A noite caiu sobre a mansão Vitale como um manto pesado. A tensão no ar era quase visível, e Isabella sentia cada batida do seu coração como o prenúncio de algo irreversível. Matteo Mancini tinha deixado sua marca com a fotografia enviada. Um recado claro: ele observava. Ele planejava. E ele não havia terminado.
No cofre ainda aberto, Isabella observava a arma sobre a mesa. Não era apenas um instrumento de defesa. Era uma escolha. Um símbolo de que, se decidisse cruzar aquela linha, não haveria mais volta.
— Tem certeza que quer isso? — perguntou Lorenzo, encostado no batente da porta. — Esse mundo exige sangue.
Ela o encarou, séria.
— Eu não entrei nesse mundo. Fui jogada dentro dele. E se for para sobreviver, não serei espectadora.
Ele se aproximou lentamente.
— Alessandro não aprovaria que você se armasse pelas costas.
— Então ele deveria ter me levado com ele. — Isabella guardou a arma na cintura, sob o sobretudo. — Eu não vou ficar aqui esperando que ele volte ensanguentado... ou que não volte.
— O que vai fazer?
— Mandar um recado de volta.
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Horas depois, sob o disfarce de uma madrugada silenciosa, Isabella seguiu com Lorenzo e dois seguranças até um antigo contato de Alessandro — uma informante chamada Viola, que trabalhava como hostess num clube de elite ligado aos negócios dos Mancini.
Viola era uma mulher esguia, elegante, com olhos que viam mais do que deviam.
— Você quer falar com Matteo? — ela perguntou, arqueando uma sobrancelha. — Isso é ousado. E burro.
— Quero que ele saiba que eu não tenho medo — disse Isabella. — E que se ele me provocar de novo, vai descobrir do que sou feita.
Viola riu, mas havia respeito em seu olhar.
— Você realmente está ao lado de Alessandro?
— Eu estou com Alessandro. Não atrás, nem abaixo. Ao lado.
Viola assentiu lentamente.
— Então vou garantir que a mensagem chegue até ele.
Isabella entregou a foto, agora marcada com um pequeno furo de bala no canto. Um aviso. Um sinal de que ela não seria intimidada.
Antes de ir embora, Lorenzo se aproximou de Viola.
— Cuide-se. Se ele desconfiar que você está nos ajudando...
— Já aprendi a sobreviver entre monstros, Lorenzo. E agora vejo que uma rainha está prestes a devorar um deles.
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Enquanto isso, em Palermo, Alessandro estava diante do caos.
O armazém principal havia sido reduzido a escombros. O cheiro de pólvora e concreto queimado ainda pairava no ar. Dois homens leais haviam morrido. E Matteo estava por trás de tudo.
Mas algo mais o atormentava: Isabella. Ele sentia que deixá-la fora daquele confronto era um erro. Ela não era frágil. Era fogo. E o fogo, quando contido, se volta contra quem tenta aprisioná-lo.
Enzo, ao seu lado, observava os destroços.
— Estamos em guerra. O conselho está dividido. Alguns acham que devemos recuar, consolidar território. Outros querem retaliação imediata.
— Eu quero a cabeça de Matteo — Alessandro rosnou. — E quero que ele saiba que estou vindo.
— E Isabella?
— Ela é minha prioridade. Sempre será.
Ele respirou fundo.
— Mas talvez seja hora de parar de protegê-la... e começar a lutar com ela.
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Naquela noite, Isabella recebeu uma resposta.
Viola ligou de um número desconhecido.
— Ele recebeu sua mensagem. Está intrigado... e irritado. Exatamente como você queria.
— E o que ele disse?
— Que você é mais perigosa do que Alessandro imagina. E que quer vê-la de novo. Cara a cara.
— Onde?
— Amanhã, no Le Noire. À meia-noite.
Lorenzo quase arrancou o telefone das mãos dela.
— Isso é uma armadilha!
— É uma oportunidade — Isabella rebateu. — Quero encará-lo. Quero que ele veja que eu não sou uma peça no jogo. Sou uma jogadora.
— Alessandro vai te matar.
— Só se Matteo não conseguir antes.
Ela se virou para os seguranças.
— Preparem o carro. Vamos caçar um fantasma.
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O Le Noire era um clube privado, luxuoso e sombrio, frequentado por milionários, criminosos e políticos corruptos. No salão principal, Isabella adentrou com elegância e firmeza, vestida de preto, com os olhos mais afiados que qualquer lâmina.
Matteo já a esperava em um camarote reservado.
— Que surpresa encantadora — ele disse, levantando-se com um sorriso provocador. — A noiva do inimigo, desafiando os próprios demônios.
— Não vim flertar. Vim avisar.
Ela se aproximou com passos lentos, controlados.
— Você acha que sou um ponto fraco do Alessandro. Está errado. Eu sou o ponto final.
Matteo a observou, divertido.
— Você realmente acha que pode me enfrentar?
— Já estou enfrentando. E se tocar nele, ou em qualquer pessoa sob o nome Vitale, eu mesma vou te enterrar.
Matteo inclinou-se, sorrindo com veneno.
— Você é mesmo fascinante... Isso vai tornar tudo ainda mais saboroso quando ele cair. Porque quando o rei sangra, a rainha fica vulnerável.
Isabella se aproximou mais um passo.
— Eu não sou uma rainha de porcelana. Sou feita de ferro. E ferro... corta.
Ela colocou a mão discretamente na cintura, onde a arma repousava, como uma promessa silenciosa.
Matteo percebeu.
— Então estamos jogando sério agora.
— Sempre estivemos.
Ela se afastou.
— Da próxima vez que me procurar, vai ser tarde demais. Porque a guerra que você começou... será a sua ruína.
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Quando Isabella voltou à mansão, Alessandro já a esperava.
— Onde você estava?
Ela não hesitou.
— Mandando meu próprio recado.
— Você foi até Matteo? — Ele estava incrédulo, os olhos em chamas. — Sozinha?
— Eu não sou uma prisioneira, Alessandro. Sou sua aliada. E se não confiar em mim, essa guerra já está perdida.
Ele se aproximou, encurtando o espaço entre eles.
— Eu confio em você. Mais do que em qualquer um. Mas o medo de te perder me consome.
— Então lute comigo. Não por mim. Ao meu lado.
Alessandro a puxou para si e a beijou com urgência. Não era um beijo suave — era uma declaração de guerra e amor ao mesmo tempo. Um selo de pacto. De sangue. De paixão.
E naquela noite, sob o peso do destino que se aproximava, Alessandro Vitale e Isabella Diniz selaram o que seriam… juntos.
Inquebráveis.
Imparáveis.
Inesquecíveis.