O carro preto deslizou pelas estradas estreitas da Costa Amalfitana como uma sombra elegante. Isabella observava o mar cinzento pela janela, o vento batendo contra os vidros como se quisesse alertá-la. Mas ela não olhava para o mar — olhava para o reflexo no vidro.
O reflexo de Alessandro, sentado ao lado, dirigindo com uma mão, a outra apoiada de forma casual no volante. Ele estava em silêncio, mas seu corpo exalava domínio. Mesmo em um simples passeio, ele parecia carregar o mundo sobre os ombros — e ainda assim, não deixava que ninguém visse o peso.
— Por que estamos indo tão longe? — ela perguntou, finalmente quebrando o silêncio.
— Porque o mundo aqui fora respira diferente. — Ele lançou um olhar rápido para ela. — Achei que você poderia gostar de um lugar onde as paredes não escutam.
Isabella arqueou a sobrancelha.
— Você está me levando para ser enterrada em um penhasco?
Ele riu, um som rouco, inesperado.
— Ainda não decidi o que fazer com você, Isabella. Você é imprevisível. E isso... é perigoso.
— Pelo menos agora somos dois.
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O carro parou diante de uma vila antiga, de frente para o mar. Era discreta, afastada do mundo, com paredes de pedra cobertas por heras, e uma varanda com vista para o infinito.
— Essa casa era da minha mãe. — Alessandro disse enquanto abria o portão enferrujado.
— Você tem mãe?
— Tive. — Ele caminhou à frente, as mãos nos bolsos. — Ela morreu quando eu tinha dez anos. Foi o último lugar onde me senti... em paz.
Isabella seguiu em silêncio, absorvendo o peso das palavras. Alessandro raramente falava de si. Raramente mostrava algo que não fosse controle. Mas ali, naquele lugar, ele parecia mais humano. Mais real.
— Você vem aqui com frequência? — ela perguntou.
— Nunca trouxe ninguém.
Ela parou. O coração deu um leve salto, irritantemente involuntário.
— Por que me trouxe, então?
Ele a olhou. Não com provocação, mas com sinceridade bruta.
— Porque você me tira do controle. E, estranhamente, eu preciso disso.
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Dentro da casa, o ambiente era simples, aconchegante. Os móveis tinham cheiro de tempo, e quadros antigos pendiam das paredes. Na lareira, havia um retrato: uma mulher de cabelos escuros e olhos intensos, muito parecidos com os de Alessandro.
— Ela era bonita.
— Ela era perigosa. Muito mais do que meu pai. — Ele se aproximou da lareira. — Meu pai mandava, mas minha mãe é quem decidia.
Isabella sorriu.
— Agora entendo de onde vem seu gosto por mulheres com personalidade forte.
— Só existe um tipo de mulher que me interessa, Isabella. A que não se curva.
Os olhos dele estavam sobre ela como uma corrente quente. E por um momento, ela quis ser envolvida por ela. Quis ceder.
Mas se conteve.
— Você fala como se eu fosse sua. — Ela disse, recuando um passo.
— Você ainda não é. — Ele se aproximou. — Mas será. Não por força. Por escolha.
Ela sentiu o ar rarefeito entre eles. Sua pele arrepiava sob o olhar dele. E por mais que tentasse, não conseguia disfarçar.
— E se minha escolha for dizer não?
— Então eu passo a vida tentando te convencer.
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A tarde passou entre memórias, silêncios e olhares que diziam mais do que palavras. Alessandro preparou um café forte na cozinha, enquanto Isabella explorava a casa. Encontrou um antigo diário na estante, com a caligrafia delicada da mãe dele.
Leu trechos desconexos, mas um chamou sua atenção:
“O poder não está na mão de quem governa, mas de quem é capaz de amar sem ser destruído por isso.”
Isabella fechou o diário com cuidado. E entendeu.
Alessandro era filho de uma mulher que amava com intensidade, mas que foi consumida por esse amor. Ele carregava não apenas o legado de uma máfia, mas o medo de ser engolido por aquilo que não podia controlar.
Como o amor.
Como ela.
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Ao entardecer, sentaram-se na varanda, com duas taças de vinho entre eles. O céu se tingia de laranja e púrpura, o mar calmo refletindo as últimas luzes do dia.
— Às vezes, penso em fugir. — Isabella disse, quebrando o silêncio.
— Para onde?
— Um lugar onde meu sobrenome não signifique nada. Onde eu possa ser só... Isabella.
Ele a observou com atenção.
— E por que não foge?
— Porque ainda não decidi se quero me livrar de você… ou me perder em você.
A confissão pairou no ar como uma bomba silenciosa. Ele não respondeu. Apenas se levantou e caminhou até ela.
Segurou seu rosto entre as mãos, sem pressa, como se ela fosse feita de vidro.
— Então decida. — disse com a voz rouca. — Porque eu já me perdi em você faz tempo.
E antes que ela pudesse reagir, os lábios dele tocaram os dela.
Dessa vez, ela não recuou.
O beijo não foi suave. Foi faminto. Como se meses de tensão e desejo explodissem de uma só vez. Ela agarrou sua camisa, ele a puxou pela cintura, os corpos colados, os corações em guerra.
Quando se separaram, ofegantes, os olhos de ambos estavam escuros, intensos, sem escapatória.
— Isso muda tudo. — Ela sussurrou.
— Não. — Ele respondeu. — Isso revela o que sempre esteve aqui.
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No caminho de volta, Isabella apoiou a cabeça contra o vidro da janela. Sentia-se vulnerável. Assustada.
Porque agora não havia mais “quase”. Agora havia eles.
E o amor, naquele mundo, era uma fraqueza.
Ou uma arma.
Ela só precisava descobrir quem puxaria o gatilho primeiro.
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