Pré-visualização gratuita Capítulo I
Atenção: Antes de começar a leitura, saiba que esse é um livr#o com cenas explicitas de sexo, podendo conter cenas de violência. Recomendado APENAS para o público maior de 18 anos.
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Lian Schutz, com apenas 34 anos já tinha a vida estabilizada como cirurgião torácico, quando os avós morreram e ele herdou a cadeira de capo da máfia novaiorquina. Uma das cadeiras mais cobiçadas do mundo da máfia. Como médico e como ser humano, o simples pensamento o enojava, mas uma cadeira da máfia não era o tipo de herança que se podia rejeitar. Como o único solteiro da família, o rapaz se vê obrigado a assumir os negócios do avô se quiser continuar mantendo a segurança de seus pais e de seus primos.
Determinado a fazer o que precisa ser feito, Lian se entrega a esse mundo obscuro com o único propósito de proteger as pessoas que ama e por isso passa a se afastar de todos, até mesmo de Eduarda, que apesar de não possuir seu sangue, cresceu ao lado dele como irmã.
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Ofegando, em passadas desajeitadas, Lian entrou cambaleando para dentro da suíte. A camisa repuxada estava úmida de sangue, com partes do tecido agora endurecida sobre o ferimento do ombro.
“Droga” – Praguejou sentindo os lábios grandes e inchados, por causa dos socos que tinha levado. Na verdade, ele tinha sorte de ainda estar com todos os dentes na boca.
Passando a mão nos cabelos em uma atitude costumeira, ele nem mesmo sabia ao certo o que fazer, ou por onde começar. Tudo doía. Ele ainda estava lerdo quando seguiu para o banheiro cambaleando, lutando para não ter que se apoiar nas paredes. Pelo menos agora estava em segurança, ou acreditava estar, agora já não sabia mais.
A água da torneira estava morna. Molhando o ferimento, olhou para o espelho. Ele detestava espelhos. Não por causa de sua aparência, pois ainda era jovem para o ramo em que estava, era até jovem demais. Não era comum um homem de trinta e quatro anos ocupando uma cadeira da máfia. Ou melhor, não era comum um homem de sua idade sobreviver por muito tempo no comando da máfia. Os jovens geralmente eram precipitados e morriam cedo.
Olhando para o espelho, ele se concentrou no ferimento.
Os pelos da barba começavam a pinicar, após dois dias sem ver a lamina. O queixo, quadrado e firme, ainda estava inteiro, apesar do lábio inferior estar grande, com um corte na parte interna. Por mais incrível que pudesse parecer, o único dano que carregava no rosto era a boca parcialmente rasgada e no couro cabeludo, que ainda sangrava levemente na região da nuca.
As sobrancelhas grossas e bem definidas, marcavam a beleza masculina intimidadora. Apesar de ter consciência do impacto que causava entre as mulheres, sempre chamando a atenção por onde passada, Schutz não suportava se ver no espelho, pois tudo o que enxergava era um assassino, um criminoso que merecia definhar em uma prisão para o resto de sua vida miserável, mas nem isso ele tinha direito. Nem mesmo o direito de pagar por seus crimes, ele tinha e isso era uma das coisas que mais o amargurava.
A pia já estava completamente vermelha, com sangue respingado por toda a parte. Retirando a camisa, seu corpo ensanguentado ficou completamente exposto, exibindo a firmeza de músculos saldáveis e bem definidos. Alcançando seu estojo de pequenas cirurgias, ele limpou o ferimento com gaze embebecidas em antisséptico. Destacando a seringa, injetou o anestésico local no próprio ombro, sem qualquer dificuldade. Quatro anos como cirurgião haviam lhe fornecido privilégios inegáveis.
Pegando o bisturi, teve dificuldade em visualizar a lesão, mas assim que retirou a bala, lavou o ferimento e suturou a ferida com certa dificuldade. Mesmo usando apenas uma mão, ele conseguiu manter uma das pontas do fio cirúrgico presa ao peso de uma das pinças, conseguindo assim, suturar o ferimento com alguns pontos desalinhados. A sutura nem de longe estava boa, mas aguentaria até chegar a Nova York.
Após o banho, prendeu a toalha branca a cintura e seguiu novamente para o quarto, deixando o corpo tombar sobre a cama. O celular tocou. Por um breve momento, ele fingiu não estar ouvindo o toque, mas sabia que somente sua família e amigos íntimos ligavam naquele número. Alcançando o aparelho, ele o atendeu ainda com os olhos fechados.
- Lian? – A voz de Eduarda soou suave do outro lado da linha, o fazendo por um momento esquecer o inferno que estava passando.
- Oi anjinho – A voz dele soou mais rouca e mais baixa que o normal.
- Onde você está? Estamos todos te aguardando – Ela reclamou aborrecida, com certa frustração.
Ficando em silencio por um breve momento, ele buscou em sua memória a data de aniversário de Eduarda e sentiu alivio ao lembrar que ainda faltava um mês. Recordou o dia do aniversário dos pais e lembrou-se de que já havia passado, tanto a do pai, quanto o da mãe.
- Por que estão me esperando? – Ele perguntou confuso.
- Lian... – A voz de Eduarda não escondeu o desapontamento – Hoje é seu aniversário, como pode ter esquecido? O que está acontecendo com você?
- Nossa... – Ele lamentou falsamente. De repente se sentindo aliviado por estar longe – Foi uma semana tão corrida, que...
- Você vai demorar muito? Estamos todos te aguardando, com sobremesas saborosas e presentes.
- Anjo...
- Não aceito desculpas – Ela o interrompeu.
- Preciso que converse com a mamãe...
- Lian, isso não é justo. Sei que já não se importa comigo e tudo bem, eu compreendo, mas acho que deveria dar um pouco mais de atenção aos seus pais. Eles sofrem muito com a sua ausência.
- Não faça isso – A voz dele soou dura.
- Desculpa, mas é que a tia realmente precisa de você. Ela...
- Não diga que não me importo com você. Não repita isso, nunca – Ele pediu com a voz amargurada. Sabia que ela tinha motivos para pensar isso, mas não suportou ouvir.
Por um momento, ambos ficaram em silencio.
- Não estou em Nova York, por isso não tenho como comparecer à festa.
- E onde você está?
- Já conversamos sobre isso – Ele reclamou desgostoso.
- Tudo bem. Eu vou desligar.
- Avise a mamãe que amanhã ligo pra ela.
- Está certo – Eduarda relutou por um instante, mas então continuou – Feliz aniversário. Eu te amo muito.
- Sabe que eu também te amo – Lian segurou um gemido, ao tentar esticar os lábios em um sorriso – Vou passar em Boston na próxima semana.
- E o que vai fazer lá? – Ela perguntou curiosa.
- Buscar o meu presente e ver a minha princesinha – O sorriso inesperado de Eduarda, do outro lado da linha, fez os lábios de Lian novamente esticarem em um doloroso sorriso.
- Se não aparecer em uma semana, vou dar o seu presente ao Josh.
- Josh? – Lian franziu o cenho.
- Então... Eu não te contei que estou namorando?
- Achei que fosse com o Erick
- Ah, o Erick... Terminamos... A gente não estava se entendendo.
- Está certo. Quando chegar aí, vamos conversar melhor sobre isso.
- Tá. Boa noite e bom descanso. Estou com muita saudades – Eduarda garantiu com carinho, antes de desligar.
Só aquele ano, era a terceira vez que Eduarda dizia ter trocado de namorado. Não que ele se importasse com o fato da garota ter trocado de namorado, mas a conhecendo, como ele a conhecia, não conseguia entender o que estava acontecendo. Talvez ela gostasse de trocar de parceiros. Se fosse isso, não teria porque se preocupar, mas duvidou que esse fosse o real motivo.
Apesar da garota não possuir nenhum laço sanguíneo com Lian, ela era como sua irmã. Não suportava pensar que algo pudesse a estar aborrecendo e o breve pensamento terminou de roubar o humor já escasso.
Desligando a luz do abajur, fechou os olhos, sentido todas as dores do corpo retornarem, o ombro ainda anestesiado.
Estava completando trinta e quatro anos aquele dia, mas era como se tivesse envelhecido dez anos, em apenas um.
Haviam exatamente oito anos que abandonara a vida de cirurgião torácico para se entregar a máfia e apesar de ainda muito jovem, já havia enganado a morte tantas vezes, que tinha momentos em que se perguntava, se era apenas um sortudo, ou um desgraçado.
Relembrando o tiro que levara na emboscada, teve que admitir que aquele não era apenas o dia do seu aniversário, era também o dia em que nascera de novo.