O sol da tarde entrava quente pela janela da sala, iluminando os fios de poeira que dançavam no ar. No chão, Joãozinho montava e desmontava o mesmo castelo de Lego, suas mãozinhas ágeis mas sua atenção instável. Eu fingia estudar para minha prova de direito civil no notebook, mas minha verdadeira aula estava acontecendo aqui, naquele carpete. Há duas horas ele brincava sozinho. Não que eu não tivesse tentado. Ofereci ajuda, sugestões, companhia. Mas ele apenas balançava a cabeça, com aquela seriedade precoce que crianças desenvolvem quando aprendem cedo demais que não podem depender de ninguém. "Tô bem, tia Bárbara. Pode estudar." Tia Bárbara. O título doía um pouco, mas eu entendia. Eu era só mais uma adulta em sua vida instável. Mas então Murilo entrou na sala. Não disse nada. Apen

