Soraia O carro anda, e o silêncio dentro dele é mais pesado do que qualquer porrada que eu já tomei. Cada segundo que passa, a notícia queima a minha língua. Eu olho pro Lobo, pro perfil dele, duro, fechado pro mundo. Ele tá a um milímetro de mim, mas parece que tá do outro lado de um abismo. Eu não aguento. Não dá pra chegar em casa com isso dentro de mim. A casa do Tito não é lugar pra uma revelação dessas. Aquilo é um cemitério de segredos, e esse aqui é grande demais pra ser enterrado lá. — Para o carro — a voz sai de mim, mais firme do que eu esperava. Ele vira o rosto, rápido, um estranhamento nos olhos. — O quê? — Para o carro, Lobo. Por favor. Ele não questiona de novo. Dá uma olhada no retrovisor e puxa o carro pro acostamento, perto de uma pracinha vazia. Desliga o mo

