Quando o Silêncio Começa a Gritar

310 Palavras
O tempo não perdoa segredos. Com o passar dos meses, Sandra sentia o peso daquela verdade enterrada crescer a cada dia. Davi completava um ano, e seu jeitinho começava a tomar forma. Era esperto, observador, um pouco mais quieto do que Benjamim fora nessa idade. Mas havia algo em seu olhar... aquele olhar intenso, que parecia enxergar além. Numa tarde comum, enquanto dobrava roupas no quarto, o marido entrou sorrindo, com Davi no colo. — Você já percebeu como ele tá ficando parecido comigo? Sandra gelou. O sorriso travou no rosto, e o ar sumiu por um segundo. Ela virou o rosto para disfarçar. — É... dizem que os filhos pegam traços do convívio — murmurou, sem encarar. Ele riu e beijou a bochecha do menino. — Esse aqui é o meu xodó. Juro que, às vezes, esqueço que não foi planejado. Parece que nasceu na hora certa, sabe? Ela apenas assentiu. Mas por dentro, o mundo rodava. Naquela noite, enquanto o marido dormia e Davi respirava profundamente no berço, Sandra sentou-se na beira da cama e chorou. Silenciosamente, como quem carrega uma dor que não pode ser dividida. O rosto entre as mãos, o coração apertado. Ela se perguntava: até quando conseguiria manter aquela mentira viva? No dia seguinte, Pedro mandou uma mensagem pela primeira vez em quase um ano. "Vi você na rua com um bebê. Ele é meu?" Sandra apagou a mensagem. Mas não antes de relê-la três vezes. Nos dias que se seguiram, a dúvida cresceu como uma erva daninha. Pedro tinha o direito de saber? E o que aconteceria se ele quisesse assumir? Ou pior: se quisesse brigar por Davi? O marido, que tanto amava aquele menino, seria destruído. E Benjamim? Como reagiria? O segredo já não era só um segredo. Era uma ameaça. Um medo constante. Uma bomba-relógio. E a qualquer momento... poderia explodir.
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