A Dança do Orgulho

733 Palavras
O salão da mansão Vitale estava repleto de convidados importantes. Trajes de grife, joias cintilantes, sorrisos calculados — o retrato perfeito da alta sociedade mafiosa. Mas, por baixo do brilho, pairava o cheiro de perigo. Cada olhar era uma ameaça disfarçada, cada brinde, uma promessa não dita. Isabella estava no alto da escada principal, observando a movimentação como se fosse uma rainha observando seu reino — ou uma prisioneira examinando sua cela de ouro. Seu vestido preto de cetim caía como uma segunda pele, moldando suas curvas com elegância. Os cabelos estavam soltos, ondulados, e seus olhos varriam o ambiente como lâminas. Ela sabia o que aquela noite representava: sua apresentação oficial como futura esposa de Alessandro Vitale. Era o espetáculo. A confirmação do acordo. Um casamento de conveniência para unir duas famílias poderosas e manter o equilíbrio de um império regido pelo medo. Mas ela não era mulher de seguir roteiro. — Pronta para enfrentar os lobos? — perguntou uma voz baixa atrás dela. Alessandro. Ela se virou devagar, encontrando-o impecável em seu terno escuro. Um copo de uísque descansava em sua mão, e seus olhos escuros estavam fixos nela com a intensidade de sempre — como se cada movimento dela fosse um enigma que ele precisava decifrar. — Sempre estive entre lobos, Don Vitale, — respondeu com um meio sorriso. — Aprendi a morder antes que me mordam. Ele inclinou levemente a cabeça, admirado. — Vai me chamar de “Don” por quanto tempo? — Até que você prove que é mais que um título herdado com sangue. Houve uma tensão palpável entre eles. E era isso que mais a incomodava: aquela eletricidade constante. Alessandro a fazia sentir-se viva de um jeito que a irritava — porque ela não queria. Ela não podia. Ele estendeu o braço. — Venha. Eles estão esperando. Ela hesitou. Mas desceu o último degrau e aceitou seu braço. A união de seus corpos foi como fogo tocando gasolina. Olhares se voltaram imediatamente, murmurinhos se espalharam. Ela percebeu que não era apenas uma aliança de poder. Era uma provocação ao mundo. Um desafio silencioso: ninguém toca no que é meu. No centro do salão, os dois pararam. O pai dela, Don De Luca, levantou a taça: — Em nome da união entre as famílias De Luca e Vitale, brindamos ao futuro. Aplausos. Brindes. Sorrisos. Mas Isabella não sorriu. Ela estava cansada de papéis. De ser “filha de”, “prometida de”. Ela precisava mostrar quem era. — Está tudo muito bonito, — disse ela em voz baixa, ainda com o braço entrelaçado ao de Alessandro. — Mas não se iluda. Não sou uma conquista. Sou um campo minado. Ele se inclinou até o ouvido dela. — Eu gosto de andar sobre campos minados. --- Mais tarde, os convidados dançavam ao som de um quarteto de cordas. Isabella se refugiou em um terraço afastado, onde a música soava apenas como um sussurro distante. Precisava de ar. E espaço. Mas ele a seguiu. Sempre seguia. — Vai fugir toda vez que estiver prestes a sentir algo? — Alessandro perguntou, encostado no batente da porta. — Não fujo. Eu respiro. — Você tem medo. — Eu não tenho medo de você. Ele caminhou até ela, devagar, como um predador paciente. — Não estou falando de mim. Está com medo de se entregar. De baixar a guarda. Porque sabe que, se fizer isso, vai me deixar entrar. Ela engoliu em seco. — Você é perigoso, Alessandro. — E você é viciante, Isabella. O silêncio que se seguiu não era vazio. Era denso, carregado de palavras não ditas. Ela se virou para ir embora, mas ele segurou seu pulso. Não com força, mas com firmeza. Um pedido silencioso. Um desafio. — Um beijo, Isabella. Só um. Para provar que o que sente é real. Ela encarou os olhos dele. Havia fogo. Havia controle. Havia desejo. Mas ela não cederia. Ainda não. — Quando eu quiser te beijar, você não vai precisar pedir. Vai implorar para que eu pare. E saiu, deixando-o sozinho no terraço, com o orgulho ferido… e a obsessão acesa. --- Naquela noite, Alessandro não dormiu. Nem Isabella. Porque, no jogo entre poder e desejo, os dois estavam perigosamente perto de cair — não um pelo outro… mas um contra o outro. E quando isso acontecesse, não haveria vencedores. Apenas dois corações em ruínas. ---
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