Capítulo 2

2619 Palavras
                  O pequeno deu um pulo quando soube que havia chegado, Vicky se levantou olhou para o pai e voltou a se sentar com uma cara emburrada, Robert continuou sentado esperando Peter fazer algo. – Vamos crianças, não deve ser tão r**m assim. – Victória bufou e se levantou, pegou sua mala e foi andando em direção à porta, evidentemente frustrada.    Peter pegou o bonequinho e a mala de Dean, e os entregou ao filho, que saiu correndo em direção à irmã. – Você não acha que está bem grandinho para pegar suas coisas não? – perguntou Peter á Robert.  – É... Acho que sim. – dizendo isso, Robert se levantou e pegou suas coisas. Peter pegou sua pequena mala e foi junto de seu filho até a porta de saída. Victória estava parada, olhando pra cima, parecia impressionada, Dean só ria e dava seus pulos de alegria. – Vicky, o que houve? Você parece estar... - Robert começou a falar, mas quando olhou para o alto percebeu o que Victória tanto olhava. O céu era limpo e brilhante, com um sol bem quente que parecia derreter a pele, tinha algo de especial que fazia qualquer um se sentir bem melhor, muito mais feliz.  Eles tinham a sensação do lugar ser familiar, como se estivessem em casa.   Victória, assim que olhou para Robert, instantaneamente Robert também a olhou, ela parecia feliz, algo que não acontecia desde a hora em que tinham entrado no trem.  Era quase como magia. Que os hipnotizava.  – Você parece feliz Victória. – Peter falou. Parecia feliz por Victória também estar feliz. – É estranho o jeito como este lugar me deixa. Curioso. Parece que eu já o conheço de algum sonho. Muito antigo... – Quem parece que você conhece? - Peter perguntou a ela, confuso. – O lugar. – assim que ela disse essa palavra, Dean abriu um sorriso e a abraçou. – Ei! Para de me amassar! Se você me abraçar de novo eu juro que vomito. – Dean sorriu novamente e a soltou, saindo correndo para explorar.  - Dean, não vá muito longe! – e olhando para os dois que sobraram disse: - Não percam seu irmão de vista. Preciso resolver a papelada do lugar que vamos ficar.    Victória quase gritou, estava surpresa por estar tão confortável em um lugar que ela não queria estar. – Eu acho que esse lugar te deixou um pouca mais humana, pelo menos. – riu Robert.   Victória bufou e saiu batendo o pé.   - Dean! Dean, cadê você, pestinha? – ela parou de repente e correu na direção de Robert com uma cara engraçada.  - Robert, tem algo estranho por aqui. Eu sinto como se o vento pudesse conversar comigo. Você acha que estou ficando louca? – Robert sorriu.  - Acho que sim. – ele ria.   Victória estava de cabelo em pé e já se sentia maluca só por pensar naquilo. Ela continuava ouvindo um sussurro em seu ouvido.     Victória, dizia a voz. Está quase na hora.   Quando Vicky parecia que ia se explodir, a voz parou e Peter voltou um pouco nervoso.   - Desculpe, pessoal. Vamos ter que passar a noite na barraca de acampamento.   - O que? – exclamou Victória.    - A casa que comprei ainda estão terminando de limpar, ela ficou muitos anos vazia, aposto que você não vai querer dormir com um ninho de aranha sobre a cabeça. – disse olhando para a filha. Ela deu um meio sorriso e entrelaçou o braço com o pai e lhe fazendo um leve carinho no ombro sorria nervosamente.    - Onde mesmo que vamos armar nossa barraca?    Robert riu da cara engraçada que sua irmã tentava fazer para não parecer desesperada e caminhou até Peter.   - Nenhuma chance de ter vaga em algum hotel?   - Eles só possuem um e por acaso está lotado com visitantes da cidade. Um infortúnio para nós!   Peter os conduziu até o parque florestal onde as pessoas normalmente acampavam na cidade e armou a barraca tamanho realeza, podiam caber umas três famílias inteiras dentro.   Quando já haviam se instalado, Peter acendeu a fogueira para cozinhar algumas batatas e eles não dormirem de estômago vazio. Robert se virou para o pai novamente com uma dúvida que o consumia por dentro.  - Peter... Porque decidiu vir para cá? – ele se surpreendeu com a pergunta. Peter se endireitou onde estava sentado e ficou um pouco pensativo.  - Bom... Sua mãe há doze anos disse que seria legal. Era sonho dela conhecer este lugar... Ela tinha uma quedinha por histórias de suspense e como essa cidade tem seu longo histórico de bruxas, ela sempre quis conhecer. Semana passada eu vi um anúncio no jornal de que tinha uma casa a venda por aqui... depois nós conversamos, vamos comer, pois está ficando escuro e teremos um dia cheio amanhã.                                                                      *               *               *     O relógio do centro da cidadezinha soou.     Eram 20h.    Peter estava na barraca com seus três filhos. Ele tinha algo a falar, mas esperava acabar a discussão de Dean e Victória por quem ia ficar no meio. - Chega! – berrou Peter. Eles arregalaram os olhos em direção ao pai. Ele respirou fundo e continuou. – Olhe, eu comprei uma mansão para ficarmos até a virada do ano e já arrumei uma escola para vocês, ok?  Os três balançaram a cabeça. Peter voltou a falar. - Bom, está escuro e está na hora de irmos deitar! Vão lá fora, um de cada vez, e se troquem no banheiro do acampamento. Robert vai você primeiro! Depois vai o pequeno. - Epa, epa! Por que eu tenho que ser a última? – disse Victória, indignada. - Pois você demora mais! – disse Peter, se virando para já ir dormir.                                                                                                  *                *                *      No meio da madrugada, Robert, ainda acordado, olhava o teto da barraca. Ele achava extremamente ridículo, Victória achar que aquele lugar era assombrado, ou sobrenatural. Sua teoria era: Fascínio. Ela estava encantada com o lugar e não sabia explicar por que. E também tinha todo o brilho de o lugar ser um dos quais sua mãe gostaria de ter visitado. Robert se virou e viu o rosto sereno de seu pai, exausto e em sono profundo. Ele sabia que seu pai havia feito tudo o que pôde para encontrar sua mãe, e lá no fundo ele entendia que ir até lá, não era mera coincidência, seu pai ainda não havia desistido.   - Obrigado, pai. – sussurrou para si mesmo.   Ele não estava com um pingo de sono, estava tão ansioso para conhecer a cidade que não o deixava dormir.   Robert se levantou lentamente e silenciosamente para não acordar ninguém e decidiu sair para uma caminhada nos arredores do acampamento. Do lado de fora, não havia luz alguma e era tão escuro que mesmo usando seus óculos, estava completamente cego. Saiu, apanhou um pedaço grande de madeira que tateou no chão, mergulhou a ponta na cachaça que seu pai deixara perto da fogueira apagada e a acendeu com um fósforo que guardava.   Atrás do acampamento, havia uma estreita passagem m*l feita que dava na floresta. Ela era fria e pouco iluminada pelo luar. Andar iria cansá-lo e assim iria conseguir dormir, logo pensou. Seus pés descalços, tocavam na terra úmida e fria, lhe causando uma sensação de aconchego. O cheiro que estava sentindo, de mato molhado, era delicioso. Uma brisa suave e refrescante atingiu o local, o que fez a tocha caseira de Robert sibilar.   Robert, raramente, era chamado de Robert.  Sua mãe que lhe dera esse apelido antes de Dean nascer. Quando ela desapareceu, misteriosamente, somente sua irmã o chamava assim, talvez por teimosia, ou talvez por puro amor. Quando as buscas se encerraram, após apenas um ano, Robert teve uma briga séria com Peter e nunca mais o chamou de pai. Os dois sofriam muito e eram duros em admitir isso.    Ao se lembrar da mãe, veio uma friagem na nuca de Robert, que o fez se arrepiar dos pés à cabeça. Mas não era maneira de dizer, era realmente um frio. Robert olhou para frente e viu uma garota numa clareira sentada. Parecia um ou dois anos mais nova do que ele.   Ela parecia rezar como se estivesse pedindo algo aos deuses. Ele queria chegar para traz, para não atrapalhar a garota, mas seu plano não deu muito certo. Ele pisou em um galho, o que chamou a atenção da garota. Que conveniente, pensou. A menina olhou para ele e em sua face nasceu uma expressão de confusão. - Ei! Quem é você? – disse num tom ameaçador. Ela caminhou calmamente em sua direção. – Nunca te vi por aqui, de que família você é? - Campbell? – falou Robert um pouco sarcástico. – Eu sou novo por aqui...   A garota parou de onde estava e olhou dos pés até a cabeça de Robert. No momento exato que seus olhares se encontraram, o céu se limpou e a luz da lua inundou a clareira completamente. Com o luar vindo da bela lua cheia, ele via perfeitamente como era a garota. Seus cabelos eram castanhos e ondulados, seus olhos tinham um tom de chocolate ao leite, sua pele pálida era completamente perfeita e seus lábios eram avermelhados e faziam um belo contraste com seu rosto em forma de maçã e cheio de sardas sensuais.   - Como você é linda... – sussurrou quase que inaudível. Ele colocou a mão no peito como se tivesse sido flechado por um cupido, seu coração martelava no peito de empolgação. - O que você quer? – perguntou a garota, já irritada. - O que estava fazendo no meio da floresta esta hora? Você é pagã? – perguntou Robert. A garota, indignada pela ignorância de Robert, apanhou um casaco jogado no chão e começou a andar na direção oposta a ele. - Espere! – ela ignorou o chamado de Robert. - Espera!   A garota se virou. Parecia com raiva. - Quem é você para mandar em mim, seu ignorante? Você não sabe de coisa alguma!  Você é só um i****a xereta! Que fuxica a vida dos outros sem ser convidado! Robert, com senso de humor, falou. - Prazer! Eu sou Robert. E você? - Não te interessa. Agora vou embora! – ela virou-se novamente e voltou a andar.  - Calma! – chamou novamente. - O que você quer? – perguntou, estressada. Ela estava muito perto de lhe jogar uma pedra. - Eu estou numa barraca aqui perto e não sei o caminho de volta. Pode me ajudar a voltar? – a menina revirou os olhos. - Ache seu caminho sozinho! – ao ver a cara que Robert fez de choro ela o empurrou com o ombro e deu a língua pra ele. – Vamos. Você só deve estar brincando! – disse indo na direção em que Robert a encontrou, e Robert foi atrás dela.   No início do caminho, Robert puxou assunto.  - O que foi isso, que você estava fazendo? – perguntou. – Desculpe se te ofendi antes, não foi minha intenção. - Estava pensando em um feitiço que minha mãe me ensinou hoje. Era magia. Sou uma bruxa da Casa dos Pergaminhos e não gosto quando me chama de Pagã! – disse. Robert não parecia surpreso. Afinal o que esperar de uma cidade conhecida com a Cidade dos Bruxos? - Bruxa que faz oferendas e fura bonecos com agulha? - Isso é Vodu, não bruxaria. Sou uma bruxa. É diferente. Eu gosto de fazer poções, estudar magia, conhecer seres mágicos e lançar feitiços, principalmente de cura.  - Como vocês “lançam” feitiços? – perguntou Robert levando na esportiva. Quando disse "lançam" fez como se lançasse faíscas com os dedos, ele se ria todo. A menina no entanto, continuava séria. - Com esse anel. – disse mostrando o anel que usava no indicador esquerdo. Tinha um desenho de uma Triqueta. Robert passou do anel para o rosto da menina.  - Eu gostaria de te conhecer melhor. Você sempre morou aqui nesta cidade? – a menina por um momento hesitou  - Passei toda minha vida aqui. Meus pais são grandes feiticeiros. Meu pai estuda criaturas mágicas. Minha mãe adora criar poções. E, infelizmente sou filha única. Agora fale de você, senhor enxerido. - Nasci em Londres. Mas vivi minha vida toda num vilarejo chamado Connor Wells. Tenho dois irmãos. Dean tem nove anos, ele é infantil, mas é um bom menino. Victória tem quinze anos, ela é meio metida, mas nunca vi uma pessoa tão amiga. Meu pai é dono de muitas terras no país. Minha mãe já... – ele respirou fundo. – Já morreu, ela tocava piano e violino. – Robert ficou um pouco assustado, por que contava sua vida pra uma desconhecida? Não era da alçada dele. – Você tem alguém na sua vida? Você tem namorado? A menina corou. - Não. Já tive um relacionamento com um menino da escola, mas ele foi preso. - Por quê? – perguntou Robert. - Ele... – ouve uma pausa. - Eu gostaria de não falar sobre isso. E você? Tem uma menina na sua vida? - O nome dela é Torrence. Ela é bonita e inteligente, mas fútil. Você vai para que escola? - perguntou tentando mudar de assunto.  - Como assim, só há uma escola em Stratford, o Colégio Miller Bringston! É uma boa escola e eu estudei a vida toda lá.  - Ah! Fantástico! Ainda não me acostumei com o lance de cidade pequena.   - Uma hora ou outra você se acostuma. E não se impressione por estar me contando toda a sua vida, eu te enfeiticei para isso. – e gargalhou. Robert arregalou os olhou e sorriu com timidez, ele sabia que não contaria tudo de si só por um rosto bonito.   Eles já haviam chegado. Já estavam ao lado da barraca. Robert deu um pulo ao ver onde estava, tinha se distraído tanto com a menina, que não percebeu o caminho de volta.   - Obrigado...? – disse Robert.   - Me chame de Jess, Jessica Griffyn e de nada. - Se quiser me chame de Robb. – disse Robert um pouco afobado e envergonhado. – E obrigado por confiar em mim para contar todas essas coisas, pelo menos agora estou com sono. – ele riu do descaso em sua voz, brincalhão. - Prefiro te chamar de Robert. – disse Jess. – E não se preocupe com o que falei para você hoje, eu vou apagar tudo agora! - Espera ai! Você vai apagar minha mente?! – perguntou Robert. - Você não achou mesmo que eu ia contar minha vida toda para um reles civil e deixar por isso mesmo, não foi? - Mas eu vou lembrar que conheci você. – afirmou Robert. Ela balançou a cabeça, negando. – Eu vou me lembrar assim que vir sua bela face novamente, vai ver.   -Tudo bem, faça o que achar melhor, mas você amanhã de manhã não saberá quem sou. – disse Jess. – Nem se lembrará que saiu da barraca. - Boa noite, Jessica. – Robert disse serenamente. – A menina mais linda que já conheci. - Boa noite, Robert. – afirmou Jess, revirando os olhos. – O menino mais confuso que já conheci.   Robert entrou na barraca e deitou-se. O que fora aquilo? Seu coração martelava no peito e suas mãos suavam como uma criança. Ele não sentia mais nada por Torrence. Seria outro feitiço? Ele iria se esforçar para não esquecer de Jessica e assim, fechou forte seus olhos, tentando eliminar o feitiço que ela estava prestes a lançar.  - Axulian! – disse Jess fora da barraca. Então, naquele exato momento, veio uma grande e forte luz, que dera sono para Robert. Ele se esquecera de tudo visto naquele dia. Ou melhor, quase tudo.            
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