Acordei parecendo que um ônibus havia passado várias vezes na minha cabeça. Levantei com dificuldade, tropeçando até a geladeira. Bebi meio litro de água gelada e engoli duas aspirinas, na esperança de aliviar aquela ressaca avassaladora. Ainda embaçada, fui para o banheiro, entrei no chuveiro com a roupa ainda, como se o calor pudesse lavar não só a sujeira, mas também o horror que eu temia ter causado na noite anterior.
Minutos depois, com os olhos fechados e encostada no box do chuveiro, a memória da mensagem que recebi invadiu meu pensamento – e, sem conseguir me controlar, dei um berro que reverberou pelo silêncio úmido do banheiro. Do nada, larguei tudo e saí correndo, molhando o chão da casa. O barulho acabou despertando minhas amigas, que dormiam no sofá da sala.
– Vanessa, o que está acontecendo? – perguntou Tereza, já saltando do sofá com os olhos arregalados. – Meninas, eu… algo deu terrivelmente errado! – gaguejei, sem conseguir respirar direito, enquanto Sarah se aproximava com uma expressão de preocupação. – Conta logo, o que houve? – insistiu Sarah, segurando meu braço com força.
Cheguei até a sala sem tempo para explicar direito; meu celular, para piorar, estava descarregado. Com mãos trêmulas, conectei-o ao carregador e esperei ansiosamente que carregasse o suficiente para que eu pudesse olhar o que havia acontecido. Quando finalmente consegui ligar o aparelho, abri a caixa de mensagens. Meu coração parou ao ver o arquivo que havia enviado para Robert Demian: em vez do relatório da proposta, havia mandado uma série de fotos íntimas – imagens em que aparecia nua, com os cabelos soltos, uma sensualidade tão poderosa que contrastava drasticamente com a minha imagem profissional.
– Não pode ser! – gritei, e as lágrimas começaram a escorrer sem controle. – Vanessa, isso é sério? – exclamou Tereza, com uma voz misturada de pânico e incredulidade. – Meu trabalho acabou, está tudo arruinado! Ele vai ligar para a Meg e eu… eu serei mandada embora! – soluçou Sarah, abraçando-me com força, enquanto Tereza passava as mãos em meu cabelo, tentando me acalmar.
Sentindo o peso esmagador do desespero, agarrei o telefone e gravei uma mensagem de áudio para Robert: – Robert, aqui é a Vanessa. Eu preciso pedir mil desculpas. Eu enviei o arquivo errado por engano. Por favor, desconsidere aquelas fotos – elas não foram intencionais, foi um erro, um deslize da minha embriaguez. Eu enviarei o relatório correto imediatamente. Por favor, me desculpe.
Enviei o áudio e fiquei esperando, o coração batendo descompassado. Minutos depois, o telefone vibrou novamente. Olhei a notificação e ouvi a resposta dele: – Vanessa, quero conversar com você sobre o que aconteceu. Vamos almoçar, preciso ouvir sua explicação.
Fiquei paralisada por um instante. Meu coração, que até então batia acelerado de pânico, começou a misturar medo com um estranho sentimento de fascínio. Robert, que sempre fora um cliente exigente, agora demonstrava uma curiosidade que beirava o encantamento. Aquela resposta me deixou confusa: por um lado, eu temia as consequências desse deslize; por outro, algo nele me dizia que ele estava, de certa forma, intrigado e até seduzido pela minha vulnerabilidade capturada naquelas imagens.
– Eu... ele quer conversar – murmurei, os lábios trêmulos enquanto encarava o teto, tentando encontrar palavras para entender o que estava acontecendo.
Tereza, vendo meu rosto pálido, se aproximou com firmeza: – Vanessa, você vai conseguir resolver isso. Chame-o para o almoço, explique tudo e, se precisar, conte comigo. Nós vamos te ajudar, tá bom? Sarah assentiu, com os olhos marejados: – Nem pense que vamos deixar você sozinha nessa. Mas, por favor, tente não se destruir. Respira, vai ser tudo esclarecido.
Mesmo tremendo, tomei coragem e decidi que não podia deixar que aquele erro definisse o meu futuro. Respirei fundo e preparei-me para enfrentar a situação. Enquanto esperava o horário marcado para o almoço, a dúvida fervilhava na minha mente: será que esse incidente, impulsionado pelo acaso e pela tequila, seria apenas um m*l-entendido? Será que o Robert, com sua postura imperturbável, estava genuinamente curioso com a faceta inesperada da minha sexualidade – algo que, de um modo quase poético, o fazia enxergar uma nova possibilidade, um novo caminho, na forma como via as coisas?
Com cada segundo que passava, minhas mãos continuavam a tremer, mas as palavras de apoio das minhas amigas me davam um fio de esperança. Eu não sabia se aquele almoço resolveria tudo, mas sabia que precisava encarar o momento com a verdade e a sinceridade. Mesmo que o desespero ainda me apertasse o coração, naquele instante, decidi que enfrentaria o futuro de peito aberto – e que, talvez, aquela manhã de caos seria o início de uma nova chance de recomeço.