Quando o Silêncio Diz Tudo

692 Palavras
O relógio marcava dezoito horas e vinte quando Lana desligou o computador pela terceira vez, certificando-se de que todos os arquivos haviam sido salvos. A última reunião do dia havia terminado, e a equipe já se dispersava pelos corredores silenciosos da empresa. Ela caminhava com passos contidos, carregando sua pasta junto ao corpo. O r**o de cavalo estava mais frouxo, e havia no rosto aquela expressão de quem havia vencido o dia — mas não o que sentia. Dobrou o corredor em direção ao elevador e foi nesse exato momento que se deu o encontro. Patrick saía de uma das salas de apoio, ainda com a gravata solta, os olhos baixos, concentrado em algum pensamento distante. Quando os dois viraram no mesmo ponto, o choque foi inevitável. Não houve colisão, apenas aquele tipo de aproximação íntima e repentina que obriga os corpos a se frearem… e os olhares a se encararem. Ela quase deixou cair a pasta. Ele, por reflexo, tocou de leve o braço dela para estabilizá-la. — Me desculpe... — ele disse, com a voz mais baixa do que o habitual. — Eu que... — a resposta dela morreu ao encontrá-lo tão perto. Ficaram ali, imóveis, durante alguns segundos que pareceram longos demais para serem normais. O olhar dele não buscava os olhos dela, mas os mantinha. Como se houvesse ali uma pergunta — ou uma promessa. Lana prendeu a respiração. Sabia que aquele momento era delicado. Sabia também que estava sendo observada. Um movimento atrás dela quebrou o encanto. — Boa noite, filha. Vim te buscar. A voz familiar, grave e serena de Francisco ecoou com naturalidade. Lana se virou imediatamente. — Pai! Francisco estava parado a poucos metros. Vestia uma camisa azul clara, calça social simples e sapatos bem cuidados. O semblante era cordial, mas atento. Patrick rapidamente recuou um passo e adotou a postura habitual. Endireitou os ombros, ajeitou a gravata e manteve o tom sóbrio ao cumprimentar: — Boa noite, senhor Francisco. — Boa noite, doutor Patrick. Houve um aperto de mão discreto entre os dois. — A Lana foi uma grande colaboradora hoje, como sempre. — A voz de Patrick era firme, controlada. — Ela leva o trabalho a sério desde cedo — respondeu Francisco, com um leve sorriso. — É dedicada. Observadora. Patrick assentiu, e por um segundo, os dois homens trocaram um olhar mais prolongado. Não havia hostilidade, mas havia análise. Lana desviou os olhos e se adiantou, abrindo a bolsa. — Já estou pronta, pai. Só preciso guardar a chave. — Sem pressa, filha. Francisco agradeceu novamente a Patrick, com cordialidade. — Tenha uma boa noite. — Igualmente, senhor Francisco. O elevador chegou. Patrick permaneceu imóvel, observando discretamente enquanto pai e filha se afastavam pelo corredor. Lana se despediu com um aceno leve. Francisco manteve o olhar por mais tempo. No carro, a caminho de casa, o silêncio se estendeu por alguns minutos. Francisco manteve as mãos no volante e os olhos na pista, mas a mente claramente voltava ao que acabara de presenciar. — O se. Patrick, você trabalha na sala dele direto ? — Sim. O senhor o conhece antes de mim lembra? Foi o Sr. que lhe entregou meu currículo. — Lembro. Na entrevista inicial. Mas nunca o vi tão perto. Lana manteve o olhar na janela. — Ele é educado. Sempre foi. Francisco assentiu. — Não tenho dúvida disso. Mas o sr, Patrick nunca me faltou com respeito, o senhor o conhece melhor que eu.— ele fez uma pausa breve, intencional — os olhos dele não são os de um chefe qualquer. E você sabe disso. Ela virou o rosto devagar, olhando para o pai com surpresa. — Papai! — Só quero que você tenha cuidado, filha. Homens assim, bem posicionados, inteligentes, costumam saber exatamente o que fazer com os sentimentos das pessoas. E às vezes, nem eles sabem onde estão pisando. Lana respirou fundo. — Eu sei me cuidar, pai. — Sei que sim. Só não quero que se machuque. Porque, pela maneira como ele te olhou… você é mais do que apenas uma assistente para ele. Ela não respondeu. Porque naquele momento, ela também sabia.
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