Colegas De Trabalho

1572 Palavras
Callie  A dias eu não apareço na escola devido aos hematomas do meu rosto ou se quer coloco o pé para fora do meu apartamento, nem para comprar um pãozinho na esquina. Em meu quarto com porta e janelas fechadas na total escuridão eu me sinto em cárcere privado, refém das escolhas de outra pessoa... Mas não é essa a realidade? Não é essa a minha realidade? Enfim chegou segunda-feira e eu teria que sair, não poderia perder meu primeiro dia de trabalho. Me levantei da cama não conseguindo conter algumas caretas de dor por estar mais moída que carne moída. Vesti uma calça jeans de lavagem escura e um suéter preto acompanhado dos meus amigos inseparáveis: Meu par de all star surrados. Caminhei até o banheiro dando-me uma boa olhada no meu reflexo, meu olho já não estava tão roxo quanto nos últimos dias, mas ainda assim não estava lá essas coisas, meu lábio cortado e o hematoma na minha bochecha deviam ser os menos piores. Abrindo uma das gavetas peguei base e ** começando a rebocar toda a minha cara, mesmo com vontade de chorar de dor toda vez que tocava a minha pele com o pincel. Deixei meu cabelo totalmente solto, coloquei meus óculos e por fim passei um batom rosado em meus lábios. Respirando fundo sorri olhando o reflexo no espelho, não parecia mais a garota que estava aqui a meia hora atrás, duvido que alguém se quer desconfiaria que essa casca sorridente fosse totalmente falsa. Antes de sair tomei um analgésico, peguei a minha bolsa e só então sai do apartamento me deparando com a luz do dia depois de muito tempo, havia até esquecido o quão bom era sentir o sol batendo contra a minha pele absorvendo um pouco de vitaminas, mesmo que o dia não estivesse lá muito quente, apenas alguns raios solares atravessando as densas nuvens que tentavam o cobrir. Quando cheguei a loja de ferragens pude ver Carl conversando com alguém, provavelmente o outro jovem que ele disse que havia contratado, não conseguia vê-lo direito já que Carl estava na frente, mas assim que ele se afastou um pouco meu corpo paralisou-se totalmente ao ver Peter ali. —Callie! — Carl veio em minha direção com Peter ao seu lado me olhando tão assustado e surpreso quanto eu. — Esse aqui é o Peter, ele vai te ajudar a cuidar da loja. —J-Já nos conhecemos. — Até a minha voz tremia de surpresa. —É, estudamos juntos... — Peter parecia analisar cada centímetro do meu rosto o que estava começando a me deixar incrivelmente desconfortável. —Querida, o que houve com o seu rosto? — Carl me olhava assustado o que não tava ajudando. —Ah foi só um acidente, cai da escada... — Respondi tentando passar o máximo de credibilidade que eu podia. —Foi uma queda e tanto... — Peter cruzou os braços, parecia não acreditar na minha desculpa. —Eu sou muito desastrada. — Disse o olhando totalmente seria. —Então acho melhor o Peter ficar encarregado de guardar os produtos nos lugares altos. Não quero acidentes por aqui... Venham, vou explicar o trabalho pra vocês... Carl nos mostrou toda loja explicando o que cada um devia fazer, o que era basicamente repor sempre os produtos, colocar preço, conferir estoque e as vezes, quando ele não estiver, revezar no caixa. Ele era um senhorzinho bem legal, o que sinceramente era impressionante pra mim. Carl deu um avental para cada um de nós e pediu que arrumássemos alguns produtos do corredor 3. O silêncio entre nós estava um tanto quanto constrangedor, mas eu ainda acreditava que evitá-lo ou ao menos evitar falar seria melhor para ambos. —Faz dias que não te vejo... — Disse colocando o preço em algumas embalagens de fita lacre. Aparentemente ele pensava diferente de mim... —Pois é... Eu caí da escada então precisei me recuperar em casa. — Eu conseguia soar totalmente sincera. —Foi assim que cortou o lábio? — Perguntou me olhando. —Foi... Peter, sem querer ser rude, mas não é educado encarar ou fazer perguntas. — Respondi sem olhar para ele. — Eu vou dar uma olhada no outro corredor... —Callie, espera. — Ele me segurou impedindo que eu continuasse. — Ta tudo bem mesmo? Sabe que pode confiar em mim... —Por que saberia? Eu m*l te conheço... — Puxei o meu soltando-me e caminhando para o outro corredor. Eu sei que as intenções do Peter são as melhores possíveis, mas ainda sim, não acho que ele deva se meter em toda essa m***a que é a minha vida... Depois disse ele não veio mais falar comigo sobre os meus hematomas ou fazendo alguma pergunta impertinente como estava fazendo antes, na verdade passamos o resto do dia mais afastados, o que devido às atuais circunstâncias acabava sendo algo bom. Quando chegou ao fim do meu expediente apenas me despedi de Carl e fui em direção ao ponto de ônibus, eu ainda precisava chegar em casa antes do Charlie, a última coisa que eu queria agora era encrenca. —Callie! — Ouvi Peter me chamando. Merda... Lá se vai a minha chance de ir pra casa tranquilamente, sem encrenca e fingindo que nada aconteceu. —Oi Peter. — Tentei sorrir o mais gentil possível enquanto o moreno se sentava ao meu lado. —Se saímos ao mesmo tempo e literalmente moramos um ao lado do outro, por que voltarmos sozinhos?! — Ele parecia um pouco mais confiante do que da última vez que trocamos mais que uma dúzia de palavras... Me pergunto o porquê... —Tudo bem... — Respondi por fim me vendo sem opções, eu não queria ser rude com ele de novo. — Olha, desculpa se eu fui rude com você hoje mais cedo... —Tudo bem... Realmente não é da minha conta e você não me conhece direito... —É, mas você parece ser um cara legal e não igual aos idiotas da nossa escola... — Disse colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. Ele não disse nada, apenas me deu um sorriso gentil e com certeza um dos mais fofos que eu já vi em toda a minha vida, mas ele não precisava saber disso então apenas retribui o sorriso de uma forma discreta, voltando a olhar para a rua à espera do ônibus. Entramos juntos e acabamos sentando juntos também, o caminho foi um silencioso, eu dei mais referência a olhar a paisagem pela janela do que falar com ele. —Você gosta de Star Wars? — Perguntou Peter me surpreendendo. —Gosto... — Respondi o olhando com uma sobrancelha arqueada. — Que assunto aleatório. —Não foi tão aleatório, perguntar se você gosta de mortadela é aleatório. — Disse fazendo ambos rirem. — Agora Star Wars é uma pesquisa antropológica. —Típico nerd que gosta de Star Wars... Você é quase um clichê ambulante Peter.... —Como assim? — Perguntou me olhando com o cenho franzido. —O nerd bonitinho, mas tímido, apaixonado pela popular que é a Liz, com um amigo tão nerd quanto ele, que é o Ned, e que curte Star Wars... Clichezão. —Olha, já me chamaram de muita coisa, mas de clichê é a primeira vez. — Disse fazendo ambos rirem novamente. Eu estava começando a gostar de passar tempo com ele, ele conseguia me fazer rir. — Mas porque acha que eu gosto da Liz? —Pela carinha de cachorro sem dono que você faz toda vez que ela passa, é tipo assim... — Tentei imitá-lo fazendo uma cara toda boba, mas ele só me olhou tentando não rir alto. — Não ri não que eu fiz igualzinho! —Eu não faço essa cara. Na verdade, não sabia nem que era fisicamente possível fazer essa cara! — Ele sorria enquanto dizia essas coisas olhando-me nos olhos. —Faz sim Peter, é que você não percebe, mas faz... Mas a Liz parece legal então ao menos isso... — Disse olhando em direção aos meus pés. Um silêncio se fez presente entre nós novamente, mas dessa vez ambos olhávamos em direção ao chão. Nossas mãos estavam sobre o acento do ônibus, mas senti sua mão se aproximando da minha lentamente até se encostarem, foi então que eu senti o seu mindinho começar a acariciar as costas da minha mão até estar sobre a minha. O seu toque me causava algo que eu não conseguiria explicar nem se eu quisesse... Era uma sensação única e um tanto indescritível, surpreendente e sútil... Desviando o olhar de nossas mãos amontoadas como uma pilha de panquecas olhei para ele um pouco confusa, suas bochechas estavam coradas e ele apenas apertou seus lábios em um sorriso um tanto sem jeito, eu tentei conter o meu, mas foi totalmente inevitável, quando dei por mim já havia dado o sorriso mais bobo que alguém poderia dar... Não demorou muito para chegarmos em casa, paramos em frente ao beco que dividia nossos prédios ficando um de frente para o outro. —Quando você volta pra escola? — Perguntou um pouco sem jeito. —Talvez amanhã... — Respondi mais sem jeito ainda. Mas conseguindo fazê-lo sorrir, talvez involuntariamente. —Ok... Então... —Tchau Peter. — Sorri me aproximando um pouco dele e depositando um beijo em sua bochecha quente e corada. —Tchau Callie... — O ouvi sussurrar enquanto eu me afastava em direção ao meu apartamento.
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR