Janel - parte 3

3940 Palavras
                                                                              "O SEGUNDO GRITO"                                                                                      Meses depois. Já estávamos na metade da nova tour de verão do Bernard's Circo. Começamos por Missouri, seguido por Arkansas e Mississippi. Mas, foi em Tennesse onde tudo aconteceu. David e eu agora só estávamos separados apenas por um ano de diferença. Porém, eu não achei que os meus quatorze anos começariam tão m*l. Quando eu ainda tinha treze, tudo estava ótimo. Eu havia reencontrado Tammi e, quase um ano depois, eu finalmente a pedi desculpas pelo ocorrido da tour anterior. Ela disse que estava tudo bem, mas que ainda não conseguia entender como Dave e eu continuávamos juntos. Mesmo depois da briga com Wren e o acontecido h******l da noite após a primeira festa de David no ensino médio, eu ainda continuava apaixonada por ele. Eu também não entendia muito bem como aquilo acontecia, mas, eu estava cega. Mesmo com meus amigos dizendo que eu era burra. Não adiantava de nada. Era a última semana de viagem do circo. E, como de costume, a trupe sempre visitava algum lugar grande e bonito que nunca havia conhecido. Naquele ano foi a vez do Great Smoky Mountains National Park. Ele é tão grande quanto o seu nome. Diferente do Theodore Roosevelt, que é cheio de rochas e muito quente, o Great Smoky é como uma floresta, com muito vento fresco e belas cachoeiras. Ele cobre os estados de Tennesse e Carolina do Norte. — É um dos parques mais visitados do país. — Tammim nos informou, lendo em seu livro, quando finalmente caminhávamos por uma ponte de madeira acima de uma cachoeira. — E, curiosamente, Franklin Roosevelt quem abriu oficialmente este lugar. Foi o trigésimo segundo presidente da América. E, antes que perguntem, sim, Franklin é da mesma árvore genealógica de Theodore Roosevelt. Irônicamente resolvemos visitar esses dois lugares que são ligados por uma das famílias mais importantes do país, politicamente falando. — Tem como você ser menos nerd? — Wren resmungou, e nós rimos. — Estou lendo as informações, não sou um computador. — ela respondeu enquanto seguíamos, os cinco, juntos. — Nem tudo. — falei, quase escorregando em uma das pedras molhadas. Estávamos com nossas mochilas pesadas e rostos suados, mesmo com o vento refrescante do local, e, quando pensamos que ficáriamos cansados demais para continuar a caminhar, a Queda Polis apareceu para todos nós. Simplesmente mágica. Toda a trupe parou com as suas máquinas para registrar aquele momento. Papai e mamãe, que estavam pouco mais a frente com os Cornard, também tiravam fotos de si com a Queda Polis atrás. A pequena cachoeira é simplesmente uma obra prima. A água cai sobre um pedaço de madeira delicado, desviando em uma rocha pequena, formando um pequeno círculo de água ao redor de árvores e o brilho do sol. — Vamos nos separar em grupos. Há o caminho do sul, e o do norte. Voltamos à Queda Polis e nos encontramos para a saída em três horas e... — papai olhou para o seu relógio de pulso gigante. — Quarenta e cinco minutos. Boa caminhada a todos. Papai já havia nos contado como seria o passeio. E, antes de tudo, Dave e eu combinamos que nos separaríamos nesse momento. Que ele me deixaria m***r a saudade de Tammi e ficar mais a vontade com meus amigos. "Eu sei que eles não gostam de mim". E, tinham toda a razão do mundo. Principalmente depois do soco. Theo, que tinha total liberdade para ficar conosco, escolheu ir no outro grupo. Ele era assim, inconstante. Sempre ficávamos nesse vai e volta de i********e. Foi assim na escola, assim no circo, na vida. Verdadeiramente, preferi dessa maneira. Wren, Tamm e eu éramos um trio perfeito. E ninguém iria estragar isso. Nem mesmo David. No entanto, ele não só estragou isso, assim como também estragou o passeio. O nosso grupo, o que foi para o Sul, era mais jovem, e nós resolvemos passar por rotas não convencionais do mapa do Great Smoky Mountains. Leo, O senhor e senhora Cornard, meus pais, os circenses mais velhos e os garotos foram para o lado oposto ao nosso. Em nosso grupo ficaram os mais jovens, com no máximo vinte e poucos, quase trinta. Eu era a mais nova. Nós divídimos o nosso pequeno grupo em dois, já que Tammim, Wren, eu, e mais dois circenses resolvemos seguir a linha cinza do mapa. A legenda dizia que a cor representava "perigo". Significava que a trilha por ali era mais difícil de se fazer. E foi, realmente. Eu estava na frente. Quase duas horas depois, já cansada, entre galhos e a luz do sol, eu vi. Não acreditei, e nem queria acreditar, mas continuei ali, parada, sem saber o que fazer. Da mesma forma que fiquei quando ele me atacou bêbado naquela noite. Atrás de uma árvore, lá estavam eles. A bermuda de David estava em seus pés. Theodore, de joelhos, chupava o seu pênis enquanto Dave se contorcia de prazer. Wren e Tammim acabaram vendo tudo. Por alguns segundos, parei para respirar enquanto escutava pequenos gemidos de prazer vindos daquela maldita árvore. Uma antiga conversa de Dave me veio em mente naquele momento. Não fazia tanto tempo assim. "Eu nem estava falando de s**o. Isso eu sei que não vai rolar." "Não quer t*****r comigo?" "Claro." "Então, do que você estava falando?" Eles não notaram nossos olhos sobre eles. Mas, eu fiz questão de gritar. Saindo do pequeno transe, gritei. Gritei o mais alto que pude. — Ainda grito como uma garotinha? — disse, enquanto ele subia a bermuda constrangido. Não teve coragem de olhar em meus olhos. — Ein, David? Esse volume está bom o suficiente pra você? — berrei, ainda mais e mais alto. Wren tocou o meu ombro pedindo calma. — Janel... Janel, me perdoa. Por, por, por favor, Janel. — Theo começou a chorar, soluçando, olhando para o chão. — Cala a boca! — gritei com ele, revelando algo em mim que eu mesma não conhecia. Minhas mãos tremiam. David não disse nada. Ninguém disse mais nada. Tammim me abraçou. Wren me abraçou. Nós saímos dali deixando Theodore aos prantos, mas eu não senti pena. Pensei em todo o seu discurso sobre a monstruosidade de Dave. Comecei a pensar em sua própria monstruosidade. E como parecia que eu só estava cercada por monstros o tempo todo. Olhei para os meus amigos, desconfiada. Pensei se realmente algum deles era verdadeiro. Paige, Ash, Jason... Estava chorando, sozinha, depois de ter implorado a Wren e Tamm que me deixassem sofrer o necessário quando Theo apareceu. Ele se sentou ao meu lado, encostando-se no tronco da árvore em que eu estava, com os pés sobre as folhas caídas. O silêncio e as lágrimas preenchiam o local. Eu não sabia o que dizer, mas, minutos depois, as palavras saíram da boca de Ted. — Eu só... Eu não dizia aquelas coisas por falsidade. Acredite, Jane. — Por favor, Theo... — com desgosto, resmunguei. — Janel. Janel, eu me importo com você. Eu não quero roubar o David de você. Ele... ele não é gay. — Ele mandou você dizer isso? — falei, pela primeira vez olhando para ele. Theodore continuava com o rosto para o alto. Suas lágrimas desciam. — Não, Jane. Eu só esperava que você conseguisse se livrar dele. Eu não consegui. Queria que você conseguisse. — Pelo amor de Deus... — falei, mordendo os lábios de tanto ódio. — Há quanto tempo? Há quanto tempo, Theo? — e ele balançou a cabeça negativamente muito rápido, com raiva de si mesmo. Começou a bater com os punhos fechados na própria cabeça. Forte. — d***a, d***a, droga... — ele gritava, desesperado. — Pare com isso. — falei, tentando passar calma. — Theo, pare com isso. Pare com isso agora. — EU ME ODEIO! — ele gritou tão alto que causou eco. E danou a chorar mais do que antes. Meu coração mole estremeceu, mas manti a firmeza. Ele parou de se bater. — Há quanto tempo? — perguntei, engolindo seco. — A primeira vez foi lá em Dakota, no Roosevelt. Pouco antes... Pouco antes de você ir até ele naquele rio raso. — Ted disse enquanto tentava limpar as próprias bochechas gordas e molhadas. Outro transe. A imagem se formou em minha mente. Nossas mãos entrelaçadas, o sorriso. A água molhando pedaços do meu vestido. Os peixinhos passando de um lado para o outro. A desaprovação de Theodore. Agora fazia sentido. ... Dave é um monstro que nos prende. Não há saída. Eu juro que tentei diversas vezes. Ele me humilhou na vez que tentei beijá-lo. Desculpe por isso, Janel. Desculpe mesmo. Mas, isso é tudo o que ele quer de mim. Se ele quer mais de você, pode te fazer sofrer ainda mais. Por favor, vá. Vá para bem longe dele antes que seja tarde....                                                                                            ♀                                                                                  "ACIDENTES"                                                                              1 ano e meio depois. Era inverno. Eu finalmente tinha 15 e estava no ensino médio. David estava com 17, no time principal, caminhando a passos largos atrás de sua bolsa da faculdade através do basquete. E nós mudamos bastante, principalmente eu. Fiz novas amizades, entrei para o clube de debates da escola e amadureci um pouco mais. Tamm me ajudou muito. Nós nos falávamos por telefone quase todos os dias depois do meu pedido de desculpas. Wren ingressou numa faculdade em outro estado, ainda mais longe que Tammim. Infelizmente, tê-los apenas de longe era difícil. Mas, o ensino médio preencheu tanto o meu tempo que superar isso foi fácil. Até porque, com essa nova fase, novos problemas vieram. E Dave fazia parte deles, claro. Nós passamos três meses separados depois daquilo. Ele me ligava todas as noites feito um maluco, e eu não atendi durante noventa dias. Passeis todas essas semanas trancada em meu quarto boa parte do tempo. Eu sempre disfarçava quando mamãe entrava no quarto, mas teve um dia que ela finalmente resolveu me forçar a dizer o que estava acontecendo. Foi quando finalmente contei sobre o meu namoro precoce com David. Eu esperava um grande alarme de sua parte. Esperava que ela gritasse e brigasse comigo. Que me impedisse de continuar naquela burrada. É claro que eu não lhe contei as piores partes. Disse que nós tínhamos brigado por causa dos cíumes dele e pronto. O corte na minha testa, uma pequena cicatriz que tenho até hoje, ainda é um mistério para minha mãe. A história r**m que inventei naquele dia ainda permanece. E ela não fez um escândalo. Apenas sorriu, na verdade. — E você acha que eu não sabia? — revelou, e eu arregalei os olhos, apavorada. — Vocês... Ué. — Querida... É claro que sabíamos. Era óbvio. Os pais de Dave e nós sempre ficamos rindo de vocês quando estão juntos. É engraçado. Na verdade, nós amamos vocês. Nós apoiamos muito mesmo. — Que pena. Porque agora acabou. É bom que tenham rido bastante, porque agora não terão mais motivos para isso. — falei, levantando da cama, limpando minhas lágrimas com minha blusa de dormir. — Que bobabem! — mamãe riu, batendo palmas. — Vocês nasceram um pro outro, filha. — Acabou, mãe. — Olha, Dave será um ótimo genro pra mim. Ele já é. Seu pai o considera como filho. Ele até o chama assim às vezes. Nunca ouviu? —... — David é um amor, Janel. E vocês ficam lindos juntos. Se você não ligar para ele agora e chamá-lo para jantar aqui hoje, eu mesma irei fazer isso. — Mãe, eu não vou... — Deixa de ser teimosa, garota. Agora que tem idade para namorar em casa, termina tudo? Porque acha que vim até aqui falar com você? Já tem 15! E o meu celular tocou. Era ele, pela milésima vez. Mamãe sorriu e saiu do quarto saltitante. E, enquanto eu decidia se atendia ou não, pensei em como seria agora, já que poderíamos namorar abertamente. E se isso mudaria muita coisa. E, além do mais, teria também o apoio da minha mãe a partir de agora, já que tudo estava claro entre nós. Lembrei dos nossos momentos juntos. E do começo de tudo. Somente das partes boas, é claro. E, quando a imagem de Dave com rosas em mãos, ajoelhado, com cara de cão abandonado, ressurgiu em minha mente... Foi difícil resistir aquela ligação. Ele havia feito isso uma semana antes desse dia, quando se cansou de me ligar e mandou uma mensagem pedindo para que eu olhasse pela janela do meu quarto para a calçada. E lá estava ele. As flores. O sorriso. Mas, por incrível que pareça, eu não desci para vê-lo. E ele continuou lá. — Amor? — eu atendi, ainda sem ter certeza se deveria ou não. Mas, senti falta de sua voz naquele momento. A doce voz de David Cornard. — Eu nem acredito que você atendeu. — Nem eu. — respondi, ainda relutante. — Eu te amo muito. Muito. Muito mesmo. Janel, eu não posso viver sem você. — Dave... — É a verdade. Por favor, eu preciso te ver. Eu te amo. Não posso viver sem você. Não posso. Não posso viver sem você. Não posso, não. Eu te amo. Ele repetiu isso até as três batidas na porta na noite posterior. E tivemos um jantar estranho. Era como se Dave fosse meu irmão de sangue. Foi quando notei que o que mamãe havia dito era verdade. Filho pra lá, filho pra cá. Já mamãe, amor. "Ele não é um amor, marido?" "Ele não é um amor, filha?". Ela sempre dizia esse tipo de coisa depois de David dizer/fazer algo engraçado. Mas, como eu disse, entrei no ensino médio. E, depois do nosso retorno, a minha nova vida não demorou muito para começar. Em um sábado, na primeira semana de fevereiro, o frio ainda não dava indícios de que abandonaria a cidade. Agasalhadas da cabeça aos pés, Alison (uma nova amiga) e eu fomos até a nossa primeira grande festa de inverno dos alunos veteranos de Pretty Lake. Dave ficou furioso, pois marcaram a festa para o mesmo final de semana em que seus pais resolveram visitar o seu avô que estava à beira da morte em San Luis, na fronteira do Missouri com Illinois. Porém, uma grande festa com David a quilômetros de distância de mim não significou uma grande festa sem perturbações ou problemas. Desde o minuto que cheguei ao minuto que saí, Dave me ligou. E pedia foto de onde eu estava, e com quem eu estava. Mas, na metade da festa, eu já estava bêbada. Ainda era iniciante nessas coisas, então ficava bêbada muito rapidamente. E foi aí que voltamos a brigar sério. Coisas que estavam engasgadas há tempos foram jogadas para fora por conta do álcool correndo em minhas veias. — Você é um b****a. — falei, não bravamente, mas chorosa, trancada em um dos quartos da casa onde a festa acontecera. — Mesmo depois de tudo. Essa cicatriz aqui é por sua causa. Mais um pouco você teria me estuprado. Se não fosse aquele vidro no meio da minha testa! — Eu jamais faria isso. Jamais. Aquilo foi culpa da bebida. Eu estava fora de mim. Amor, você já me perdoou por isso. Poxa, você está completamente bêbada! — Estou! — gritei com a voz trêmula. — Mas você usa o álcool para revelar o monstro dentro de você. E eu... — parei para tossir durante uns dez segundos e me engasguei de leve. — Eu só estou dizendo a verdade que nunca tenho coragem de dizer. Isso porque ainda nem toquei no fato de que você provavelmente... — Provavelmente o quê? — Dave disse já irritado. — Olha, vamos conversar depois. Você está muito m*l. Arrume alguém pra te levar pra casa. — Você provavelmente é gay. É. — cuspi, agora rindo enquanto chorava. — Você é. Não é? — Eu não sou gay. Sua i*****l! — Uuuuuu! Ela ficou magoada! — descontrolada, ri ainda mais. — Cala a boca. E vai se f***r, Janel! — ele falou, desligando bem na minha cara. Mais uma longa semana sem se falar, exceto por uma ou outra troca de olhares nos corredores de Pretty Lake. E essa semana se prolongou por mais ou menos cinco meses. Dave curtia o seu último ano, e eu, o meu primeiro no ensino médio. Para ele, a ansiedade e expectativa para a faculdade. Para mim, as novidades de minha nova fase e o foco para manter as minhas notas altas desde o começo. Segundo meu pai, esse era o grande truque para chegar ao último ano com a vaga para a universidade nas mãos. Cinco meses quebrados, já que no meio disso, nós ficamos uma vez, por muita insistência dele. Mas, depois, nós brigamos novamente. Ele queria saber sobre todas as minha amizades, me ligava a todo tempo quando saía com minhas amigas e queria controlar tudo. E eu estava me sentindo sufocada, mas, ao mesmo tempo, não conseguia me livrar totalmente. Sempre. No final, Theo tinha certa razão em suas palavras. Durante esses dias separadas de David, liguei para Theodore. Ele havia se mudado para Colorado, estado vizinho ao Kansas. A nova escola, segundo ele, era fantástica. E, de forma benevolente, o perdoei por tudo. "A mudança de estado foi essencial. E meu pai disse que não voltaremos para o circo. E, se ele voltar na próxima tour do verão, eu não irei. Não quero mais esbarrar com David . Mesmo sabendo que ele nem iría olhar na minha cara. Não quero nem estar próximo a ele." Depois de um tempo de conversa, quando Theo me contou sobre o seu novo relacionamento, me dei conta de que eu já tinha quinze anos e só havia beijado um garoto. Tudo bem, eu sei que muitas garotas com essa idade nunca nem beijaram nenhum, mas, eu comecei essa coisa de relacionamento tão cedo que às vezes me sentia com vinte, mesmo não tendo transado. E, como eu estava solteira por quase cinco meses (ou dois meses e meio, já que no meio houve uma recaída), resolvi sair para uma festa que Alison me convidara e ficar com o primeiro garoto que me aparecesse. E, uma hora depois, eu estava pronta para encontrar Alison e Ashley para um sábado quente de quase-verão. Não precisei me preocupar com os meus pais, já que eles estavam em um pequeno final de semana de apresentações com número pequeno de circenses em Tulsa, Oklahoma, próximo a fronteira com o Kansas. As apresentações fora do verão eram bem mais curtas e próximas, sem grandes viagens. Era a única solução, já que o número de artistas diminuía consideravelmente. — Aquele ali é bonitinho. — Alison comentou quando fomos até a piscina, nos fundos da casa, observar os garotos. — Que físico... — Eu quero qualquer um. Só quero sentir o gosto de outra boca que não seja daquele desgraçado. — Para de show, Jane. Alison acabou de te conhecer, mas eu já sei como isso acaba. Acaba com você voltando pro David. — Casal iô-iô? — Alison riu. — É sério, gente. Eu preciso beijar alguém. — Até uma garota? — Ashley perguntou. — Nunca pensei nisso. — falei, sorrindo. — Quem sabe, com dois ou três copos... Rimos a noite toda. Até o momento em que Keegan Harding, um garoto do último ano, me beijou de surpresa. Não era uma festa da escola. Por isso David não estava lá. Era uma festa particular de uma amiga da Alison. Mas, por algum infortúnio, ela estava ligada a Keegan. E ele, ligado a Dave, de certa forma. Eu não tinha certeza se eles eram amigos. Mas, depois de mais que três copos, eu acabei ligando para o ex em desespero. E ele se aproveitou do meu momento delicado. "Eu conheço esse cara. Não somos amigos. Ele me odeia, eu acho. Por isso ele ficou com você. Mas, sabe o que eu acabei de fazer enquanto você me traía com o Keegan, Jane? Eu acabei de recusar uma f**a com Sasha Blackburn, a gostosa das mais gostosas de Pretty Lake. Um amigo me arranjou. E, sabe por quê? Porque eu te amo. Quantas vezes eu vou ter que falar? Eu não vivo sem você. Não podemos viver separados, e você sabe disso. E eu recusei isso por você. Mesmo querendo muito. Porque é você que eu quero, amor. É você. É tudo que eu quero. E, se você quiser, eu vou aí agora mesmo te buscar. Eu te amo." Ele apareceu. Eu corri para o seu carro, um pouco bêbada, mas ele me ajudou a entrar com o máximo de dignidade possível. Eu apaguei por um momento no carro e, quando acordei, estava em minha cama. E David ao meu lado. Minha cabeça doía tanto que parecia que eu ia explodir a qualquer momento. — Não tinha bolo na geladeira dessa vez. E nem nada muito gostoso. Deixei você aqui dormindo e fui buscar esse chocolate lá em casa. — ele levantou a embalagem sob o meu rosto. — Quanto tempo eu dormi? — Foi rápido. De carro, lógico. Estou esperando você acordar há uma hora. — m***a. Preciso de água. Muita água. — falei, levantando e já correndo até a cozinha desesperada por um copo, sedenta. — Fiquei com medo de trazer algo de vidro. — ele comentou. — Não sei onde vocês guardam plásticos aqui, até hoje. Bebi três copos cheio d'água e quase a barra inteira de chocolate. Ele apenas me observou em silêncio. Voltamos pro quarto, tomei um banho e pus uma roupa de dormir antes de apagar a luz e nos deitarmos. Eu não sabia o que dizer, nem ele. Ainda não estávamos totalmente bem e não sabíamos como resolver aquilo. Ou pelo menos eu não sabia. — Lembra do dia em que nos conhecemos? — de repente, sua voz preencheu o recinto. Era apenas o som de suas palavras na escuridão. Foi fácil visualizar tudo. — Quando eu ainda tinha uma cama de solteiro. E nós pulamos nela como duas crianças. — falei, sorrindo para o nada. — E você tinha cabelo verde. — Eu já sabia desde aquele dia. — Sabia o quê? — Quando eu virei, com os meus olhos cerrados e sedutores para você. Eu a peguei de surpresa, pois você já estava com uma cara de apaixonada. "Você não vem, Jane?" — e fez uma voz mais infantil. — Eu não estava apaixonada. E nem com cara de apaixonada. — rebati, rindo de leve. — E então, você sorriu para mim. Um sorriso bobo, o mais lindo que conheço. E respondeu aquele "Sim", tão doce. Eu já sabia, Janel Benson. Já sabia. O silêncio permaneceu, nossas mãos se moveram em nosso meio e se encontrarem lentamente. A escuridão facilitou tudo. Sem ver um ao outro, toda a vergonha, toda mancha causada por Dave, parecia ter sido apagada de alguma maneira. E acabamos nos beijamos segundos depois. Foi uma mistura de sentimentos tão grande que é quase impossível definir. E ficamos nus minutos depois. E eu deitei sobre o corpo dele. E, pela primeira vez, David e eu nos conectamos por completo. Não vou negar que, enquanto eu deslizava sobre o seu pênis, lembrei da cena vista por mim no Great Smoky Mountains National Park. Imaginei Ted passando seus lábios nesse mesmo pênis. E foi quando tudo voltou. A conversa com Theodore naquele mesmo dia. Toda a nossa história, todos os erros, os acertos, os beijos... Quase no fim, tentei me esquecer de tudo. Depois disso, o prazer. Só me lembro de acordar na manhã seguinte deitada sobre o peito dele. Estava feito. Descobri que estava grávida três semanas depois.
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