Lívia
O frasco continuava ali na gaveta.
Eu abria e fechava a madeira lentamente, escutando o som dos meus próprios dedos tocando o vidro frio.
Naquela noite, eu já tinha tomado minha decisão.
— Ou ele me mata. — murmurei para meu reflexo no espelho — Ou eu mato ele primeiro.
Quando saí do quarto, ele me esperava no corredor.
Camisa preta, mangas enroladas, a sombra de barba mais evidente que o habitual.
Um copo de uísque numa mão, um sorriso indecifrável nos lábios.
— Está linda. — disse, a voz baixa, quase um ronronar.
— Você sempre diz isso. — rebati.
— Porque é sempre verdade. — aproximou-se devagar.
Quando parou diante de mim, ergueu o copo e o inclinou, como um brinde.
— Por você, cara mia. A mulher que nunca se cansa de me testar.
Sorri de volta. — E você nunca se cansa de perder.
O sorriso dele cresceu. — Ah, Lívia. Eu ainda nem comecei a ganhar.
Tomou um gole do uísque, os olhos nos meus.
Enquanto ele bebia, eu só pensava no frasco na gaveta.
Mas não hoje.
Hoje, eu queria que ele sentisse o gosto do próprio veneno.
— Vem comigo. — ele disse, puxando minha mão.
Deixei que ele me conduzisse até o quarto dele — maior, mais frio, mais escuro que o meu.
Quando fechou a porta atrás de nós, já estava me olhando daquele jeito que me fazia esquecer quem eu era.
— Tire. — ordenou, apontando para o vestido.
Obedeci devagar.
Os dedos deslizaram pelo tecido até ele cair aos meus pés.
Eu fiquei apenas com a lingerie preta, a pele arrepiada sob seu olhar.
— Mais. — disse ele.
Desabotoei o sutiã lentamente, deixando-o escorregar pelos braços.
— Boa garota. — murmurou.
Largou o copo sobre a cômoda e se aproximou, os olhos queimando os meus.
— Você sabe o que me faz perder a cabeça? — perguntou, enquanto os dedos dele traçavam meu ombro, depois desciam pela lateral do seio.
— Diga. — provoquei.
Ele se inclinou até a boca roçar minha orelha.
— Esse seu jeito de fingir que não gosta do que eu faço.
Antes que eu pudesse responder, a mão dele desceu para minhas coxas e me ergueu de repente, me sentando na beira da cama.
— Abra. — ordenou, forçando meus joelhos a se afastarem.
Senti o ar frio da noite contra minha pele exposta, os olhos dele devorando cada centímetro de mim.
— Sempre pronta pra mim, não é? — ele murmurou, os dedos deslizando entre minhas pernas, por cima da renda da calcinha.
— Talvez. — desafiei.
Ele riu baixo, um som escuro, e se ajoelhou diante de mim.
— Olhe pra mim. — pediu.
Segurei o olhar dele enquanto ele prendia a calcinha com os dentes e a puxava devagar para baixo, deixando-a cair no chão.
— Boa menina. — elogiou, antes de se inclinar e passar a língua devagar, de baixo para cima, mantendo os olhos nos meus o tempo todo.
Arfei, os dedos cravando no lençol enquanto ele me explorava com a língua, sem pressa, alternando movimentos suaves e súbitos, até minha respiração ficar descompassada.
Ele segurava minhas coxas com firmeza, mantendo-as abertas para ele, como se fosse um banquete só dele.
Quando senti que não aguentava mais, ele parou, se levantou e me pegou no colo.
— Hoje, você vai me sentir inteiro. — prometeu.
Deitou-me no centro da cama e tirou a própria camisa devagar, os músculos do peito à mostra, os olhos fixos nos meus.
— Vire-se. — disse.
Rolei de bruços, e ele se posicionou sobre mim, uma mão em minha nuca, a outra descendo pela curva das minhas costas até parar na cintura.
— Assim. — murmurou.
Senti-o se alinhar e me penetrar de uma vez, fundo, fazendo-me soltar um gemido alto que ele abafou com a mão em minha boca.
— Shhh. — sussurrou. — Hoje, só eu falo.
Começou devagar, movimentos profundos e calculados, depois mais rápidos, mais intensos, a respiração dele quente contra minha nuca.
— Você sente? — perguntou, entre estocadas.
— Sim. — consegui murmurar.
— Todo. — continuou, a mão dele descendo para segurar meus quadris com força, puxando-me para ele a cada investida.
— Todo. — repeti, a voz falhando.
— Boa garota. — disse, antes de se inclinar ainda mais e morder meu ombro, o ritmo já desenfreado.
Quando acabamos, ele ainda me segurava contra ele, os dedos enlaçados nos meus, como se me acorrentasse com o próprio corpo.
— Você nunca vai fugir de mim. — murmurou.
— Isso veremos. — sussurrei, de olhos fechados.
Ele riu baixo, cansado, mas satisfeito.
— Descansa, cara mia. Amanhã eu quero você ainda mais obediente.
Ele adormeceu primeiro, pesado ao meu lado, os dedos ainda enroscados nos meus.
Eu me soltei devagar, me levantei nua e fui até a gaveta.
O frasco ainda estava lá.
Abri a tampa, senti o cheiro metálico do veneno.
Encostei a boca da garrafa no lábio por um instante, só para me lembrar do gosto amargo que seria para ele.
Depois, fechei a tampa.
Não hoje.
Amanhã.
Amanhã eu jogo.