Capítulo 5
Íris Brown
— Pode começar falar, quero escutar sua proposta completa.
— Vamos lá, Íris Brown… primeiramente, me chamo Eva Walton.
Ela falou meu nome como se já me conhecesse há anos.
Como se estivesse no controle de tudo desde o começo.
E, pra ser sincera… talvez estivesse mesmo.
Eu estava sentada diante dela nesse restaurante de luxo me sentindo a pessoa mais deslocada da face da terra. Eu não sabia se aceitava a taça de água que o garçom trouxe ou se me levantava e corria. Mas algo me fez ficar. Algo dentro de mim dizia: escuta até o fim. Talvez seja sua última chance.
— Walton? — repeti. — Alguma coisa a ver com os Walton da empresa de mineração?
— Meu pai. — Ela bebeu um gole do vinho como quem fala de uma lembrança que perdeu o gosto. — Mas não se preocupe. Isso não tem nada a ver com o que quero de você. Quer dizer… não diretamente.
Suspirei, apertando as mãos no colo. Estava nervosa. Suando. Com vergonha da minha roupa, da minha aparência, da minha vida inteira.
— Então me diz… o motivo exatamente disso? O porquê? Não é normal o que você quer que eu faça.
Eva cruzou as pernas com elegância e recostou na cadeira. Ela parecia uma rainha num trono. Fria. Intocável. Intocada.
— Eu quero vingança. — Ela falou sem piscar. — Quero justiça. Quero que o mundo veja o homem que meu marido realmente é.
— E o que eu tenho a ver com isso?
— Tudo. — Ela sorriu de lado. — Você vai ser minha peça principal. Minha infiltração. Minha isca.
Meu estômago virou.
— Você quer que eu me infiltre na vida dele? — perguntei, ainda tentando entender se era algum tipo de teste social doentio.
— Isso mesmo. Quero que você se aproxime. Seduza. Entre no círculo dele. Descubra os podres. Grave conversas. Pegue documentos. Tudo que puder. E, principalmente… quero provas de que ele destruiu a minha família.
— E em troca disso… o coração?
— Não só isso. — Ela se inclinou um pouco, os olhos vidrados nos meus. — Eu vou quitar todas as suas dívidas hoje mesmo. Transferir sua irmã para o melhor hospital de Londres. Fornecer os medicamentos que ela precisa. Cuidar de tudo. Vocês nunca mais vão ter que pisar naquele apartamento horroroso.
Mas o coração… — ela deu uma pausa — … só vem no final. Quando você cumprir sua parte. Quando eu tiver tudo o que preciso.
Engoli em seco. A boca ficou amarga. As palavras pareciam presas na garganta.
— E como eu vou saber que tudo isso é verdade? — perguntei, nervosa. — E se for mentira? E se eu fizer tudo que você quer e, no final, não tiver coração nenhum? E se minha irmã morrer e eu…
— Íris. — Ela me interrompeu com um tom calmo, mas firme. — Quem tem dinheiro de verdade… nunca mente por tão pouco. Se eu quisesse brincar com você, já teria feito. Se eu quisesse enganar… nem teria me mostrado.
— E como você sabe tanto da minha vida?
— Dinheiro. — Ela sorriu. — Quem tem o suficiente, sabe tudo o que quiser. Onde você mora. Onde estudou. Quem são seus vizinhos. Quanto deve. Com quem dorme. Onde chora.
E você… tem uma história perfeita para o que preciso.
Senti um arrepio na espinha.
— E o seu marido… ele é perigoso?
— Muito. — Ela não hesitou. — Mais do que você pode imaginar. Por isso, vai precisar ser convincente. Ele não pode desconfiar de nada.
— E se ele descobrir?
— Ele não vai. — Ela me olhou nos olhos. — Mas se descobrir… bom, é um risco que você vai ter que correr.
O silêncio entre nós parecia mais alto que a música ambiente. Eu estava mergulhada num redemoinho de medo, raiva, culpa… e desespero.
— Você quer que eu… que eu durma com ele?
A pergunta saiu quase como um sussurro. Meus olhos encheram de lágrimas antes mesmo dela responder.
— Com certeza. — Eva respondeu com a mesma frieza de antes. — Se quiser que ele confie em você, vai ter que se submeter ao que ele pedir. Sem limites. Sem restrições.
Foi como um soco no estômago.
— Então eu sou o quê pra você? Uma prostituta?
— Não. — ela disse, e por um segundo pareceu sincera. — Você é uma mulher desesperada, como eu já fui. E mulheres desesperadas… fazem escolhas difíceis.
Me levantei de uma vez, a cadeira rangendo sob o peso da minha raiva e vergonha.
— Eu não sou isso. Eu não vou fazer isso. Não importa o quanto minha irmã precise. Eu não vou agir feito uma prostituta!
Eva apenas me olhou, serena.
— Tudo bem. Não vou te obrigar. — Ela pegou o guardanapo e limpou os lábios com delicadeza. — Mas se mudar de ideia… e quiser salvar a sua irmã… sabe como me encontrar.
— Eu não sou como você. — sussurrei, antes de virar as costas e sair andando.
Não ouvi se ela respondeu. Não olhei pra trás. Eu só queria sumir.
Sai do restaurante com o coração aos pedaços. A rua parecia fria demais. As luzes brilhavam como uma piada c***l.
Meus pés andavam sozinhos. A cabeça girava.
A cada passo, uma parte de mim dizia que eu tinha feito a coisa certa.
Mas outra… gritava: você acabou de assinar a sentença da sua irmã.
E pela primeira vez em muito tempo… eu não sabia mais quem eu era.