Serena despertou lentamente, sentindo o calor suave da luz tocando seu rosto. Virou-se na cama e percebeu o vazio ao seu lado — Alessandro já havia se levantado. Ao tentar se ajeitar, notou que ainda usava as roupas da noite anterior. Suspirou, recordando-se de como adormeceu exausta e de como Alessandro a carregou até o quarto. Um pequeno sorriso escapou de seus lábios.
“Até que estou aprendendo…”, pensou consigo mesma, orgulhosa. “Talvez eu esteja começando a deixar de ser aquela garota inocente que ele conheceu.” E com esse pensamento, caminhou até o banheiro para tomar um banho, decidida a se apresentar melhor para o dia que estava apenas começando.
Enquanto isso, Alessandro estava de pé na varanda da fazenda, com os braços cruzados e o olhar perdido no horizonte. O vento suave balançava as folhas das árvores, e o canto distante de alguns pássaros preenchia o ar. Ainda assim, sua mente estava longe, presa na lembrança da noite anterior. As palavras de Serena ecoavam: “E quanto ao me apaixonar... dúvido que isso aconteça de novo.”
Ele cerrou levemente os olhos e baixou a cabeça, esboçando um sorriso irônico, mas breve. Aquilo o incomodava mais do que gostaria de admitir. Estava acostumado com controle, com poder… mas Serena vinha bagunçando tudo.
Serena apareceu na varanda com o cabelo ainda úmido, o rosto fresco e uma expressão leve.
— Bom dia, Alessandro — disse com um sorriso suave. — Acho que dormi demais.
Ele a olhou com uma expressão neutra, mas a voz saiu firme:
— Hoje teremos um jantar com alguns amigos e sócios do meu pai.
Serena assentiu, interessada:
— Ah, entendi. E sua relação com seu pai parece estar melhor. Percebi isso nos olhos dele ontem à noite.
— Pois é… — Alessandro disse, lançando um olhar vago para o campo à frente. — Isso torna as coisas mais fáceis.
Ela não insistiu. Apenas assentiu, satisfeita. Era a primeira vez, em muito tempo, que tinham uma conversa sem tensão, sem palavras afiadas. Aquilo lhe dava esperança.
Mais tarde, Serena caminhava pela parte lateral da fazenda, respirando o ar fresco do campo. Passou por alguns cavalos sendo cuidados pelos peões e sorria discretamente até que seu corpo enrijeceu ao ver Silvino se aproximando com um sorriso torto no rosto.
— Ora, ora… se não é a bela selvagem… — disse ele, com um olhar malicioso. — Está cada vez mais bonita.
Serena manteve a compostura, mas sentiu um frio na espinha.
— Com licença — respondeu seca, tentando seguir.
Mas Silvino avançou alguns passos, a voz carregada de insinuação:
— Até que foi esperta, hein, garota? Queria peixe grande e conseguiu. Agora que é mulher feita… — Ele se aproximou ainda mais, o olhar invasivo.
Serena parou e o encarou firme. Seus olhos estavam cheios de uma determinação fria.
— Silvino, você gostaria que eu contasse isso para o meu marido? — aproximou-se lentamente, a voz baixa e afiada como uma lâmina. — Se não quiser ser demitido ainda hoje, me respeite. Nunca te dei liberdade. E mais… — sorriu com desprezo — se ponha no seu lugar. Porque se meu marido souber, além de te demitir, vai te encher de socos. E eu não impediria.
Silvino engoliu seco. A expressão dele desmoronou num instante. Não respondeu. Apenas recuou, constrangido.
— Acho que entendeu — completou Serena, virando-se e caminhando de volta.
Enquanto voltava, pensou em Luiz Fernando. A saudade apertava o peito. Desde aquela última conversa, não o viu mais.
Ao chegar ao casarão, viu os empregados organizando flores e talheres na grande mesa da sala de jantar. Os preparativos para o jantar estavam em pleno andamento. Serena seguiu para a cozinha, onde encontrou dona Alzira preparando doces.
— Dona Alzira, posso ficar aqui um pouco?
— Claro, menina. Senta aí. — Ela limpou as mãos no avental e ofereceu um copo de suco.
Serena aceitou e, após um gole, comentou o que havia ocorrido com Silvino.
— Isso mesmo, menina! — exclamou dona Alzira, indignada. — Tem que colocar aquele sem-vergonha no lugar. E se ele ousar desrespeitá-la de novo, não hesite em contar tudo ao seu marido e ao Senhor Inácio. Um homem desses só aprende no grito.
Serena assentiu, respirando mais aliviada por ser ouvida.
Ao notar a movimentação dos carros chegando, levantou-se apressada.
— Preciso subir! Já estão chegando e estou atrasada.
Subiu correndo as escadas. Ao entrar no quarto, viu Alessandro colocando o relógio no pulso diante do espelho. Ele virou-se lentamente, os olhos frios:
— Está atrasada para o teatro de casal perfeito, querida esposa.
— Eu… acabei perdendo a hora. Vou me arrumar e já desço — disse ela, meio sem fôlego.
Alessandro não respondeu de imediato. Apenas lançou um olhar avaliativo e saiu do quarto.
Serena tomou um banho rápido e escolheu um vestido vermelho acima do joelho, com gola alta. Prendeu um pouco o cabelo nas laterais e optou por uma maquiagem leve, mas realçando os olhos. Quando desceu, o salão já estava cheio.
— Quero apresentar a todos minha nora, Serena — anunciou Inácio em voz alta, chamando a atenção.
Todos olharam. Alessandro virou-se e seus olhos se demoraram nela. O vestido realçava cada curva. Linda. Talvez… até demais.
Serena se aproximou com elegância e deu um leve sorriso:
— Boa noite.
Alessandro, saindo do transe, a puxou pela cintura com firmeza.
— Esta é minha esposa — disse, apresentando-a a um casal de fazendeiros.
— Prazer — disse a mulher, sorrindo. — Alessandro, sua esposa é linda.
Serena agradeceu timidamente, os olhos abaixando discretamente.
Do outro lado do salão, Betina observava a cena com os olhos ardendo de raiva. Seu pai, o senhor Alencastro, se aproximou com o tom sarcástico:
— Nem pra isso você serviu, minha filha. Fisgar Alessandro… uma caipira fez melhor que você.
— Pai, isso é…
— Faça-me um favor. Ele se casou, mas não morreu. Ainda há tempo. Tente algo.
Betina fechou os olhos, frustrada, enquanto o pai se afastava. Bebeu o champanhe de um gole, sem tirar os olhos do casal. “Eu ainda vou tirá-la do meu caminho”, pensou, com um sorriso amargo nos lábios.
A noite prosseguia. Serena logo se juntou a um grupo de mulheres que comentavam sobre moda e eventos da região. Alessandro, entre conversas e brindes, sempre lançava olhares disfarçados na direção da esposa.
Havia algo nela que o intrigava cada vez mais. E talvez, estivesse começando a mexer com ele mais do que gostaria.