Hoje, enquanto me preparava para o almoço, não conseguia tirar da minha mente aquelas imagens – fotos de Vanessa, que pareciam impossíveis de existir fora de um filme. Eu, Robert Demian, sempre fui um homem de olhar exigente e racional, mas, ali, diante da tela do meu celular, vi uma mulher tão intensa e sensual que meu coração acelerou de forma incontrolável. Senti que a imagem daquela mulher nua, com os cabelos soltos e o olhar provocante, desafiava todas as convenções que eu sempre mantive. Simplesmente, ela me encantava.
Estava terminando de organizar meus e-mails quando notei que nada acontecera com relação à proposta de Vanessa. De repente, recebi uma mensagem de áudio dela, uma mensagem que parecia carregada de ansiedade, mas também de um tom quase melancólico. Eu respirei fundo, tentando acalmar a agitação dentro de mim, e decidi responder – não por profissionalismo, mas porque algo nela me instigava de forma irresistível.
Respondi por voz, ainda sentindo o eco vibrar em mim:
– Vanessa, recebi sua mensagem. Que tal marcarmos um almoço? Assim podemos conversar pessoalmente e esclarecer tudo isso.
Com esse convite, marquei um encontro em um restaurante famoso, o Paradiso, que funciona em conjunto com o Hotel Imperial. Convenci-me de que minha escolha do local era apenas uma necessidade de ter um ambiente à altura da nossa discussão – afinal, um bom restaurante atrai boas conversas – e não porque eu quisesse ficar sozinho com ela. Mas, secretamente, eu sabia que aquele cenário elegante possibilitaria que nós dois fôssemos mais próximos, sem distrações, e talvez até permitisse que eu a beijasse.
Meio-dia em ponto, sentei-me à mesa do Paradiso. O ambiente era sofisticado, o tilintar dos talheres, o burburinho discreto dos clientes, a iluminação suave do local criavam o ambiente ideal para um encontro de negócios, ou pelo menos assim eu tentava me convencer. Meu olhar, porém, não parava de vagar, imaginando a Vanessa idealizada das fotos que eu tanto revivia. Eu me perguntei: “Será que ela sempre se sente tão assim, tão deslumbrante?”
Logo, a porta se abriu e, em poucos instantes, vi Vanessa adentrar o restaurante. Diferente da imagem que eu tinha gravado na minha mente, ela chegava pálida, com os olhos inchados de tanto chorar, o cabelo preso num coque simples e um traje modesto, longe da mulher sedutora e arrojada das fotos que haviam me hipnotizado. Meu coração, no entanto, acelerou ainda mais com aquele contraste inusitado – era como se eu estivesse vendo duas versões dela: a profissional, séria, determinada, e a que se revelava naquelas imagens proibidas.
Ela se aproximou cautelosamente, e sem demorar, começou a falar: – Robert, eu bebi muito ontem à noite... – sua voz era baixa e trêmula, quase um sussurro. Ela olhou para mim, com os olhos marejados, e continuou: – Uma amiga minha tirou algumas fotos e, no meio da confusão, acabei enviando para você o arquivo errado, o que era pra ser o relatório. Eu… eu queria que você entenda que foi um erro. Por favor, não me denuncie. Se isso ficar conhecido, terei que arrumar outro emprego, e um cargo como o meu não aparece fácil assim.
Antes que ela pudesse terminar, eu a interrompi suavemente, tentando transmitir tranquilidade: – Vanessa, calma… Eu quero que você fique tranquila. Não vou te prejudicar. Na verdade, fiquei bastante surpreso – admiti, sorrindo de um jeito que misturava compreensão e um toque de fascínio – mas estou encantado com você. Eu me aproximei um pouco, mantendo o olhar fixo nos dela e prossegui: – O que importa para mim agora é o projeto que estamos fechando com a Müller Holdings. Quero que você fique à frente desse projeto. E, se estiver disposta, gostaria de tê-la como minha assistente. Ela hesitou e, com voz embargada, respondeu: – Robert, eu posso cuidar da transação com a Müller, mas não posso prometer que vire sua assistente. Eu dei um sorriso tranquilizador, tentando dissipar a tensão: – Tudo bem, Vanessa. Vamos resolver isso aos poucos. Hoje é só para conversarmos, para que possamos esclarecer os fatos. Num breve silêncio, o ambiente entre nós parecia suspenso entre o profissional e o pessoal, entre o erro e a possibilidade de um novo começo. Eu senti uma estranha mistura de alívio e desejo. Eu, que já havia passado horas encantado pelas imagens, agora enxergava a verdadeira Vanessa – real, vulnerável, e, mesmo assim, de uma beleza que me encantava profundamente.
Durante o almoço, a conversa fluiu com uma naturalidade que surpreendeu ambos. Ela explicou novamente, entre soluços, sobre a confusão e o excesso de bebida. Em determinados momentos, seus olhos transbordavam arrepios de vergonha, mas eu a acalmava com palavras suaves: – Vanessa, não se preocupe. Todos nós cometemos erros. O que realmente me impressiona é sua coragem em admitir e lidar com essa situação. Isso demonstra força e integridade. Ela parou por um instante e me olhou, com um misto de gratidão e receio: – Você realmente acha isso, Robert? – Sim, acho. – Respondi com sinceridade. – E quero ver você brilhar nesse projeto. Sua capacidade de se reinventar, de enfrentar as adversidades, é algo raro e admirável. Entre um prato e outro, nossas conversas se tornaram mais profundas. Falamos sobre expectativas, desafios e sobre a vida. Em meio a uma pausa para o vinho, ela comentou: – Eu nunca imaginei que um erro tão absurdo pudesse criar uma oportunidade... mas, ao mesmo tempo, estou assustada com as consequências. Eu a encorajei: – Vanessa, às vezes, os maiores desafios trazem as maiores oportunidades de crescimento. Hoje, estamos aqui, conversando cara a cara, e isso é o começo de algo novo. Ela assentiu, e, por um breve momento, o ambiente ao nosso redor pareceu desaparecer, como se só existíssemos nós dois. Mas o relógio não perdoava, e logo precisávamos retomar o fluxo da conversa profissional.
Ao final do almoço, enquanto pagávamos a conta, Vanessa se preparava para se despedir. Eu a acompanhei até a porta do restaurante, segurando sua mão com cuidado, como se quisesse garantir que ela não se perdesse no turbilhão do que havia acontecido. – Vanessa, não se preocupe com esse erro. Vamos resolver tudo, um passo de cada vez – eu disse, com firmeza e um toque de compaixão. Ela me olhou, os olhos cheios de incerteza, e murmurou: – Obrigada, Robert. Sério, estou tão nervosa... Eu temo que tudo isso tenha comprometido minha carreira. Eu sorri gentilmente: – Não se culpe tanto. Hoje provamos que, mesmo em meio ao caos, podemos encontrar oportunidades. E lembre-se: você é extraordinária. Antes de se despedir, ela hesitou, quase como se quisesse dizer algo mais, mas acabou apenas murmurando um "até logo" e seguindo o seu caminho. Eu a observei desaparecer na multidão, sentindo um alívio misturado a um desejo crescente.
Depois desse encontro, fiquei sozinho por alguns instantes, absorvendo tudo o que havia acontecido. Passei o resto da manhã e parte da tarde revivendo a cena em minha mente. Cada detalhe – os olhos dela, seus gestos, até mesmo a forma como ela falava sobre seu erro – ficou gravado em mim. Não conseguia parar de pensar em como ela era, na dualidade que apresentava: a mulher confiante e sedutora nas fotos e a Vanessa real, que agora eu via diante de mim, com toda a sua vulnerabilidade e coragem.
Sentei-me em minha mesa de trabalho, tentando retomar as atividades normais, mas a imagem dela continuava a invadir minha mente. Fiquei imaginando o que aconteceria no futuro, como aquelas palavras de incentivo poderiam abrir uma porta para algo mais – talvez não só no âmbito profissional, mas também pessoal. Durante a tarde, refleti sobre o potencial daquele novo projeto com a Müller Holdings e, ao mesmo tempo, minha mente vagava para a possibilidade de um futuro em que eu pudesse beijá-la, conhecê-la de verdade, além de ser apenas a assistente que ela representava.
Ao final do dia, quando o expediente acabou, caminhei lentamente em direção ao meu carro, ainda relembrando cada palavra, cada olhar trocado durante o almoço. O restaurante, o ambiente sofisticado e a conversa franca com Vanessa me proporcionaram uma nova perspectiva. Lembro-me de ter sussurrado para mim mesmo: – Hoje, descobri mais do que um erro estranho – descobri a verdadeira essência de Vanessa. Ainda que aquela manhã tivesse sido repleta de incertezas, eu respirava aliviado por ter escolhido não condená-la, mas sim enxergar nela algo que superava qualquer deslize. E, enquanto subia no carro e partia para casa, o pensamento de seus lábios, daquele beijo que não pude dar, dominava minha mente com uma força irresistível.
Hoje, enquanto revisito mentalmente o que aconteceu, não consigo evitar um sorriso suave e um brilho nos olhos. Vanessa, com sua sinceridade e imperfeição, abriu uma porta que eu jamais imaginara. Fico ansioso pelo que o futuro nos reserva, sabendo que juntos podemos transformar um episódio de confusão em um marco de recomeço – tanto profissional quanto pessoal. E, enquanto fico aqui, refletindo sobre aquele almoço, não consigo deixar de imaginar o momento exato em que finalmente darei aquele beijo, selando o início de algo novo e inesperado.