Parte I - Capítulo 1

1369 Palavras
  Existiu uma família que há muito tempo foi escondida de suas origens. Eles moravam em uma linda mansão no interior da Inglaterra, numa pequena vila chamada Connor Wells.    Era uma família muito feliz, mas que guardava segredos muito perigosos de si mesmos. Assim que se mudaram, os Campbell tinham acabado de se casar. Parecia uma família normal. Diana tocava suas músicas e Peter um pintor fabuloso. Ninguém nunca os via brigar, em sua casa era apenas amor e alegria. Nas tardes de terça-feira praticavam dança enquanto deixavam a música inundar seu casarão. Nos sábados tomavam chá na varanda, vendo o sol se pôr. Diana participava de muitos concertos pelo País e Peter tinha sua enorme galeria, onde vendia sua extravagante arte. Sua casa era talhada em madeira rústica e móveis de antiguidades. Era grande, mas simples por dentro, era majestosa, mas não exuberante. O casal tinha o que todos podiam chamar de sorte e nada nunca os abalava. Apenas três anos depois de casarem tiveram seu primeiro filho, Robert. El era uma criança adorável, muito inteligente já desde de bem pequenino e quase nunca chorava. Era um menino decidido e muito independente, querendo sempre fazer as coisas à sua maneira; logo depois veio Victória, essa tinha seus cabelos ruivos engraçados e era muito brincalhona, chorava por qualquer motivo e parecia muito mimada, mesmo não tendo sido; e então, nasceu Dean, o mais quieto e o menos barulhento. Não questionava nada, nunca conversava muito e vivia trancado em seu quarto como se seu mundo tivesse acabado ao nascer.    Para a tristeza da família, três anos depois do pequeno Dean nascer, Diana despareceu, misteriosamente depois de uma apresentação de violoncelo em outra cidade enquanto voltava para casa.  Peter, seu marido, sofreu muito e por muitos anos tentou, sem resultados, encontra-la. Tentando suportar a dor, viveu o mais normal que conseguia para poder criar suas três crianças, sem transmitir à elas, seu sofrimento.    Verão. – Junho de 1996.     Os irmãos haviam chegado em casa, quando viram Peter parado em pé na ponta da escada com um sorriso animado no rosto. Dean já sabia o que era.   – Você conseguiu? – perguntou entusiasmado. Peter confirmou. Dean correu e o abraçou enquanto Robert e Victória estavam pensativos.   – O que você conseguiu? – perguntou Robert.   – Nós quatro vamos para uma cidade aqui perto! – disse animado. Todos ficaram quietos.   – Pai, nós já vivemos na roça, você quer que o nosso semestre seja no fim do mundo? – disse Victória, indignada.   – Stratford não é o fim do mundo. Só é mais campo e floresta do que aqui. E não é só um semestre, é o ano todo.    Robert e Victória ficaram vermelhos, com raiva do que ouviam. Robert tinha cabelos negros, olhos azuis e uma pele bem clara; Victória era ruiva de olhos verdes e do mesmo tom de pele que Robert. Já o pequeno puxara o cabelo da avó materna – era louro – e os olhos azuis do pai.   – Peter, Stratford é no meio do mato! E lá não tem muito policiamento, tem um hospital e eu li que na Idade Média teve o maior índice de mulheres queimadas por praticarem bruxaria. – Disse Robert.   – Não acredito! Um rapaz da sua idade, que já raspa a barba, está com medo de uma cidadezinha! Ou esqueceu que já completou dezoito anos? – disse Peter.   - Não.   – Vocês dois vão! – disse Dean.   – Não vamos! – rebateram Robert e Victória juntos.   – Vão sim! – berrou Dean.    Estavam os três irmãos começando a falar muito alto e juntos. Sem paciência, Peter sentou num degrau e só ficou os assistindo, coçando a barba. Os três não estavam discutindo, nem diziam uma palavra, estavam gritando, então veio um estrondo. O vaso ao lado da porta de entrada havia quebrado. Peter não se conteve e começou a gargalhar.   – Vocês... – houve uma pausa para rir. - Vocês vão limpar... Tudo! – ele parou e olhou para Victória e Robert. – E vocês, querendo ou não, vão para Stratford. Acabem de limpar e vão arrumar suas malas, nós partiremos amanhã logo pela manhã! – Peter se levantou e foi para a sala de música. – Essas crianças... – falou para si mesmo já se afastando.    Ao acabar de limpar, Dean subiu a escadaria e entrou em seu quarto batendo a porta.       Victória olhou para Robert, que ainda limpava os cacos de vidro, e começou a falar.   – O que foi isso? – perguntou. Robert se levantou e começou a andar, atravessando a sala de jantar em direção à cozinha.   – O que? – disse já na porta.   – Isso! Como o vaso se quebrou? – disse curiosa acompanhando Robert, que entrava no cômodo.   – Devem ter sido as ondas sonoras, esse lugar vive fechado. Pegue aquela caixa, perto da janela? – Victória apanhou a caixa grande e pesada, colocou no balcão e tirou a tampa. Robert jogou os cacos restantes na caixa e a tampou.   – n******e ter sido isso! Todas as janelas estavam e ainda estão abertas! Foi algo incomum, tenho certeza! – disse apanhando a caixa e colocando-a perto da janela.   – Você já está velha para pensar nisso, Vicky! Vou arrumar minhas malas, vou me arrumar e vou ver a Torrence.   – É, estou meio velha para isso. – sussurrou tão baixo que só ela pôde ouvir.     Os dois irmãos subiram para seus grandes e luxuosos quartos.  Victória por mais que tentasse, ainda pensava como uma criança. Tinha apenas quinze anos, e sonhava com coisas que até mesmo Dean, que tinha nove, não sonhava mais.     No dia seguinte, os irmãos Campbell se despediam de seus pertences. Dean só podendo levar seu boneco favorito, se despedia dos outros, Victória só que só podia levar sua caixa de joias, se despedia de seu cavalo branco e Robert, que só podia levar dois livros, despedia-se da grande biblioteca. Peter se despedia do ateliê que fora da violinista e pianista, Anellise, o único amor da sua vida. Eles foram para o jardim para esperar o carro que os levaria para a estação de trem.     Torrence também estava lá. Ela era namorada de Robert havia dois anos, e eles nunca tinham ficado tanto tempo separados. Seus cabelos castanhos caíam em cachos em seu vestido bege, que escolhera para se despedir de seu amado. Queria ir, mas seus pais não deixariam.     Quando o carro finalmente chegou, Dean foi o primeiro a entrar dando sua mala e seu boneco para o motorista. Victória, quase chorando, virou-se para a Mansão. A olhava como se fosse a ultima vez que a via. Deu suas malas para o motorista e sentou-se ao lado de Dean.   Torrence estava chorando.   – Tem certeza que quer ir? – disse soluçando.   – Preciso! Se não meu pai tira minhas tripas! – disse Robert acariciando seus cabelos. Torrence o beijou.   – Te amo muito!   – Eu também. – e a beijou de novo. – Escreverei toda semana.   Robert entregou suas malas e seus livros e entrou no carro, no banco em frente à Victória e Dean. Peter agradeceu o motorista chamado Rupert, deu suas malas e entrou, sentou ao lado de Robert. O carro começou a andar e Peter, tentando animar Victória e Robert, começou a falar.   – Bom, Stratford, ai vamos nós! – disse. Mas não houve sucesso.                                     * * *     Todos quando chegaram à estação de trem estavam exaustos. Moravam a duzentos quilômetros da estação mais próxima.     Procuraram a cabine correta e entraram rumo à viagem de suas vidas.     O trem começou a andar.     A cabine em que os Campbell estavam era bem acomodada. Dean dormia no colo do pai, Robert lia e Victória estava entediada. Não conseguia dormir e não tinha nada para fazer. Usava seu vestido azul-turquesa e seus cabelos lisos caiam nos ombros. Resolveu rever as suas joias. Levantou-se, apanhou uma pequena caixa marrom e sentou-se novamente. Ao abrir, uma bailarina pequena presa num espelho girava e tocava uma relaxante música. Suas joias pertenceram a sua antepassada medieval, Elizabeth.     O trem soltou um som altíssimo que fez Dean acordar. – Infelizmente, chegamos ao Fim do Mundo! – disse Victória. – Bem Vindos a Stratford! – disse Peter.   
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