A noite havia caído quando finalmente consegui escapar do morro. O cheiro de sangue e mentira ainda grudava em mim, um fantasma que eu não conseguia sacudir. Subi as escadas do hospital sentindo o peso de cada vida que eu tinha arruinado, de cada promessa quebrada. A porta do quarto 402 estava entreaberta. Um filete de luz fraca saía de dentro, iluminando o corredor silencioso. Parei na soleira, meu corpo ainda tenso da violência, minha mente um turbilhão. E então eu os vi. Bárbara estava na poltrona ao lado da cama, mas não estava sentada. Ela se inclinara para frente, a cabeça repousada na cama, ao lado de João, sua mão envolvendo a dele. Os dois dormiam. A respiração dela era um sussurro calmo, a dele, um pouco mais ofegante, mas regular. Era um quadro de uma paz tão brutal que doía

