Pré-visualização gratuita Aluga-se Mr. Rabbit
Os papeis postos sobre a mesa indicavam o fim, por mais que a foto ao lado mostrasse que o amor ainda existia. Min Yoongi ainda amava sua esposa quando ela foi embora, todavia, o amor já não era mais suficiente, pois o desejo já havia morrido, ou melhor, jamais existido. E como sobreviver sem toques? Como sobreviver quando o que se sente não passa de uma grande amizade? Casamentos não se constroem dessa maneira, e foi por isso que aos 36 anos Yoongi desistiu de seu casamento com Luhyun, depois de seis anos juntos.
Se enganar já não era mais possível, o corpo de Luhyun nunca o esquentou, por mais que a amasse de verdade, aquele amor nunca foi um amor de homem.
O relógio dizia que já era hora de ir, todavia, o sentimento de solidão que o invadia sempre que pisava os seus pés sobre o carpete daquela casa vazia o fazia querer ficar até mais tarde, até o momento em que restasse apenas ele ali, apenas ele e os seus pensamentos confusos. Sempre acreditou que a partir do momento em que amasse Luhyun as coisas ficariam mais fáceis, mas isso nunca chegou a acontecer, aquele amor não era o certo.
Luhyun nunca foi o amor de sua vida.
Até mesmo entrar em seu carro era complicado, o sorriso e a companhia de Luhyun não existiam mais, apenas o restante de sua maquiagem que ficou pelo caminho. Era como se faltasse um pedaço, faltava o sorriso, faltava o cheiro, faltava suas reclamações de como o dia foi tedioso. Tudo o que Yoongi queria naquele momento era companhia, mas nem sequer um filho fora capaz de gerar em sua falsa esposa.
E o que fazer a partir daí?
Sua casa era fria, e a cama conseguia ser ainda mais gelada quando Luhyun não estava lá. Como dormir sem seu abraço? Como dormir quando o único cheiro que é capaz de sentir é apenas o seu? A solidão o estava matando, isso era fato, e continuar assim o destruiria por completo. Yoongi sentia mais do que nunca a necessidade de ter alguém por perto, nem que fosse apenas para lhe abraçar.
Acordar m*l era regra quando se dorme m*l, se vestir sozinho sem ter ninguém para opinar sobre a cor da gravata, nem estar ao seu lado na mesa enquanto reclama que a empregada sempre coloca açúcar demais em seu café, e mesmo assim nunca a demitir. Jamais diria que o sabor da solidão era tão amargo, até finalmente provar dele. E se estar casado com alguém que não deseja era r**m, estar sem esse alguém era ainda pior.
— Sr. Min? — não poderia dizer quantas vezes a empregada o chamou — A sua secretária ligou enquanto estava no banho, os empresários da filial no Japão já chegaram.
— Já estou de saída, obrigado.
Recolheu a maleta que havia jogado sobre o sofá na noite passada, ela ainda estava da mesma maneira, provavelmente tão bagunçada quanto sua cabeça, era sempre Luhyun que organizava seus papeis por ordem de filial quando chegava do trabalho, e agora ela não estava mais ali para organizar tudo, para lhe organizar. Céus! Yoongi estava um caos!
O caminho para o trabalho era tão monótono quanto o restante do dia, ouvindo a mesma rádio de sempre, e lembrando-se dos comentários absurdos que Luhyun fazia a respeito das musicas tocadas nos dias atuais, e mesmo assim nunca mudar de estação. Era feliz antes dela partir, feliz, por mais que não fosse completo, e se sentia m*l por saber que a mulher não chegava nem perto de ter a mesma felicidade, afinal, foram palavras dela “Eu preciso de alguém que me deseje de volta”.
Por que nunca a desejou?
Não se sentia atraído por mulheres, essa era a razão, mas sempre foi covarde demais para tentar o que fosse com homens, seu orgulho não o deixava se envolver com alguém do mesmo sexo, isso era algo que jamais foi capaz de aceitar, e sabia que ninguém mais aceitaria, sua família o rejeitaria, e não seria capaz de lidar com isso. Homens o satisfariam? Isso foi algo que nunca experimentou, afundou esse desejo absurdo e guardou apenas para si, protegendo-se das coisas ruins que poderiam acontecer.
— Sr. Min. — a mão grande de seu sócio envolveu a sua em um forte aperto, o fazendo acordar do mornidão daquela manhã, era um homem muito bonito, isso ele jamais negaria — Os resultados das vendas no Japão foram além do esperado, surpreendente!
Observou a boca do homem ao seu lado se mexer enquanto ele falava, já não se concentrava em nada do que ele dizia, apenas em suas feições e gestos. Era inevitável, depois de anos negando a si sua própria natureza, Yoongi se sentia cada vez mais necessitado, e a beleza exorbitante de Taehyung o fazia arder em chamas por dentro. Se enganar ficava cada vez mais difícil.
— Sr. Min, está me ouvindo? — o rapaz estalou os dedos diante dos seus olhos tentando chamar atenção, provavelmente já havia tentado de tudo, mas Yoongi estava tão perdido pensando em algo que seus olhos chegavam a se embaçarem.
— Me desculpe, me distraí, não estou muito bem. — confessou, queria muito se abrir com alguém no momento, por mais que seu orgulho gritasse o mandando se calar.
O mais novo, pondo sua mão em redor da mão da mão do Min, que se assustou no momento, porém aceitou o toque quente, se sentindo estranhamente mais confortável.
— Soube que se divorciou recentemente. — o Kim comentou, mordendo seu lábio inferior de forma indiscreta — Minhas condolências, Sr. Min.
— Agradeço.
— Deve ter sido difícil ser casado tanto tempo com alguém que não deseja.
Ao ouvir isso Yoongi se assustou, afastou sua mão da mão de Taehyung e a recolheu para perto do corpo, lhe fora uma surpresa ouvir isso, ninguém nunca em sua vida inteira havia lhe dito algo parecido. E naquele momento o Min se sentiu desprotegido, como se um grande segredo seu fosse finalmente exposto.
— Do que está falando?
— Você é gay, Sr. Min, ou acha que nunca notei seus olhares discretos para os rapazes que me acompanham na maioria das vezes? — Taehyung tinha uma fala venenosa, estava finalmente declarando quem ele era de verdade, mas de certa forma, aquilo poderia não ser r**m — Eu garanto que eles são bem quentes, não perderia nada provando um deles, pode ter certeza.
— Você deve estar ficando louco! — Yoongi moveu-se na cadeira de forma nervosa, não estava acreditando no que ouvia, aquilo deveria ser uma ilusão maluca de sua cabeça — Não estou interessado em homens.
Taehyung ergueu-se ficando de pé na lateral da mesa de vidro, pôs as mãos nos bolsos procurando por algo, Yoongi não conseguiu tirar seus olhos, suas feições assustadas entregavam o quanto as palavras do Kim eram verdadeiras. Se sentia uma farsa, será que alguém mais havia notado? Ou apenas o Kim?
— Eu vou indicá-lo um site. — ele dizia enquanto procurava por algo em seu celular, virou a tela em direção ao Min após encontrar — Se chama Adote, foi onde eu encontrei o Hoseok, ele tem sido tudo o que eu sempre quis. — o Kim demonstrava ser a pessoa mais descarada que Yoongi já viu — Nesse site você pode encontrar o rapaz que melhor se encaixa no seu gosto, é um preço bem salgado, mas vale a pena, e já que dinheiro não é um problema para você, sugiro que escolha o pacote completo, ele vai sanar todas as suas dúvidas.
O pior de tudo foi ter ficado calado vendo Taehyung juntar todos seus papeis dentro de sua maleta, não conseguiu dizer nada, uma única palavra sequer. E o que diria? Taehyung parecia saber de tudo, e um homem capaz de comprar outro homem em um site adulto seria capaz de qualquer coisa.
— Não se preocupe, Sr. Min, o seu segredo está a salvo comigo.
Depois da última fala o Kim se foi pela mesma porta que entrou, deixando para trás um Min inseguro quanto aos seus atos, e tão confuso ao ponto de se sentir tentado a fazer o que lhe foi sugerido, por mais sujo que aquilo aparentasse ser.
[...]
Estava em casa.
E agora diante da tela de seu computador pessoal o Min tentava se distrair com qualquer coisa que fosse, tudo para não pensar nas palavras de Taehyung, tudo para não pensar no quanto aquilo parecia ser vantajoso, e quem sabe até o ajudasse a se entender. A quem estava enganando? Seus dedos coçavam para não entrar naquele site, e o e-mail recebido com o link direto enviado por Taehyung piorava ainda mais a sua curiosidade.
Desde quando era tão curioso assim?
Taehyung estava fazendo aquilo de propósito, testando até onde seu chefe poderia aguentar. E não aguentaria por muito tempo, em questão de minutos se viu com o e-mail aberto, encarando aquele link como quem encara um inimigo. O que fazer a seguir? Clicar seria deixar o Kim vencer, mas não clicar o deixaria curioso pelo restante da noite, e quem sabe até por dias.
Clicou.
O site era escuro, onde apenas o nome “Adote” brilhava em tons de vermelho, as pessoas eram vendidas como se fossem mercadorias, isso era horrível. Como alguém se submetia a esse tipo de vida? E pior ainda, como alguém comprava algo assim? Imaginava que apenas os piores tipos de pessoa visitassem esse site, e se estava visitando, então ele se encaixava nesse tipo de ser humano?
Se sentia m*l apenas por estar ali, todavia, não conseguia parar de olhar, e quando o botão “Comprar” surgiu na tela se sentiu ainda mais tentado. Clicou. E agora a opção Homem ou Mulher lhe surgia. O que escolheria era obvio, se já havia chegado até aquele ponto de sua decadência, não cometeria o mesmo erro de meter uma mulher em sua vida novamente, se fosse para fazer aquilo, faria como realmente quisesse.
Que idade escolher? Poderia optar por alguém de sua idade, ou mais velho, todavia, a sua curiosidade por alguém mais jovem era maior, e agora se via estendendo sua procura por alguém entre os 19 e os 25 anos. A lista era imensa, todos com nomes fictícios. Eram rapazes muito lindos, as fotos mostravam o que mais atraia em seus corpos, todavia, o que mais lhe chamou atenção foi a foto de um rapaz sorridente, um dos únicos que vestiam alguma roupa, ao lado da foto estavam as informações, ele só tinha 20 anos, e as 4,7 estrelas ao lado mostravam o quão bom seu serviço era, o preço alto também mostrava isso.
Compraria o Mr. Rabbit?
As orelhas de coelho sobre a cabeça lhe davam um ar fofo e ao mesmo tempo conseguia ser sexy juntando aquela imagem com o terno que vestia. Era sua escolha, e agora o botão Comprar lhe brilhava novamente. Leu todos os termos de uso, e selecionou o pacote que queria, o completo, onde poderia fazer tudo com o rapaz, o devolvendo intacto no fim do tempo pago. Preenchia tudo com os olhos atentos, e a opção “Sexo” brilhava ainda mais do que as outras, não queria ter relações sexuais com o rapaz, queria apenas a sua companhia em tempo integral, queria apenas tê-lo por perto para o fazer dormir. Mas e se...
Clicou, por via das dúvidas pagaria por aquilo, e talvez, mas só talvez, sentisse vontade ter algo a mais com o rapaz, todavia, usaria esse recurso apenas quando estivesse a ponto de surtar. No fim, já havia marcado quase todas as opções, alegando para si mesmo que era apenas para garantir que no fim teria uma experiência completa, e que aquilo não passaria dos limites.
Apenas uma garantia.
Uma garantia.
E estava feito, havia mesmo contratado os serviços do Mr. Rabbit, o teria em sua casa durante uma semana, 24 horas por dia, realizando todos os desejos de seu coração. O GPS indicava a localização do garoto, o mostrando agora em um ponto fixo, esse era um dos privilégios dos compradores, eles poderiam ver a localização da mercadoria através de seus celulares. O queria ainda naquele dia, o relógio marcava 19h32min. Ele chegaria em até três horas, por morar na mesma cidade.
E o esperaria, tentando ao máximo não aparentar estar tão ansioso quando ele finalmente chegasse. E o pior de tudo era distrair sua mente enquanto o esperava, os minutos pareciam grandes eternidades, como se fosse impossível o tempo passar sem que surtasse.
Comeu algo, tomou um banho, vestiu seu pijama de seda azul, se cobrindo com um roupão também de seda na mesma cor. Agora se encontrava sentado no sofá da sala, olhando para porta de forma avoada, imaginando como seria sua semana com um homem ao seu lado, e se faria mesmo aquilo, ou cancelaria. Onde estava com a cabeça quando comprou mesmo a companhia de um rapaz? Aquilo era loucura demais! Deveria cancelar e esmurrar a parede em forma de castigo.
Aquilo era doentio demais.
Mas o som de alguém batendo na porta o animou mais do que deveria animar. E silenciosamente caminhou até a porta, encarando aquela madeira cinza por longos segundos. Juntou tudo de coragem que ainda lhe restava, e finalmente abriu a porta, dando de cara com um rapaz alto e de sorriso brilhante, que conseguia ser ainda mais bonito pessoalmente do que nas fotos.
— Boa noite, Sr. Min, eu sou o Mr. Rabbit, e durante essa semana eu serei tudo o que quiser que eu seja.
[...]
Yoongi encarou o rapaz por alguns segundos até deixa-lo entrar, o observou arrastar a mala metálica pela sala, e o acompanhou até seu quarto. Céus! Ele era maravilhoso, tão jovem e com um corpo espetacular, tudo nele exalava uma essência magnética, não conseguia parar de admirar aquele corpo alto e moreno diante de si. Yoongi se sentia o mais depravado dos homens por se encontrar naquela situação, havia comprado um homem.
Um homem.
— Separei a roupa que deve vestir. — depois de longos segundos silenciosos, o Min informou — Vista-se.
O moreno começou a despir-se diante de si, e por alguns momentos o Min o observou, até se sentir incomodado diante da situação. Virou-se de costas para que o rapaz terminasse de tirar a roupa que vestia. Se sentia péssimo diante das sensações que sentia, queria olhá-lo completamente, analisar como aquele corpo ficaria completamente sem nada, porém o que lhe restava de decência gritava para que ele não olhasse.
— Não precisa ficar de costas, eu pertenço a você, pode me olhar se quiser. — o mais alto salientou, confuso diante da atitude inesperada do mais velho.
Yoongi continuou de costas até ter certeza de que o garoto havia se vestido, respirou fundo antes de virar-se para o mesmo, o encontrando com o pijama de seda verde de mangas cumpridas que havia reservado para ele, Luhyun havia comprado o número errado há algumas semanas, e achou que aquilo jamais seria usado por ninguém. Achou errado. Ele ficava ainda mais sedutor quando coberto pela seda, e os botões abertos propositalmente faziam o mais velho começar a perder o controle.
Todavia, tinha que se manter atento, contratou os serviços do rapaz apenas para sanar suas curiosidades, e declarar para si mesmo se sentia verdadeiras atrações por homens ou não. Parte de si já tinha absoluta certeza, desejou o Mr. Rabbit desde o primeiro momento em que o viu.
— Feche todos os botões, por favor.
O garoto o obedeceu, fechando até o último botão da camisa. Até então as atitudes do Min eram estranhas, porém ele jamais questionaria os fetiches de seus clientes, já havia estado com várias pessoas de hábitos nada convencionais, mas era a primeira vez que esses hábitos não envolviam toques íntimos.
— Deite-se na cama, bem no meio da cama. — o mais velho ordenou, sua voz transparecia frieza até o momento, por mais que falasse baixo, quase como se estivesse com medo de vacilar.
O rapaz achou que finalmente fariam alguma coisa, como se agora as coisas fossem para o ritmo normal. Deitou-se na cama, bem no local que lhe foi ordenado, e esperou pelo Min. Mas ao invés de avançar sobre seu corpo, Yoongi apenas se deitou ao seu lado, virando de costas para ele no momento seguinte.
— Me abrace e nos cubra, nós vamos dormir. — informou, sendo abraçado pelo mesmo no exato momento, o garoto ainda não entendia nada, na ficha de Yoongi informava que ele havia pago por sexo, porém não aparentava querer fazer nada do tipo.
Os cobriu e aconchegou-se bem ao corpo pequeno do empresário, Yoongi era baixo e magro, abraça-lo era quase como abraçar uma mulher. O Min segurou uma das mãos do rapaz e entrelaçou seus dedos, observando suas mãos juntas como se analisasse se aquilo combinava com ele ou não.
— Evite me soltar durante a noite.
— Quer que eu prepare algo para comermos de manhã? — o maior perguntou.
— Não, quando eu acordar quero que ainda esteja aqui, beije minha testa e me diga “Bom dia, querido”, deve fazer isso todas as manhãs. — passou as ultimas informações antes de fechar seus olhos, todavia, uma curiosidade ainda perturbava seu sono — Qual o seu nome?
— Posso ter o nome que quiser que eu tenha, um amigo, um sócio, ou até mesmo algum ator ou qualquer pessoa que deseje, eu posso ser quem você quiser.
Essa não era a resposta que Yoongi queria, ele não queria ninguém, queria apenas um nome.
— É o seu próprio nome que eu quero, pago o quanto quiser para saber, e não minta pra mim. — talvez aquilo tenha soado muito rude, mas o Min odiava ser enrolado, quando pedia por uma informação a queria no momento exato.
O garoto demorou alguns segundos, como se repensasse consigo mesmo se deveria falar a verdade ou não. Mas o que haveria de perder? Nenhum cliente jamais perguntou seu nome, dando a ele os nomes de pessoas que desejavam, e querer saber seu nome real era quase como dizer que se importava com ele.
O mais perto que ele chegou de ter algum valor sentimental.
— Meu nome é Jeongguk, Jeon Jeongguk.
— Você tem um nome bonito, Jeongguk. —
Yoongi fechou seus olhos e respirou fundo, tentou ao máximo se sentir confortável, se culpou ao perceber o quanto se sentia mais completo ao ser abraçado daquela forma por um homem. Então essa era a sensação que uma mulher tinha ao ser abraçada para dormir? Porque se fosse, queria ter essa sensação todos os dias. E pela primeira vez em seus 36 anos de vida, Yoongi sentiu que teria uma boa noite de sono, ali, encaixado entre os braços musculosos de um homem.
[...]