Patrick manteve-se imóvel por longos segundos após Lana sair da sala.
A xícara de chá esfriava lentamente sobre a mesa, esquecida. Seu olhar, porém, permanecia fixo na porta fechada, como se os olhos dele ainda estivessem presos na imagem dela. A forma como ela se movimentava, a naturalidade com que organizava os papéis, o tom suave e gentil de sua voz — tudo nela despertava os sentidos dele de um modo que nenhuma outra mulher jamais havia feito.
Ele se levantou devagar e caminhou até a janela, tentando dissipar aquela tensão crescente. Precisava de ar. De foco. Mas tudo o que sua mente lhe entregava era a imagem daquela cintura bem marcada, da saia justa abraçando cada curva, e da maneira como os olhos dela pareciam inocentes… mas carregavam algo mais. Um brilho que ele não conseguia decifrar. E que o enlouquecia.
“Ela é filha do Francisco”, repetiu mentalmente. “Você precisa manter a postura.”
Mas logo a outra voz surgia: “E o que isso importa quando o seu corpo inteiro grita por ela?”
Ele balançou a cabeça, num gesto quase inconsciente, e voltou para a mesa.
Respirou fundo — com controle. Precisava disso.
Abriu a tela do computador, mas os gráficos pareciam distorcidos, sem sentido. Seus olhos deslizavam pelas colunas de números sem absorver absolutamente nada.
Do lado de fora, pela porta entreaberta, ele conseguia vê-la digitando um e-mail, concentrada. Os s***s dela subiam e desciam suavemente a cada respiração. Ela mordia o lábio inferior sem perceber, franzia a testa enquanto calculava algo com atenção, e o pior — ou o melhor, dependendo do ponto de vista — era quando ela se levantava.
Aquela saia era um castigo.
Ele soltou um som abafado e empurrou a cadeira para trás.
— Eu... preciso de quinze minutos. Só quinze minutos.
Pegou o celular, caminhou até a salinha de descanso anexa ao seu escritório e se jogou no pequeno sofá, cobrindo os olhos com o antebraço. A cabeça doía. O corpo clamava. E o autocontrole estava por um fio.
“Resista. Apenas mais um dia.”
Suspirou profundamente.
— Sexta-feira... — murmurou. — Hoje à noite nós vamos sair. Eu preciso sair.
E ali ficou. Imaginando como seria passar apenas uma noite... só uma noite... com Lana.
Mas já não sabia mais se bastaria.
A sala estava cheia. Gerentes de setores, assistentes, parte do jurídico, equipe da contabilidade... Todos aguardavam a atualização prometida por Patrick após o escândalo que abalara os corredores da empresa naquela semana.
Lana estava de pé ao lado do projetor, cabelos presos com elegância, a saia justa e a postura firme chamando atenção por onde passava — inclusive, e especialmente, dos olhos intensos de Patrick.
Ele já havia tentado três vezes descruzar as pernas para se posicionar como sempre fazia durante as reuniões: altivo, impecável. Mas não conseguia. O paletó estava estrategicamente apoiado sobre o colo, enquanto ele fingia fazer anotações no notebook à sua frente.
A tortura tinha nome: Lana Ferreira.
Ela caminhava entre os slides com firmeza e segurança, explicando aos setores os ajustes iniciais no sistema de controle, apresentando o relatório de indícios de inconsistências e falando sobre os novos critérios de análise.
A voz dela soava profissional, doce e clara. Cada palavra era uma melodia que Patrick já não queria — ou conseguia — ignorar.
“Não. Você vai se controlar. Pelo amor do teu nome e do crachá.”
— com base nos cruzamentos dos últimos extratos, identificamos movimentações paralelas que indicam a possibilidade de novos envolvidos — concluiu Lana. — Então, a auditoria será dividida por núcleos e etapas, com análise simultânea de dados fiscais, folha de pagamento e contratos externos. O plano já está no e-mail de todos.
Silêncio.
Todos a observavam. E Patrick ainda precisava falar.
Ele pig... — Não, ele se ajeitou sutilmente na cadeira e levantou os olhos para o grupo com um leve sorriso de canto.
— Como... como a senhorita Ferreira bem pontuou, — ele começou, a voz levemente mais grave, contida. — A partir de segunda-feira, iniciaremos a auditoria oficial. Serão duas semanas de análise profunda e setorial.
Pausou. Precisou.
— Como já mencionado, o doutor Luiz, nosso diretor jurídico, e a senhorita Ferreira estarão à frente de todo o processo. Ambos têm carta branca para conduzir, questionar e solicitar o que julgarem necessário. Portanto, colaborem.
Ele fez questão de olhar diretamente para o chefe do financeiro — que desviou os olhos.
Patrick notou. E arquivou mentalmente.
— Estamos caminhando para uma nova fase. Uma fase mais justa. Mais limpa.
Fechou a pasta, sinalizando o fim da reunião.
— Podem retornar às suas estações. E se preparem para o que está por vir.
Todos se levantaram. Ele permaneceu sentado por mais alguns segundos, o paletó ainda sobre o colo, os olhos cravados em Lana, que recolhia os papéis do projetor sem notar o efeito devastador que provocava.
Ou talvez notasse.
E era exatamente isso que o estava deixando louco.
Todos já haviam deixado o ambiente, menos três figuras: Patrick, ainda estrategicamente sentado com o paletó no colo; Harry, que cruzava os braços com um sorriso maroto no canto dos lábios; e Louis, já recostado na cadeira ao lado, m*l conseguindo segurar o riso.
Lana recolheu os papéis restantes com eficiência e, antes de sair, virou-se com aquele jeito educado e encantador de sempre.
— Doutor Patrick, vou deixar prontos os gráficos da próxima pauta. Depois disso, me ausento para o almoço, tudo bem?
Ele apenas assentiu com um gesto sutil e uma voz contida.
— Perfeito, senhorita Ferreira. Pode seguir.
A porta se fechou.
— E você continua aí... sentado — provocou Louis, com a língua afiada de sempre. — Não vai nem fingir que está tudo sob controle?
— A gente viu, primo... — acrescentou Harry, soltando uma risada abafada. — Você quase escorregou na cadeira tentando mudar de posição e escondeu direitinho o paletó. Não engana ninguém.
Patrick suspirou com o maxilar travado. Tensão pura.
— Se vocês soubessem a dor que eu estou sentindo aqui...
— Dor no ego? — Louis provocou.
— Dor... — Patrick passou a mão no rosto, exausto. — De outra natureza. Aquele tipo que deixa você em alerta. Que dá vontade de bater com a cabeça na mesa pra ver se passa.
— É o que eu chamo de “sofrência de CEO apaixonado” — riu Harry.
— Eu não estou apaixonado.
— Não? — os dois falaram juntos, quase engasgando de tanto rir.
Patrick não respondeu. Só lançou um olhar que gritava: “Se eu levantar agora, vocês vão entender o que é dor.”
— Seja sincero, já aconteceu isso com você alguma vez? — perguntou Louis, ainda se divertindo.
— Nunca. E espero que aconteça com vocês. Assim eu devolvo na mesma moeda — respondeu Patrick, cerrando os dentes. — Eu vou torturar vocês, dia após dia, igual estão fazendo comigo.
Harry deu um tapinha no ombro do irmão.
— Meu Deus, ele tá ficando raivoso. Tá difícil, né?
Patrick apoiou a testa na mão.
— Não está difícil. Está impossível.
— Veremos até onde você aguenta — provocou Louis, se levantando. — Sexta-feira à noite nos aguarda. E, do jeito que você está... não passa da primeira hora. Vai cair igual jaca madura.
— Não vai sobrar nem dignidade — acrescentou Harry, gargalhando.
Patrick cerrou os olhos, já amaldiçoando antecipadamente aquela noite. Porque o pior de tudo... é que eles estavam certos.
A tentação tinha nome. Corpo. Voz. Perfume. E estava no escritório ao lado.