A mesa de jantar era impecável, com pratos bem arrumados e velas que lançavam uma luz suave pelo ambiente além dos lustres. Lia sentou-se ao lado de Diego, que parecia tranquilo enquanto devorava a refeição, mas ela não conseguia deixar de lado o que o garoto dissera mais cedo. "Todo mundo tem medo do meu pai." A frase ecoava em sua mente como um alerta silencioso.
Porquê teriam medo? Ela se perguntava, e se perguntava se Dante derrepente poderia ser alguém desequilibrado. Lia esperava não estar correndo perigo na casa de alguém s*******o.
— Lia, você achou r**m a comida?— Diego perguntou, olhando para o prato quase intocado de Lia.
Ela despertou de seus pensamentos, forçando um sorriso. — Ah, n-não!... É que... estava distraída.
— Você tá pensando no meu pai, né? — Diego disse de repente, com uma franqueza que a desarmou.
Lia engoliu seco e tentou parecer indiferente. — Não, só estava pensando na vida.
Diego deu de ombros e voltou ao prato, mas Lia percebeu que ele tinha um olhar observador, como se entendesse mais do que aparentava. Após o jantar, ambos se retiraram para o quarto, onde Diego escolheu um filme animado.
Enquanto ele se aconchegava no sofá com um cobertor, Lia percebeu como ele parecia mais criança naquele momento. Sem a sombra do pai, Diego era apenas um menino doce, ansioso para que alguém lhe desse atenção.
— Meu pai sempre volta tarde, mas ele sempre vem me ver antes de dormir. — Diego comentou enquanto o filme começava.
Lia assentiu, tentando confortá-lo. — Ele parece se preocupar muito com você, Diego.
O menino apenas sorriu e voltou sua atenção para a tela. Conforme o filme avançava, os olhos de Diego começaram a fechar lentamente, e ele acabou adormecendo encostado no ombro de Lia. Ela ajeitou um travesseiro e o cobriu com o cobertor, desligando a TV e deixando apenas uma luz baixa na sala.
A Cozinha na Madrugada
Por volta das três da manhã, Lia acordou com a garganta seca. Tentando não fazer barulho para não acordar Diego, ela se levantou e foi até a cozinha. A mansão era um labirinto silencioso àquela hora, e os passos de Lia ecoavam pelos corredores.
Ao entrar na cozinha, ela congelou. Sentado à mesa, parcialmente oculto pela penumbra, estava Dante. Apenas a luz da lua que atravessava a janela iluminava parte de seu rosto. Ele estava com uma postura relaxada, mas sua presença preenchia o ambiente de maneira quase sufocante.
— Boa madrugada, babá. — Sua voz cortou o silêncio como uma lâmina.
Lia levou a mão ao peito, tentando recuperar o fôlego. — Que susto! O que você tá fazendo aqui no escuro?
Ele deu um sorriso frio, um canto da boca se erguendo enquanto seus olhos a avaliavam. — Minha casa, minhas regras. Não preciso justificar onde estou.
Lia ergueu o queixo, tentando ignorar o desconforto. — Claro. Mas podia pelo menos acender uma luz pra não parecer... uma assombração.
Dante soltou um som baixo, algo entre uma risada e um suspiro, mas o olhar dele continuava sério. — E você? O que está fazendo vagando pela casa a essa hora?
— Fui beber água. Algum problema? — Lia respondeu, cruzando os braços. Ela sentiu o olhar dele percorrer cada detalhe de sua postura, como se estivesse tentando encontrar alguma falha ou fraqueza.
— Problema nenhum. Mas é curioso ver que você não parece intimidada. A maioria das pessoas nesse lugar andaria na ponta dos pés para não me incomodar. — Ele se inclinou ligeiramente para frente, apoiando os braços na mesa. — Por que você não é como elas? Quem você pensa que é?
Lia franziu a testa, segurando o olhar dele. — Porque eu não trabalho pra te agradar. Eu trabalho pelo Diego. E você, quem pensa que é? Não entendo porquê tanta incomodação só por conta da minha postura.
Dante estreitou os olhos, o sorriso desaparecendo de seus lábios. Ele se levantou devagar, e, mesmo sem tocar nela, sua presença parecia invadir o espaço ao redor. Lia sentiu o coração acelerar, mas não recuou.
— Diego é a única razão de você estar aqui. — Ele disse em tom baixo, quase como um aviso. — Mas não se engane, babá. Tudo o que acontece nessa casa, eu vejo. Eu controlo. Eu Mando.
— Que bom saber disso. Assim você também deve ver que eu faço o meu trabalho bem feito. — Lia respondeu, com um tom firme que a surpreendeu.
Dante parou a poucos passos dela, os olhos escuros fixos nos dela. Por um momento, o silêncio entre os dois foi pesado, como se fosse um duelo. Então, ele sorriu, um sorriso pequeno e perigoso.
— Interessante. Vamos ver quanto tempo isso dura. Boa noite, babá. — E, sem esperar resposta, ele saiu da cozinha, deixando Lia sozinha com seus pensamentos e um arrepio que corria pela espinha.