É incrível como o tempo, às vezes, nos prega peças. Ele é capaz de nos transportar para qualquer lugar, basta que algo inusitado aconteça.
*Há mais de vinte anos atrás*
Era o primeiro semestre de Laura na Universidade Federal. Ela estava um pouco nervosa, pois não sabia como iria ser, as pessoas que iria conhecer. E a única pessoa que a apoiava em seu sonho era sua irmã, Amélia.
– Ai, Amélia! Eu tô muito nervosa! – disse Laura ainda sem querer sair de dentro do carro.
– Laura, deixa de frescura! – disse Amélia. – Vai dar tudo certo, pára com isso.
– Eu sei. Mas não posso evitar. É tudo tão novo!… E ainda tem o papai, que nem na minha formatura apareceu quando soube que eu seguiria a carreira de jornalismo. – disse Laura um pouco triste.
– Laura, quem perdeu foi o papai. A obrigação dele era estar lá te apoiando no seu sonho. Se a mamãe estivesse viva, com certeza, ela estaria. Ele foi mesquinho e egoísta. – disse Amélia.
– Mas que bom que você estava, Amélia.
– O quê?… E perder a chance de ver minha irmãzinha ganhando o prêmio de melhor aluna?!… Jamais!
– Não sei o que seria de mim sem você, minha irmã. – disse Laura abraçando Amélia.
– Tá bom, tá bom!… Eu já sei que sou demais, que você me ama, a recíproca é verdadeira. Agora cai fora, pega suas coisas que estão no porta malas e vai realizar seu sonho, Laura. – disse Amélia.
– Tá bom, OK. Tô saindo.
As duas se despedem.
– Te vejo no fim de semana, Laurinha! – disse Amélia arrancando com o carro.
– Vai devagar, Amélia!… Ela é um perigo atrás de um volante, meu Deus!
Laura não demorou muito para encontrar o seu alojamento no Campus e também não demorou em fazer amizade. A sensação de deslocamento, com o passar dos dias, tinha sumido completamente, já que Laura era muito simpática. Mas o que mais chamava a atenção era a sua beleza e inteligência, que não passavam despercebidas. Porém, elas fisgaram a atenção de um rapaz em particular.
_ Refeitório do Campus _
Havia um rapaz que trabalhava no refeitório. Seu trabalho era servir a comida nas bandejas, entre outros serviços prestados à Universidade. Ele achava o seu trabalho entediante, enfadonho, e completamente sem perspectiva. Mas ele precisava dele. Porém, tudo mudou no dia em que ele a viu.
– Leonardo?… Leonardo?… Cara, acorda! Onde é que cê tá?! – pergunta um amigo.
– Cara, me belisca!
– O que?!
– Acho que tô vendo um anjo! – disse Leonardo completamente rendido à beleza da moça que acabara de entrar no refeitório.
– Ah, sim. … Aquela ali é a Laura. – disse o outro rapaz.
– Como sabe o nome dela??
– Nos esbarramos uma vez nos corredores. Ela me ajudou a recolher umas bandejas que tinham caído. Ela é muito gente boa.
– Ela é bolsista que nem a gente? – pergunta Leonardo.
– Que nada!… O pai dela é o maior magnata. Foi o que eu soube. Mas ela não é como as outras ricas e esnobes que torcem o nariz pra gente. Quer dizer, pra mim, né?… Porque você já pegou todas!
– Não seja exagerado!… Eu não peguei todas. … Só as que deram mole! – disse Leonardo se gabando.
– É garanhão!… Mas um dia, você vai conhecer uma que vai te deixar "arriado os quatro pneus"! – brincou o outro.
– Quem sabe?… Talvez você tenha razão. – disse Leonardo olhando para Laura.
Os dias iam passando, e o interesse de Leonardo por Laura só ia crescendo. Mas a oportunidade de falar com ela nunca surgia. Até que um dia, ela estava na fila para o almoço. Ela passaria por ele de qualquer jeito, e ele não poderia perder essa chance.
Ele coloca a comida na bandeja de Laura e dispara:
– Como é que consegue permanecer bonita e inteligente comendo essa porcaria?
– O que?! – disse ela espantada.
– Essa gororoba. Essa comida não é pra você. Aliás, ninguém aqui deveria tá comendo isso. – disse Leonardo.
– Você é maluco?! – sussurrou Laura.
– Por quê?… Por dizer a verdade?
– Você trabalha aqui. Se te pegarem insultando a comida, vão te colocar pra fora. – disse Laura.
– Tá preocupada comigo?… Ia sentir minha falta? – disse ele sorrindo.
– Eu nem te conheço!
– Não seja por isso. Me chamo Leonardo, muito prazer.
Laura estava achando o jeito daquele rapaz muito estranho.
– Não vai me dizer o seu? – ele pergunta.
– Não. – disse ela já de costas para ele.
– Tudo bem. Eu sei que se chama Laura.
Ela se vira e o encara.
– Como sabe o meu nome??
– Só conto se aceitar sair comigo.
– O que?!… Você é muito petulante, sabia?! – disse ela.
– E você é linda. Aposto que também é divertida!
Laura fica vermelha. Dá as costas para Leonardo e segue seu caminho.
– Até mais ver, Laura! – disse ele.
E foi assim por mais de um mês. Ele não desistia. Mas Laura não era boba, ela soube da fama de garanhão de Leonardo, e não queria ser mais uma na lista dele. Porém, estava cada vez mais difícil, pois ele estava sendo irresistivelmente gentil com ela.
– Por que tá fazendo isso, Leonardo? O que você quer de mim? – pergunta Laura.
– Laurinha, será que ainda não ficou claro o que eu quero?
– Não vou ser seu passatempo. Não vai fazer comigo o que faz com as outras! – disse ela.
– Isso nunca foi a minha intenção, Laura. – disse ele a fitando de maneira séria. – E não existem outras, não mais.
– Ah, é? Desde quando?
– Desde que me apaixonei por você. – disse ele se aproximando de Laura.
Eles vão se aproximando, até que seus corpos estão colados um no outro. Leonardo acaricia o rosto de Laura e lhe dá um beijo terno e cheio de amor, muito bem correspondido por ela.
O beijo vai ficando intenso e cheio de desejo.
– Eu te amo, Laura. Te quero pra mim. – disse Leonardo sussurrando no ouvido de Laura.
– Leonardo, eu… Eu não sei. – dizia ela já embriagada de tanto desejo.
– Olhe pra mim, Laura. No fundo dos meus olhos. – disse ele a mirando. – Se me disser agora, nesse momento, olhando nos meus olhos, que não sente a mesma coisa por mim, eu prometo te deixar em paz, e nunca mais te procurar.
Naquele momento, Laura pôde ver a sinceridade nos olhos de Leonardo, e também comprovou o que, no fundo já sabia. Que o amava com todo o seu coração.
– Não. … Não posso dizer que não sinto a mesma coisa, pois seria mentira. … Te amo, Leonardo.
Ele sorri e a levanta em seus braços.
– Ah, Laura! Minha Laurinha!
– Seu maluco! Me bota no chão! – disse ela rindo.
– Só quando aceitar ser minha namorada!
– Tá bom!
– Tá bom, o quê??
– Eu aceito ser sua namorada! Aceito! Aceito!
Ele a coloca no chão, mas a mantém em seus braços.
– Te amo, Laura.
E os dois se beijam apaixonadamente.
E como num piscar de olhos, o tempo, mais uma vez nos engana e nos traz de volta. Para um momento onde tudo agora é mais complicado.
*Momento presente*
Eles se olham. Mas o silêncio ainda impera. Até que um deles quebra o mesmo.
– Há quanto tempo, Laura.
– Tempo demais, Leonardo.
Ricardo fica meio sem jeito, mas acaba perguntando.
– Vocês já se conheciam?
– Sim, Ricardo. Sua tia e eu… Bem… Tivemos uma história. – disse Leonardo sem conseguir tirar os olhos de cima de Laura. Ela estava ainda mais linda de quando ele se lembrava.
– Uma história que acabou há muito tempo. – disse Laura. – Se me dão licença, vou ver como está a Bianca. – disse ela entrando m*l olhando para Leonardo.
Mas será que essa história, realmente acabou?