7:00 em ponto da manhã. Foi a hora que meu celular tocou. Até a hora que a tal Samantha desligou o telefone eu não consegui pregar os olhos. Estava ansiosa demais. Talvez não desse em nada mas estava esperançosa.
Levantei da cama e fui tomar um banho pra tirar a cara amassada. Assim que sai do meu banho, vesti uma calça jeans escura, uma camiseta preta de listras, calcei um tênis e vesti um casaco pois estava frio. Fui pra cozinha e preparei ovos mexidos e café turco, típico do país da minha mãe. A grande diferença desse café para os demais é que a água é fervida com o café, que, por sua vez, não é filtrado.
Liguei a TV e estava passando um desenho que eu amava assistir quando criança.
- Sally? Filha o que você está fazendo acordada uma hora dessas? - Minha mãe aparece me dando um susto. Ela olha para o relógio da parede e me olha de volta.
- Eu tenho uma entrevista 10:30. - Falo dando um gole no meu café.
- Tá mas você já viu que horas são?
- Sim, eu não consegui dormir mais. Fiz café turco e ovos mexidos.
- Só você mesmo querida. - Ela ri.
As horas passaram voando, assim que deu 10:00 horas eu já saí de casa. Não estava animada só por uma questão. Eu iria encontrá-la na lanchonete do Hob's.
Mandei uma mensagem para Miguel dizendo que a mulher que ele me falou ontem havia me ligado marcando uma entrevista para hoje no Hob's. Ele respondeu super animado e me desejando 'boa sorte'.
Assim que adentrei o lugar, o sininho da porta tocou, mostrando uma cara surpresa do dono da lanchonete.
- O que tá fazendo aqui? esqueceu que foi demitida? - Pergunta colocando o pano que estava limpando o balcão em cima do ombro.
- Eu não esqueci, Graças a Deus! - levanto as mãos pra cima. - Mas já que quer saber, eu vim encontrar alguém aqui, infelizmente. - Dou um sorrisinho e saio olhando pro local, tentando encontrar a tal Samantha.
Vejo uma mulher de cabelos vermelhos escuro, com um blazer preto, blusa social por baixo e óculos de grau que estava sentada em uma das mesas.
- Olá. Samantha? - pergunto.
- Isso mesmo. Você seria a Saline?
- Sim, sou eu. - dou um sorriso.
- Por favor sente-se.
Me sentei na cadeira a sua frente. Ela era uma mulher jovem, tinha uns 30 e poucos anos. Era bastante bonita.
- Bom, somos uma empresa muito séria e sempre ajudamos pessoas que querem trabalhar fora do país, assim realizando seus sonhos. Temos anos de experiência e somos bastante competente em relação a isso. Você já ouviu falar da nossa empresa?
- Não, na verdade eu nunca ouvi falar sobre isso. Meu amigo que me inscreveu, eu não sei do que se trata a vaga na verdade.
- Bom, não é bem uma vaga e sim trabalho voluntário mas com recebimento. Mas a sua inscrita foi em moda, certo?
- É...eu não sei.
- Ok. Vamos ao principal. Como disse, somos bastante sérios e não gostamos que espalhem sobre o que exatamente se trata, apenas damos detalhes para aqueles que se inscrevem na nossa empresa. Você irá trabalhar em um país totalmente diferente do que está acostumada e irá ganhar uma bolsa integral para aprender a língua local. O ganho será em euros e por horas trabalhadas. - ela dá uma suspirada, aliviada por ter lembrado de tudo. - Isso te ajudaria?
- Nossa, com certeza. Quantos euros seriam?
- No caso seriam 600 euros.
Cai de cara no chão.
Eu nunca pensei em receber euros um dia na minha vida e nunca pensei em ter tanto dinheiro assim trabalhando em tempo integral.
Isso seria uma ótima oportunidade. Com certeza seria.
Eu precisava agradecer Miguel eternamente por isso.
- Saline, está tudo bem? Eu sei que esse dinheiro não é muito mas acho que seria uma ótima oportunidade pra mudar de vida.
- Sim, com certeza. - ainda estava em choque.
- Olá senhoritas, gostariam de algo para beber ou comer? - Miguel aparece na nossa mesa. Dou um sorrisinho feliz a ele.
- Não obrigada gatinho. - Samantha fala dando uma piscadela. - Enfim, eu gostaria de ouvir, aceita ou não aceita? Não pode voltar atrás.
- Eu não sei...isso é novo pra mim e eu não conheço nada além de Nova Orleans, tenho minha mãe e meu irmãozinho, não sei se consigo deixar eles em outro país. - Sendo sincera, eu estava morrendo de medo disso.
- Eu sei que isso é demais pra você, mas cá entre nós, você tem um sonho certo?
- Sim.
- E para seu sonho se tornar realidade precisamos fazer sacrifícios e um deles é deixar esse seu medo de lado, e te garanto que irá gostar, você vai aprender fácil e não vai querer voltar mais. - Ela dá um sorriso de lado convencida. - Assim como eu.
Olho pro lado e vejo Miguel nos observando enquanto conversamos. Ele faz um movimento para eu aceitar a proposta como se estivesse escutando tudo que falamos.
Suspiro.
- Eu aceito!
- Aaaaaaah que ótimo querida. Não vai se arrepender. - Ela grita animada.
Ela tira um papel da pasta e me entrega. Estava cheio de pequenas palavras e não me dei ao trabalho de ler, olhei para Miguel que tinha um sorriso nos lábios e para Samantha que estava com os olhos arregalados esperando que eu o assinasse e assim fiz, acabei assinando o papel com o meu nome. Saline Willis.
- Perfeito! Tenha um ótimo dia. - Ela pega suas coisas e sai fazendo o sininho tocar.
- Eu não acredito que assinou Sally, fico feliz que te ajudei com um grande passo da sua vida. - Miguel se senta no lugar em que Samantha estava.
- Saiba que irá tomar conta da minha mãe e do meu irmãozinho enquanto não estiver aqui.
- Pode deixar. - rimos.
- Só não sei como vou contar pra minha mãe, eu acho que ela irá ficar triste e com medo por mim. - digo preocupada.
Talvez ela faça eu pedir pra rasgar o contrato ou talvez não. Na verdade eu não sabia como funcionava a cabeça da minha mãe. Ela mudava de humor muito rápido.
- Eu te acompanho e te ajudo com isso.
- Obrigada de verdade Miguel, eu não sei o que seria sem a sua ajuda. - Pego em sua mão em cima da mesa e ele dá um sorriso.
[...]
- Eu acho que vou ter um infarto.
Miguel a segura pelo braço colocando a no sofá.
- Mãe, eu não quero te deixar assim. Você sabe como é importante pra mim trabalhar com o que eu gosto.
- Mas não em outro país que você m*l conhece Saline. Você é a minha garotinha e eu não quero que nada de r**m te aconteça.
- Isso vai nos ajudar bastante mãe. 600 euros por mês dá pra gente viver melhor que isso. E eu não quero ser um fardo pra você.
- Você não é um fardo pra mim, filha. Não diga isso. - ela fala ainda com a mão no peito parecendo querer desmaiar a qualquer momento.
- Não querendo me intrometer dona Silvia, mas acho que isso vai ajudar bastante a Sally, isso é uma grande oportunidade pra ela.
- Eu não sei filho, eu não tenho um bom pressentimento sobre isso.
- Mãe até parece que algo de r**m vai acontecer comigo.
- Eu tenho medo por você. Você é minha única filha e eu não suportaria perder você.
- Não vai acontecer nada, eu sou inteligente e se algo acontecer comigo eu irei voltar, não se preocupe. Não vou deixar de ligar sequer um dia e dizer o quanto está sendo maravilhoso. - digo dando um cheiro nela.
- Eu confio em você. - ela fala me dando um abraço apertado. - E quando você vai?
- Eu ainda preciso tirar meu visto, mas assim que o fizer já estarei voando para lá.
- Eu tenho a filha mais corajosa e linda do mundo. - ela fala animada me beijando.
- Eu concordo. - Miguel me encara e eu dou um sorriso envergonhada.
[...]
A semana foi bastante corrida. Samantha estava muito apressada em arrumar o visto rápido para viajar antes do próximo mês. Perguntei se havia mais pessoas para ir junto e ela disse que tinha garotas do mundo todo. Fiquei animada. Iria conhecer muitas pessoas de culturas diferentes e isso era bom. Teria bastante ideias para meus próximos vestidos.
No banco de trás do carro peguei meu caderninho de ideias e comecei a desenhar um vestido de seda lindo, um dia aquele vestido iria virar realidade. Assim coloquei em mente, tudo que queria fazer para se tornar real eu precisava ter pensamentos positivos.
- Uau você é boa. - Samantha elogia levantando seus óculos de sol.
- Obrigada. - dou um sorriso.
Enquanto olhava pela janela fiquei me imaginando usando aquele vestido em um lugar super chique mas fui despertada pela Samantha que me cutucou.
- Sabe do horário. Venho te buscar uma hora antes do vôo.
- Ok.
Saio do carro e dou um aceno que foi ignorado com sucesso. Suspiro. Abro meu portão e entro em casa. Quando adentro vejo Miguel sentado no sofá conversando com minha mãe sobre algo. Eles haviam virado grandes amigos.
- Oi. - jogo minha bolsa no sofá.
- Como foi? - Miguel pergunta.
- Fiz brownie filha, o seu favorito.
- Obrigada mãe. Bom, foi bom. Só estou cansada de andar pra lá e pra cá. Irei tomar banho e já volto.
- Vai lá filha.
Termino o meu banho quente e desço depois que vesti um vestidinho verde florido.
- Filha eu tenho rezado todos os dias por você e para que a sua viagem ocorra de forma segura.
- Obrigada mãezinha. Eu te amo muito por isso. - dou lhe um beijo.
- Eu acho lindo a relação de vocês. - Miguel comenta.
- Você não tem uma boa relação com seus pais? - pergunto em dúvida.
- Não exatamente. Meus pais morreram eu ainda sendo muito novo, tenho apenas meu irmão mais velho.
- E onde está ele? - minha mãe pergunta.
- Ele cuida das coisas da família.
Ele parecia triste em relação a isso, parecia querer estar junto de seu irmão, não sabia a verdadeira história da sua vida então apenas concordei.
Passamos a tarde e a noite conversando muito, meu irmão estava bastante animado hoje pela companhia de Miguel já que o mesmo gostava muito de jogar tabuleiro.
- Esse garoto é de ouro Sally. Vocês dariam um ótimo casal. Sei do que estou falando. - minha mãe aparece se sentando no sofá ao meu lado.
- Mãe agora não, você sabe que daqui uns dias eu vou pra outro país.
- E isso não seria um motivo pra ficar?
- Não posso. Você sabe, eu preciso conhecer novos lugares. - o olho, Miguel estava fazendo cócegas em Simon que gargalhava muito. - Somos amigos, só isso.
- Você deveria dar uma chance. Além disso, ele é muito bonito.
- Mãeee!
- Não está mais aqui quem falou. - ela se levanta e leva as louças suja para a cozinha.
- Eu preciso ir embora. Já está tarde. - Miguel se levanta fazendo Simon fazer uma cara zangada.
- Ah não, por quê? Agora que a brincadeira estava ficando boa. - Miguel ri bagunçando seus cabelos castanhos.
- Prometo vir outro dia brincar com você.
Simon se anima.
- O dia todo?
Miguel ri.
- O dia todo!
- Okk!
Simon sobe pro seu quarto e eu dou um sorriso.
- Você sabe que agora tem que cumprir né?
- Eu sou um homem de palavra Sally.
- Não estava dizendo que não era.
- Eu gosto do seu irmão e de você. Acho que você já sabe. - ele coça a cabeça sem graça.
- Miguel...eu já te fal-
Ele me cortou silenciando meus lábios com os seus. Eu fiquei com os olhos abertos tentando entender o que estava acontecendo até ceder e corresponder o beijo.
Sentia meu coração palpitar alto e me entreguei ao seu abraço apertado. O beijo estava bom mas precisava dar um fim se não poderia parar em outra situação.
Ficamos abraçados e tentando controlar a respiração.
- Eu não sei se devo te deixar ir agora. - ele fala passando seus dedos pelas minhas costas fazendo carinho.
- Eu acho que essa decisão não cabe a você.
- Eu não quero te perder Sally.
- Não vai.