e verifiquei se o celular estava no silencioso. Ao fazer isso percebi que havia uma mensagem da Tati, mas deixei para ler depois; resolvi olhar para o lado de fora, para onde Matt olhava, e vi a enorme fila que estava formada para entrar na boate. Um galpão de aparência antiga, pintura desgastada, com letras fortes e pretas onde se lia “Heated Fox”. Sério? Será que aquele nome era para inflar o ego dele? Ridículo!
A noite quente e um pouco úmida demostrava que poderia chover, mas ainda sim o clima estava agradável. Muitas mulheres estavam vestidas em tubinhos pretos bem curtos e salto alto, outras usavam saias brilhosas e blusas escandalosamente decotadas. Eu estava definitivamente com muito tecido no corpo, comparado com aquelas mulheres sensuais e de curvas perfeitas. Agradeci por não usar minhas blusas de mangas compridas de cores escuras naquele momento. Dei mais uma olhada na nova Liz no vidro do carro, que voltaria para sua casquinha da invisibilidade quando saísse daquela entrevista. Passei mais um pouco de batom, de forma uniforme e precisa. Batom vermelho, assim como o salto e as unhas; vermelho quase vinho, que destacava ainda mais minha pele branca. Com meus ombros expostos, s***s de tamanho tal que nunca haveria de reclamar e cabelos em um caimento perfeito que mostravam o tom de cobre avermelhado da minha herança genética, passei a alça da bolsa no ombro e resolvi encarar o que me aguardava.
— Você vai ficar aqui me esperando? — perguntei e Matt finalmente virou para olhar para mim. — Quer dizer, se você quiser, é claro!
— Não é só o que faço? — o ceticismo em sua voz me fez endurecer. — Esperar você? — seu rosto tinha uma linha rígida.
— Vá para o inferno! — gritei — Matt, você tem que parar com isso. — joguei as mãos para o alto, irritada — Não posso namorar você, ou ter nada com você… d***a! Você é meu amigo… Ou era.
— Você está linda… — sussurrou se aproximando. Meu corpo todo ficou em alerta. d***a!… m***a… Ele não vai me beijar… Ou vai? Não! Ele se inclinou mais um pouco e meus olhos se arregalarem com a possibilidade de ser beijada novamente por ele. Já estava de punhos cerrados, pronta para quebrar todos os dentes dele, se tentasse algo. A proximidade… o cheiro… a lembrança do beijo… Eca!
Para minha surpresa ele parou, vasculhou algo na parte de trás do banco e tirou uma linda bolsa de mão, preta com detalhes brilhosos em vermelho espalhados aleatoriamente. Fiquei sem ar, não por achar a bolsa perfeita, mas pelo fato de não ter que dar um soco na cara dele novamente. Então suspirei de puro alívio.
— Como estava dizendo — continuou com expressão séria. — Você está linda, mas definitivamente não vai entrar com essa sua bolsa de carteiro na boate. — esticou o braço para entregar a bolsa. — É um presente meu e, quanto a nossa amizade, — sua voz era firme — não se preocupe, vou tentar não confundir o que sinto por você. Mas não me olhe como se as coisas voltassem a ser como antes. Não depois de beijar você e sentir o quanto sua boca é gostosa e doce. — fiquei sem reação, perplexa, para ser mais exata — E logo depois saber que a sua mão é mais doce que seu beijo…
— Matt! — murchei — Já disse que não sou…
— Namorável! — me interrompeu completando a frase — Agora ande, e quando sair me ligue que volto para pegar você. — pude sentir o carinho que tinha por mim, mas não estava pronta. Não queria ele! Não queria namorar ninguém, não queria ninguém me tocando de forma íntima e profunda. Tirei os pertences da minha bolsa e coloquei na bolsa de mão, ficando surpresa com o fato de caber tudo dentro dela.
Na fila, senti os olhos de todos sobre mim quando segui direto para entrada, onde havia dois seguranças enormes, vestidos em ternos estilo MIB (Homens de Preto). A recepcionista n***a, de cabelos cacheados em seu black power perfeito, com um vestido branco e botas de cano longo na mesma cor do vestido que me fez lembrar os anos setenta. Sua boca era marcada com um batom rosa escuro, seus cílios longos repletos de rímel, seu rosto alongado e com uma expressão de estresse puro, misturado à irritação.
— Ruiva, o final é bem ali! — falou irritada e apontou com a caneta na direção da fila.
— Desculpe, mas meu nome deve constar na lista. — ela me olhou tentando lembrar se alguma vez já tinha me visto ali e arqueou a sobrancelha sem paciência — Lizzie. Lizzie Radzimierski. — disse meu nome e vi claramente que olhou mais um pouco para mim, e em seguida para a lista.
— Definitivamente você não é a mesma da foto que me forneceram — ela tirou uma foto da prancheta e virou para que eu pudesse olhar. Realmente, quase não existia nenhum traço meu naquela foto. Não da Liz que acordou pronta para encarar um dos mais importantes homens de Nova Iorque. A única semelhança era a cor do cabelo, um cobre avermelhado. Sabia que minhas sardas ainda estavam em meu rosto e que de alguma forma não havia mudado por dentro. — Bom, senhorita Radzimierski, pode entrar. Kelsy, a nossa atendente, vai levar você para a sala privativa do Senhor Fox. — quando um dos seguranças retirou a corda de acesso para que eu entrasse, escutei vaias e pessoas reclamando e xingando.
Fiquei boquiaberta com a boate: espaçosa, com a decoração parecendo um teatro, na parte de cima ficavam os camarotes e no meio havia uma pista de dança. O piso era cinza-chumbo, assim como boa parte das paredes; no teto havia um lustre enorme de cristais, que mudava de cor: azul, vermelho e verde, e vibrava com as batidas das músicas que tocavam. Ao redor da pista ficavam alguns sofás de braços e mesas redondas decoradas com lanternas em formato de cilindro. Se eu contasse para alguém, ninguém acreditaria que uma mulher desceu do teto em um tecido preto, fazendo manobras; ela deslizava pelo tecido com facilidade, enquanto todos estavam dançando como loucos na pista de dança. Foi sensual, mas sinceramente muito perigoso. O clima era agradável, mas não deixava de ser quente, o clássico contrastando com o moderno, gritando com o diferente. Era assim que poderia descrever o local. Quando parei de observar e ficar deslumbrada, uma morena alta de cabelos pretos curtos estava sorrindo para mim. Ela tinha o rosto um pouco triangular, olhos brilhantes e arrebatadores, formas firmes e bem definidas, com certeza fazia muito sucesso com os homens.
— Senhorita Radzimierski! — sua voz era doce e educada. — Me acompanhe até a sala privativa do Senhor Fox — estendeu a mão para que a seguisse por uma escada em espiral de madeira. Como suspeitava, a parte de cima era como os camarotes de um teatro, diferenciando-se apenas pelas mesas e cadeiras, que eram do mesmo estilo das do andar de baixo. Quando chegamos ao final de um corredor, ela abriu a porta e assentiu para que eu entrasse.
— O Senhor Fox irá atendê-la em dez minutos. — disse sorrindo e prosseguiu — Como cortesia, o garçom trará o melhor vinho, de uma safra escolhida pelo próprio senhor Fox. — antes que eu protestasse que não beberia, já que não estava ali por diversão e sim por trabalho, ela deu meia-volta e saiu da sala, me deixando sozinha naquele lugar.
A sala tinha o som abafado, e pude notar a riqueza de detalhes: o papel de parede vermelho, quase na mesma cor do meu batom, várias fotos de pessoas famosas que frequentavam aquele local em porta-retratos dispostos harmoniosamente nas paredes e um par de sofás, exatamente da mesma cor dos do salão. Ao lado ficava um bar, mas não havia bebidas nele e atrás do bar um espelho enorme, que ia de uma parede à outra, que refletia não só o bar, mas quase toda a sala. A parede da frente era toda em vidro, na qual dava claramente para ver as pessoas na pista de dança. Tinha também uma réplica da estátua de David – Michelangelo – em uma bancada no lado esquerdo. Coitada da estátua, quase não tinha um… Fui interrompida pela entrada do garçom segurando uma bandeja contendo duas taças e uma garrafa de vinho; fiquei um pouco sem graça por ser flagrada olhando o p*u da estátua, mas ele pareceu não se importar. Colocou as taças na mesa junto da garrafa aparentemente aberta.
— Eu não… — quando me virei já estava sozinha. De novo! O que eles comiam naquele lugar para serem tão rápidos?
Sentei-me no sofá e esperei. Havia se passado mais de dez minutos e nada. Meu sangue estava fervendo de raiva, mas o frio em minha barriga só aumentava. A ansiedade estava crescendo de um jeito anormal dentro de mim. Será que teria a mesma reação de quando toquei sua mão? Não. Estava aqui para fazer uma entrevista ridícula, na qual estava passando por cima da minha vontade de xeretar o lado mais obscuro da vida daquele homem, e ele estava me dando um belo chá de cadeira. Tirei o gravador, o bloco de notas e a caneta e deixei-os em cima da mesa, próximos ao vinho e às taças.
Paciência nunca foi um dom que cultivei ao longo da minha vida, e Nathan já estava passando dos limites. Levantei-me e fui até a enorme janela de vidro e fiquei observando as pessoas perdidas em suas danças cheias de toques, amassos e abraços. Passei as mãos em meus braços, querendo poder ser tocada como as mulheres que estavam sorrindo ao lado de seus parceiros. Aquilo era frustrante demais.
— Se quiser podemos descer e dançar. — meu coração disparou, aquela voz rouca e grossa passou por meu sistema nervoso e me queimou por dentro, meu corpo estremeceu apenas com o som de sua voz. Foi algo sexy, sensual e forte. Definitivamente ele tinha presença, a coragem de me virar se transformou em **. Minha respiração não existia — Senhorita Radzimierski, está tudo bem?
Aos poucos, meu corpo descongelou e fui me virando. O homem não era bonito... Ele era perfeito! Moreno, cabelos curtos, olhos azuis-celestes, o mesmo que tinha me encarado na sala de Elijah. Alto, e pelo porte físico, com certeza tinha belos músculos debaixo daquele terno azul de grife, ombros largos, cintura estreita, assim como seu quadril; no canto da sua boca, um sorriso malicioso estava se formado. Aqueles lábios perfeitos… Deus! O homem era realmente perfeito. Ele segurava nas mãos as duas taças cheias de vinho. Como ele entrou na sala? Foi evidente que me perdi em meus pensamentos e não o escutei entrar.
— Senhor Fox! — assenti. Ele estendeu a taça para que a pegasse — Não bebo enquanto trabalho — tentei rejeitar a taça, mas ele ficou com ela suspensa no ar.
— Se você não pegar, — abriu um enorme sorriso que mais parecia uma ameaça, e isso mexeu comigo. Mexeu com todos os músculos abaixo do meu ventre, uma dor deliciosa se formou naquela região sensível do meu corpo. — Não haverá entrevista, e muito menos a ajuda que meu grande amigo Elijah precisa para manter seu querido jornal. — coagida peguei a taça, mesmo com raiva; senti que algo estranho se formou dentro de mim.
— Você sempre chantageia as pessoas, Senhor Fox? — perguntei com ironia e rispidez — Por que muitas pessoas achariam isso uma forma de chantagem barata, mas vindo de uma pessoa tão humilde como você, isso seria um eufemismo. — seus olhos de repente ganharam um brilho diferente, pareciam queimar com alguma piada interna.
— Já começamos a entrevista? — tomou um pouco de vinho.
— Ainda não. Mas…
— Então, a parte de ser humilde é um elogio, já que sou a humildade em pessoa. — seus lábios formaram um sorriso debochado, colocando a taça na mesa. Desabotoou os dois botões do terno, sentou no sofá e cruzou a perna, segurando o tornozelo. — Você vai ficar parada ou vai começar o seu trabalho? — arqueou uma sobrancelha, enquanto abria os braços e repousava no encosto do sofá. Irritada, coloquei a taça na mesa junto com a dele, me sentei o mais longe possível, peguei o bloco, a caneta e liguei o gravador.
— Senhor Nathan Fox, — fiz uma pausa lendo minhas perguntas formuladas no bloco — Sabemos que o senhor é dono de uma rede de casas noturnas…
— Pare! — sua voz me fez estremecer novamente, quando o olhei ele estava com um brilho desconcertante e mordendo o lábio inferior. Eu queria morder aquela boca… d***a! Por que estou pensando na boca dele? — Beba!
— Como é?
— Beba o vinho! — ordenou com voz poderosa.
— Não sou obrigada a beber! — me contorci para não esganar aquele homem — Você pode me obrigar a entrevistar você, ameaçando o meu chefe, mas não pode me obrigar a beber a m***a de um vinho. — falei irritada quase enfiando a caneta no olho dele.
— Sem bebida, — deu de ombros — sem entrevista… sem jornal… sem ajuda… — aquele maldito era irritante, mesmo sendo muito perfeito.
— m***a! — peguei a taça e tomei todo o líquido de uma única vez e a coloquei de volta à mesa.
— Para uma jornalista, — pegou a garrafa e encheu minha taça novamente. O que ele queria fazer? — você é muito esquentada.
— Só quando quem estou entrevistando me dá ordens! — rosnei com a cara fechada.
— Beba! — gesticulou olhando para minha taça. Se continuasse daquela forma, em cinco minutos estaria bêbada. Nunca fui muito boa com bebidas, mas Elijah precisava da ajuda daquele desgraçado, e já que tinha vendido minha alma por uma noite, teria que aceitar as condições que estabelecessem. Com os olhos fuzilando-o mentalmente peguei a taça — Faça como fez com a primeira. Tome de uma só vez.
— Se eu ficar bêbada e meu corpo aparecer em alguma viela desta cidade, meus amigos sabem com quem eu estava e a polícia vai pegar você. — virei o líquido todo de uma só vez, senti meu estômago revirar e minha cabeça estava ficando pesada. Eu realmente era fraca para bebidas, bastaram duas taças para me deixar um pouco tonta, sabia que sentiria os resultados mais tarde.
— Por que acha que quero deixar você bêbada? — perguntou pegando a garrafa novamente, enchendo minha taça.
— Por que sei que você vai me obrigar a tomar a terceira taça de vinho! — retruquei irritada. Elijah ia me pagar por aquilo. Ah! E seria bem caro.
— Na verdade, — começou Nathan, descruzando a perna — o vinho é para deixar você menos irritada e liberar um pouco essa carga pesada que está em seus ombros… — ele estava olhando para os meus ombros? Meus transparentes e magros ombros! — Que claramente precisam de uma massagem especial… — especial? Massagem? Oh! Não. Não e não!
— Não preciso que se preocupe com a carga pesada dos meus ombros, senhor Fox. — as coisas estavam estranhas, um magnetismo fazia com que fixasse meus olhos nos dele. — Acho que existem muitas outras coisas com as quais deveria se preocupar. E meus ombros não estão nessa lista.
— Então, o que faz para tirar todo esse estresse? s**o? m*********o? Vibrador? — perguntou divertido. Sim… s**o com você. m*********o… Se você fizer em mim… Vibrador... Não. Você dentro de mim. Que m***a era aquela? Meus olhos se arregalaram com as perguntas tão pessoais. Levantei-me instantaneamente pegando minhas coisas que estavam em cima da mesa, mas que d***a, minha bolsa estava perto dele e eu não queria chegar perto. Os meus pensamentos estavam me traindo! Quando ele fez aquelas perguntas, me peguei pensando nele!
— Acho que o senhor quer me fazer de palhaça. — rosnei mostrando os dentes, mas meu corpo estava em chamas — Estou aqui para fazer meu trabalho, e não para responder suas perguntas descabidas.
— Você pode me entrevistar, mas não posso entrevistar você? — perguntou irônico, com a voz perturbadoramente deliciosa de ouvir.
— Você não está me entrevistando. Está me fazendo perguntas pessoais…
— Não era isso que você ia fazer? — arqueou a sobrancelha grossa e bem desenhada.
— Isso é totalmente diferente! — rebati — Estou tentando ser profissional aqui, e você quer se divertir às minhas custas.
— O que foi? Vamos deixar isso em off, e se você responder as minhas perguntas, repondo qualquer coisa que me perguntar — ele não estava falando sério.
— Fui coagida… Estou quase bêbada, tenho que responder as suas perguntas, sendo que era eu quem deveria fazer isso. Nossa, você é mesmo o filho da p**a que eu imaginava. — agora estava tudo fodido, minha língua soltou e para prendê-la seria difícil.
— Além de tudo, boca suja. — seu sorriso de ampliou divertido — E você com essa cara de boazinha! — irritada, tomei coragem e fui tentar pegar minha bolsa, mas ele foi mais rápido e a pegou, guardando dentro do seu terno.
— De boazinha só tenho a cara. — murmurei reunindo todas as minhas forças para chegar perto dele, sem que ele me tocasse. O que havia de errado comigo? Aquela coragem não era desse mundo. Afastei-me, levantei e sem nenhum pudor, estiquei o dedo no meio para ele, mostrando a língua. Eu sei… Nada maduro, mas não estava ligando a mínima, o álcool já estava fazendo o efeito esperado. — Agora me passe a m***a da minha bolsa — gesticulei para que ele me entregasse, mas ele parecia se divertir com a minha cena e isso me deixou ainda mais irritada.
— Beba! — mas que m***a! — Sente-se e beba a outra taça de vinho. — não foi um pedido, foi uma ordem — Vamos lá, Lizzie — meu nome saiu de sua boca de uma forma macia e quase me fez entrar em combustão.
— Vou avisando, — estiquei o dedo indicador de forma ameaçadora para ele — não me venha com gracinhas. Você pode sair daqui com o olho roxo. — ele claramente estava se divertindo com os meus chiliques. E para mim, o resto daquela noite seria um pesadelo.
— E você poderia sair daqui direto para o meu apartamento, e me mostrar como é tentar me deixar de olho roxo… — falou mordendo aqueles lábios perfeitos.
— Vou processá-lo por assédio s****l, senhor Fox! — ameacei, mas ele já estava praticamente em cima de mim, o susto por perceber isso foi tão grande, que me afastei e não percebi que a borda do sofá havia acabado.
Caí de b***a no chão, mas ele segurou meu braço.