Encontro

3019 Palavras
O sol não havia saído, as nuvens pretas tomavam conta do céu. Não estava chovendo, porém o frio e o vento forte traziam um frio imenso. Foi mais difícil levantar da cama e levantar Jony, foi quase impossível. Com toda a ventania no lado de fora , mamãe achou melhor nos levar até o colégio. O que nos fazia sair mais tarde do que normalmente saíamos todos os dias. -Isabelle, cuidado na volta. Se essa ventania continuar, peguem um taxi e voltem para casa em segurança. – meu padrasto colocou um pequeno rolo de dinheiro junto a minha comida. – Não confio nos ônibus e nem em metrô em dias assim. Sabemos o que pode acontecer. -Certo. – minha única expressão foi pegar o dinheiro e colocar no bolso do enorme casaco que me cobria. -Ou podemos voltar com o Erik. – todos nós nos viramos para Jony. – O que foi? Ele já veio nos trazer uma vez, já trouxe a Isa outras vezes, não há problema. -Jony, por favor, cala a boca. – eu não sabia se era outros distúrbios que ele estava tendo, ou era apenas o momento no qual o irmão mais novo tinha o prazer de ferrar com sua irmã mais velha. – Termina logo com isso e sobe para pegar sua bolsa. -Filha, fale com o Erik. Se ele puder, vai nos deixar mais tranquilos. – mamãe guardava suas coisas na bolsa enquanto falava comigo. – Aliás, ele é seu namorado. Vai ter prazer em ajudar. -Ele não é meu namorado! – sai da cozinha um pouco irritada, bem, deveria. Na verdade sai com um sorriso no canto do rosto, isso era uma pista de que eles gostavam de Erik. O colégio parecia estar abandonado, não havia ninguém no pátio, nem na cantina, nem tampouco na quadra. Todos estavam dentro do prédio. Cheguei , subi as escadas e antes mesmo de dobrar o corredor para entrar na minha sala, fui parada por um corpo na minha frente. -Porquê você acha que eu tenho algum problema? E o que te faz pensar que pode falar da minha vida com a Luna? – percebi que Melissa estava no meu caminho e seus olhos azuis pareciam sair faísca. Via a irritação em seus olhos e suas emoções. -Pelo visto ela já falou com você. E você realmente está com problemas. – dei um passo para trás, eu não sabia do que ela era capaz de fazer, não ainda. – Espero que tenha falado com ela. -Falei. E disse para não se meter na minha vida, a mesma coisa que estou dizendo para você agora. Não se meta na minha vida. – ela me encarou profundamente e senti o cheiro de terra molhada. Estava chovendo. Olhei para ela e percebi que sua mão estava fechada , suas mãos vermelhas e suas veias quase apareceram. -È isso. Você pode mudar o tempo, ou tem algo relacionado a chuva. – arrumei meu cabelo, cocei meus olhos e passei por ela. – Você também foi escolhida. – a vi relaxando e se virando para me acompanhar. Olhamos para fora no mesmo tempo, a chuva havia parado. – Como você faz isso? -Não me enche! E para de se intrometer na minha vida. – Mel me empurrou e saiu desnorteada pelo corredor. Dei um pequeno sorriso, sabia que tinha conseguido muito mais do que a Luna havia tentado. Entrei na sala, passei direto do lugar onde normalmente sentaria e nem falei com meus amigos. Peguei meu celular e mandei mensagem para Luna. " O que você descobriu sobre a Melissa? – I." "Nada ainda. Ela não quer falar comigo sobre isso." "Parece que vou ter que fazer o trabalho por você. Já estou um passo a frente." "O que? O que você descobriu?" "Não posso te contar por mensagem. Depois nos falamos." Ela não respondeu, provavelmente a aula havia começado, pois a minha também estava por começar. Senti uma bola de papel voar até mim. Olhei para frente e vi Ray olhando para mim. Ela fez um gesto abrindo os braços com interrogação e apontando para meu lugar na frente dela. Mostrei a ela o celular e logo ela entendeu. Quando precisávamos falar algo importante no celular, íamos para o fundo da sala para que o professor não visse. A aula de história nacional havia começado. Não que eu estivesse prestando atenção na aula, mas percebi que dentro da história , o mito me chamou a atenção. O mito sobre os deuses. Levantei minha cabeça no mesmo instante e tentei compreender cada palavra do que ele falava.O que me chamou bastante atenção foi o fato de cada um dos Deuses comandar algum elemento da natureza. O sinal soou e percebi todos saindo da sala. Peguei minhas coisas e fui para o lugar onde normalmente me sento todos os dias. Na frente de Lucas, ao lado de Ray. -Problemas logo de manhã? – Ray sentou onde normalmente colocamos o caderno e se colocou em minha frente. -Você não sabe o tamanho dele. – suspirei e guardei o celular no bolso do meu casaco. -Isa, você está tendo muitos problemas para um começo do seu ultimo ano na escola. – Debs encostou no ombro de Lucas e cruzou os braços. -Não posso negar, talvez as coisas se resolvam.- respirei profundamente. – Ou fiquem piores. O próximo professor havia chegado, tínhamos o horário cheio até o almoço. Havia um grande barulho na cantina, com o tempo fechado e previsão de chuva, nenhum estudante estava do lado de fora. Conversas, gritarias, sorrisos, tudo estava concentrado naquela enorme sala, que parecia mais um galpão acolhendo todos em dia de chuva. Não vi nenhuma das meninas ao passar pelo longo corredor até encontrar uma mesa vazia. Sentamos. Não que eu me importasse, mas eu gostaria de saber onde estavam Luna, Alice, Melissa e Sofia. Estávamos em uma longa conversa sobre o tempo. O porque dele ter mudado de repente, se não era época de chuva. Ao nosso redor, não havia tanto barulho como na parte da frente. Perdi minha concentração quando meu celular tocou, era uma mensagem. Sem nenhum dos meus amigos perceberem, peguei o celular e a li rapidamente. " Preciso te ver. Estou te esperando atrás da quadra principal. Erik." Sorri. Ele queria me ver, eu o queria ver. E aquela era realmente a melhor hora, pois não havia alunos do lado de fora, tanto pelo frio como por ser horário de almoço. -Gente, preciso ir aqui. Talvez só volte no começo das aulas. – recolhi minha comida e comecei a ajeitar a bandeja. -E pra onde você vai? – Ray perguntou enquanto eu levantava. Abaixei junto a eles. -Vou ver o Erik. – sussurrei entre eles e soltei um sorriso irônico. Os vi sorrirem. -Essa garota é perigosa! – escutei Lucas falando enquanto me distanciava deles. Fui até onde ele me pediu. -Luna, você é a mais perto dela entre nós. Você precisa descobrir mais coisas, saber o que ela tem, como descobriu e se o Fascínio foi até ela. -Fascínio?- as três perguntaram no mesmo momento. -Sim. O cara que falou com todas nós, e que mandou vocês virem atrás de mim. -Espera, dessa parte eu não sabia. – Erik pegou em meu braço e me virou para ele. – Tem alguém te perseguindo? Tem um cara atrás de você e você não me disse nada? -Como você sabe o nome dele? Ele te procurou de novo?- Alice estava curiosa e queria saber mais. Como todos ali presente. -Calma! Ele não é tão perigoso quanto parece. Aliás, talvez ele esteja me ajudando a entender o que está nos acontecendo. Tirando os enigmas loucos que ele me diz. – a conversa tinha que encerrar, havia tocado o sinal. Tínhamos que voltar para a sala de aula. – Nos falamos depois. – vi as meninas saírem , até restar eu e o Erik. –Você ter ajudado elas, foi golpe sujo. -E você se encontrar com esse cara ai também. – Erik parecia irritado, com ciúmes eu diria. -Eu não fui me encontrar com ninguém. – respondi alterando a voz, porém suspirei e pensei. –Erik, ele sabe onde eu moro, não posso o impedir de aparecer por que eu não sei como ele aparece. – cheguei junto dele e peguei sua mão. – Isso está sendo bem difícil, para todas nós. -É, não posso te culpar por nada. Me desculpe. – ele me abraçou fortemente e logo depois me beijou. – È melhor você ir, não queremos problemas a essa altura. Aliás, depois precisamos conversar sobre seu irmão. – assenti e fui para a sala. O dia estava ficando cada vez mais escuro. Sem saber o que estava acontecendo, eu estava apostando todas minhas fichas na Mel. Ela deveria estar conturbada com toda aquela história e porque sabia que nós sabíamos de alguma coisa. Ainda não estava chovendo mas a noite ameaçava uma grande tempestade. Não pegamos o ônibus como deveríamos, voltamos com Erik. Tentei ficar em silêncio durante toda a viagem, porém o caminho seria longo. Com ruas escorregadias , a chuva começava a cair lentamente. -Conseguiu resolver as coisas com suas amigas? – Erik não conseguiu ficar calado. Ele me olhou. -Elas não são minhas amigas, você sabe disso. – não respondi a pergunta diretamente. -Mas vi a Luna saindo da sua casa outro dia. -Você sabe o que temos em comum. Para de se fazer de bobo. – olhei pra ele – Se você ajudar alguma delas mais uma vez, você vai se arrepender. – vi ele sorri. E escutei o Jony sorrindo no banco de trás, bem atrás de mim. -Talvez precisamos de uma conversa, porém, a sós. – Erik não tirou os olhos das avenidas e continuou dirigindo. -Tudo bem. – virei meu rosto para a janela e olhei profundamente para os lugares ao meu redor, porém, minha mente estava longe. Pensei ter visto flashes de alguma coisa, alguma coisa importante. Tudo estava passando muito rápido, via luzes, plantas escuras, como se eu estivesse correndo em uma floresta. Me desconcentrei quando senti a mão de Erik tocando a minha perna. -Ei, chegamos! Isa, está tudo bem? – pisquei os olhos rapidamente e o olhei. Ainda atordoada, tentei buscar as palavras certas. -Hã? Sim, tudo bem. Vamos Jony. – abri a porta do carro e vi Jony fazer o mesmo. – Entre, avise a mamãe que já chegamos. – Erik desceu do carro e veio para o meu lado. -Você tem certeza que está tudo bem? -Eu já disse que sim. – respondi de um modo grosso e rude, o fazendo se afastar de mim assustado. -Calma. – ele abriu as mãos e se afastou mais ainda. –Eu só quero saber se realmente está tudo bem com você. Acho que você teve um longo dia hoje. È melhor você entrar e descansar. – o vi abrindo a porta do carro. –Vejo você amanhã. – ele entrou no carro e o vi indo embora. Me senti uma completa i****a por ter tratado m*l aquele que sabia de tudo e não havia se afastado de mim, ele queria apenas ajudar. Fiquei parada por um tempo , sentindo os pingos de chuva em meu rosto. Suspirei forte, senti todo o cheiro ao meu redor e entrei. Sem falar nenhuma palavra com ninguém, subi as escadas em silencio e caminhei lentamente até o meu quarto. Tranquei a porta, desabei na cama. Não entendia o porque de ter tantos problemas em tão pouco tempo. Nenhuma de nós. Garotas. Estudantes. -Talvez você precise de um pouco mais de ajuda. – escutei a voz de Fascínio e dei um pulo da cama. -Santo Deus! – levei minha mão ao coração –Porque essa mania de não avisar que está aqui? Como você entra aqui? -Desculpe-me. Não tinha intenção de te assustar. – ele seguia encostado na parede, com suas mãos no bolso do grande casaco preto que ele vestia. -Sinto muito mas não acredito em você. Você sempre chega me assustando. – entrei no banheiro e pedi em meus pensamentos para que ele fosse embora. -Não adianta você ficar ai dentro. Posso escutar o que você está fazendo e o que você está pensando também. – eu estava de cabeça baixa em frente ao espelho, ao ouvi-lo, levantei no mesmo instante e olhei meu reflexo no espelho. Eu estava mais branca que o normal, o marrom dos meus olhos estava mais claro quase cor de mel. Via meu enorme cabelo preto bagunçado então me dei conta que estava exausta. Abri a porta lentamente e o vi mexendo em um dos meus presentes que havia ganhado no natal passado. –Você está com uma aparência terrível. -Obrigado! Se você não dissesse, não ia nem perceber. – sorri ironicamente para ele e voltei para minha cama. – Então, o que você quer? Você não enfrentou esse frio para dizer que estou com uma péssima aparência. -Com o tempo você vai se acostumar e gostar do frio. – ele colocou minha pequena caixa no lugar e virou para mim. – Soube que você conversou com a garota hoje, Melissa se não me engane. -Se você sabe, para que está me perguntando? Ou veio até mim? Você não sabe de tudo? – comecei a perguntar sem parar. -Não seja tola. Você não me viu enquanto conversava com ela, viu? – neguei com um simples gesto. – Me diga. - Ela não quis me dizer o que tem, não quis conversar. E a Luna não consegue fazer nada que não seja de beneficio próprio. – bufei de raiva – A Melissa está passando por alguma coisa sim, porém ela não nos deixa ajudar. -Você precisa falar com ela, a ajudar. -Não, eu não preciso. – alterei minha voz e me levantei – Eu não sei o que você quer que eu faça, nem porque eu tenho que fazer. Porque você simplesmente não vai lá e conversa com ela? – comecei a andar em direção a porta. – Me deixa em paz. – sai e o deixei sozinho no meu quarto. Desci para comer alguma coisa e me deparei com a mamãe na cozinha. -Toma. Guardei seu prato. – sentei no banco giratório e encostei meus braços no balcão. A vi colocando o prato na minha frente. – O Jony disse que você brigou com o Erik. Primeira briga de namorados, é difícil. -Ele não é meu namorado. – comecei a dar garfadas na comida á minha frente. – Não brigamos, não exatamente. E o Jony fala demais. -Você sabe que seu irmão só quer o seu bem. – mamãe virou para a pia e começou a lavar os pratos. – Não se preocupe, tudo vai dar certo. – eu queria aproveitar aquele momento "mãe cuidadosa" para poder falar com ela sobre assuntos sérios. -Mãe, se eu fosse diferente, você me aceitaria? – a vi sorrir e se virar para mim. -E você já não é diferente? Pois acho você diferente o suficiente das outras garotas. – com o pano nas mãos, ela as enxugava enquanto estava escorada na pia. –Pela sua cara, não era a reposta que você queria ouvir. Que tipo de diferença você fala? -Algo que não seja comum. -Algo do tipo, sou uma menina e gosto de meninas? -Ah, não. – respondi curta e grossa, porém com um sorriso no canto do rosto. –Não, eu gosto mesmo do Erik. Estou falando de algo que não seja desse mundo, algo que somente eu possa fazer. -Você está começando a me assustar Isabelle. Talvez fosse bom parar de assistir esses filmes malucos e bizarros. – ela deixou o pano em cima do balcão e veio até mim. – Você é minha filha, de todas as formas, todos os jeitos, mesmo que seja diferente em algum ponto, é a minha filha. – senti sua mão sobre a minha, senti seu beijo na minha cabeça e a vi indo embora. Suspirei um pouco aliviada, aquele momento jamais tinha acontecido nos dezessete anos da minha existência. -As vezes eu acho que sua mãe quer te falar alguma coisa, você não sente isso? – me virei rapidamente e o vi bem atrás de mim, perto da fruteira com uma maçã nas mãos. -Pensei que você já tinha ido embora. – falei com a voz calma e voltei a comer. – Te pedi para ir embora. -Eu entendi. Porém, eu preciso saber mesmo o que você falou com a Melissa. – ele chegou junto de mim e me tocou o ombro. Ele fechou os olhos e senti um ardor em meu ombro. – E o que você falou com elas também. – calmamente sua mão foi retirada do meu corpo. -Elas? O que você fez comigo? -Entrei em sua mente e vi você conversando com a Melissa, com as meninas e aquele garoto estranho. -Como você pode fazer isso? – me assustei e sair de perto dele no mesmo momento. – Você entrou na minha cabeça? – me alterei, estava nervosa. – O que você é? – o vi ele andar para junto de mim – Não, se afasta de mim. – percebi as lagrimas sob meu rosto. – Eu não sei o que você é, e não quero mais você aqui ou em meus pensamentos. Dá o fora daqui! – gritei o suficiente para apenas ele escutar. Fascínio se assustou ao ver minha reação, porém confirmou meu pedido e sumiu. Reencostei no canto da cozinha e comecei a chorar compulsivamente. Me lembro de sentir uma brisa que passou sobre mim, me trazendo calma e me dando forças para levantar para seguir até meu quarto. Tirei a roupa, entrei debaixo do chuveiro, senti a água quente sobre meu corpo. Após o longo banho, deitei na cama e percebi que já eram quase dez horas. Eu estava cheio de exercícios para fazer, trabalhos para entregar e não sabia por onde começar. Espalhei os papeis pela minha cama, os livros no chão, meu notebook estava ligado na minha escrivaninha , logado no Wikipédia (melhor enciclopédia de todos os tempos).  Não vi a hora passar. 
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