Ninguém olha pro que é meu

690 Palavras
⸻ Patrícia narrando: Eu não aguentei. Meu corpo inteiro tremia. Não era mais só medo… era ódio. Ódio do Patrick por ter me jogado naquele lugar. Ódio daquele morro. Ódio dele — do Tatu. Quando ele soltou aquela merda de “agora é minha”, alguma coisa dentro de mim explodiu. Eu levantei com tudo, com o peito estufado de dor e coragem. E fui pra cima. Avancei com força, com tudo que eu tinha no corpo. Meus punhos batiam no peito dele, no ombro, no braço, gritando com todo o ódio que eu juntei desde que entrei naquela casa. — Eu te odeio! — Dono de morro burro! Sem alma! — Eu não sou mercadoria! — eu gritei com a voz cortando o ar. E dessa vez, ele não revidou. Não me empurrou. Não gritou de volta. Ele só ficou ali, parado, me deixando bater. Como se estivesse levando por merecer. Como se soubesse que o tapa que ele deu em mim era pouco perto do que eu tava sentindo. Mas quando viu que eu não ia parar, que eu tava fora de mim, ele segurou meus braços. Com força. Firme. Me travou no meio do impulso. — Chega. Para. — ele falou, baixo, com a voz grossa, mas sem gritar. Eu tentei soltar, me debater. Mas ele não deixou. — Solta! Me solta, p***a! — eu gritei, a voz embargada. — Não vou te machucar. Mas para. Olha pra mim. Eu não quis olhar. Mas olhei. E naquele momento, eu não vi o bandido. O chefe. O cara frio que mete medo em todo mundo. Eu vi um homem quebrado. Com culpa nos olhos. Com dúvida. Com um peso que ele mesmo não sabia carregar. E isso me deixou mais confusa ainda. Porque por um segundo… eu não sabia mais se eu odiava ele com todas as forças ou se meu peito tava doendo por outra coisa. Por raiva… ou por um medo ainda pior: o medo de sentir algo por ele. — Eu não sou tua… — falei baixo, com a voz mais calma, mas com o coração ainda em chamas. Eu não tava mais gritando. Mas cada palavra saía carregada. Pesada. Olhei direto nos olhos dele. Não tinha mais medo. Tinha verdade. Ele só me olhou. Passou a mão na cabeça como se procurasse uma resposta no próprio couro cabeludo. Balançou a cabeça devagar. Como se estivesse cansado. Como se o mundo todo tivesse nas costas dele. — Se eu não te pegasse, outro te pegava, — ele disse, num tom que parecia mais justificativa do que ameaça. — Teu irmão tá devendo várias bocas. Só que não p***a… eu tô sendo bom pra tu, c*****o. Aquilo me ferveu por dentro. Eu avancei um passo, mas não gritei. Falei firme. Doído. Com os olhos cheios de água, mas sem deixar cair uma lágrima. — Bom? — Tu me bateu. — Com aquele tapa, tu marcou minha vida. Nunca ninguém encostou um dedo em mim. Nem meu pai, nem minha mãe. E tu foi o primeiro. — E eu nunca, nunca vou esquecer daquele tapa. Seu covarde. Ele me olhou. Não disse nada. Nem piscou. Ficou me encarando com um olhar que misturava arrependimento e orgulho ferido. Talvez nem ele soubesse o que tava sentindo. Talvez nem ele esperasse escutar tudo aquilo de mim. E eu? Eu queria quebrar ele com as palavras. Queria machucar com a verdade. Mas quando vi o silêncio dele… Parte de mim se quebrou também. Porque por mais que eu dissesse que odiava… Por mais que aquele tapa tenha doído mais na alma que no rosto… A presença dele ali, parada, escutando tudo, sem revidar… Tava mexendo comigo. E eu não queria. Mas tava. Ele me olhou, com aquele olhar de prendedor. — bora, vou te levar — pra onde? — pra minha casa, cuida que eu não tenho o tempo todo pra ficar aqui não Disse ja descendo, olhei e me ajeitei, meu destino é ta com esse homem meu Deus.. Quando ele me olha descendo tira o casaco e me entrega — veste, ninguém olha pro que é meu.
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