O relógio marcava dezoito horas e vinte quando Lana desligou o computador pela terceira vez, certificando-se de que todos os arquivos haviam sido salvos. A última reunião do dia havia terminado, e a equipe já se dispersava pelos corredores silenciosos da empresa.
Ela caminhava com passos contidos, carregando sua pasta junto ao corpo. O r**o de cavalo estava mais frouxo, e havia no rosto aquela expressão de quem havia vencido o dia — mas não o que sentia.
Dobrou o corredor em direção ao elevador e foi nesse exato momento que se deu o encontro.
Patrick saía de uma das salas de apoio, ainda com a gravata solta, os olhos baixos, concentrado em algum pensamento distante. Quando os dois viraram no mesmo ponto, o choque foi inevitável.
Não houve colisão, apenas aquele tipo de aproximação íntima e repentina que obriga os corpos a se frearem… e os olhares a se encararem.
Ela quase deixou cair a pasta. Ele, por reflexo, tocou de leve o braço dela para estabilizá-la.
— Me desculpe... — ele disse, com a voz mais baixa do que o habitual.
— Eu que... — a resposta dela morreu ao encontrá-lo tão perto.
Ficaram ali, imóveis, durante alguns segundos que pareceram longos demais para serem normais. O olhar dele não buscava os olhos dela, mas os mantinha. Como se houvesse ali uma pergunta — ou uma promessa.
Lana prendeu a respiração. Sabia que aquele momento era delicado.
Sabia também que estava sendo observada.
Um movimento atrás dela quebrou o encanto.
— Boa noite, filha. Vim te buscar.
A voz familiar, grave e serena de Francisco ecoou com naturalidade.
Lana se virou imediatamente.
— Pai!
Francisco estava parado a poucos metros. Vestia uma camisa azul clara, calça social simples e sapatos bem cuidados. O semblante era cordial, mas atento.
Patrick rapidamente recuou um passo e adotou a postura habitual. Endireitou os ombros, ajeitou a gravata e manteve o tom sóbrio ao cumprimentar:
— Boa noite, senhor Francisco.
— Boa noite, doutor Patrick.
Houve um aperto de mão discreto entre os dois.
— A Lana foi uma grande colaboradora hoje, como sempre. — A voz de Patrick era firme, controlada.
— Ela leva o trabalho a sério desde cedo — respondeu Francisco, com um leve sorriso. — É dedicada. Observadora.
Patrick assentiu, e por um segundo, os dois homens trocaram um olhar mais prolongado. Não havia hostilidade, mas havia análise.
Lana desviou os olhos e se adiantou, abrindo a bolsa.
— Já estou pronta, pai. Só preciso guardar a chave.
— Sem pressa, filha.
Francisco agradeceu novamente a Patrick, com cordialidade.
— Tenha uma boa noite.
— Igualmente, senhor Francisco.
O elevador chegou. Patrick permaneceu imóvel, observando discretamente enquanto pai e filha se afastavam pelo corredor. Lana se despediu com um aceno leve. Francisco manteve o olhar por mais tempo.
No carro, a caminho de casa, o silêncio se estendeu por alguns minutos.
Francisco manteve as mãos no volante e os olhos na pista, mas a mente claramente voltava ao que acabara de presenciar.
— O se. Patrick, você trabalha na sala dele direto ?
— Sim. O senhor o conhece antes de mim lembra? Foi o Sr. que lhe entregou meu currículo.
— Lembro. Na entrevista inicial. Mas nunca o vi tão perto.
Lana manteve o olhar na janela.
— Ele é educado. Sempre foi.
Francisco assentiu.
— Não tenho dúvida disso. Mas o sr, Patrick nunca me faltou com respeito, o senhor o conhece melhor que eu.— ele fez uma pausa breve, intencional — os olhos dele não são os de um chefe qualquer. E você sabe disso.
Ela virou o rosto devagar, olhando para o pai com surpresa.
— Papai!
— Só quero que você tenha cuidado, filha. Homens assim, bem posicionados, inteligentes, costumam saber exatamente o que fazer com os sentimentos das pessoas. E às vezes, nem eles sabem onde estão pisando.
Lana respirou fundo.
— Eu sei me cuidar, pai.
— Sei que sim. Só não quero que se machuque. Porque, pela maneira como ele te olhou… você é mais do que apenas uma assistente para ele.
Ela não respondeu.
Porque naquele momento, ela também sabia.