Quando estávamos saindo do trabalho, eu e Tatiane adicionamos nossos números nos celulares uma da outra e então segui para meu tão esperando descanso. E se Nathan tocasse em mim? A primeira vez que toquei em sua mão, por impulso, uma sensação desconhecida percorreu todo meu corpo, me deixando completamente atordoada e sem chão. Foi algo estranho e que não me deixava pensar direito. Algo tão forte que comecei a pensar que havia gostado da sensação que o toque dele proporcionou. Seria impossível aquilo acontecer, tentei uma vez e foi um completo desastre. Quando estava na universidade, achei que daria conta de chegar perto de Roland Miller, mas não consegui. Foi uma das piores sensações da minha vida.
Não jantei naquela noite. Não conseguia engolir nada, pensava apenas na entrevista e em como seria finalmente conhecer Nathan G. Fox.
Mais um dia começou e minha vontade de levantar da cama era incrível. Estranhei esse impulso de querer levantar cedo e tomar um belo banho.
Depois do banho, preparei o café e fui me vestir. Escolhi uma blusa marrom de mangas longas, calça preta e sapatos pretos… Como sempre! Assim que sequei os cabelos decidi que ficariam soltos. Meu rosto parecia até mais corado e vivo naquele dia. Depois de passar maquiagem, fui tomar meu café puro e forte, e, enquanto o apreciava, meu celular vibrou. Olhei para o visor e vi uma mensagem de Tatiane.
“Pronta? Estou esperando você para as compras. O dia vai ser perfeito!”.
Respondi imediatamente:
“Ainda bem que tenho você para ir comigo. Não sei o que faria se Elijah não a tivesse liberado...”.
Sua resposta foi quase instantânea:
“Vamos garota! Deixe de papo e tire essa sua b***a de onde quer que você esteja e venha. :) ”
Sem questionar finalizei a conversa.
“Você que manda”.
Sorri ao digitar essas últimas palavras. Não éramos amigas de infância, e mesmo sendo uma tapada para fazer amizade, senti que seríamos mais do que amigas, seríamos irmãs.
Peguei minha bolsa para sair, fechei a porta e resolvi descer pelas escadas. Parei assim que vi a van parada na frente do prédio. Matt estava escorado nela, com os braços cruzados e um enorme sorriso estampando no rosto, o que me fez murchar.
Merda!
— O que você está fazendo aqui? — perguntei ríspida.
— Bom… — ele se afastou da van, e veio em minha direção. — Hoje serei seu motorista. — seu sorriso se ampliou ainda mais. Filho da mãe… Minha vontade era de socar a cara dele novamente, até que todos os seus dentes caíssem como caquinhos de vidro no chão. O arrepio, que antes era quase imperceptível, voltou com força total. A lembrança dele me beijando provocou ânsia de vômito. Sei muito bem que ele não tinha como saber o que estava acontecendo comigo, ou sobre meu passado, mas não contaria nada para ele.
— Não! — o olhei firme. — Muito obrigada! — Fechei a cara e comecei a andar em direção ao meu carro.
— Você quer que eu vá até aí e pegue você nos braços? — parei no mesmo momento. Só a ideia dele tocando qualquer parte do meu corpo já me deixava apavorada — Foi o que pensei… — escutei a porta do carro sendo aberta, e me virei lentamente para andar em sua direção.
— Sem papo furado, Matt — alertei quando sentei no banco do passageiro e ele deu a partida.
— Liz, precisamos conversar — suspirou olhando para mim — não faz isso comigo, agora que sabe que gosto de você…
— Não quero falar sobre isso, Matt — falei firme. Não seria saudável continuar aquela conversa, nem para mim e nem para ele. — Você já fodeu a nossa amizade, e a última coisa que quero é um relacionamento…
— Você é lésbica? — um choque percorreu meu corpo e senti o sangue ferver de raiva. — Se você não quer nada comigo, é óbvio que só pode ser lésbica. Sou um cara até bonito, falo bem, e posso ser maravilhoso em outros quesitos…
— Ai meu Deus! — gritei de maneira debochada, arregalando os olhos. — Eu? Chegada em uns peitinhos durinhos… e em uma b****a suculenta… Hum… — pisquei o olho de modo exagerado — Você descobriu isso agora? Ou precisou de ajuda? — perguntei, percebendo o choque em seu rosto. — Você se acha muito irresistível, não é?
— Por Cristo, Liz! — seu tom era exasperado — Só quero entender o motivo pelo qual você não quer nada comigo… — com você e com nenhum homem, pensei.
— Matt — precisava explicar que entre nós não poderia existir nada. — Gosto de você, mas não para ter um relacionamento emocional… apenas como amigo… — tentei parecer relaxada, quando escutei ele suspirar e falar:
— Não tenho nenhuma chance, não é? — perguntou baixando a cabeça e segurando o volante com força.
— Não sou namorável, Matt — sussurrei — Não sirvo para você. Não sirvo para ninguém.
— Tudo bem! — levantou a cabeça e não olhou mais para mim, somente para frente. — Não vou insistir mais. Mas, estou aqui e posso esperar por você. — não falei nada com relação a ele esperar. Já tinha dito que não era namorável e deixado claro que não servia para ele.
O percurso até a loja onde Tatiane me esperava foi um inferno, um silêncio perturbador e desconfortável se espalhou no carro. Não pude mentir para ele; não estava pronta para namorar, ou talvez nunca estivesse pronta para deixar isso acontecer na minha vida. Definitivamente, aquele não era o momento. Não com Matt!
— Pronta para as compras?! — gritou Tatiane em euforia. Seus cabelos louros e compridos formavam cachos nas pontas. Ela tinha um laço preso no cabelo, o que lhe dava um ar mais infantil e divertido, usava um vestido verde escuro – que combinava com seus lindos olhos – acima dos joelhos, com as mangas até o cotovelo e marcado na cintura, deixando-a parecida com uma boneca de edições especiais, com suas formas mais robustas. Matt saiu do carro e ela o observou, sem entender o motivo da cara fechada que fazia — Oi Matt!
— Oi Tati! — respondeu sem gosto. — Hoje serei a babá de vocês. — tentou abrir um sorriso, mas deu para perceber que foi forçado.
— Ótimo! Mais um para ajudar a escolher as roupas. — ela disse com sinceridade e com seu sorriso de boneca.
— É sério, Matt, você não precisa fazer isso… — falei olhando para ele.
— Não estou fazendo isso de graça — me lançou um olhar frio. Uma hora estava falando de seus sentimentos por mim, e em outra me olhando daquela maneira. Apesar de ter dado um fora nele, fui o mais honesta possível e merecia ser bem tratada por isso. — E estou sendo muito bem pago — sua voz rude não me abalou.
— Que seja então! — falei e saí pisando duro; entrei na loja e o deixei do lado de fora. Senti a presença de Tatiane ao meu lado.
— O que ele tem?
— Está com raiva — precisava desabafar com alguém.
— Olha Liz, se você não quiser falar sobre isso, vou entender…
— Não, tudo bem — falei olhando um lindo vestido vermelho com brilhos nas pontas. — Uma hora eu tinha que falar com alguém sobre isso…
— Pode confiar em mim — assentiu e sorriu para mim. Minha vontade foi apertar as bochechas rosadas dela, de tão fofas que eram — Minha boca é um túmulo.
— Matt e eu… — fiz uma pausa. Ela arregalou os olhos e levou a mão até a boca, sua expressão era de incredulidade.
— Vocês dormi-mi-ram — gaguejou — Quer dizer... — olhou nervosa para os lados até ver Matt distraído ao telefone e depois sussurrou — Vocês fizeram s**o?
— Não! — falei mais alto do que deveria, chamando a atenção de algumas pessoas — Por Deus, não! — balancei a cabeça negando fervorosamente — É claro que não.
— Então o que foi? — perguntou curiosa.
— Ele me beijou à força quando voltamos de Washington. — baixei a cabeça — E eu soquei a cara dele. — quando olhei para ela, Tatiane me olhava de boca aberta, quase paralisada.
— Foi você que deixou o olho dele roxo? — perguntou se recuperando da informação.
— Sim!
— Agora posso entender o motivo do mau humor dele — gargalhou colocando as mãos na boca, tentando abafar o som da risada. — Mas, por que você não quer ter nada com ele? Matt até que é gato. — deu de ombros.
— Não daria certo — olhei para ele, ainda ao telefone. De repente nossos olhos se encontraram e senti um frio na espinha por ser pega no flagra, um arrepio percorreu meu corpo. — Como disse a Matt, não sou namorável.
— Namorável não tem no dicionário… — debochou.
— Se não tinha, sou a descrição certa para essa nova palavra!
Percebendo meu estado de espírito, ela disse:
— Vamos deixar isso para outra hora, agora você tem que se preparar para a grande entrevista com Nathan Fox — bastou pronunciar o nome dele para meu corpo amolecer. — Esse vestido ficará lindo, ótima escolha!
— A grande entrevista… — resmunguei quase choramingando. Peguei o vestido e fui em direção aos sapatos.
Fiquei impressionada com o valor absurdo do vestido, assim como dos sapatos e brincos, jamais teria como pagar todas as coisas que comprei. Depois de arrumar o cabelo, fazer a maquiagem e me olhar no espelho, quase caí dura no chão. Não era a Liz que habitualmente estava acostumada a ver, não a Liz que usava sempre blusas de mangas compridas e de cores escuras, que sempre usava calças quase masculinas, cabelos presos e pouca maquiagem. Ali estava uma Liz completamente diferente, cabelos soltos em um corte que favorecia meu rosto um pouco quadrado e cheio de sardas, que estavam escondidas por baixo da camada de base que a maquiadora passou. Meus braços estavam expostos pelo vestido sem alças, deixando o branco da minha pele ainda mais em evidência. Nunca pensei que eu era um ser tão branco, na verdade nunca parei para me observar direito no espelho. Mas, com aquele vestido, eu estava parecendo uma estrela de cinema, e não é por nada não, estava mais bonita que algumas atrizes de Hollywood. As curvas do meu corpo ficaram ainda mais em evidência e minha perna exposta até o meio da coxa, devido a uma a******a lateral do vestido.
O salto vermelho era mais alto do que eu costumava usar, minhas unhas estavam pintadas em vermelho que, segundo a manicure, era em homenagem ao meu cabelo ruivo e ao belo salto que adquiri com o cartão de débito do patrão. Já que tinha que ir a essa entrevista descabida, pelo menos me vinguei do meu chefe, torrando seu cartão!
— Você é alguma estrela de Hollywood? — perguntou Tatiane divertida.
— Quem me dera! — respondi ainda assombrada pela visão em frente ao espelho. — Ainda não estou acreditando… — passei a mão da cintura até o quadril, admirando o caimento do vestido em meu corpo. Agora era só não deixar ninguém – do s**o masculino – passar a mão em mim, assim meus monstros internos não sairiam para me assombrar.
— Diva! — falou chamando minha atenção. — Não querendo estragar esse seu momento patinho f**o se transformando em cisne, mas está na hora de ir… — momento cisne me fez rir. Estava realmente gostando de ter uma amiga como Tatiane.
Ainda vacilante, por não estar habituada a andar com saltos tão altos, segui para o lado de fora, onde Matt me esperava olhando a tela do celular. Quando ergueu a cabeça, deixou o queixo, a cabeça e o celular caírem no chão. Foi desconfortável ver o modo como ele me olhou; seus olhos verdes assumiram um tom mais acinzentado, e com um brilho que me fez ficar com os pelos eriçados. Ele era alto, mas com aquele olhar de predador, parecia bem maior.
— Podemos ir. — disse quando parei em sua frente.
— Liz! — sua voz saiu rouca. — Você está linda…
— Obrigada! — suspirei profundamente. Não queria que ficasse me olhando com cara de cachorro molhado em dia de furacão, e nem com olhar de quem queria arrancar minha roupa. — Agora podemos ir…?
— Boa sorte, Liz! — desejou Tatiane me abraçando. — Acabe com ele! — piscou para mim com malícia; não acredito que ela estava fazendo isso comigo e soltei um sorriso divertido.
— Obrigada! — falei com franqueza.
— Depois vamos combinar para ir comprar o sofá — brincou, pois durante nossas compras comentei que precisava de sua ajuda para escolher um sofá novo.
— Com toda certeza! — falei entrando no carro.
Faltava apenas uma hora para chegar à boate de Nathan, e finalmente conhecê-lo pessoalmente.