A manhã chegou suave, banhando o quarto em uma luz quente que parecia prometer coisas boas. Joãozinho acordou melhor do que nos últimos dias. Seus olhos estavam mais claros, menos opacos pela dor e pela medicação. Foi depois do café, enquanto eu arrumava suas coisinhas na mesa de cabeceira, que ele soltou a bomba, com a inocência devastadora que só as crianças têm. — Mãe? — a palavra ainda era nova, e cada vez que ele dizia, meu coração dava um salto de alegria e susto. — Já posso ir pra casa? Só um dia? Para ver meu quarto... e o jardim... Ele falou "casa" com uma naturalidade que me cortou a respiração. Ele não disse "a casa do tio Murilo". Era casa. Nossa casa. Meu olhar instantaneamente voou para Murilo, que estava parado perto da janela, observando a rua com seus olhos vigilantes.

