Pré-visualização gratuita Capítulo 1
E se hoje fosse o último dia da sua vida?
Não o fim dela, mas literalmente o último dia...
Como se algo fosse te tomar para sempre, como se você nunca fosse morrer.
Se você se apaixonasse por um demônio? ou até mesmo um anjo renegado? Você pode dizer: “mas demônios não são anjos renegados?!”
Eu digo que não. Cada um tem sua maneira de agir e reagir
Anjos, uma e demônios, outra.
-
Irina
Vamos de um jeito clichê.
Meu nome é Irina e tenho dezoito anos. Nasci no Brasil, mas por enquanto estou de viagem aos Estados Unidos. Tenho um irmão gêmeo chamado Tarik. Nosso primo, Micael, ou Mica — se preferir também — Veio conosco.
Mica praticamente cresceu conosco, então a maior parte da vida dele, ele passou comigo, Tarik e meus pais.
***
Capítulo 1
São exatamente dezesseis horas da tarde. O sol está se pondo e o clima frio faz com que as mãos de Irina esfriem rapidamente. Os raios do sol, em um tom fosco entre laranja e salmão, encontram-se com os olhos da garota quase franzina, os deixando um tom de castanho avelã...
Ali estava ela, sentada em um dos balanços em frente à casa de viagem de seus pais. Dentro da pequena casa de madeira maciça, ouviam-se gritos esganiçados vindo provavelmente de uma figura feminina, que era a mãe de Irina, a senhora Nancy. Ela praguejava os jovens que faziam brincadeiras e gritavam na cozinha.
O vento fazia com que as folhas das árvores se movimentassem lentamente e em sintonia. Os longos cabelos negros de Irina pairavam conforme a força do vento. — O qual não era muito forte, soava como uma brisa leve. O ar de eucalipto invadia suas narinas, junto àquele cheirinho de barro molhado, logo após uma fria chuva de fim de tarde.
Ah! Como Irina amava tudo isso...
A jovem menina não era de muitas amizades, então sempre que vinha às viagens ao exterior, todo final de tarde se sentava naquele velho balanço feitos de pneus grandes e desgastados; e via o sol se pôr, como quem vê um filme tão esperado logo na estreia de cinema...
Como se fosse a primeira vez.
***
Irina
Tarik me disse que um amigo dele viria até nossa casa. E sinceramente, eu estava curiosa para saber qual dos patetas iria chegar.
Um carro estacionou alguns metros de distância de minha casa. Um garoto de pele branca, dos cabelos negros e olhos amendoados saiu do veículo. Ele caminhou com a cabeça baixa até chegar próximo à minha casa.
Ele parecia desconfiado — e confesso, até fiquei insegura se era mesmo esse rapaz do qual esperavam aqui em casa.
Me levantei e comecei a andar em direção a porta, mas no meio do caminho sou surpreendida por um gentil “Olá?!”.
Senti um arrepio percorrer toda a minha nuca, o que automaticamente me fez pensar: “Como ele se aproximou tão rápido?”
Me virei e então ele sorriu. Uma expressão calma e compreensiva estampava-se em seu rosto.
Com licença, moça?! aqui é a casa do Tarik? — Ele perguntou humildemente.
Sim, posso ajudar? — Eu disse, tentando me igualar ao seu tom de voz.
Ah, claro! Eu sou Miguel. — Estendeu a mão, em cumprimento. Eu a apertei formalmente — eu disse que viria. — Disse ele, colocando as mãos nos bolsos dianteiros da calça.
Ah, sim! Estou ciente. Vamos, me acompanhe! — Falei, me dirigindo para dentro da casa; e em seguida, Miguel entrou também.
A respiração dele estava meio acelerada. Entramos, e os meninos já estavam lá, parados na sala.
FALA AÍ, MANO! — Tarik fez toque de mãos com Miguel, que só sorriu.
Revirei os olhos, impaciente. Eu odiava o jeito “crianção” do Tarik.
E aê, Miguelito! — Micael o cumprimentou logo em seguida. Eles se abraçaram.
Seus putos! — Miguel os cumprimentou de volta, com um sorriso de ponta a ponta. Revirei os olhos novamente. Achei que esse cara iria ser mais maduro, mas eu estava enganada.
Deixei-os com as bobagens deles e fui até a cozinha. Peguei uma pêra, meu livro e me sentei na mesa e comecei a ler. Minha mãe cantarolava uma música gospel, enquanto meu pai — ateu — reclamava da música.
Eles dois sempre arrumavam algo para criticar. Não em relação a mim, Tarik ou Micael; e sim um ao outro. Isso me deixava de saco cheio. Eu preferia Mil Tarik’s e dois mil Mica’s, mas nunca ouvir as discussões idiotas dos meus pais.
Suspirei, peguei meu livro e subi para o meu quarto. Me sentei na cama, encostando as costas na parede e continuei a minha leitura. Eu estava viajando na história, até que Tarik, Micael e Miguel entram no meu quarto, dando risadas altas. Eu bufo e me levanto, jogando o livro no Tarik.
Que foi mulher?! — Ele disse, se assustando.
Eu que o pergunte! — Revidei — Este não é o seu quarto.
Vixe...— Mica se afastou do Tarik.
O que você quer? — Perguntei, já sem paciência.
Só o seu console emprestado...É pedir demais? — Disse Tarik, relaxando os ombros e fazendo beicinho. Rangi os dentes.
Claro! Não vou emprestar, não. Quem mandou você derramar suco em cima do seu? o****o! — Eu disse indo em direção ao meu livro, mas Tarik o pega antes de mim.
Me empresta seu console que eu te devolvo seu livrinho b***a! — ele levantou o livro —
NÃO! — Pulei, numa tentativa falha de pegá-lo.
Sem console, sem livro! —Tarik falou num tom desafiador.
ÔH MÃE! — Gritei.
Tarik, deixa isso pra lá, cara! A gente arruma outro jeito de jogar. — Mica disse nervoso.
Eu não! – Tarik.
Minha mãe chega e para na porta, de braços cruzados, já dizendo: Que palhaçada é essa?
Tarik não quer devolver meu livro! — Apontei pro livro na mão dele.
A i****a da Iri não quer me emprestar o console. — Deu de ombros.
Tia, diga pra ele que não precisa!? Pelo amor! — Mica implorou.
Miguel apenas observava toda essa zona.
— Meu pai chega dizendo: Jeová não existe!
Irina, meu amor — Minha mãe disse, impacientemente — empreste seu console. E Tarik, meu anjo, devolva o livro da sua irmã! — O tom de voz dela já soou quase ameaçador — Mike meu menino, preciso que você mostre o quarto do Miguel.
MÃE! — Eu e Tarik dissemos em uníssono.
Tudo bem. — Mica disse aliviado, e saiu acompanhado de Miguel.
Vocês escutaram sua mãe. Obedeçam! — Meu pai disse impaciente. Seu olhar cansado e levemente enrugado quase transpareceu uma fagulha de raiva.
O console, maninha! — Tarik riu.
Se é você que quer, então é você que vai tirar ele dos cabos, meu querido. — Peguei o livro e me joguei na cama, abrindo-o e voltando a ler.
Tarik foi tirar o console da bagunça que estava a minha mini estante.
Caralho, isso aqui tá pior que ninho de cobra! — Ele disse, analisando confuso o emaranhado de fios plugados ao Console.
Dei uma risada vitoriosa.
Você é muito estranha pra uma menina...Eu hein! — Disse.
Qual o preconceito? — Falei.
Você é muito desorganizada, suas roupas parecem ninho de passarinho e seu console está mais empoeirado que o sarcófago da Cleópatra. — Tarik.
Para de ser i****a, Tarik. Isso não tem nada a ver com o fato de eu ser garota. — Meu tom de voz já começava a se alterar — Trate de sair logo daqui!
Ele resmungou, pegou o console e saiu. Continuei lendo meu livro até a hora do jantar. Desci, me juntei ao pessoal na mesa e começamos a comer. — Menos Miguel. Ele não comia nada, só ficava mexendo no celular.
Tarik, seu amigo já comeu?! — Perguntei, preocupada.
Sim... — Respondeu ao dar uma garfada no purê de batatas.
Aqui?! — Eu.
Não... — Respondeu quase automático.
É que eu sou alérgico a alguns tipos de comida. E a refeição de hoje, eu não posso comer. —Apontou para a mesa — Então saí para comprar minha própria janta e comi por lá mesmo. — Miguel falou suavemente.
Ah... —Fiquei desconfiada dessa resposta de Miguel, mas evitei interrogá-lo. Sou bem chata naturalmente e não quero incomoda-lo ainda mais.
O jantar todo foi silencioso — E isso foi bem incomum, porque todos os jantares, meus pais discutiam e os meninos ficavam fazendo brincadeiras. Mas justamente hoje, estavam todos desconfiados.
Terminei e voltei pro meu quarto, fechei a porta e fui tomar banho.
Após esfregar o shampoo nos cabelos, fechei os olhos para enxaguá-los. Senti um incômodo, como se houvesse muitas pessoas comigo, ali dentro do banheiro. Senti como se houvessem cochichos bem próximos ao meu ouvido — falavam sussurrando e ao mesmo tempo. Era ininteligível.
Abri os olhos rapidamente, e não havia nada. Ignorei, chacoalhei a cabeça e logo em seguida, pisquei meus olhos como se precisasse “acordar”.
Terminei, me cobri com a toalha e saí do banheiro. — Olhei lá fora, através da janela. Estava chovendo. Uma tempestade com grossos pingos de chuva que batiam contra o vidro e faziam breves sons secos, quase em um ruído.
Tirei a toalha que estava em meu cabelo e escutei um barulho fino e quase super baixo em minha janela. Segui até ela, olhei lá fora e em todos os cantos que eram possíveis avistar..., mas não havia nada. Meu balanço começou a se mover, lentamente para frente e para trás. O estranho foi que só um deles havia se movido — e justamente era o que eu gostava de ficar me balançando.
Ignorei e voltei a me preparar para dormir. Hoje o dia estava uma loucura.
Me deitei, cobri só minhas pernas e me virei para o lado da parede. O barulho da chuva ficava cada vez mais alto — e isso me deixava com calafrios. Peguei meu MP3, fones e voltei a me deitar. Coloquei qualquer música e consegui me distrair.
O sono apareceu, e quando estava prestes a dormir de vez, alguém bate em minha porta. Eu digo para entrar — mas ninguém entrou —. Tocaram de novo, e eu disse mais alto: “pode entrar!”, mas nada.
Me levantei e me aproximei com cautela até a porta, e paro em frente ao mesmo. Aproximei minha mão devagar até a maçaneta; e de repente, uma pancada forte atinge a porta, me fazendo dar um pulo para trás e topar contra minha mesa, fazendo meus livros caírem. — Meu coração parecia que ia sair pela boca; então me abaixei e olhei por baixo, na fresta que havia entre a porta e o chão, mas não havia nada... A não ser uma luz fraca que vinha de algum lugar do corredor.
Abri a porta rapidamente e não havia ninguém. Segui a luz que vinha da sala de estar e vi o Tarik, Micael e Miguel. Eles estavam cochichando algo, e quando me viram, pararam de cochichar o que é que seja que estavam fofocando.