A viagem de volta foi silenciosa, tensa. O carro subia o morro devagar, os faróis iluminando a estrada de terra e o som distante dos cachorros latindo se misturava ao barulho do motor. Eu olhava pela janela, sem realmente enxergar nada. Minha cabeça ainda girava com as imagens do meu apartamento destruído: as gavetas abertas, as roupas espalhadas, o cheiro estranho de invasão. Quando o carro parou em frente à casa, Coringa deu um último trago no cigarro e soltou um suspiro cansado. — Chegamos. — Disse baixo, me lançando um olhar rápido. — Ele já tá te esperando. Aquilo bastou pra meu estômago revirar. Desci do carro, o vento frio batendo no meu rosto, e subi os poucos degraus até a varanda. Murilo estava ali, encostado no batente da porta, de braços cruzados. A expressão dele não era a

