Cheguei atrasada na delegacia, que inclusive está lotada. Aquela chamada que tiveram ontem teve bons resultados, espero ter alguma resposta do misterioso chefe do morro. Vou direto para a cozinha pegar mais uma xícara de café vem forte, foi a única coisa que tomei ao acordar, preciso ficar acordada nesse turno por conta de uma reunião avisada de última hora.
— A noite foi boa, Morais! — um dos policiais na cozinha me encara com um sorriso malicioso. — Fiquei sabendo que você ficou no Rota, apesar de ocorrer uma chamada.
— Se vocês não fossem incapazes, certamente eu seria convocada, mas vejo que são ótimos profissionais. — digo respirando fundo e com o sangue fervendo em minhas veias, não gosto que falam das minhas intimidades, sei que não deveria ter ido dormir tão tarde tendo que ir acordar cedo. — E como foi ontem? Conseguiram alguma pista do misterioso?
— Infelizmente não conseguimos, foi apenas uma briga de bar. — ele disse levantando os ombros.
Quando levo a xícara de café, a delegada Silvia entra na cozinha com uma prancheta na não, tão concentrada que acaba esbarrando seu ombro em mim, começo a tossir por engasgar e queimar a língua.
— Você está bem? — a mulher olha para mim com os olhos arregalados, como se eu tivesse morrendo em sua frente, levando minha mão para ela fazendo um jóia. — Desculpa, eu estou ficando maluca com aquele povo.
— O que aconteceu? — respiro fundo tentando colocar ar nos meus pulmões e parar de tossir.
— A briga de ontem, não foi apenas uma briga de bar. — Silva começa a encher sua xícara de café preto. — Cláudio é o dono do estabelecimento, mas faz umas lavagens de dinheiro para o nosso alvo, quando entrou alguém de outro morro arrumando confusão, Cláudio acionou a segurança dele e rolou tiroteio, a vizinhança nos chamaram.
— E conseguiram alguma resposta deles? — pergunto ansiosa.
— Infelizmente, Cláudio, só falou ser um dos pontos de lavagem de dinheiro, os outros não abriram a boca. — Silvia
A delegacia está em uma agitação total com a informação que Cláudio acabou soltando para nós, todos os policiais ficaram em alerta a procurar mais pistas do paradeiro do misterioso d***o que comanda tudo isso.
Já no final da tarde, depois de ter voltado para casa e colocado uma ideia na minha cabeça que teria que entrar em uma academia hoje mesmo, saí vestida com as roupas próprias olhando para o GPS do Google para localizar a academia mais próxima de casa. Não foi difícil de encontrar, apesar da minha mente não parar de pensar na possibilidade de outros estabelecimentos serem um ponto de lavagem. A academia não está lotada às dezoito horas, alguns dos clientes estão treinando pesado com os p****s subindo e descendo conforme o movimento que fazem com os pesos.
Começa a tocar uma música do Nirvana, não reconheço nos primeiros segundos, até que ela começa e percebo o quanto gosto da canção Smells Like Teen Spirit, a canção começa a explodir pelos alto falantes pontos estratégicos nos cantos da academia.
Um rapaz de regata vermelha e calça de moletom larga preta se aproxima de mim, provavelmente é o treinador e um dos poucos funcionários neste horário.
— Boa tarde, em que posso ajudar? — sua voz é grave, quando se aproxima percebo que é mais baixo que eu, possui duas entradas no cabelo liso e unidos de suor.
— Boa tarde. — sorrio para ele — Gostaria de fazer minha matrícula, posso começar hoje?
— Claro, claro. — ele se apresentou como Olavo, fez algumas perguntas sobre minha saúde, como faria a forma de pagamento, endereço e algum contato de emergência.
Antes de começar o treino, fiz um alongamento e avisei o Olavo que não preciso de ajuda, pois tive meu personal e o tenho online, mesmo assim ele se certificou de ficar ao meu lado o tempo todo.
Por um breve passar de minutos, percebo que estou pensando na noite de ontem, apenas eu e Oscar. Não deveria ficar pensando em um moço no qual m*l conheço, só foi uma noite, não tenho motivos para pensar em alguém que só o conheci em poucas horas e usufrui de seu corpo. E que corpo.
O treino é pesado, faz passar a hora o mais rápido possível, saiu da academia pingando de suor, só desejo um suco de laranja bem gelada, trincando e depois um banho para poder dormir, m*l dormir esta noite, meu corpo já está pedindo arrego e não vai demorar muito para a minha bateria se esgotar. Ao sair da academia vou direto para uma lanchonete que tem bem em frente, provavelmente foi bem pensado tê-la construído em frente, para que quem saia da academia corra lá para beliscar alguma coisa.
— Boa noite. — uma moça aparece na minha frente com um tablet na mão, oferece uma cadeira em frente ao balcão para me sentar. — Aqui no Mundo Yulle temos todos os tipos de suco natural, lanches de veganos até os fit, temos até bebidas com whey... — a garçonete parece empolgada com toda aquela informação que continua falando, parece ter decorado cada item do cardápio, que não quero interromper seu raciocínio. — O que desejar beber?
— Vou querer apenas um suco de laranja, por enquanto só isso mesmo.
Ela sorri meio sem graça para mim, parece decepcionada por ter dito tudo aquilo e eu só pedi um suco de laranja. Entendo que é o trabalho dela, mas não estou com fome para sair pedindo tudo que ela disse, ou pelo menos algum lanche para dar um pouco de trabalho para ela.
— Parece que ela ficou terrivelmente chateada com seu simples pedido. — a voz ao meu lado não é desconhecida, logo sinto sua mão sobre o meu rosto, tirando alguns fios de cabelo grudado na pele pelo suor. — Creio que seria mais agradável um outro tipo de exercício, minha querida. — Oscar está ao meu lado, apenas de camiseta branca e uma bermuda de algodão orgânico.
— Tenho certeza que sim, mas o que posso fazer? — riu baixo, aninhando meu rosto em sua palma da mão. — Não pensei que poderia te encontrar aqui, como você está?
— Estou bem, apesar de estar com muito sono — sorriu dando uma risada nasal, me fazendo lembrar da nossa noite. — Eu trabalho na academia ali. — ele aponta para o local que eu acabei de sair. — quer dizer, sou o dono da Academia Play.
— E eu sou sua nova cliente, então! — a moça entrega o meu suco o deixando no balcão em minha frente. — Agradecida — digo pegando o corpo e dispensado o canudo, tomo um gole para refrescar a minha garganta e volto a olhar para o Oscar que faz meu estômago formigar de tanta borboleta que batem as asas rapidamente por conta de sua presença. — Gostei do local, quem escolheu a playlist tem um bom gosto.
— Tenho certeza que Oliver tem um dos motivos de gostar dele, ou já teria sido demitido. — ele ri. — Vai vir todos os dias, ou três vezes por semana?
— Se tudo der certo, todos os dias estarei na academia, gosto de passar um tempo pegando no pesado, assim minha mente fica mais limpa e consigo colocar meus pensamentos em ordem.
— Falando em pensamentos...— sinto sua respiração no meu pescoço, Oscar começa a sussurrar no meu ouvido — você não sai dos meus.
Minha vontade é de lascar um beijo nesse homem ali mesmo, deixar as coisas esquentarem, sempre que vou na academia fico com muita t***o e o Oscar aqui do meu lado não favorece nada para que minha vontade passe como de costume.
Ficamos conversando sobre como ele construiu a Academia Play, o nome veio por causa do seu pai, ele gostava muito de música mas não de querer ser cantor ou tocar algum instrumento, apenas de escutá- las, e seu sonho era ter uma academia e foi nisso que surgiu o nome. Não faz o menor sentido, como disse o Oscar, mas na cabeça de seu pai fazia total sentido.
Ao terminar o suco, Oscar se ofereceu para pagar e não o recusei, apenas agradeci pelo seu gesto gentil e combinamos de irmos para o Rota no sábado, pois segundo ele, aos sábados tem karaokê e quer me ver pagando mico cantando alguma música dos anos noventa.