“O córtex cerebral é como um álbum de fotos, mas a diferença reside no facto de não haver livre arbitro para arrancar as lembranças conflituosas do cérebro”.
Vickyara
Flashback on, na visão de David.
Aquela manhã de sol cálido, era calma como a localidade exigia, o distrito de Kingsley, era um dos mais esplêndidos de Nova Zambézia, pois as moradias mantinham a arquitetura da época vitoriana.
A população era mariotariamente constituída por banqueiros, grandes criadores de gados, e todos aqueles que tinham bom gosto ao apreciar o estilo vitoriano e ainda aqueles que fugiam dos sons abafados da cidade.
David desde que deflagrara Annabel nos braços de outro homem, alegou como desculpa para o seu desaparecimento, a preparação para o seu baile de máscara anual, por isso mesmo, fez uma viagem à kingsley, que fica a uns bons quilómetros da cidade.
A residência em kingsley é parte da sua herança deixada pelos seus pais adotivos, uma casa que se parecia com um castelo do século XIX, um sofisticado edifício de três andares do estilo vitoriano, com um charme particular e uma fachada espetacular, com detalhes de madeira em tons escuros e terrosos em todos os cantos e tetos. Por possuir uma arquitetura espetacular era o lugar ideal para as festas.
David Fazia a sua corrida matinal, sobre a trilha de cascalho que atravessa o relvado rústico denso de cor verde muito escuro, com folhas verdes acinzentadas.
O ar puro e a calmaria de kingsley, proporcionava um bom ambiente para refletir sobre o futuro do seu relacionamento. Após terminar entrou na casa, havia um movimento desusado protagonizado por serviçais e outros responsáveis pela organização da festa.
Fez um banho, esperava descansar a seguir, porém, escutou o ronco típico, bem grave e encorpado do motor de um corvette v8, concluiu que Annabel estava no terreno, por isso mesmo, perdeu o sono, pois não almejava vê-la tão cedo.
Com a intenção de recebê-la, desceu as escadas de madeira em forma de L, com a mão apoiada ao corrimão suportado de balaústres. Cruzou com uma servente que carregava uma bandeja com taças, a mesma ficou petrificada ao vê-lo, ao ponto de obstruir a passagem.
Por sua vez, David tossicou em jeito de chamar-lhe atenção, e graças a esse ato a mulher despertou do encanto, e disse:
“Perdoe-me senhor, sou sua fã, é que vê-lo tão perto deixou-me sem fôlego”. Declarou Evie com um sorriso fugaz de auto-satisfação, e a mesma afastou para dar-lhe a passagem que tanto almejava.
David apenas usufruiu da passagem livre, e m*l deu atenção ao que a moça havia dito, estava consumido de um nervosismo esganiçador.
Annabel vinha na companhia da Henrine, esta que é os olhos e ouvidos de Mr. Blue. O motorista abriu a porta do corvette de tonalidade torch red, com um brasão da Blue Design. As duas mulheres sairão do carro a exibir uma aura de feminilidade. Em algum momento, David pareceu ver semelhança entre as duas, se calhar porque ambas eram louras, e logo pensou —" Estou mesmo a delirar".
"Meu amor, posso saber porquê estás incomunicável? “ Inquiriu Annabel suavemente com a voz fina comparada a um canto de uma sereia.
O abraçou de um jeito carinhoso como se tivessem passado um bom tempo sem se avistarem.
O abraço era um martírio para David, sentir o calor do seu corpo e cheiro inebriante da sua colónia-Paco Rabanne Lady Millon Empire e, ao mesmo tempo, lutar para repelir-lhe pela traição.
“Estou ocupado, penso que veio muito cedo”. Afirmou ele num tom monocórdico, com um olhar distante e inexpressivo.
“Não gostou de ver-me? “ Perguntou ela com os olhos da cor de avelã bem arregalados. O vento arrastou um dos seus fios capilares de tal maneira que cobrira a sua face oval. Afastou para trás os seus cabelos louros compridos que fazia um belo contraste ao seu tom de pele bronzeado, adquirido graças aos raios solares tomados bem cedo.
“Nada disso, só estou exausto”. Exprimiu ele com um sorriso para encobrir o desalento no seu ser, mas não o bastante para convencer Henrine que assistia tudo de camarote.
“Bom. Vou subir para me preparar”. Avisou Annabel e deu-lhe um beijo na testa. Entrou na casa, à passos firmes, com o peito elevado para frente e o traseiro empinado, num ritmo coordenado dos seus movimentos de tal maneira que deixava a todos de queixo caído.
O semblante taciturno de David não passou despercebido dos olhos castanhos de Henrine que com o efeito do sol parecia uma piscina de mel. Ela contorcia-se para não cometer o erro de pergunta-lo o que tanto apoquentava a sua alma.
“Mr.Blue, eu trouxe alguns documentos que precisam a sua assinatura”. Declarou ela com a sua voz altiva como se quisesse ressuscitar o seu ânimo.
“Ah sim! Vem comigo ao escritório”. Asseverou ele, os dois entraram juntos na casa movimentada de pessoas.
Eles foram em direção ao escritório, porém David ficou no caminho, porque havia recebido a chamada de Mr. Terrence, que o informara que estava disposto a fechar o contrato, e veria a festa.
Viu novamente a servente que cruzara consigo a pouco tempo, ela olhava fixamente para ele de um jeito que achara obsessivo.
“Aquela servente está a tirar-me do sério”. Relatou David com a Henrine. Essa que por sua vez, olhou discretamente para a jovem n***a de altura normal, de olhos castanhos, e os cabelos arrumados em r**o de cavalo.
“É mais uma fã desesperada, já devia estar acostumado”. Retorquiu Henrine.
David como um autentico cavalheiro abriu-lhe a porta amadeirada polida de verniz fosco com textura rispada, os dois entraram no escritório. Na resolução dos seus assuntos inacabados, ele ganhara ânimo, o trabalho era como um combustível provedor de alegria.
Durante a tarde David arranjou maneiras de evitar Annabel, para pensar melhor no que faria. Como decisão estava disposto a conversar com ela, e escutar a sua versão.
David estava convencido de que era resultado do seu distanciamento causado pelo megaprojeto que desenhava com o engenheiro Newman que posterior seria vendido ao Mr. Terrence.
No entanto, ao anoitecer os convidados, começaram a aparecer, desfilaram diversas celebridades, todas elas mascaradas e vestidas a rigor.
O ambiente festivo parecia superar aos anos anteriores, pois havia muita excitação, principalmente na hora da valsa, em que as pessoas mostravam domínio no ritmo quaternário de Foxtrot. Aquele também foi um momento ímpar para David, principalmente quando o DJ ressoou um ritmo mais lento, pôde beneficiar-se, da oportunidade de reviver o romance. O seu corpo estava bem colado ao de Annabel como se fossem duas metades de uma laranja a complementar-se.
“ David, eu preciso contar-te algo”. Confessou ela com a voz melódica que escondia um choro de afã. Graças as luzes de laser dançantes e coloridas camuflavam o seu rosto que transparecia aflição. David sentiu a alma transpirar através do corpo, o seu coração o traiu com um ritmo célere, pois imaginara qual fosse o assunto. E Eram poucas as vezes que ela o chamava pelo seu nome.
“Claro vamos ao meu escritório”. Concordou David com firmeza a reprimir o desconforto no seu âmago. Os dois retiraram-se da pista de dança, de mãos dadas e seguiram em direção ao escritório.
Entraram no escritório, amplo, com o papel de parede de tons de bronze adornados com desenhos florais, molduras douradas de grandes nomes do renascentismo a enfeitar, sem falar da estante a madeirada de livros encosta ao canto. No centro há uma mesa retangular com os pés torneados sob a mesma há miniaturas de carros de todas as marcas conhecidas na praça e uma cadeira com o apoio um pouco abaulado, o seu assento e encosto são estofados, com padrões estampados e para completar uma poltrona convidativa em direção a lareira.
Fecharam a porta amadeirada polida de verniz fosco, Annabel retirou a máscara e ele pôde constatar nos olhos de avelã da mulher a sua frente que algo não estava bem.
“Tenho algo muito sério para contar-te David”. Falou ela com a voz solene.
“Tudo bem Annabel, compreendo, vai ficar tudo bem, foi uma semana abaulada para todos”. Declarou ele convencido que se tratava de uma confissão ou um pedido de desculpas.
“Deixe-me falar David… “. Dizia Annabel apoquentada como se tivesse acordado de um pesadelo, porém o celular de Mr. Blue com um toque melódico começou a chamar.
“Damn… ” resmungou ele exasperado, olhou para o ecrã era Mr.Terrence, e não podia deixar um homem poderoso como aquele a espera.
“Annabel, tenho que ir, é o Mr. Terrence, terminamos depois”. Disse ele com excitação. Saiu do escritório, trilhou pelo corredor onde havia algumas pessoas a conversar. A Casa ou castelo como parecia, possuía um bom sortimento de cantos escuros, convidativos a uma rápida diversão.
Permaneceu nas escadas de acesso à porta principal da casa, de degraus em concreto que pareciam flutuar sobre o espelho de água, e havia também vasos adornados de roseiras nas laterais.
Viu o Ford do Mr. Terrence a estacionar, e logo saiu o seu guarda costa a passos rápidos, num fato escuro discreto. “Mr.Terrence, quer que entre no carro”. Orientou o motorista, parecia robô pelo tom de voz grave. David concordou, entrou no carro se instalou no conforto do assento e encosto num tom carmesim de veludo. Por trinta minutos eles discutiram o contrato e por fim fecharam, ambos estavam satisfeitos com as negociações.
“Eu ficaria feliz se entrasse e bebêssemos um champanhe”
Sugeriu David com entusiasmo, brincava com a esferográfica na cor de ouro para afastar a ansiedade.
“ Eu não bebo, além do mais, Triana está a minha espera para o jantar”. Justificou o velho caucasiano de testa rugosa. Os seus cabelos eram esbranquiçados num tom mais para cinza assim como as suas sombracelhas.
“Compreendo, tenha uma boa noite Mr.Terrence”. Articulou David, e saiu do conforto do Ford. Com um sorriso rasgado e apologético, assistiu aquele veículo blindado da cor n***a, com a matrícula personalizada a partir.
A noite era límpida e a lua de sonolenta se escondia no leito de nuvens. Sentiu as lufadas do vento se embriagar de deleite na sua fronte e deu-se conta que já estava ali parado por um bom tempo. Pensou “Agora só falta acertar as coisas com a Annabel”.
Voltou para o conforto e quentura da casa, em que uma música eletrónica contagiava o ambiente da festa, de tal maneira que, a pista de dança pareceu pequena pelo aglomerado de pessoas nela contida. Seguiu ao escritório, e quando lá entrou, viu uma mulher de costas com um r**o de cavalo e farda de servente, a segurar um bastão.
A mesma Quando percebeu a presença dele assustou-se e colocou a mão na boca e largou o báculo no chão revestido de bambu.
“O que faz aqui? Já estou farto das suas perseguições”. Advertiu ele a aproximar-se dela, de relance viu o corpo de Annabel deitado de bruços, ao lado da sua mesa de madeira, no chão a jorrar sangue
“O que fez a ela? sua psicopata”. Vociferou de forma rude. Tocou o pescoço da Annabel para sentir o pulso, a sua pele estava gélida, lívida e embaçada, o vidrento dos olhos m*l apertados… era tarde demais, já tivera partido para o mundo dos defuntos.
Segurou-lhe no colo, pregou-lhe mil beijos nos lábios. Implorou a Deus para que devolvesse a vida da sua amada, enquanto que do seu rosto n***o caiam as lágrimas, soluçava como uma criança em crise de choro.
Olhou de forma feroz para a mulher parada como uma estátua, que emergiu como um denso nevoeiro. Ao perceber o olhar sombrio de David tentou explicar que não havia feito nada e mesmo assim não foi suficiente.
“Encontrei-a assim, não fiz nada, por favor acredite em mim”. Suplicou Evie, desesperada com o rumo dos acontecimentos. A porta foi aberta abruptamente, Henrine, entrou no escritório, com um piscar de olhos se inteirou da situação.
Devido ao choque ficara petrificada, de tal maneira que, David teve que bradar. “Chame a polícia, essa mulher não pode escapar”. Preceituou ele, ajoelhado ao chão a tentar reanimar aquela que já tinha atravessado para o mundo dos mortos.
A Henrine obedeceu-o. Evie, optou pelo mais óbvio, uma vez que a comunicação entre eles não tivera sucesso. No ato de escapulir-se dali a Henrine segurou firme o seu braço, e mesmo assim não foi suficiente para impedir a sua fuga, ela respondeu com uma cotovelada, assim sendo a loura caiu no chão.
Evie avançou para abrir a porta, girou a maçaneta de inox da cor dourada, sentiu um alívio instantâneo. Porém, é surpreendida com a polícia, olhou para atrás de relance, concluiu que não havia como escapar.
Os agentes da polícia a levar algemada.
Flashback off
“ Ia perdoá-la mesmo? “ Inquiriu Evie com admiração. No seu pensamento passou a ideia que o amor era insano.
“Sim, porque eu a amava, faria qualquer coisa para que estivéssemos juntos”. Afirmou David, e ela olhou pela forma como se moviam aquelas orbita da cor de café, e ficou convencida que de facto ele não era culpado com a sua declaração. Essa certeza surge pela curta-metragem das memórias do tempo em que o observa.
“Isso quer dizer que a minha teoria está errada, se não foi você, quem seria?”......