Capítulo 4 — Laysla

1078 Palavras
Eu nunca imaginei que, um dia, estaria andando nua dentro de uma mansão. E menos ainda que estaria recebendo uma pequena fortuna por isso. O primeiro momento foi, sem dúvida, o pior. Assim que ele confirmou minha contratação — se é que posso chamar assim — ele me indicou um quarto no segundo andar, onde eu poderia deixar minhas roupas, minhas coisas e tomar um banho, se quisesse. Fiquei encarando minhas próprias mãos enquanto subia a escada de mármore. Elas tremiam. A cada degrau, meu estômago revirava. Lá em cima, entrei no quarto que ele indicou. Era maior que meu apartamento inteiro. Uma cama de dossel, cortinas brancas, móveis antigos, cheirando a madeira encerada e perfume caro. Olhei para mim no espelho. Meu reflexo parecia de outra pessoa. Eu, Laysla Martins, filha da dona Vera e do seu Joaquim... pelada numa mansão. Que loucura era essa que a vida tava me obrigando a viver? Com o coração disparado, tirei cada peça de roupa, dobrei, coloquei cuidadosamente em cima da poltrona. Só de estar nua ali, sozinha, eu já me sentia estranha. O corpo todo arrepiado, não sabia se era frio, nervoso ou os dois. Respirei fundo, várias vezes. Até que não tinha mais desculpa pra enrolar. Abri a porta do quarto, olhei pro corredor vazio e coloquei o rosto pra fora, como se alguém fosse estar ali me esperando. Nada. Desci. A mansão parecia silenciosa demais. Pisava devagar, andando como se fosse pisar em cacos invisíveis. Cada quadro na parede parecia me encarar. Cada estátua parecia rir da minha vergonha. E ele? Ele não estava em lugar nenhum. Nenhuma presença, nenhum som, nada. Era como se eu estivesse sozinha na casa. O primeiro dia foi assim: andando com a mão na frente e outra atrás, literalmente. Me sentindo estranha, desconfortável, tentando não me olhar muito refletida nos vidros e espelhos. A tensão me fazia até esquecer de respirar direito. Mas, curiosamente... conforme as horas foram passando, algo foi mudando. No café da manhã, havia uma mesa posta na sala de jantar. Pães, sucos, frutas, café, geleias... tudo ali, sem ninguém. Sentei, com uma almofada no colo pra não me sentir tão exposta, e comi olhando pra janela. O dia passou, e percebi que ele, o senhor da casa — que até aquele momento eu só sabia ser chamado de Dr. César —, realmente era discreto. Não apareceu. Ou se apareceu, passou tão despercebido que eu nem vi. O segundo dia começou um pouco menos desconfortável. Ainda acordei enrolada no edredom, olhando pro teto e pensando se aquilo tudo era real. Mas, depois do banho, quando caminhei até a cozinha pra pegar um café, já não escondi tanto o corpo com as mãos. A sensação estranha começou a se misturar com algo que eu não esperava: liberdade. Andar nua, sem ninguém me julgando, sem ninguém me olhando diretamente — pelo menos, não que eu percebesse — dava uma sensação de leveza estranha. Uma mistura de vergonha com... paz. Comecei a explorar. Cada cômodo era uma surpresa. Havia uma sala cheia de livros, que mais parecia uma biblioteca de filme antigo. Outra sala tinha quadros inacabados, pincéis, telas, como se em algum momento ele tivesse tentado ser pintor. Um corredor escondia uma espécie de museu pessoal: peças mecânicas antigas, relógios desmontados, fotografias de invenções estranhas. No terceiro dia, já estava natural tomar café da manhã completamente nua, sentar na poltrona da varanda com uma xícara de chá e observar o jardim. Na hora do almoço, serviam pratos sofisticados numa mesa de oito metros, como se eu fosse a dona da mansão. E à noite, deitava na cama, sem roupa, olhando o teto e percebendo que a sensação de estar livre era... estranhamente agradável. O Dr. César quase nunca aparecia. Às vezes eu o via de longe, passando com alguma caixa na mão, ou sentado no escritório, digitando algo. Mas ele nunca me olhava diretamente. Parecia realmente focado no que dizia: eu era apenas... parte da paisagem. E foi no final do terceiro dia que algo diferente aconteceu. Havia uma porta no fim do corredor do segundo andar que eu nunca tinha aberto. Diferente das outras, ela estava trancada nos dias anteriores. Mas, dessa vez, ao girar a maçaneta, ela cedeu, rangendo lentamente. Meus pés descalços tocaram o chão frio de um espaço completamente diferente dos outros cômodos. O teto era altíssimo, de pé direito duplo. As paredes eram todas forradas de prateleiras com peças de metal, ferramentas, engrenagens, bobinas, cabos, tubos de ensaio. Parecia uma mistura de oficina com laboratório e museu. Mas o que mais me chamou atenção foi o que estava no centro da sala. Uma estrutura enorme, coberta por um pano branco. Parecia uma bolha metálica, meio ovalada, sustentada por suportes que saíam do chão. Tinha fios grossos, alavancas, luzes apagadas. O pano balançava levemente, como se sussurrasse: "vem, descobre o que eu sou..." O coração disparou. Parte de mim dizia pra dar meia-volta. Mas outra... outra estava sendo puxada por uma curiosidade que eu não conseguia controlar. Aproximação lenta. Cada passo fazia o chão ecoar sob meus pés. Segurei o pano na ponta, puxei devagar... O tecido deslizou, caindo no chão. E ali estava ela. Uma... máquina. Imensa. Brilhante. Cheia de detalhes. Botões, painéis, manivelas. Na frente, uma porta redonda, como aquelas de submarino, com uma pequena escotilha de vidro no meio. Em volta, luzes apagadas e um painel de controle com símbolos e números que eu não fazia ideia do que significavam. Arregalei os olhos, maravilhada. Me aproximei, passando a mão devagar na superfície fria do metal. — Meu Deus... o que é isso? — murmurei, quase sem voz. Na lateral, havia algo escrito, meio apagado: “Projeto Cronos” Meus dedos deslizaram até os botões. Alguns estavam com etiquetas velhas, outros com luzinhas que piscavam em laranja bem fraco, como se a máquina estivesse... adormecida. Senti um frio na barriga. Parte de mim sabia que aquilo não era só uma peça de decoração. Era algo muito... muito maior. Me aproximei da porta, segurando a alavanca. O vidro da escotilha estava um pouco embaçado, mas parecia haver espaço lá dentro. Como uma cabine. Dei um passo pra trás, olhando cada detalhe. A coisa toda parecia saída de um filme de ficção científica. E, naquele momento, uma sensação tomou conta de mim: “Essa máquina... guarda um segredo. E eu vou descobrir.” ADICIONE NA BIBLIOTECA, COMENTE E VOTE NO BILHETE LUNAR PRA ME AJUDAR
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