Peter
Estou sentado no meu quarto fazendo alguns ajustes no lança corda, sem querer acabei disparando uma corda na janela.
—Droga... -Sussurrei
Me levantei e fui até a janela, enquanto tirava a corda grudada no vidro dela vi a Callie sentada em sua janela, estava escuro, mas percebi que ela estava chorando.
—Você não vai pular, vai? -Perguntei abrindo a janela, eu não conseguia ver seu rosto já que ela estava de cabeça baixa.
—Não... -Respondeu com voz rouca devido as lágrimas.
—O que houve?
—Nada...
—Se não fosse nada você não estaria chorando sentada no batente da janela não é?
—Talvez... O que foi aquilo que bateu no vidro da sua janela?
—Nada...
—Quem está mentindo agora Sr.Davis? -Pude sentir um tom irônico na sua voz. -Melhor eu entrar... Boa noite Peter.
—Boa noite Callie... -Acenei enquanto via ela entrar e fechar sua janela.
Peguei meu lança teias e coloquei de volta no traje, me certifiquei que May estava dormindo e coloquei o traje, sai pela janela e subi até o terraço. Parecia que tudo estava calmo ao redor, dei uma volta pela cidade me balançando pelos prédios e fazendo algumas acrobacias, à noite estava realmente calma a única coisa que eu fiz foi impedir um cara de assaltar uma mulher que voltava do trabalho.
Estou no alto de um prédio observando a cidade, está começando a chover, não há uma única estrela no céu essa noite, apenas as densas nuvens de chuva indicando que essa noite seria de tempestade. Percebi uma pessoa correndo em direção a ponte de Manhattan como se estivesse fugindo de alguém, ela está mancando e usando um moletom com capuz então não consegui ver seu rosto. A segui por entre os prédios até a ponte onde ela simplesmente passou pela grade de p******o e sentou-se em uma das vigas da ponte.
"Mas o que essa pessoa está fazendo?" -É a pergunta que paira a minha cabeça enquanto observava a pessoa do alto da ponte.
De repente ela ficou em pé, segurando apenas em uma das molhadas vigas de sustentação, parecia que estava se preparando para pular...
—Ei ei amigão! -Disse pulando onde a pessoa estava, acabei assustando-a fazendo com que ela segurasse mais forte na viga. A manga do seu moletom desceu um pouco deixando seu pulso à mostra, percebi algumas cicatrizes e alguns cortes no mesmo. -Desculpe não queria te assustar.
—Vai embora! -Sua voz estava rouca e falhada, mas parecia extremamente familiar.
—Eu vou, se você vier comigo...
—Me deixa em paz! - Gritou ameaçando pular.
—Calma! Calma... Qual o seu nome? -Perguntei me aproximando.
A pessoa apenas ficou em silêncio olhando para baixo encarando as fortes ondas que se chocavam contra as pedras.
_Tudo bem não precisa dizer... Quer conversar?
—Você não devia estar pulando por aí salvando as pessoas? -Podia sentir o sarcasmo em cada palavra.
—Eu estou tentando salvar uma. -Me aproximei um pouco mais.
—Quer dizer... Alguém que queira ser salva.
—Por que você quer pular PNPNI?
—PNPNI?
—É, Pessoa Na Ponte Não Identificada.
—Acho que você definiu a palavra "anônima". -Disse deixando escapar uma tímida risada extremamente familiar.
—Talvez... -Me aproximei mais, agora estava praticamente ao seu lado. -Pode ao menos tirar o capuz?
Devagar ela soltou uma das mãos da viga e abaixou lentamente o capuz... A primeira coisa que pude ver foi o seu cabelo ruivo sendo totalmente bagunçado pelo forte vento que soprava, mas quando ela levantou a cabeça e olhou pra mim foi como se eu tivesse levado um soco no estômago e todo ar fosse retirado dos meus pulmões, era a Callie! E pior ainda ela estava machucada, seu olho estava roxo, havia um grande hematoma roxo no lado esquerdo do seu rosto e seu lábio estava cortado e sangrando, mesmo com a chuva molhando seu rosto podia ver claramente que ela estava chorando, pois seus olhos estavam vermelhos e inchados.
—O que foi? Não sou tão bonita quanto você achou que eu fosse? -Perguntou com sarcasmo, provavelmente minha cara de espanto dava para ser vista até pela máscara.
—N-não é isso... O que houve com você?
—Bati num poste...
—Quantas vezes? O poste não deve nem estar mais em pé!
Ela riu acompanhada de um gemido de dor devido aos hematomas.
—Quer conversar?
—Por que iria querer conversar com um estranho em uma roupa apertadinha?
—Porque você pode me contar qualquer coisa com a certeza de que estará segura...
Ela apertou os lábios fazendo uma careta pela dor, mas parecia estar considerando minha proposta. Não demorou muito para olhar pra mim e assentir.
—Certo... Mas vamos sair daqui primeiro... Me da sua mão!
Estiquei a mão para ela, que fez o mesmo para mim, mas quando soltou a viga e deu um passo em minha direção acabou escorregando e caindo, rapidamente prendi uma teia na viga de metal e me joguei segurando-a pela cintura. Callie estava tremendo e não demorou a envolver seus braços em meu pescoço segurando-se com força a mim.
—Te peguei!
—Nossa... Isso foi... Incrível! Vamos de novo?
—Você é doida. -Disse deixando uma leve risada escapar.
Joguei uma outra teia no alto da ponte e fui me balançando com Callie no colo até o alto de um prédio, com uma pequena cobertura de lona azul, nos sentamos embaixo dela para nos proteger da forte chuva que começava a cair.
—Então... Pode me contar o que houve agora?
—Meu padrasto... -Ela mexia nas mangas do moletom enquanto falava. -Eu fui fazer um trabalho na casa de um amigo, e meio que perdi a noção da hora, acabei chegando meio tarde em casa... Ele estava bêbado e ficou muito bravo e... Bom, da pra ver o que aconteceu...
Eu estava completamente horrorizado por baixo da máscara, sentia meu sangue ferver ao pensar que um homem feito teria a espancado daquele jeito só por ela ter se atrasado... Será que a culpa era minha...?
—Você tem que denunciar ele! - Disse sem pensar duas vezes.
—Acha que eu nunca tentei isso? Se eu denunciar ele provavelmente mataria eu e a minha mãe antes de ser preso... A única coisa que eu posso fazer é "andar na linha" e tentar ignorar...
—Isso não está certo... Não é justo...
—O mundo não é um lugar justo Justiceiro, sei que você assim como todos os outros heróis querem tornar esse lugar um lugar melhor, mas desculpe, não vão conseguir porque vivemos em um mundo c***l e perverso onde coisas ruins acontecem e não podemos fazer nada para evitar... E peço que não se envolva nisso... Só iria piorar as coisas...
—Mas...
—Por favor... -Callie me olhava com os olhos marejados com um olhar desesperado e bravos ao mesmo tempo, ela tinha medo... Podia ver isso...
—Tudo bem... -Essas palavras pesaram toneladas ao sair da minha boca.
—Obrigado Homem-Aranha... Por me escutar...
—Por nada...
A chuva começava a cessar, ao contrário do meu choque ao saber tudo aquilo...
—Eu acho melhor voltar antes que alguém perceba que eu saí... -Ela se levantou colocando o capuz.
—Eu te levo.
_Não precisa, não moro longe daqui... Só quero ajuda pra descer.
Apenas assenti e a segurei pela cintura, pulei do prédio a segurando com uma teia presa no prédio.
—Valeu... -Disse ao chegarmos no chão.
Ela se aproximou do meu rosto e por um momento achei que fosse tirar a minha máscara então me esquivei.
—Calma... Não vou tirar, só quero te agradecer... -Callie aproximou-se novamente e deu um suave beijo no canto da minha boca por cima da máscara.
Por mais que ela não pudesse ver, eu estava com um enorme sorriso no rosto enquanto via ela se afastando.
—A propósito... -Gritou a uma certa distância de mim. -O meu nome é Callie!
Ela deu as costas e foi embora em direção a casa dela. Fui jogando e me balançando nas minhas teias até em casa entrando sorrateiramente pela janela totalmente encharcado, precisaria colocá-lo na secadora quando a May saísse, tirei o uniforme e o escondi em uma escotilha secreta no teto, vesti meu pijama e me joguei na cama totalmente exausto secando meu cabelo com uma toalha.
A única coisa que eu conseguia pensar era no rosto totalmente machucado da Callie, como alguém pode fazer isso? O próprio padrasto... Eu não sei como posso ajudá-la sem piorar as coisas, mas eu preciso pensar em algo, as coisas não podem ficar assim!