— Jogando com fogo

858 Palavras
Lívia O frasco continuava ali na gaveta. Eu abria e fechava a madeira lentamente, escutando o som dos meus próprios dedos tocando o vidro frio. Naquela noite, eu já tinha tomado minha decisão. — Ou ele me mata. — murmurei para meu reflexo no espelho — Ou eu mato ele primeiro. Quando saí do quarto, ele me esperava no corredor. Camisa preta, mangas enroladas, a sombra de barba mais evidente que o habitual. Um copo de uísque numa mão, um sorriso indecifrável nos lábios. — Está linda. — disse, a voz baixa, quase um ronronar. — Você sempre diz isso. — rebati. — Porque é sempre verdade. — aproximou-se devagar. Quando parou diante de mim, ergueu o copo e o inclinou, como um brinde. — Por você, cara mia. A mulher que nunca se cansa de me testar. Sorri de volta. — E você nunca se cansa de perder. O sorriso dele cresceu. — Ah, Lívia. Eu ainda nem comecei a ganhar. Tomou um gole do uísque, os olhos nos meus. Enquanto ele bebia, eu só pensava no frasco na gaveta. Mas não hoje. Hoje, eu queria que ele sentisse o gosto do próprio veneno. — Vem comigo. — ele disse, puxando minha mão. Deixei que ele me conduzisse até o quarto dele — maior, mais frio, mais escuro que o meu. Quando fechou a porta atrás de nós, já estava me olhando daquele jeito que me fazia esquecer quem eu era. — Tire. — ordenou, apontando para o vestido. Obedeci devagar. Os dedos deslizaram pelo tecido até ele cair aos meus pés. Eu fiquei apenas com a lingerie preta, a pele arrepiada sob seu olhar. — Mais. — disse ele. Desabotoei o sutiã lentamente, deixando-o escorregar pelos braços. — Boa garota. — murmurou. Largou o copo sobre a cômoda e se aproximou, os olhos queimando os meus. — Você sabe o que me faz perder a cabeça? — perguntou, enquanto os dedos dele traçavam meu ombro, depois desciam pela lateral do seio. — Diga. — provoquei. Ele se inclinou até a boca roçar minha orelha. — Esse seu jeito de fingir que não gosta do que eu faço. Antes que eu pudesse responder, a mão dele desceu para minhas coxas e me ergueu de repente, me sentando na beira da cama. — Abra. — ordenou, forçando meus joelhos a se afastarem. Senti o ar frio da noite contra minha pele exposta, os olhos dele devorando cada centímetro de mim. — Sempre pronta pra mim, não é? — ele murmurou, os dedos deslizando entre minhas pernas, por cima da renda da calcinha. — Talvez. — desafiei. Ele riu baixo, um som escuro, e se ajoelhou diante de mim. — Olhe pra mim. — pediu. Segurei o olhar dele enquanto ele prendia a calcinha com os dentes e a puxava devagar para baixo, deixando-a cair no chão. — Boa menina. — elogiou, antes de se inclinar e passar a língua devagar, de baixo para cima, mantendo os olhos nos meus o tempo todo. Arfei, os dedos cravando no lençol enquanto ele me explorava com a língua, sem pressa, alternando movimentos suaves e súbitos, até minha respiração ficar descompassada. Ele segurava minhas coxas com firmeza, mantendo-as abertas para ele, como se fosse um banquete só dele. Quando senti que não aguentava mais, ele parou, se levantou e me pegou no colo. — Hoje, você vai me sentir inteiro. — prometeu. Deitou-me no centro da cama e tirou a própria camisa devagar, os músculos do peito à mostra, os olhos fixos nos meus. — Vire-se. — disse. Rolei de bruços, e ele se posicionou sobre mim, uma mão em minha nuca, a outra descendo pela curva das minhas costas até parar na cintura. — Assim. — murmurou. Senti-o se alinhar e me penetrar de uma vez, fundo, fazendo-me soltar um gemido alto que ele abafou com a mão em minha boca. — Shhh. — sussurrou. — Hoje, só eu falo. Começou devagar, movimentos profundos e calculados, depois mais rápidos, mais intensos, a respiração dele quente contra minha nuca. — Você sente? — perguntou, entre estocadas. — Sim. — consegui murmurar. — Todo. — continuou, a mão dele descendo para segurar meus quadris com força, puxando-me para ele a cada investida. — Todo. — repeti, a voz falhando. — Boa garota. — disse, antes de se inclinar ainda mais e morder meu ombro, o ritmo já desenfreado. Quando acabamos, ele ainda me segurava contra ele, os dedos enlaçados nos meus, como se me acorrentasse com o próprio corpo. — Você nunca vai fugir de mim. — murmurou. — Isso veremos. — sussurrei, de olhos fechados. Ele riu baixo, cansado, mas satisfeito. — Descansa, cara mia. Amanhã eu quero você ainda mais obediente. Ele adormeceu primeiro, pesado ao meu lado, os dedos ainda enroscados nos meus. Eu me soltei devagar, me levantei nua e fui até a gaveta. O frasco ainda estava lá. Abri a tampa, senti o cheiro metálico do veneno. Encostei a boca da garrafa no lábio por um instante, só para me lembrar do gosto amargo que seria para ele. Depois, fechei a tampa. Não hoje. Amanhã. Amanhã eu jogo.
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