ISABELA
Eu tava entregue, tá ligado? Completamente rendida no colo do Jace, beijando ele como se não existisse amanhã, sem me importar com nada, nem com os paparazzi do outro lado da rua clicando a gente como se fosse casal famoso.
As mãos dele passeavam no meu corpo com uma naturalidade que me dava raiva… e t***o. Ele me domina, me tira do prumo, me faz perder o senso.
Mas aí a ficha caiu. Tava tudo errado. A gente ali, se pegando em público como dois adolescentes tarados. Mesmo que a gente já tivesse sido um casal, aquilo ali era loucura.
Me levantei do colo dele do nada, arrumei o cabelo como se isso fosse apagar a cena, paguei a água de coco rapidinho e saí correndo igual uma doida.
Claro que o i****a veio atrás.
Eu tava tão desesperada pra ele não descobrir onde eu tô morando, que parei na padaria da esquina, a primeira que vi.
Sentei numa mesa, respirei fundo, pedi um café preto, pão na chapa, pão de queijo e um mamão — precisava de glicose porque o homem me deixou desnorteada.
Dois minutos depois, lá vem ele, ofegante igual cachorro na contramão de ônibus.
Puxou a cadeira e sentou de frente pra mim, me olhando como se eu tivesse cometido um crime.
— Qual é, Bela? Por que saiu correndo de mim?
— Tô com fome, vim comer. — falei, mexendo no açúcar do café.
— Assim? Sem dizer nada?
— Te devo satisfação agora? A gente não tem nada, Jace. — dei de ombros.
Ele ficou me encarando com aquela cara de “duvido que tu acredita no que tá dizendo”. Aí abaixou a voz e chegou pertinho, quase encostando no meu rosto.
— Acabamos de nos beijar… e ontem… ontem a gente fez sexo por vídeo chamada, Isabela. Acho que temos algo sim.
Olhei pra ele com a cara mais debochada do planeta e soltei uma risadinha seca.
— Não foi nada demais, Jace.
Ele arregalou os olhos, tipo “tu tá me tirando”.
— Como não foi? Tu tava gemendo meu nome, pedindo mais, falando que sentia minha falta. A gente tá se reconectando, teu beijo dizia que tu me queria com urgência!
Eu dei outra risada, dessa vez mais sarcástica ainda.
— Não quero mais. A real é que a gente não dá certo, nunca deu. Somos opostos, Jace. E tu sabe disso.
O semblante dele mudou na hora, ficou sério, quase triste. Aquele olhar que antes me fazia derreter, agora me fez engolir seco.
— Podemos ser opostos, Bela… mas tu não lembra de nada? De como era bom? Como a gente se entendia, como se amava? — a voz dele saiu num tom mais baixo, carregado de emoção. — Não se faz de difícil. Eu mudei… por você, por mim, por nós. Eu quero mais uma chance de te fazer feliz. Sem zueira.
Fiquei em silêncio, sentindo o café amargar na boca.
Fiquei encarando ele por uns segundos.
O Jace ali, todo sincero, todo entregue, falando de mudança, de amor, de recomeço… e eu tentando não me deixar levar.
Mas é difícil, cara.
Difícil pra c****e.
Porque esse homem mexe comigo como ninguém nunca mexeu. Só que eu também não posso me iludir.
A gente tava indo rápido demais. Ontem era só uma lembrança do passado. Hoje já era beijo, mão boba, sexo virtual e confusão em boate.
Respirei fundo, peguei mais um gole do café e encarei ele, dessa vez sem deboche, sem escudo.
— Olha só, Jace... Eu preciso de um tempo, tá?
Ele franziu a testa, meio perdido.
— Tempo pra quê?
— Pra pensar. Pra respirar. A gente tá indo rápido demais, tu não acha não? Um dia eu te bloqueio, no outro a gente tá quase transando por ligação, hoje tamo se agarrando no meio da praia… Não tá estranho isso não? — falei séria, mas com cuidado.
Ele ficou quieto, só me olhando.
— Não é que eu não sinta mais nada. Sinto sim. Mas... tô com medo de me perder nisso tudo de novo. Medo de me machucar. A gente é fogo e gasolina, Jace. Explode fácil demais.
Ele abaixou o olhar, passou a mão pelo cabelo loiro bagunçado.
— Tu tem razão… Mas me promete que vai pensar com carinho. Não me joga fora assim não, Bela.
— Eu vou pensar. Mas do meu jeito. No meu tempo. Se tu quiser esperar, espera. Se não quiser... tudo bem também.
Ele levantou da cadeira, parecia respeitar, mas tava visivelmente chateado.
— Vou esperar, princesa. Mesmo sem saber quanto tempo vai levar, eu vou esperar.
Vi ele saindo da padaria sem olhar pra trás.
Suspirei fundo e comecei a comer meu pão de queijo… mas o gosto tava meio sem graça.
Como se faltasse alguma coisa.
Ou melhor, alguém.
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Cheguei em casa ainda com o gosto dele na minha boca.
O Jace tem esse poder, sabe?
Ele aparece, bagunça tudo e sai como se não tivesse deixado um furacão pra trás.
Tomei um banho gelado, bem demorado, tentando apagar o calor do beijo no quiosque. Mas era impossível esquecer. A pegada dele, a forma como ele me olhava… tudo aquilo me deixava derretida.
Mas aí vem a real: o Jace é quente, sim. Quente pra p***a. Só que ele também é perigoso.
Não no sentido de me machucar fisicamente, mas emocionalmente?
Um verdadeiro campo minado.
Ele é famoso demais, tem mulher se jogando no colo dele o tempo todo. Funk bombando, shows lotados, camarins cheios de tentações… será que eu tô pronta pra viver essa vida de novo?
Será que eu quero?
Troquei de roupa e fui pra faculdade com a cabeça a mil. Tentei focar, juro, mas parecia que cada passo meu tava com a trilha sonora de alguma música do Jace. Ódio.
Cheguei no campus e lá estava ele. Não o Jace. O Conrado.
Me esperando na entrada, todo bonito, com aquele jeitão carinhoso que ele tem. Me deu um abraço gostoso, apertado, e um beijinho no rosto meio demorado.
— E aí, Bela? Como cê tá? — ele perguntou com um sorrisinho de canto.
— Tô bem. — respondi, meio automática, tentando soar natural.
Mas por dentro... eu tava um caos.
Decidi não contar nada sobre o Jace. Nem beijo, nem praia, nem vídeo, nem p***a nenhuma. Afinal, nem eu sei o que vai ser disso tudo. Seria injusto confundir mais ainda a cabeça do Conrado — ele tem sido tão gente boa comigo.
E eu?
Toda confusa, dividida entre o certo e o caos.
Mas será que dá pra evitar o caos quando ele te beija como se fosse a última vez?