A Chave da Jaula

1282 Palavras
Eu tava sentada na beirada daquela cama redonda, olhando pro Shark dormir feito um anjo do m*l. A respiração dele pesada, o peito subindo e descendo devagar, a cara relaxada… mano, parecia até gente normal. Quem olhasse de longe nunca ia imaginar que aquele cara era o mesmo que me arrancou da minha casa, me jogou num carro e me trouxe pra essa jaula dourada. Ali deitado, sem aquela cara de matador, ele parecia quase… bonito. Quase humano. E isso me dava raiva pra c*****o, porque eu não queria achar nada bonito nele. Mas naquela hora meu coração tava batendo por outro motivo: era minha chance. Ele tava apagado, roncando baixinho, e se eu fosse esperta, talvez conseguisse dar o fora dali. Levantei devagarinho, pé no chão gelado que me fez arrepiar inteira, mas nem liguei. Andei na ponta dos pés até a porta, girei a maçaneta… óbvio que tava trancada, sua filha da p**a. Olhei pra trás, ele nem se mexeu. O quarto tava na penumbra, só a luz azulada da TV piscando no teto. Voltei devagar, coração na boca, e fui até a mesinha do lado da cama dele. Se a chave tava em algum lugar, só podia ser ali. Abri a gaveta bem devagarzinho, rezando pra não fazer barulho. E o que eu vi? Um tubo de lubrificante e um monte de camisinha de tudo quanto é sabor. Morango, menta, chocolate… c*****o, que safado do c*****o. Quase soltei um “tsc” alto, mas me segurei. Nada de chave. p***a. Olhei pra ele de novo. Ele tinha virado de costas, o braço em cima da barriga, e aí eu vi: um cordão de ouro brilhando no pescoço dele. Três chavinhas pequenininhas penduradas. Era isso. Era a minha saída. Engoli seco. Meu coração tava tão acelerado que parecia que ia explodir. Me aproximei mais, ajoelhei do lado da cama, o cheiro dele já me invadindo de novo. Aquele perfume amadeirado, quente, que gruda na pele. Estiquei a mão tremendo, os dedos quase tocando o cordão. Parei um segundo, prendi a respiração. Nada. Ele não se mexeu. Tentei de novo. Toquei o metal frio, comecei a puxar devagar, devagar… só mais um pouquinho… De repente ele se mexeu. Eu congelei. Parei de respirar. Ele deu um suspiro alto, virou o rosto pro outro lado, mas não acordou. Meu Deus do céu, quase mijei nas calças. Voltei a puxar, bem devagar… aí o cordão enroscou no meu dedo e deu um puxãozinho sem querer. Ele abriu os olhos na hora. — Que que tu tá fazendo aí, Beatriz? A voz dele saiu grossa, rouca de sono, mas já com aquele tom que faz a gente gelar. Tentei correr pra trás, mas ele foi mais rápido que o raio. Agarrou meu pulso com uma mão e me puxou pra cima dele. Num segundo eu tava deitada em cima do peito dele, as duas mãos presas nas dele, sem chance de escapar. — Eu perguntei que que tu tá fazendo — repetiu, com um sorrisinho de canto de boca que me deu vontade de socar. — Eu… eu só… — gaguejei, a cabeça a mil, sem saber o que inventar. Ele me encarou uns segundos, aqueles olhos pretos brilhando na penumbra. Aí soltou uma risada baixa, grave, que fez minha pele inteira arrepiar. — Tentando fugir, né, sua danadinha? — apertou um pouco mais meus pulsos — Tu é mais corajosa do que eu imaginava, c*****o. Tentei puxar os braços, esperneei, mas quanto mais eu me mexia, mais eu caía em cima dele. Nossos rostos ficaram a centímetros, o cheiro dele me enchendo o pulmão, o calor do corpo dele queimando o meu. Eu senti meu rosto pegar fogo. — Me solta, p***a — falei, tentando soar firme, mas a voz saiu tremendo. Ele não respondeu. Só ficou me olhando, me estudando como se eu fosse um bicho exótico. Aí falou baixinho, quase no meu ouvido: — Tu sabia que ia me acordar, né? — Claro que não, seu doido! — Sabia sim — a voz dele desceu mais ainda, rouca pra c*****o — Porque se não soubesse, não tava tremendo desse jeito agora. Abri a boca pra xingar, mas ele foi mais rápido. Soltou um dos meus pulsos e deslizou a mão livre até minha cintura. O toque foi firme, quente, me segurando ali como se eu fosse dele. Meu corpo inteiro reagiu, um arrepio subiu pela espinha. — Sabe o que acontece com quem tenta fugir daqui? — perguntou, o rosto tão perto que eu sentia o hálito dele. Balancei a cabeça, tentando me afastar, mas ele me segurava firme. — Acho que tu quer saber, Beatriz — continuou, com aquele tom de deboche que me dava nos nervos. Eu não sabia o que falar. O silêncio pesava, o ar parecia grosso demais. Aí ele fez o que eu menos esperava: soltou meus pulsos de vez, mas deixou a mão na minha cintura. — Vai, foge — falou, como se fosse um desafio do c*****o. Pisquei, sem entender nada. — Como assim? — Eu disse pra fugir. A chave tá aqui — apontou pro cordão no pescoço — Só pegar, vai. Fiquei olhando pra ele, tentando descobrir se era armadilha ou se ele tava louco de vez. — Não tá brincando não? Ele deu aquele sorriso lento, perigoso, cheio de segunda intenção. — Talvez sim. Talvez não. Fiquei parada, tentando ler aquele olhar. Ele parecia estar se divertindo pra c*****o com a minha cara. Como se cada segundo daquela merda fosse um jogo pra ele. — Tu é insuportável, sabia? — murmurei, desviando o olhar. Ele riu de novo, aquele riso grave que reverberava no peito dele e no meu. — E tu é ousada pra c*****o. Eu gosto disso, Beatriz. Fechei os olhos um segundo, tentando botar a cabeça no lugar. Raiva, medo, confusão… e um troço que eu não queria nem pensar, tudo misturado. Ele ainda segurava minha cintura, e quanto mais o tempo passava, mais a gente ficava colado. Peito no peito, perna na perna, calor misturado. Ele me puxou mais um pouquinho, até não sobrar nem espaço pra respirar. — Tu não vai fugir — falou, agora quase carinhoso, mas ainda com aquele peso de quem manda — E sabe por quê? Eu não respondi. — Porque eu não vou deixar. Senti as lágrimas querendo voltar, mas engoli seco. Não ia dar esse gostinho pra ele. — Então me mata logo, p***a — soltei, voz embargada. O sorriso sumiu do rosto dele na hora. Ele levantou a mão, segurou meu queixo com firmeza e me fez olhar direto naqueles olhos pretos. — Porque tu vale mais viva, lembra? Fiquei quieta. Ele tinha razão, e eu odiava isso. Eu tava totalmente na mão dele, e não tinha pra onde correr. Ele chegou mais perto, o nariz quase encostando no meu, e sussurrou no meu ouvido: — A chave da tua liberdade tá aqui, Beatriz. Mas tu nunca vai ter coragem de usar. Depois disso ele me soltou de vez. Se afastou, deitou de novo como se nada tivesse acontecido, mas o sorriso de canto de boca ainda tava lá, dizendo que ele tinha ganhado mais uma. Eu me joguei no canto da cama, o corpo tremendo inteiro, a cabeça girando. Ele pode ter ganhado essa rodada, mas eu não ia desistir nunca, irmão. Nunca. Porque uma hora eu ia pegar essa chave. Uma hora eu ia dar o fora dessa jaula. Mesmo que, lá no fundo, uma parte de mim já estivesse começando a se perguntar se eu realmente queria ir embora. E isso me apavorava mais que tudo. ADICIONE NA BIBLIOTECA COMENTE VOTE NO BILHETE LUNAR INSTA: @crisfer_autora
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