— Seja bem-vinda a sua nova casa, Olívia. — Charlotte disse girando a maçaneta de uma porta vermelha que dava entrada para o apartamento onde ela morava há quatro anos e que a partir daquele exato momento, seria a nova morada da jovem Lily, sua amiga da época escolar.
— Muito obrigada, Lottie! — Olívia, uma jovem de vinte e cinco anos agradeceu, entrando no local e olhando ao seu redor. O apê era grande, colorido, arrumado e aconchegante.
— Mas saiba que não pretendo ficar muito tempo aqui incomodando vocês, assim que conseguir juntar uma boa grana pretendo alugar um flat para mim. — Avisou colocando suas duas malas no chão.
— Fique o tempo que precisar, Lily. — a loira de olhos azuis que trabalhava como cardiologista em um dos melhores hospitais de Nova Orleans, disse simpática. — E você não vai incomodar coisa nenhuma, Alice e eu vamos adorar dividir nossa casinha contigo. — sentou-se no sofá com as pernas cruzadas.
— Estou tão feliz, Charlotte. — Lily sentou-se no outro sofá com os olhos brilhando. — Consegui minha residência em pediatria no melhor hospital de Nova Orleans e ainda por cima um apê perto do meu trabalho, que vai facilitar e muito as coisas pra mim.
— Com certeza. Não é fácil conseguir casa nos arredores da nossa clínica, aliás, nesse prédio está cheio de pessoas que trabalham no hospital, então com certeza você vai encontrar muito dos nossos colegas pelos corredores e elevadores afora.
— Ótimo, assim faço amizades mais rapidamente. — disse sorrindo. — E a Alice? Onde está?
— Provavelmente no hospital, a Ali não sai de lá. — Charlotte se levantou e ajudou a morena a colocar uma das malas sob o sofá. — Ah, deixa eu te adiantar, Alice sofre de TOC, então costuma ser bem chata com essa coisa de sujeira e bagunça.
— Não tem problema, costumo ser bem organizada também. — Lily afirmou curvando-se e abrindo sua mala de onde tirou alguns bichos de pelúcia.
— Quantos anos você tem? Cinco? — Charlotte zombou pegando um dos ursos na mão. — Um diário? — pegou um caderninho rosa. — Vejo que continua tão romântica quanto você era na época da escola, por isso os garotos te zoavam tanto.
— Ok, mas nunca me importei com isso e você sabe disso. — Lily deu de ombros. — Gosto dessas coisas fofas, me fazem bem.
— Mas você já é uma mulher, não dá mais pra pensar nesse tipo de coisa boba. — fez uma careta, voltando a se sentar. — Vamos desfazer essas malas só amanhã, daqui a pouco você tem que se arrumar.
— Para quê? — Olívia indagou com as sobrancelhas franzidas.
— Para comemorar sua residência criatura! — Lottie gargalhou. — Vamos até a boate onde seu irmão trabalha e vamos dançar e beber como se não houvesse amanhã. — falou toda animadinha.
— Mas o amanhã existe, inclusive eu começo meu emprego nele. — lembrou-a lhe dando uma cotovelada. — Mas eu vou sim, até porque estou com muita saudade do meu maninho.
— Certo, então vamos arrumar uma roupa boa pra você, mas nada desses vestidos de aborrecente mimada e romântica, você vai colocar uma roupa bem sexy, uma das minhas roupas, para ficar bem gostosa para quem sabe, arrumar um gatinho hoje. Venha comigo! — Charlotte pediu puxando a amiga pela mão e indo até o quarto dela.
[...]
— Essa não sou eu. — Lily reclamou se olhando no espelho e notando que o vestido que usava era muito curto e decotado.
— É você sim e está tão gostosa que dá vontade de virar lésbica só para te pegar. — Charlotte brincou arrancando uma risada da menina. — Quem sabe hoje mesmo você já não pega uns carinhas?
— Uns carinhas? — Lily olhou para a amiga chocada. — Não sou de ficar com vários garotos, aliás você sabe muito bem que ainda sou...
— Virgem. — Charlotte riu. — Quem sabe não mudamos essa sua condição hoje, não é mesmo?
~*~
— E então senhorita Madeleine, qual o seu problema? — Edward Smith, ginecologista do hospital principal de Nova Orleans perguntou para uma de suas pacientes.
— Minha queixa, doutor? — a n***a de olhos cor de mel perguntou fazendo biquinho e se levantando da cadeira. — É que estou com saudade de um médico gostoso que me beijou naquela maca outro dia, sabe? — respondeu apontando para a maca.
— Ah... — Smith mordeu os lábios. — Só que aquele médico gostoso não costuma repetir o mesmo ato com a mesma mulher mais de uma vez.
— Não mesmo? — Ela perguntou tirando a blusa e deixando seu sutiã a mostra.
— Sim, afinal, não quero lhe causar falsas esperanças, especialmente se forem românticas. — levantou-se de sua poltrona e foi até a mulher. — Se bem que acho que posso abrir uma excessão no teu caso. — falou a puxando para si e lhe beijando com desejo quando Nathan, seu irmão mais velho, adentrou sua sala. — Mas que merda, Nate! — Smith resmungou enquanto sua paciente vestia rapidamente a blusa.
— Poxa, não sabia que você estava tão ocupado. — O moreno respondeu segurando o riso.
— Er... Com licença, doutor Smith. — Madeleine disse envergonhada, saindo da sala do rapaz.
— Parabéns por ter estragado minha gata do dia, Nate! — Edward ironizou batendo palmas e revirando os olhos.
— A noite você tira o atraso na boate, que tal?
— É uma ótima ideia. — O ruivo disse sorrindo maliciosamente.
Edward Smith era um rapaz de trinta anos que trabalhava como ginecologista naquela clínica há três anos ao lado de seu irmão, que era neurologista. Ambos eram muito mulherengos e tinham muitas coisas em comum, entre elas o fato de não acreditarem no amor.
— Só não encha a cara porque temos que trabalhar amanhã cedo. — Edward alertou o irmão que baladeiro, costumava beber até cair.
— Você tem que trabalhar, eu só vou ter plantão amanhã a noite então poderei me divertir sim. — avisou todo animadinho para o irmão caçula. ~*~
[...]
Já era noite e Olívia acabara de adentrar na boate acompanhada de Charlotte que logo se afastou dela para conversar com um belo rapaz que estava flertando com ela. Lily caminhou lentamente pela pista de dança, se incomodando um pouco com a música alta e reparando nas pessoas ao seu redor. A maioria estava se beijando e agarrando-se sem o menor pudor, o que deixou a morena com as bochechas coradas.
— Maninha? — Um loiro disse abraçando a mulher e lhe enchendo de beijos carinhosos.
— Ethan, meu lindo, que saudades. — Lily fechou os olhos e o abraçou forte, para matar as saudades.
Ethan Brooks era o irmão mais velho da morena que trabalhava como gerente na casa noturna. Ambos sempre foram unidos, mesmo quando há oito anos Ethan se assumiu homossexual, chocando sua família que cortara relações com ele, mas sua irmã caçula sempre esteve ao seu lado, lhe apoiando nos momentos mais difíceis.
— Como você está linda. — Ethan a elogiou acariciando seu rosto delicado.
— Obrigada, você também está muito lindo com esse rostinho de bebê. — Lily riu.
— E o papai e a mamãe? — o loiro indagou desviando o olhar.
— Estão bem. Poxa maninho, não queria que as coisas fossem assim, queria tanto que você se reconciliasse com nossos pais. — segurou as mãos dele.
— Eu também queria, você sabe disso. Mas não tenho culpa se eles não conseguem me aceitar como sou, mas deixa pra lá. Estou muito feliz que tenha vindo morar aqui perto, vai ser muito bom poder conversar contigo pessoalmente e não só através de mensagens.
— Com certeza, Ethan. — Lily o abraçou novamente.
— Bom, tenho que trabalhar agora. Fique a vontade, certo? Qualquer coisa é só me procurar, ok? — ela assentiu com a cabeça. — E divirta-se!
[...]
— Quer um desses, Lilinha? — Charlotte perguntou oferecendo uma taça para a amiga que estava sentada no balcão observando as pessoas ao seu redor.
— Você sabe que não bebo, amiga. E não me chame de Lilinha, parece sei lá, nome de cachorro.
— Palhaça! — a médica revirou os olhos. — É um coquetel de frutas, zero alcool e bem docinho. Experimenta, para de frescura. — a loira insistiu.
— Está bem — Olívia concordou bebericando um pouco. — Hum, é uma delícia mesmo. — bebeu um pouco mais e olhou para Lottie que trocava olhares com um moreno de olhos azuis que estava na pista de dança. — Não acredito que vai ficar com esse cara, você acabou de ficar com outro agora pouco.
— Pois pode acreditar porque eu vou sim! Beijinhos! — a loira disse saindo de perto de Olívia.
— Céus... — Olívia murmurou chocada vendo Lottie se agarrar com o rapaz. Envergonhada, a morena voltou a prestar atenção em outras pessoas, mas ao se deparar com um belíssimo ruivo de olhos verdes, mordeu os lábios imediatamente.
O rapaz estava com uma taça de uísque nas mãos e tinham três ou quatro mulheres ao seu redor, possivelmente dando em cima dele. Ele gargalhava com elas, chegando a pegar na cintura de uma, mas não beijou nenhuma, o que fez a morena continuar lhe observando quando de repente ele pegou na mão de duas mulheres e sumiu das vistas de Lily, que se decepcionou ao entender que ele realmente era um galinha.
A médica resolveu olhar para a direita e viu Charlotte beijando outro rapaz, dessa vez um moreno forte e musculoso. Ambos se beijavam ardentemente e o homem puxava os cabelos dela, que gemia com aquelas carícias ousadas dele. Olívia começou a se abanar, ao mesmo tempo em que corava e ficava envergonhada de estar prestando atenção naquela cena tão... Quente.
— E ai gata, está sozinha? — um homem perguntou se aproximando dela.
— Sozinha? Não, eu vim com uma amiga. — Lily respondeu dando um meio sorriso.
— Bora dançar e se pegar por ai?
— Não, não estou a fim. — negou se sentindo incomodada com aquele convite.
— Claro que está. — o rapaz ignorou a resposta dela e puxou-a para si, mas Lily o empurrou.
— Ei, está maluco por acaso? Eu disse não!
— Está surdo por acaso, cara? Ela disse não e não é não. — O mesmo rapaz que Lilu reparara minutos antes, surgiu para defendê-la.
— Não se mete nisso, seu babaca. — o assediador disse, mas o rapaz o empurrou.
— Não se mete você! Saia daqui antes que eu perca a cabeça e arrebente sua cara! — rosnou nervoso e com medo, o vilãozinho foi embora.
— Obrigada por me defender, moço. — Lily o agradeceu sorrindo e reparando no quanto ele era bonito.
Olhos esverdeados, pele levemente bronzeada, cabelos acobreados, barba por fazer e braços fortes, parecia até um príncipe de tão perfeito, o que fez a garota estender seu sorriso.
— Por nada. Prazer, me chamo Edward Smith. — estendeu a mão.
— Olívia Brooks — apertou a mão dele.
— Quer que eu te pague um drink? Você é bonita e sexy, acho que podemos ter um lance legal juntos esta noite. — sugeriu todo malicioso. — Mas só está noite, ok?
— Lance? — Lily fechou a cara. — m*l te conheço, como você tem coragem de me fazer uma proposta indecente dessas?
— Ah, do jeito que você me olhou pensei que estivesse a fim de mim também, mas se não está, tudo bem. — deu de ombros. — Muitas outras me querem mesmo. — falou dando as costas para ela e indo até uma roda de mulheres azara-las.
— Mas que i****a, argh! — Lily resmungou fechando os punhos de raiva.
[...]
— Que decepção, Lottie! Você tinha que ver, quando Edward me salvou daquele cara parecia um príncipe encantado, meu coração chegou a bater mais forte naquela hora, mas depois ele virou um sapo, um babaca tarado, que m*l me conhecia e já queria ter as liberdades comigo! Onde já se viu? — Lily resmungou durante o café da manhã em sua nova casa.
— Onde já se viu? — a cardiologista deu risada. — Isso se vê todo dia Lily, é pra isso que as pessoas vão pra balada, pra ficar, t*****r e afins.
— Que horror. — a pediatra fez uma careta. — Mesmo não tendo te contado abertamente, tinha criado expectativas para ontem a noite. Pensei que fosse conhecer um cara lindo que nem aquele Smith, que dançaria comigo durante muito tempo e...
— Daria meia-noite, você perderia seu delicado sapatinho de cristal, ele iria achar, te encontrar no dia seguinte, te pedir em casamento e lhe dar um beijo apaixonado? Quanta ingenuidade! — Charlotte não conseguiu não gargalhar.
— Se sou ingênua, você é uma safada. Como você conseguiu ficar com três caras na mesma noite, menina? — perguntou tomando um gole de café fresco.
— Acredite, não foi nenhum sacrifício. Mas meu favorito foi o último, Nathan, que também é nosso vizinho, aliás. Então, não se surpreenda se você me ver agarrada com ele por aí...
— Você é completamente louca, amiga. — Lily riu pegando sua bolsa, indo até a loira e beijando sua bochecha. — Onde está a Alice?
— Deve ter madrugado para chegar no horário certo no hospital, ela detesta atrasos. — respondeu de boca cheia.
— E não quero chegar atrasada no meu primeiro dia de trabalho, beijos! — despediu-se abrindo a porta e indo embora do flat. Já no corredor, Lily tomou um susto ao ver Edward Smith entrando no elevador.
— Espera... Não acredito que esse babaca mora no mesmo prédio que eu. — murmurou cobrindo o rosto com as mãos. — Mas é muito azar mesmo. — decidiu esperar o próximo elevador para poder descer.
Por sorte, o mesmo não demorou muito e logo a morena já estava no ponto de táxi, entrando no primeiro carro que passou e indo em direção ao hospital de Nova Orleans. Ao chegar lá, foi direto a recepção onde lhe deram instruções de onde seria sua sala.
Estava muito animada, afinal, iria realizar um dos maiores sonhos de sua vida.
Mas toda sua animação foi embora no instante em que ao chegar no andar onde trabalharia, encontrou Edward Smith com um jaleco branco, o que indicava claramente que ele era um dos médicos do mesmo local que ela.
— Você de novo? — Lily questionou olhando para o ginecologista que também estava surpreso com a presença dela por ali. — Além de morar no mesmo prédio que eu, ainda vou ter que trabalhar com você todos os dias, seu sapo? Só me faltava essa mesmo! — reclamou revirando os olhos.