O primeiro carro havia sido roubado e o segundo um motorista de uber com o dono do carro correndo atrás dele, Francis acelerou para chegar o mais próximo possível do segundo para pedir que pare, que iríamos conseguir pegar o ladrão.
— Eu vou atrás deste desgraçado! — gritou o passageiro, seu rosto está vermelho e a treta pingando de suor, ele leva a mão no peito e começa a rugiu de dor.
— O que está acontecendo? — gritou o motorista.
— Infarto! — grito para que eles me escutem — Corra para o hospital agora, vamos ...
Um tiro corta o som da minha voz, o ladrão que está no passageiro está com a arma apontada para fora do carro, não consigo ver quem está dirigindo é tudo muito rápido que parece um borrão.
— Vocês não vão nos pegar! — ele grita antes de atirar e acertar a roda da viatura.
Francis joga o carro no acostamento da avenida, antes de começar a patinar com a velocidade e o pneu furado.
— Inferno! — Francis está nervoso, pega o rádio e pede reforços, avisa que o dono do veículo está a caminho do hospital.
Meu coração está disparado e meu peito sobe e desce com a minha respiração acelerada, Francis está socando o volante. Escuto uma sirene vindo em nossa direção, várias viaturas, duas vão em sentido ao veículo roubado e uma para para nos ajudar, enquanto outra segue com o rapaz para abrir caminho para o hospital.
— Todos estão bem? — não reconheço o policial que pergunta, ele está parado na frente da porta de Francis olhando para nós pela janela.
— Sim! — respondo — precisamos trocar o pneu.
Chegamos na delegacia com a notícia que a vítima não resistiu, foi infarto fulminante, os culpados não foram presos, estão procurando pelas câmeras da cidade a localização deles e por enquanto sem respostas do que realmente aconteceu.
— Noite difícil, policial Morais! — uma policial se aproxima de mim estendendo a mão — Policial Novais, prazer! — a loira sorri amigavelmente. — Estava precisando de uma mulher conosco, era apenas eu e a Silva.
— Agora somos três. — respondo apertado firme a mão dela.
— Com toda a certeza — Novais dá uma risada nasalada e solta a minha mão — noite difícil com o Francis?
— Um pouco — riu baixo e olhou para o Francis se aproximando de nós duas.
— Uma pena que não conseguimos, Morais. — o loiro passa a língua entre os lábios antes de continuar a falar — foi muito emocionante esta noite ao seu lado, uma pena que não tivemos um final feliz. — ele pisca para mim e se retira.
— Esse cara é sempre assim? — uno minhas sobrancelhas.
— Nojento? — Novais franze o nariz. — É, sempre. — ela ri — Quer um café?
— Aceito. — respondo seguindo Novais até a cozinha.
Com um copo descartável na mão cheio de café preto sem açúcar, seguimos em direção ao mural do d***o. Várias fotos de adolescentes e crianças em uma casa que foi apreendida, fotos de uma mesa com pilhas e mais pilhas de cocaína, fotos do Cláudio conversando com um dos homens do d***o e entre outras, mas nenhuma do nosso homem misterioso.
— Ele nunca parece estar envolvido com o que acontece. — Novais quebra o nosso silêncio — Age de longe, observa os movimentos de seus funcionários — ela levanta os ombros e os abaixam —, nenhuma vez foi pega por um dos nossos policiais, nada, sem sinal, nenhum vestígio.
— É como se ele não existisse.
— Pode ser uma mulher, não acha? — ela me olha curiosa. — Com essa generalidade, só pode ser mulher.
— Não dúvido, pode ser qualquer pessoa.
— Tenho quase certeza que é uma mulher — Novais olha para cima dos ombros quando Francis entra no local que estamos — Não é, Francis?
— O que? — pergunta pouco interessado.
— Que pode ser mulher — ela aponta para o quadro.
— Não acho, homem tem mais cabeça para criar essas coisas — Francis aproxima com aquele sorriso amarelo que me dá arrepios. — Quem mais poderia colocar adolescente e criança para trabalhar com química?
— Mulher sabe botar ordens, não é Morais?
— Se você está dizendo — respondo levando o copo de café até os meus lábios para tomar alguns goles, estou ficando com sono, não deveria ter ficado acordada mexendo nas caixas de mudança, deveria ter dormido um pouco mais.
— Para, não seja assim — sinto sua mão sobre o meu ombro — pensa só, homem não acha que menores de idade são inteligentes, apenas mulher pensaria nisso, imagina uma chefe do tráfico. — ela ri — andando pelas ruas do Rio como se fosse uma CEO, ou melhor, na praia de biquíne e aqueles chapéu de palha com um coco verde na mão...
— Imaginei ela fazendo outras coisas — Francis corta Novais com seu jeito escroto de pensar sobre as mulheres.
— Que nojo, Francis — Novais olha para ele com repulsa.
— Eu não disse nada, você imaginou o que eu estava pensando. — o homem com duas entradas no cabelo sai rindo e coçando o saco por cima da calça.
— Não liga para ele! — comento e volto a olhar para o quadro.
Quero descobrir quem seria a verdadeira identidade dessa pessoa, quem teria a tamanha crueldade? Novais acredita ser uma mulher, não duvidaria muito disso, mas trabalhar com homens que tem essa coragem, apenas outro homem, ele saberia lidar com esse tipo de gente sangue frio. Apenas um homem frio e calculista conseguiria agir de tal maneira.
Novais me deixa na porta de casa, no momento estou sem carro ou pelo menos uma moto para ir ao trabalho, geralmente pego um Uber, mas uma carona não vai tão m*l. Entro em casa e vou tirando meu uniforme, não gosto de entrar com ele dentro de casa, entro no banheiro e deixo a farda pendurada no gancho da parede, vou direto para o chuveiro.
Não vi meu pai na sala, deve ter sido a dor de cabeça novamente, ele sempre fica acordado ou pelo menos sentado na poltrona da sala me esperando. Ao sair do banheiro, Henrique está lá com uma xícara de chá de camomila estendendo para mim.
— Para não ter insônia, minha filha! — diz ele entregando a xícara em minhas mãos — estava na cozinha quando chegou, preparei o chá para você antes que chegasse.
— E a dor de cabeça?
— Estou melhor, acredita? — ele sorri, seus olhos não estão mais vermelhos, desta vez ele não está mentindo, deve ter passado a noite dormindo no sofá e longe dos livros.
— Acredito, e é bom o senhor não ficar lendo muito enquanto me espera.
— Eu sei, e você tem razão. — ele resmunga — Devo procurar um oftalmologista para fazer alguns exames.
— Agradeço por ter me escutado — digo levando a xícara até minha boca, sopro antes de tomar um gole.
— Eu sei que se preocupa comigo, esse foi um m*l que você pegou de mim — papai ri enquanto caminha em direção ao corredor dos quartos — agora irei me deitar, amanhã quero saber dos detalhes, mas por hora preciso dormir mais um pouco para recuperar a dor de cabeça.
— Boa noite meu pai, dorme com Deus, bença.
— Deus lhe abençoe minha filha.
Depois de tomar o chá de camomila e ter deixado a xícara na pia, vou direto para o meu quarto, na escrivaninha meu celular pessoal vibra com a notificação de uma nova mensagem. Fecho a porta do quarto e vou até o celular, ao pegar e desbloquear vejo que Oscar me mandou uma foto da praia, o sol está nascendo, os primeiros raios de sol de uma manhã de sábado.
"Um bom dia, para a minha querida Larissa!" — sua mensagem veio logo em seguida — "Às vezes os raios de sol jogam flechas que são flechadas de calor, de desejo, de calafrios, de paixão, de amor, de prazer e de sofrer nesses tempos imorais e estranhos. Mas esta manhã, esta manhã um dos raios flechou meu coração, pois um ser aqui da Terra passou a existir em minha vida"
Mordo meu lábio inferior, segurando um sorriso bobo por ler o que acabara de receber, posso estar sonhando que um dia iria encontrar um homem como Oscar. Meu coração palpita emocionante diante seu texto e não surge nenhuma palavra para responder à mensagem, mas deixo meu coração ditar.
"Gostaria de estar contigo para escutar você surrando essas palavras no meu ouvido"
Após enviar, ele não visualiza no mesmo momento, acabo dormindo com o celular na mão. Acordo com os pássaros cantando na janela do quarto, sinto cheiro de feijão sendo cozinhado vindo da cozinha, deve ser quase meio dia, não dormi quase nada. Olho para o celular ao meu lado, são quinze para às doze horas, nenhuma mensagem de Oscar, nem uma seta de confirmação que ele viu minha mensagem, deve estar ocupado.
Levando da cama alongando-me, pego meu caderno de desenho e abro na página que havia começado a rabiscar, abro a janela do meu quarto para entrar uma luz natural e volto a desenhar o que estava começando no dia anterior.
Tentei dormir mais um pouco depois do almoço, estou ansiosa para ver o Oscar hoje no Rota, como é minha folga não irei na delegacia, passarei o resto da tarde me cuidado, preciso fazer minhas unhas e hidratar o cabelo. Não gosto muito de ir em salão de beleza, mas hoje resolvi entrar em um para conhecer pessoas novas.
— Nova moradora? — a moça de cachos e Black Power me pergunta quando aponta para sentar na cadeira, faço que sim com a cabeça — Prazer, sou a Kátia a cabeleireira do salão mais querido da cidade. — ela diz sorrindo, mostrando seus dentes um pouco desalinhados. — Como é seu nome?
— Larissa, vim para cá faz poucos dias, moro aqui por perto. — falo antes de vir as perguntas.
A atmosfera de um salão de beleza parece fazer as mulheres falarem, como se fosse um centro de psicologia onde cuidamos de nós e conversamos sobre tudo que vier em nossa cabeça.