Capítulo 3 — Laysla

827 Palavras
O carro de aplicativo me deixou em frente a um portão de ferro gigantesco. Eu olhava pro visor do celular, conferindo se realmente estava no lugar certo. O motorista já tinha dado aquela olhada de canto, meio julgando, meio curioso, e nem disfarçou quando eu desci. O portão se abriu sozinho, devagar, rangendo. Do outro lado, uma rua particular toda de pedras, ladeada por árvores que se encontravam lá em cima, formando quase um túnel verde. E lá no final... uma mansão. Imensa. Luxuosa. Intimidadora. Meus pés pareciam pesar uma tonelada enquanto eu caminhava até a porta. O coração socava o peito tão forte que eu jurava que alguém poderia ouvir. Quando levantei a mão pra tocar a campainha, a porta se abriu sozinha. Arregalei os olhos. Tá, isso já tava começando a parecer filme. — Entre. — A voz veio de algum lugar lá dentro. Grave, arrastada, um pouco rouca, mas muito firme. Dei um passo pra dentro. E, pela primeira vez, vi ele. Alto, magro, cabelo grisalho bem penteado, barba branca rala, uns sessenta e poucos anos, talvez mais. Usava uma camisa social impecavelmente passada, com suspensórios pretos e calça cinza de tecido fino. E uns olhos… uns olhos estranhos. Não de assustador. Mas de quem observa tudo, de quem lê até o que você não quer dizer. Ele não sorriu, mas também não parecia bravo. Só… neutro. Analisando. — Laysla, certo? — perguntou, cruzando os braços atrás das costas. — É... — respondi, apertando as alças da minha bolsa, que parecia pesar mais que eu naquele momento. Ele andou lentamente até uma mesinha, pegou uma xícara de café, deu um gole, e então me olhou de novo. — Você entende o tipo de... serviço... que eu estou contratando, certo? — perguntou, arqueando uma sobrancelha. Senti meu rosto queimar. — Mais ou menos... — confessei, apertando os lábios. — Minha amiga... disse que... bom... que você tem algumas... preferências. Ele sorriu de canto, pela primeira vez. — Gosto de gente sincera. — Caminhou até um sofá e se sentou, cruzando uma perna sobre a outra. — Pois bem, serei direto. Não estou interessado em sexo. — Disse como quem fala sobre previsão do tempo. — Nem toques, nem carícias, nem conversas picantes. O que eu quero é simples. — Me olhou dos pés à cabeça. — Quero você... nua. Andando pela casa. Fazendo suas coisas, fingindo que eu não estou aqui. Natural. Como se isso fosse... absolutamente normal. Travei. Pisquei umas três vezes, tentando entender se tinha ouvido certo. — Desculpa... você... — minha voz falhou. — Só quer que eu... fique nua? Aqui? Pela casa? — Exato. — Ele sorriu, cruzando os dedos na frente do rosto. — Nu é liberdade. É inspiração. Sou inventor, trabalho com criatividade. E... digamos que o corpo humano é a forma mais perfeita de arte funcional que existe. Minha cabeça dava voltas. O que... o que era isso, meu Deus? Ele percebeu minha confusão e completou, com toda calma do mundo: — Você não precisa fazer nada além de existir. Ande, coma, assista TV, leia, explore a casa. Só... nua. E eu, bem, estarei por aqui... no meu canto... te observando de vez em quando. — Deu um gole no café. — Te ofereço uma semana. Sete dias. Ao final, você receberá... — puxou uma pasta, abriu, e colocou na mesa uma folha com um valor rabiscado a caneta. Me aproximei, olhei... e quase perdi o ar. Era surreal. Era dinheiro que eu não veria em cinco anos de trabalho normal. Dinheiro pra pagar a faculdade inteira. Quitar o aluguel por muito mais do que dois anos. E ainda viver com dignidade, talvez até realizar sonhos que eu já tinha enterrado. — E então? — Ele perguntou, apoiando o queixo na mão. Olhei ao redor. A sala parecia uma galeria de arte moderna. Quadros estranhos, esculturas que eu não entendia, peças mecânicas espalhadas, mesas com desenhos, livros empilhados, máquinas meio desmontadas no canto. O medo dava voltas na minha cabeça. Mas a voz do desespero... ah, essa falava mais alto. — Não... não tem... nada além disso? — gaguejei. — Nada de... coisas estranhas, nem... nem toque, nem... — Nada. — respondeu, firme. — A não ser que você queira, o que, acredito, não será o caso. Não tenho interesse nisso. Só quero você... como veio ao mundo. Meu coração batia tão alto que parecia querer romper meu peito. Ele ficou em silêncio, me olhando. Me deixando decidir. Sem pressão aparente. Mas, ao mesmo tempo, aquele olhar me atravessava como se ele já soubesse qual seria minha resposta. E, na verdade... eu também sabia. Engoli seco. Soltei o ar bem devagar. — Tá... — falei, quase num sussurro. — Eu... aceito. Ele abriu um sorriso satisfeito, quase infantil. Levantou, esticou a mão pra mim. — Seja bem-vinda... ao seu novo trabalho. PARA ME AJUDAR: ADICIONE O LIVRO NA BIBLIOTECA DEIXE MUITOS COMENTÁRIOS E ME SIGA AQUI NO DREAME.
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