Capítulo 8
Pedro narrando :
ALGUNS ANOS DEPOIS….
A vida no crime é assim, mano. Se tu não tem estômago, cê não sobrevive. Eu aprendi rápido, rápido demais até. No começo, eu só era mais um menor, só mais um vapor que fazia o corre pros outros. Ficava na esquina, de olho no movimento, vendendo as paradinhas. Mas ali, no fundo, eu já sabia que não ia ficar nisso por muito tempo.
Fumaça, desde que me colocou pra rodar, já olhava pra mim diferente. Ele via o potencial, sentia que eu tinha um propósito maior. Porque, diferente de muitos, eu não tava ali só pelo dinheiro ou pela ostentação. Eu queria sangue. Eu queria vingança.
Minha primeira venda foi o batismo nesse mundo. Tava num dos becos, esperando o cliente. O Jota, que já tava no corre há mais tempo, tava do meu lado, me orientando. Eu tava nervoso, claro. Minha mão suava, o coração batia a mil, mas eu disfarçava. Ninguém podia perceber que eu era novo naquilo. Quando o cara chegou, malandro, com um boné enfiado na cabeça e o cigarro pendurado na boca, eu respirei fundo e fiz o que tinha que fazer.
— E aí, irmão, qual vai ser? — perguntei, fingindo uma confiança que eu não sentia ainda.
— Quero umas paradas pra noite, tá ligado? — ele respondeu, mexendo no bolso da jaqueta, pronto pra sacar o dinheiro.
Eu passei a mercadoria com uma mão enquanto recebia o dinheiro com a outra. Tudo rápido, no automático. E foi isso. A primeira venda foi feita. Naquele momento, parecia que eu tinha passado por um portal. Não era mais o menor catador de papelão, nem o irmão desesperado chorando pela Alice. Eu era outro agora. Um cara pronto pra fazer o que fosse preciso pra sobreviver.
Aos poucos, fui ganhando mais confiança. Fumaça notava como eu fazia o corre com eficiência, sem medo, sem gaguejar. Comecei a subir de posto, fazendo mais do que só vender as paradas. Ele me mandava em missões maiores, e eu nunca decepcionava. Mas o momento que realmente marcou minha a minha vida foi a primeira vez que eu matei alguém.
Esse dia foi um divisor de águas, tá ligado? O e********r tinha feito uma merda feia. Pegou uma mina nova no morro e fez o inferno com a vida dela. A comunidade já tava p**a, e Fumaça me chamou. A missão era clara: eu ia tirar aquele lixo de circulação. E mano, eu não pensei duas vezes. Já tava cansado de ver filho da p**a fazendo o que queria e saindo impune.
Quando cheguei na casa do desgraçado, ele tava lá, sentado na cadeira de plástico, bebendo uma cerveja, como se nada tivesse acontecido. Meu sangue ferveu na hora. Não tinha arrependimento na cara dele, nem um pingo de vergonha. Peguei ele de surpresa, mano. O cara nem viu de onde veio.
— E aí, o****o, lembra da mina? — falei com a arma apontada pra cabeça dele.
Ele arregalou os olhos, o medo tomou conta dele. Eu não esperava que ele fosse pedir desculpa, nem chorar, nem implorar. Mas ele tentou. Tentou se justificar, falou merda, tentou dizer que não era bem assim. Mas, pra mim, já era tarde. Não tinha conversa.
O primeiro tiro foi direto no peito. Um som seco, abafado pelo beco. O sangue jorrou, e o corpo dele caiu no chão. Eu respirei fundo, e foi aí que eu soube. Não senti nada. Nem culpa, nem arrependimento. Era só uma missão que eu tinha cumprido. E naquele instante, eu vi nos olhos do Fumaça que ele me via diferente agora. Eu não era mais só o menor vendendo as paradas. Eu tinha virado o cara que resolvia problemas.
Foi depois desse dia que o vulgo veio. Caveira. O apelido pegou porque, depois daquele e********r, eu comecei a fazer o que muitos não tinham coragem. Quando tinha treta no morro, quando alguém precisava ser apagado, eu era o escolhido. Minha frieza no gatilho, meu jeito de não tremer na base, fez a fama crescer rápido.
– O Caveira não hesita, mano. O cara é sangue frio. — Era o que a galera comentava.
Fumaça viu meu potencial e me colocou como gerente das bocas. Não foi da noite pro dia, mas aconteceu rápido o suficiente. Comecei a comandar as vendas, a organizar os vapores, a distribuir a mercadoria. Eu era os olhos e os ouvidos do Fumaça no morro. E ele confiava em mim pra resolver qualquer merda que surgisse. Não demorou pra todo mundo me respeitar.
Ser gerente era uma responsabilidade do c*****o, mano. Tinha que manter a galera na linha, garantir que o dinheiro chegasse até o Fumaça e, principalmente, garantir que o morro continuasse na paz, pelo menos a nossa paz. Se tinha algum vacilão que tentava atravessar, que tentava tomar espaço ou desrespeitar, eu ia lá e resolvia. Não era pessoal, nunca foi. Era o trampo. E o trampo, no crime, é matar ou morrer. E eu preferia matar, sempre.
Com o tempo, comecei a gostar da parada. Não vou mentir, mano. Tinha um certo poder ali. A galera me via como um líder. Os menor mais novos queriam ser como eu. E as mina? As mina respeitavam, claro. Tava sempre rodeado. Mas, na real, nada disso me preenchia. Porque, no fundo, o que ainda me movia era a mesma coisa de sempre: a p***a da vingança pela Alice.
Cada vez que eu apagava alguém, cada vez que eu subia de posto, eu lembrava dela. Lembrava da promessa que eu fiz no túmulo dela. E isso me dava a motivação pra continuar. A vida no crime tem seus dias contados, eu sabia disso desde o começo. Mas até meu dia chegar, eu ia fazer o inferno na Terra. Ia garantir que todo mundo que cruzasse o meu caminho soubesse que o Caveira não brincava.
Fumaça sabia que eu era o cara certo pra cuidar do morro. Ele via como eu lidava com as coisas, como eu não tremia. E por isso ele me deu mais espaço. Logo eu não era só gerente de uma boca, eu tava cuidando de várias. O morro todo me conhecia, e ninguém tinha coragem de me desafiar. Meu nome corria pelas vielas, e o respeito que eu conquistava era real. Mas com o respeito, vinha o medo. E eu queria que fosse assim. Medo era o que me mantinha vivo. Medo era o que fazia os outros pensarem duas vezes antes de cruzar comigo.
No fundo, eu sabia que a vida ia cobrar seu preço. Todo mundo que entra nesse jogo sabe disso. Mas enquanto a conta não chegava, eu ia continuar fazendo o que eu fazia de melhor: matar sem medo, sem pudor, sem olhar pra trás. E se alguém duvidasse de mim, bastava olhar pros corpos que eu já deixei pelo caminho.
Caveira. Esse era o meu nome agora. O homem que não hesitava em puxar o gatilho. O homem que, mesmo com o sangue escorrendo pelas mãos, nunca sentia arrependimento.
Continua .....
Deixem bilhetinhos 📚
Me sigam no Insta.gram @autora_Brunamattos